Escola Cristano escrita por Sanyago


Capítulo 4
Os desastres de Felícia parte 1


Notas iniciais do capítulo

Felícia é uma garota individualista, indiferente e, desculpem-me o termo, meio "foda-se"! Na escola não estuda, já repetiu o terceiro ano duas vezes e caminha para terceira. Embora sempre tenha sido um pouco grossa e indiferente, os comportamentos dela estão mais incomuns que o normal.



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Voltando a sala do terceiro ano do ensino médio, embora boa parte da turma tivesse dificuldade com as matérias de matemática, a maioria estava preparada para esta prova. Tiveram um bimestre mais produtivo em probabilidade.

Uma das pessoas que não se preparara tão bem para prova era Lucas, que estava enlouquecendo e torcendo para que as três perguntas de múltipla escolha fossem fáceis; Enquanto isso, no outro lado da sala, com as duas fileiras sendo ocupadas por meninas, todas elas pareciam bem preparadas: Maria, Celina, Lucy e Kelly, estavam indo muito bem.

Estranhamente segregavam harmoniosamente a sala, garotos a esquerda, e, respectivamente, garotas a direita (ocupando os dois sexos duas fileiras). As fileiras das meninas eram um pouco mais limpas ao fundo, mais quietas também. As mesas mais organizadas e dentro da fila.  

Já do outro lado, as fileiras dos garotos eram sujas, enferrujadas, totalmente desprovidas de qualquer limpeza. Infestadas de desenhos de órgãos sexuais e falas inapropriadas avulsas: “Quem tá lendo é viado” “ORÁCIO CABEÇA DE LAMPADA!!!”. “Você conhece Miro? O resto é história...” “Como meu pai falava, pau que nasce torto mija fora da privada!” “Se é pra colocar a mãe no meio, eu coloco no meio da sua” “A única namorada de Pedro morreu de desgosto!”

Na mesa mais quebrada à frente, estava Carlos, que Lucas tentara pelo menos umas duas vezes pedir cola; Na ultima fileira a frente estava Stanley. Parecia também estar indo bem, sabia que não era tão bom em matemática quanto Kevin e Pedro, porém, sempre se prepara para essas provas. Gostava de tirar notas altas, não para esfregar na cara de ninguém, mas por um motivo de se sentir de esforçado e inteligente.  

Os alunos mais obtusos em probabilidade como Jean, Francisco e Fábio, não estavam se descabelando tanto quanto Lucas, pois a prova estava muito boa para quem acompanhou as aulas. A única garota que não conseguia mesmo se concentrar para fazer a prova era Felícia, sua cabeça estava zonza e ela se mostrava muito enjoada, com a visão embaçada, além de ardência em suas narinas;

Ela levantou e se aproximou da professora; a maioria nem prestava atenção. Foi cambaleando até o centro onde a professora de cabelos curtos, na altura da nuca e a pele escura, estava.  Ela entregara a professora, que já viu que não tinha nada respondido:

— Ops, um segundo, Felícia! – Falara bem baixo pra não chamar atenção da turma, era uma professora bem serena e tranquila. Felícia já estava indo, mas quando a professora chamou sua atenção, virou os olhos de tédio, pressentindo algum puxão de orelha.

— Algum problema, professora?  - Respondeu Felícia que, por sinal, falava em um tom bem baixo e bem perto da mesa da professora para ninguém ouvir, mesmo que ela estivesse bem zonza para ligar muito para a opinião de outras pessoas.

— Você não respondeu nem as questões de múltipla escolha?! – Disse a professora assustada. Felícia olhou pra professora como se ela estivesse tirando sarro dela e então disse: “E que diferença faz?”. – Felícia pensou em seguida: “Qual é a dela?” Afinal, ela quase não apareceu nas aulas e mesmo nas ocasiões que estivera, era o oposto do que chamaríamos de aluna interessada.

— Se você acertar pelo menos as de múltipla escolha, você tem uma chance de passar na recuperação! – Em seguida, fixou os olhos em Felícia, notando que havia algo errado, seus cabelos estavam bagunçados e sua pele que sempre apresentava um tom bronzeado estava pálida demais. Sua voz sempre foi rouca, mas agora parecia de alguém doente. Entregara a prova novamente, mas no mesmo momento que ela aproximara a prova, Felícia tirou a folha de sua mão, de uma maneira delicada, e colocou novamente no diário da professora e disse:

 - Sinceramente, acha mesmo que eu tenho capacidade de acertar todas às três perguntas? - Indagou com um olhar indiferente, não de desafio, mas sim de ponderação retórica.

Em todas as aulas, Felícia foi chamada atenção e até mesmo, colocada para fora; A professora Joana era bem calma e simpática, mas também sabia ser firme como uma autoridade dentro de sala.

Ela deu um sorriso e fitou os olhos de felícia, que pareciam bem profundos, e fez uma indagação a indagação proferida por Felícia:

— Sinceramente, acha mesmo que eu diria para refazer a prova, se não acreditasse que você poderia passar?

Surpreendida pela resposta centrada, Felícia não sabia responder a professora e percebera que ela realmente estava sendo honesta, mas então deu de ombros, retribuiu com um sorriso de deboche e disse a ela - Professora, gosto muito da sua confiança na juventude, pena que eu não consigo ter essa confiança com ninguém, nem comigo mesmo! - E então ela olhou para baixo, ajeitou o cabelo que estava começando a tampar o seu olho e saiu da sala, ainda com uma tontura e de certa forma, desengonçada. A professora olhara não com desaprovação, ao vê-la sair da sala lentamente, mas com pena, pois sabia que Felícia não era tão má aluna como a maioria dos professores achava.

Antes de começar as matérias do ano letivo, a professora tinha feito uma prova de raciocínio lógico, para poder avaliar a capacidade de cognição e atenção dos seus alunos. Os resultados foram impressionantes, ela percebeu que muito dos alunos promissores tiravam notas altas em outras matérias porque estudavam bastante, mas não porque pegavam a matéria facilmente na cabeça. Alunos como Stanley, Celina e Maria, que tinham uma média ótima, na prova de raciocínio tiraram notas apenas medianas, muito a baixo do que se esperara dos mesmos. Alguns deles, chegaram até a se sair mal na prova.

Contudo, o que realmente impressionou foi que Felícia acertara oitenta e cinco por cento da prova. Um número alto, o segundo maior sendo mais específico, só perdendo para Alice e Kevin que tiraram a mesma nota.  

Enquanto isso, Felícia já estava perto do portão de saída da escola, não se sentia disposta a assistir mais aulas. Joana refletiu sobre isso, até esquecera que Stanley e Francisco levantaram para entregar a prova, rapidamente pediu desculpas por estar viajando:

— Desculpem! Estava distraída com uma coisa. Ela parece mal.

— Nem fique preocupada, professora! – Afirmou Francisco, falando um pouco mais alto do que Joana; Um garoto branco, alto, esguio de cabeça raspada. Tinha olhos verdes, mas que não compensavam. Era um “S.O.S” raiz (Só o olho salva). – Essa menina é uma perdida aqui, nem liga pras notas. Já está repetindo pela segunda vez o terceiro ano.

— É... eu sei!

Lembrara o quanto Felícia era despreocupada com muitas coisas. Felícia desde que chegara na escola, fizera poucas amizades, andava com Suzane de vez em quando. Namorava um ou outro garoto de vez em quando, as vezes no mesmo dia. Não se importava também com julgamentos, a ultima vez que tentaram moraliza-la, dera um chute no menino que a subjugou, bem no saco. Uma garota do segundo ano ficou a olhando com desdém em uma ocasião no pátio, Felícia pouco harmoniosa não fez nada, até o momento em que a menina falou baixinho com suas colegas que esta era descompassada.

“Descompassada”? Felícia a encarou e pegara a cabeça dela e esfregara nos seus peitos. “Sou muito descompassa, não é?” Mesmo quando tinha razão, acabava sempre em exageros. Ficava novamente registrada na secretária seus “desastres”. Poderia montar um álbum com eles, ou melhor, uma bibliografia. Daquelas grandes que deixariam “Uma breve história” de Halking e “Uma vida para o nosso tempo” de Freud, parecerem registros pouco detalhados.

— Professora, eu tô precisando de uma notinha a mais, porque... – Fora interrompido.

— O cabeça de piolho! Cala a boca, tô tentando me concentrar aqui, porra!  - Respondeu um garoto rechonchudo na ultima fileira, de cabelo castanho claro.

— Ei, sem gritaria! – chamou atenção dos alunos.

— Cala boca você, gordo de pantufa! – Respondeu para Alan, sentado na última fileira.

Joana estava pensando ainda em Felícia, nem ouvia mais o que os garotos estavam falando. “Acho que o que falta nela é um pouco de confiança... Mas pra isso eu tenho que saber quando ela perdeu...” Ela se preocupava de fato, tinha o coração de uma docente materna.

Enquanto isso, três garotos do segundo ano assobiaram para Felícia enquanto saía. A mesma respondeu com um modesto dedo do meio e palavras serenas, bem cultas como: “Enfia esse assobio no meio do seu cu, seu filho de uma maconheira aidética!”.

—---------------------------------------Fim do quarto capítulo -----------------------------------------------------------------------------------------


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Notas finais do capítulo

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