Coroa de Sangue escrita por Dandara Santos


Capítulo 2
Pressionada




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CATARINA

O sol ardia em meu rosto, mas isso não fez com que me mexesse da posição que estava. Meus braços esticados estavam doloridos, e meus punhos estavam quase em carne viva de tanto que os remexi durante a madrugada para tentar me soltar, até que percebi que isso era algo vão. Depois de horas Otávio enfim se levantou da cama, totalmente desorientado por conta da substância em seu vinho e automaticamente fechei os olhos, ouvi seus passos pelo quarto e depois de esbarrar em alguns móveis enfim ouvi o barulho da porta se abrindo. Ele saiu.

Respirei profundamente sentindo cada parte do meu corpo arder, todos os motivos para viver se foram, eu não tinha mais nada. Então era questão de horas, até que Otávio percebesse o que aconteceu e me matasse, livrando meu corpo e alma dessa dor. A porta abriu lentamente, e sem meu consentimento meu corpo se encolheu. Foi mais rápido do que pensei.

"Porque você não fugiu?" ouço a voz atrás de mim, e um lençol me cobriu.

Virgílio.

Mas não respondo, apenas uma coisa ainda me importava.

"Meu pai." Falo em meio a um sussurro, e não reconheço minha própria voz, quebrada. Frágil. Aquele crápula tirou tudo de mim na noite anterior, não deixou nada.

"Fugiu como o planejado, rei Augusto está livre, assim como Lucíola. Mas você não deveria estar aqui. Apenas eu. Por Deus, o que ele fez com você?" Virgílio perguntou, mas me concentro apenas na primeira parte da frase. Rei Augusto está livre.

Por instinto afastei meu corpo bruscamente quando senti que ele iria me tocar, terror tomando conta de mim, contra a minha própria vontade e enfim encaro a claridade do quarto.

"Não me toque."

"Tudo bem, não tocarei em você. Vou tentar te tirar daqui Catarina. Tenha paciência." Ele prometeu encarando meu rosto e tão rápido quanto entrou no quarto saiu.

A hora pareceu se arrastar, e continuei na mesma posição. Tudo o que eu fiz trouxe-me exatamente para onde estou, eu fui tão cega, cega de amor, por alguém que nunca seria capaz de retribuir o que sinto, e esse amor me levou a ruína.

A porta abriu com um estrondo violento, e senti as cordas serem cortadas de meus punhos e só assim percebi o estrago que tinha feito neles, pois sangue lentamente começou a escorrer dali.

"Você pensa que eu sou idiota? Onde está seu pai?" Otávio gritou, puxando meu cabelo bruscamente para ficar em pé. Me sinto fraquejar, mas forço as pernas sustentarem meu corpo, não iria baixar a cabeça para esse porco.

"Você nunca vai saber." E pela primeira vez minha voz saiu determinada, forte, como ela costumava ser.

Meu corpo caiu violentamente no chão, e senti o rosto arder pelo tapa.

"Você cometeu o pior erro da sua vida. E vai pagar caro por isso, mas antes, vai me dizer onde seu pai está, e vai me dizer agora!" Um sorriso escapou dos meus lábios, mesmo no chão e sei que ele viu.

Imploro ao meu corpo por forças e fico em pé, o encarando. E essa é a única coisa que tenho, que consegui.

"Você nunca vai saber Otávio, você perdeu, era seu único trunfo e agora só lhe resta..." E antes que a frase terminasse, sinto outro tapa, com menos intensidade, então consigo me manter firme em pé. Eu não tenho mais nada a perder. Então viro-me e com toda a força que ainda me resta o acerto no rosto, minha mão arde e seus olhos queimam em ódio.

"Agora você..."

"Me bata, me mate, faça o que você quiser Otávio! Mas você nunca mais vai ver meu pai." Gritei, e como é bom gritar. "E até um porco nojento como você, tem que respeitar alguns limites. Não se esqueça, que eu sou rainha de Artena!" falei a última parte em tom de ameaça, suas mãos imundas que me seguravam causavam arrepios por todo o meu corpo, meus olhos estavam queimando pela vontade de chorar, mas continuo firme a sua frente. "Tire as mãos de mim seu desgraçado." Gritei a última parte, puxando meus braços.

Otávio ficou me encarou por alguns minutos e oro internamente para que ele fosse embora do quarto antes que as lágrimas que estou segurando firmemente caiam. Enfim ele se afasta e respiro aliviada, até ouvir sua voz, ainda de costas para mim.

"Você vai apodrecer neste quarto Catarina, morrerá de fome ou de sede. Não me importo" E logo em seguida ouço o barulho da porta batendo, e sendo trancada pelo lado de fora.

As lágrimas agora correm livres pelo meu rosto, e agradeço por suas palavras, tudo o que quero é isso. 

Morrer.

Corte de Montemor

A sala ficou em completo silêncio por alguns segundo até que Afonso foi o primeiro a se manifestar.

"Isso é uma afronta, uma violência! Alguém precisa parar Otávio e esse alguém sou eu." Ele falou de forma firme.

Amália quase não acreditou nas palavras de seu noivo. "Catarina sabia quem era Otávio e mesmo assim aceitou se unir a ele, pelas nossas costas. Se ela está nessa situação, está porque ela mesma se colocou." Falou por fim.

As pessoas na sala não acreditavam no que tinham acabado de ouvir de Amália, sabiam que ela e Catarina eram rivais desde Artena, mas negar um pedido de socorro?

"Meu amor, Catarina é uma rainha. A rainha de Artena, nós não temos mais nada, o empréstimo nos foi negado, a mina desabou, não podemos ficar sem água. A água que vem das terras dela." Afonso tentou persuadir a ruiva.

Ela não concordava com a atitude de Afonso. Se colocar em perigo apenas para trazer aquela mulher de volta para a vida deles? Mas decidiu que não ia ter uma discussão ali na frente de todos, então apenas se retirou do local, indo para o aposento do casal.

"O que deseja fazer majestade?" Romero perguntou para o rei, assim que Amália saiu do local.

"Vamos até Lastrilha, como soberano de um reino aliado a Artena, é meu dever resgatar Catarina. Romero, reúna o máximo de homens que você conseguir, partiremos ao raiar do sol." O homem concordou e se retirou da sala, deixando apenas Gregório, Afonso e Lucíola que estava sentada em um canto, seus olhos repletos de lágrimas.

Ela ainda podia ouvir os gritos angustiados de sua rainha, mas sabia que tinha que partir, essa seria a única chance de resgate para sua Majestade. Claro que não contou todos os detalhes, apenas que Catarina tinha desistido do casamento e estava sendo mantida como refém, ocultou os abusos físicos e sexuais que ela sofreu, ocultou seus gritos e pedidos de ajuda, não era sua história para contar.

"Gregório, peça para que Diana prepare um banho e algo para que Lucíola coma. Foi uma viagem de um dia de Lastrilha até aqui, tenho certeza que ela está em seu limite." Afonso falou de forma baixa, apontando para a mulher que estava chorando desde que chegou ao castelo.

Logo em seguida saiu da sala e foi para seus aposentos, precisava descansar, pois iria sair assim que o sol raiasse. Ao entrar no quarto encontrou Amália já trocada de roupas, seus cabelos ruivos soltos e com um sorriso no rosto se aproximou lentamente, passou os braços por sua cintura, cheirando seus cabelos. Mas para sua surpresa a ruiva se afastou de forma brusca de seus braços.

"Não acredito que você vai fazer isso." Ela falou com raiva se virando para ele.

Afonso suspirou, não estava com cabeça para discussões. "Amália, por favor."

"Por favor? Afonso, você sabe tudo o que ela fez para nos separar, e agora vai correndo como se ela fosse uma donzela em perigo que precisa ser socorrida." Gritou as palavras de forma exasperada, e o homem a sua frente a olhou de forma incrédula. Aquela não era a mulher por quem tinha se apaixonado, não era a Amália doce, gentil e altruísta.

"Ela é uma donzela em perigo que precisa ser resgatada Amália. E sinceramente acho melhor eu dormir em outro quarto. Não estou reconhecendo você." Falou com a voz baixa, decepcionada,  porém firme. Lágrimas começaram a escorrer pelos olhos de sua noiva que tentou se aproximar e colocar a mão em seu peito, que ele apenas segurou antes que ela o fizesse.

"Afonso por favor, me perdoe. Está vendo? Catarina nem chegou e já está nos atrapalhando, como sempre." Ela sussurrou em meio as lágrimas.

"Chega! Pare de colocar toda a culpa em Catarina. Não quero mais uma palavra sobre isso. Boa noite Amália." Afonso falou se retirando do quarto. Seus pensamentos foram até Catarina, temendo por sua segurança e o que Otávio séria capaz de fazer com ela.

Corte de Lastrilha

Catarina passou a noite acordada, sempre que fechava os olhos as imagens do que lhe aconteceu vinham a sua mente e acordava em desespero, até que desistiu e achou por melhor ficar acordada. Rasgou a camisola que estava usando, se possível teria queimado, mas a lareira do seu quarto não estava acessa. Então se contentou em apenas jogar os pedaços de pano pela janela.

Colocou um de seus vestidos preferidos, o colar no pescoço e se sentou, se iria morrer de sede e de fome, iriam encontrar seu corpo assim. Como ela costumava ser. Mesmo que dentro de si tudo tenha mudado, ainda conseguia sentir as mãos imundas em seu corpo e se pudesse arrancaria a própria pele, apenas para passar essa sensação.

Viu a noite chegar, e um novo dia nascer. E quanto mais o tempo passava, mais sentia as consequências do que Otávio lhe fez pesarem. Mais um dia estava chegando ao fim quando a porta se abriu, para seu total desprezo era Otávio.

"Tenho novidades majestade, seu pai foi encontrado." Ele falou com convicção, mas Catarina apenas fechou os olhos e continuou sentada. Sabia que ele estava mentindo.

"É mentira, você não faz ideia de onde ele está." Respondeu abrindo os olhos, sua voz saiu arranhada, falhando, pela falta de saliva.

"Essa roupa de monge faz você se lembrar de algo?" Otávio falou se aproximando, e jogou a roupa aos seus pés, a roupa que deu para Virgílio usar juntamente com seu pai quando ele fosse fugir. E o medo e dúvida voltaram ao seu corpo. "Venha comigo, eu tenho uma surpresa para você." Falou rudemente a puxando pelo braço.

Não, de novo não. O pensamento voltou com força, mas quase sentiu seu corpo ir de encontro ao chão, sem forças para se manter em pé. Ela fechou os olhos e as imagens dele tocando-lhe invadiram sua mente como nas outras vezes e isso serviu de combustível para sua raiva contra ele. Ele não pode me tocar, não mais.

"Me larga." Gritou, enquanto se debatia, mas era em vão, ele apenas a arrastou pelos corredores até a sala do trono.

"Você vai aprender a me obedecer, Catarina." Otávio rosnou com raiva.

"O que é isso?" sua voz não passava de um sussurro, quando viu um padre no local.

Otávio a encarou, com um sorriso doentio em seu rosto. "Nosso casamento." E sua voz estava carregada de ódio e poder. "Ele será celebrado agora."

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Tochas acessas para matar o Otávio?

Opa, eu vi alguém indo dormir com raiva por conta do egoísmo da "mocinha"? Que o reinando de Afonsarina venha para a gente, a passinhos de bebê, mas venha.

XOXO



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