Coroa de Sangue escrita por Dandara Santos


Capítulo 3
Resgatada


Notas iniciais do capítulo

Capítulo duplo para compensar o tempo de hiato que fiquei aqui.
Sorry gente.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778958/chapter/3

Catarina olhou para ele sem acreditar em suas palavras, apenas o pensamento de ser esposa dele, ter suas mãos novamente em seu corpo, isso quase a fez desmaiar. Não, não, isso não pode acontecer.

"Eu não vou me casar com você, nunca, onde está meu pai?" Perguntou, ao olhar ao redor e perceber que rei Augusto não estava no local.

"Em um lugar seguro." Otávio rosnou.

Mas nesse momento ela percebeu que ele estava mentindo, usando isso para que se casasse com ele. E um sorriso, um sorriso da antiga Catarina surgiu em seus lábios rachados e ressecados.

"Mentira, você não sabe onde ele está seu desgraçado."

"Por favor, controle seu linguajar. Você está diante de uma autoridade religiosa, deve ter mais respeito."

Ela não aguentava mais ouvir sua voz ou ficar em sua presença, sentia que ia explodir a qualquer momento. "Chega seu canalha maldito" gritou com todas as suas forças, e sentiu novamente o tapa, dessa vez mais fortes que os outros. Sabia que seu rosto iria ficar roxo depois de todos esses tapas, mas nada disso lhe importava. Ele não vai me obrigar a se casar com ele, irei me matar antes que isso aconteça.

"Quando eu mandar, você me obedece." Otávio falou com a voz baixa e firme, a mão ardendo pelo forte tapa que deu na mulher à sua frente, que ainda estava jogada no chão. Quando percebeu que ela não ia obedecer, jogou a cartada final.

"Nós vamos nos casar agora, ou eu mato o seu pai." Mas Catarina apenas manteve a boca calada. "Você acha que eu terei algum pudor em atravessar uma espada em Augusto?" Otávio gritou as palavras para ela, e ela sabia que ele falava a verdade quanto a isso, mas também sabia que ele não estava com o seu pai.

"Você não está com o meu pai." Disse e sua voz era apenas um sussurro angustiado, esse era seu mantra e ela se agarrava a isso com todas as forças.

"Aires, mate o rei Augusto agora" Otávio ordenou, e um arrepio percorre o corpo de Catarina.

"Como desejar majestade." Ouviu a voz de seu escudeiro, ela observou quando seus pés se afastaram da sala, não, por favor, não pode ser verdade.

"Não!" Ela se rendeu por fim, e viu quando seus pés pararam. Forçou os braços e pernas a se erguerem, mas não tinha mais forças, depois das açoitadas, a noite em claro e de ficar privada de água e comida, sentia que suas forças estavam se extinguindo e não sabia quanto tempo iria aguentar sem que seu corpo enfim desmaiasse pelo cansaço. Com um aceno de mão um soldado se aproximou e apoiou seu corpo, para que ficasse em pé. Ela encolheu pelo contato e fixou seus pés no chão, afastando aquelas mãos de si.

"Sábia decisão." Otávio falou por fim satisfeito, um sorriso cruel no seu rosto. "Vamos dar início ao nosso casamento." E estendeu sua mão na direção dela. Lágrimas começaram a descer por seu rosto sem a sua permissão, e novamente se recriminou por demonstrar fraqueza na frente dele, entretanto, estava selando o fim de sua vida, assinando seu inferno na terra.

Não posso deixar meu pai pagar com a vida os meus erros, e apenas por esse pensamento Catarina ergueu a mão e segurou a dele.

"Pode iniciar a cerimônia eminência." Otávio falou.

Catarina olhou para o padre a sua frente e depois para o homem que segurava sua mão e percebeu o sorriso de satisfação em seu rosto, o corpo enfim relaxado, enfim teria tudo o que sempre quis. Artena e a mim. Pensou amargurada.

O padre ergueu um cálice e começou a cerimônia, e quanto mais o tempo passava, mais Catarina tentava pensar em seu pai, por ele e apenas por ele.

"Catarina de Lurton, rainha de Artena aceita Otávio, rei de Lastrilha como seu legítimo esposo?" as palavras ecoaram em seus ouvidos, e ela não conseguiu abrir a boca, engasgada com as próprias palavras.

Fechou os olhos, e sentiu sua vida passando em câmera lenta, ela corria o risco de Otávio estar apenas blefando com ela, mas se não estivesse? Queria tanto que Virgílio estivesse ali em algum lugar, apenas um olhar em seus olhos e ela saberia se seu pai estava seguro ou não.

"Catarina" Otávio rosnou, e olhou para o padre, para que ele repetisse a pergunta.

"Catarina de Lurton, rainha de Artena aceita Otávio, rei de Lastrilha como seu legítimo esposo?" o padre voltou a falar. Depois de presenciar tudo o que aconteceu era totalmente contra essa cerimônia, mas ele sabia que se negasse realizar seria morto.

Otávio apertou com força a mão de Catarina, e ela decidiu por fim aceitar aquela união. Não podia correr o risco.

Então com lágrimas escorrendo por seu rosto, ela fechou os olhos para pronunciar de forma lenta sua sentença.

"Eu, Catarina de Lurton, rainha de Artena..." Sua voz falhou devido aos soluços que escapas dos seus lábios. "Eu acei..."

"NÃO" Um grito ecoou pelo salão, fazendo Otávio largar sua mão e puxar a espada imediatamente. Afonso invadiu o castelo, mobilizando os soldados que não estavam esperando por um ataque repentino, isolando assim a área onde estavam.

Catarina respirava de forma acelerada, e aproveitou que estava momentaneamente livre e se afastou o máximo possível daquele homem, até que suas costas encontraram a parede. Ela quase disse sim, as palavras já estavam saindo de sua boca, e ao constatar isso sentiu seu corpo inteiro tremer.

Afonso olhou rapidamente para onde Catarina estava, percebeu que seu rosto estava vermelho de um lado com marcas de dedos em alto relevo, aquele porco tinha acertado seu rosto, e pelo visto mais de uma vez. Seus olhos estavam como nunca tinha visto, estavam amedrontados, poderia dizer que ela estava apavorada. O rosto vermelho devido ao choro. E percebeu naquele momento que tinha tomado a decisão certa em vim resgatar Catarina, mas isso apenas aumentou a raiva pelo homem que fez isso a ela.

"Ora Afonso, você está dentro do meu castelo, o que acha que está fazendo? Catarina é minha mulher." Otávio falou, sem se preocupar.

"Ela não disse aceito." Afonso o lembrou e um sorriso ameaçador apareceu em seu rosto. Ele tinha chegado a tempo. "A sala está isolada, seus homens rendidos e Catarina voltará comigo." Ele falou por fim, tentando se aproximar de onde ela estava, mas Otávio avançou e tentou desferir um golpe em direção ao rei de Montemor, que por sua vez foi mais rápido ao sacar sua espada e se defender do golpe.

Afonso estava cego pela raiva que dominou seu corpo, e avançou de forma violenta até que depois de vários golpes ficou com sua espada no pescoço de Otávio, a espada do mesmo jogada longe.

Aires que viu tudo de perto, tentou se aproximar lentamente com um outro soldado, de onde Catarina estava, e a puxou colocando uma espada em seu pescoço chamando assim a atenção dos dois reis.

"Acho que você terá que decidir Afonso, minha vida ou a dela?" Otávio falou com um sorriso no rosto, mesmo que sangue escorresse de sua boca por uma cotovelada que levou do mais novo.

Afonso encarou e o rei e depois Catarina, ele veio aqui para resgata-la e não matá-la, mas antes que tivesse tempo de pensar em uma alternativa, sangue começou a brotar da boca de Aires, o alto homem largou a espada e caiu no chão, atrás dele Virgílio, vestido com uma armadura dos soldados de Lastrilha segurava a lâmina que matou o homem.

"Virgílio?" Otávio e Afonso falaram ao mesmo tempo, ambos surpresos, o mais novo ao vê-lo sentiu o ódio por ele aparecer, pensou que ele estivesse morto, mas se não estava, merecia morrer por tudo que fez à Amália, e iria se certificar que isso acontecesse. Já Otávio não conseguia acreditar que tinha sido traído por seu conselheiro.

"Porque você me traiu?" O rei de Lastrilha falou por fim, mas Afonso passou a lâmina de sua espada pelo rosto do rei, fazendo um grande corte. O homem gritou em dor, sangue escorrendo.

"Tem sorte por eu não o matar." Ele falou cuspindo no homem. "Mas você não terá a mesma sorte." Falou se aproximando de Virgílio.

"Não!" Catarina falou firme, se colocando em sua frente, impedindo que Afonso chegasse até ele. "Ele é um cidadão arteniano, e eu sou sua rainha. Se ele cometeu algum crime, quem deve julga-lo sou eu e não você." Ela falou, mas logo em seguida sua vista escureceu, e precisou se apoiar na parede.

Afonso esqueceu a pequena discussão e foi ao seu alcance, segurou seu corpo para que ela não caísse, entretanto para seu espanto a reação que ela teve foi totalmente estranha para ele. Seu corpo estremeceu, depois encolheu, viu o pavor em seus olhos.

"Não a toque, a solte agora." Virgílio disse ao ver seu desespero por ser tocada, e Afonso se afastou, tentando entender o que tinha acontecido. Ela se encolheu no chão, lágrimas descendo do seu rosto enquanto sussurra sem parar. "Não me toque, por favor, não me toque."

Virgílio olhou ao redor e chamou Delano, um guarda de Artena que sabia ser fiel a Catarina, pegou uma grande capa e colocou nos ombros dela, cobrindo todo o seu corpo, e só assim, sem que encostasse em sua pele a ajudou a ficar em pé.

"Ninguém lhe tocará. Mas precisamos sair daqui." Disse encarando seus olhos, e logo em seguida sussurrou algo que só ela ouviu e percebeu seu corpo relaxar logo em seguida, então ela apenas concordou com a cabeça e seguiu Delano para fora da sala, seus passos errantes, como se não aguentasse seu próprio peso.

Otávio não teria feito isso com ela, teria? Afonso pensou, intercalando seu olhar entre Catarina e Otávio que estava no chão sangrando. Ele se aproximou de Virgílio segurando firme seu braço.

"Me largue." Virgílio falou de forma baixa, mas firme, ele ariscou a vida ao fazer aquilo, e agora que estava sob a proteção de Catarina, sabia que Afonso não poderia fazer nada contra ele.

"O que aconteceu aqui? O que você fazia aqui? O que Otávio fez com ela? Ele a violen..." Afonso não conseguiu terminar a frase, apenas aquele pensamento causava repulsa nele.

"São muitas perguntas majestade, mas acho que você sabe a resposta para a maioria delas, agora se me der licença, minha rainha precisa de mim." Falou com uma breve reverência e se afastou. Romero se aproximou do rei.

"Ninguém pode saber disso, manchará a reputação dela para sempre." Afonso falou baixo, e antes que saísse, pegou a espada de Romeno e fincou na perna de Otávio atravessando a mesma. O grito ecoou pelos corredores, mas Afonso não se importou e saiu dali. Precisavam sair o mais rápido possível, estavam em desvantagem numérica, apenas a surpresa estava ao favor deles. E não iria abusar da sorte.

Já fora do castelo, Catarina estava com o rosto pálido, devido ao esforço da caminhada, chegou onde os cavalos estavam e ficou sem reação, sabia que não iria aguentar cavalgar sozinha. Agarrou o manto que estava em seu corpo com mais força e olhou ao redor.

"Venha comigo, se precisar pego mais uma capa, assim não tocarei em você, pelo menos não diretamente." Afonso falou próximo a ela. "Os soldados não podem saber o que aconteceu com você, alguns deles já suspeitam, mas vamos dizer que foi apenas estresse, para isso você precisa ser forte, e deixar que eu te leve para um lugar seguro. Para casa. Montemor"

"Minha casa é Artena." Ela respondeu com a voz falha, ele estendeu a mão para ela assim mesmo, viu o medo em seus olhos, mas, mesmo assim ela segurou a sua mão.

Com um cuidado extremo, Afonso segurou em sua cintura e ergueu seu corpo, ajudando-a a subir no cavalo, viu quando ela estremeceu ao se sentar e sentiu seu sangue ferver ao imaginar o que mais ela devia ter passado, a julgar pelas marcas em seus rosto, ela provavelmente tinha sido agredida mais que isso fisicamente.

Subiu no cavalo, e seguiu o caminho para o Montemor, em certo momento sentiu o corpo dela relaxar, involuntariamente ela acabou encostando seu corpo ao dele, permitindo que o cansaço enfim tomasse conta de seu corpo.

Afonso apoiou o pequeno corpo contra o seu, de maneira que ela não caísse do cavalo, observou seu rosto, manchado pelas lágrimas e a marca dos golpes ali desferidos, mesmo assim, observando-a de perto, sua pele contrastando com seus cabelos negros soltos, o nariz delicado, os longos cílios, ela era linda, e se perguntou como alguém seria capaz de tamanha atrocidade em um ser tão bonito quanto ela. Mas também sabia que Catarina era uma mulher forte, ela ia conseguir superar os horrores dos últimos dias, e iria se certificar pessoalmente disso. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nossa Fada enfim saiu das mãos do crápula do Otávio.

Como ela vai reagir a partir de agora? Será a Catarina que sempre foi ou foi marcada de forma definitiva por Otávio? Cadê o rei Augusto? E Virgílio, fez muitas coisas erradas, fato. Mas salvou nossa Cat, o que pensar dele a partir de agora?

Montemor, e a Sonsa vai estar no castelo, jogamos ela na mesma fogueira que o Otávio se for se aproveitar desse momento frágil da nossa Cat e infernizar a vida como a boa samaritana que ela finge ser.

Afonso não será aquele homem insuportável e sem um pingo de empatia que foi na novela como puderam perceber, e pelos céus, ela não vai ficar grávida, não tem quem aguente depois do trauma que ela passou. Já Amália não posso prometer nada daquela ali.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coroa de Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.