Surpresas Aqui e Ali escrita por Wanderer


Capítulo 3
Surpresas Aqui e Ali.Capítulo 3




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Com lágrimas no rosto, Lien acrescenta:

— Na escola elementar, muitas vezes fui vítima de bullying por parte de colegas que não gostavam do fato eu ser mais inteligente do que eles, e tirar sempre as melhores notas. Na Pallas o mesmo problema continuou a ocorrer e foi aí que pela primeira vez, alguém se importou comigo.

Dipper percebe que vários alunos pareciam constrangidos ao ouvir aquilo. E que Kim-li parecia ser quem estava se sentindo pior. Mas decide guardar aquela informação para si por amis algum tempo.

 - Por favor, senhorita Northwest. Aceite esse presente em nome de toda a minha família. – diz Lien, chega perto até pôr o pacote nas mãos de Pacífica, para depois se afastar um pouco e fazer uma reverência.

 Priscilla ajuda a pôr o presente na mesa onde ele é aberto, e então ela e as pessoas mais próximas veem que era uma estátua de bronze com vinte centímetros de altura sobre uma base quadrada de madeira, mostrando uma jovem mulher num traje antigo traje militar oriental começando a sacar uma espada.

 Pacífica tateia minuciosamente aquele presente e pergunta:

 - Essa estátua é linda! Pode me dizer quem é essa mulher? – Lien explica:

— O nome dela é Hua Mulan. É uma heroína legendária, uma das mais reverenciadas da China! Eu e a minha família a consideramos tão destemida e valorosa quanto ela!

 Priscilla e as pessoas no salão veem todos os membros da família Cheng fazer reverência para Pacífica juntos. Mabel sussurra no ouvido da garota, que também retribui o gesto. Aí o membro mais velho da família se aproxima e diz:

 - Meu nome é Guang, sou o avô de Lien. Posso examinar o seu cajado, senhorita Northwest?

 - Claro! Esteja á vontade.

 O ancião pega o objeto olhando cada detalhe, da ponta ao cabo, e pergunta:

 - É um artefato surpreendente! Onde o conseguiu?

 Priscilla explica:

 - Nós conhecemos um homem bondoso, que levou a minha filha e eu até uma sala onde havia uma enorme coleção de cajados, e ele disse a minha filha que ela podia escolher um para ela.

 - Eu fui examinando um por um até que ao tocar esse, senti uma conexão que não posso explicar em palavras. E assim o obtive. – acrescenta Pacífica.

 - Fez uma ótima escolha! Esse cajado tem sete nós, um número auspicioso. É feito de madeira de pessegueiro, usada como proteção contra más influências e em rituais de exorcismo. A inscrição cinzelada no cabo de bronze é uma prece taoísta que diz: “Deus do Trovão, mate os fantasmas, limpe e envie pureza. Decapite os demônios, expulse o mal e mantenha-nos eternamente seguros. Deixe esse comando de Lao Zi ser executado rapidamente.”

— Quem é Lao Zi? – pergunta Mabel.

 - O fundador da religião taoísta. Seus adeptos, entre os quais eu me incluo, o veneram como a um deus. Tudo isso senhorita Northwest, faz com que esse cajado seja não apenas um instrumento para guiá-la, mas também um poderoso talismã contra o mal!

 - Muito obrigado por todas essas informações, senhor Cheng.

 O ancião faz uma reverência e volta para junto da família que começa a se dispersar pelo salão a fim de saborear a comida, enquanto os mais jovens iam dançar. Então, alguém no meio dos convidados pede:

 - Pacífica! Mostre as suas habilidades em artes marciais para nós!

 - Assim de repente, sem nem fazer um aquecimento? Não sei se é uma boa ideia. Comecei o meu treino em kung-fu wing chun faz apenas alguns meses, e estou ciente que o meu desempenho não será dos melhores. Kim-li e Toroa logo vão perceber as minhas falhas de novata.

— Talvez. – comenta Kim-li. – Mas eu e ele não somos juízes de artes marciais. Além disso você está no salão de festas da escola, não no Centro Shaolin de San Francisco, competindo para o campeonato de kung-fu da Califórnia. Portanto, vá em frente!

 - Parece que eu não vou escapar de fazer essa demonstração. - comenta Pacífica.

— Não vai mesmo. – retruca a mãe, um pouco aborrecida pelo fato de a filha ter ocultado dela o fato de ter brigado na escola e pergunta:

— Uma demonstração de dois minutos será o bastante? 

 Todos concordam que sim. Kim-li se afasta e logo volta, dizendo:

 - Já falei com o DJ, Pacífica! Ele vai tocar uma música durante exatamente dois minutos. Então, é só começar a demonstração assim que ouvir os primeiros acordes, e parar no final.

 Mabel leva Pacífica até o centro do salão e os outros alunos se afastam, deixando um grande espaço aberto. Aí, as caixas de som começam a tocar uma música dos anos 70:

 “Kung-fu fighting ...”

   Quando Pacífica termina a demonstração, é bastante aplaudida por todos inclusive o DJ. Mabel até ela pegá-la pela mão e trazer até a mesa onde a mãe a aguardava. O pai de Toroa se aproxima e pergunta:

— Quando você começou a praticar artes marciais?

— Em Setembro, logo após perder a minha visão.

— Eu sou professor de caratê e entendo de artes marciais o bastante para dizer que o nível em que está em tão pouco tempo já seria muito bom para uma pessoa comum. No seu caso, é ainda mais surpreendente. Congratulações, senhorita Northwest!

— Fico feliz em sido bem avaliada por um especialista no assunto, senhor Banta. – responde ela fazendo uma reverência, que é retribuída.

A festa transcorre animada, com Mabel levando comida e bebida para a namorada. Ela sentia ciúmes toda vez que algum rapaz se aproximava pedindo para dançar com Pacífica, mas consegue se controlar.

 Então Dipper se aproxima e sussurra para a amiga sobre a reação de Kim quando Lien havia falado sobre o bullying que ela sofria. Pacífica pede:

— Por favor Dipper, me leve até a Kim.

O garoto atende ao pedido e quando ambos estão diante da colega de escola que estava comendo salgadinhos em pé num canto da sala, Pacífica diz:

— Kim, eu gostaria de falar com você a respeito de Lien.

Aquelas palavras surpreendem a garota, que responde:

— Será que podemos ir ao banheiro feminino? Eu quero ter privacidade para conversar sobre esse assunto.

— É claro. Sem problema.

 Mabel vê Pacífica se afastando junto com a outra garota e as segue discretamente. O banheiro estava vazio e isso acalma Kim.

— Aconteceu em junho do ano passado. Eu estava na privada quando ouvi pessoas falando no lado de fora. Ao sair para lavar as mãos, vi Lien acuada por uma valentona seis polegadas e três vezes maior do que ela. Mas não fiz nada! Apenas lavei as mãos e fui embora, abandonando-a a própria sorte. Quando lembro disso sinto tanta vergonha de mim mesma! – confessa a garota, pondo as mãos no rosto.

 - Você se omitiu quando poderia ter ajudado, e isso foi grave. Mas não é possível mudar o passado. Então, mude o futuro!

— Como assim?

— Quando presenciar um caso de bullying, intervenha! E ao contrário de mim, talvez nem seja preciso brigar, porque todos temem você. Uma simples intimidação pode ser o suficiente para resolver o problema.

— Eu farei isso, Pacífica! – responde Kim, abraçando a amiga.

 Mabel, que estava ouvindo a conversa com o ouvido encostado na porta se afasta de volta ao salão de festas, sentindo muito orgulho da namorada. No lado de fora do prédio, a chuva termina.

   Quando a festa está acabando, Priscilla percebe que iria sobrar muita comida e diz aos convidados para levar algo para casa em embalagens para viagem. Muitos fazem isso, mas ainda havia muita coisa. Então Priscilla faz uma pesquisa no iPhone e depois, uma chamada. Cinquenta minutos depois um furgão para nos fundos da escola. Vários homens de macacão e boné bege recolhem o bufê remanescente, pondo tudo em caixas de papelão. Um deles agradece:

— Muito obrigado senhora! As crianças do Orfanato Aurora ficarão muito felizes!

— Fico contente em ajudar! – responde Priscilla.

 Segunda feira

 Os acontecimentos na festa de aniversário de Pacífica tem repercussões fora dele, porque os alunos que tinham ido no evento falam para os colegas ainda no fim de semana, em telefonemas ou enviando os vídeos da demonstração de artes marciais. apuros de Lien se tornam conhecidos por todos. Para se redimir da omissão, os colegas de classe de Lien da começam a protegê-la e quando a garotinha precisava ir ao banheiro, sempre era acompanhada por uma garota maior e mais forte.

 Refeitório da Escola. Horário de almoço.

 O local estava repleto de alunos, que param de conversar quando veem o diretor chegar no local e ir até a mesa onde Pacífica com um casaco rosa choque, estava sentada junto com os irmãos Pines, alguns colegas de classe, Kim e Ryan.

 - Toda a escola está comentando sobre a sua festa, e também sobre a briga que travou em um dos banheiros femininos, semanas atrás.

— Eu não gosto desse tipo de confronto diretor Aiken, mas foi necessário.

— Porque na ocasião não falou nada para mim ou algum dos professores ou dos monitores sobre o ocorrido, senhorita Northwest?

— Achei que era algo sem importância, senhor.

— Discordo com veemência. Se isso acontecer novamente, por favor avise e tente saber quem mais estava no local, além de você. Eu prezo a disciplina e não gosto de brigas. Só não vou repreendê-la porque você agiu para defender uma colega de escola.

 - Agradeço a sua compreensão e prometo que em caso de problemas como o ocorrido, irei agir conforme ordenou, diretor Aiken.

— Agora, me diga se ainda está treinando artes marciais.

— Eu tenho um treinador pessoal que me dá aulas 60 minutos de kung-fu wing-chun e depois, mais 30 minutos de luta com bastões. Faço isso de segunda a sexta feira.

 - Então após os dias em que há aulas de educação física, você ainda treina por uma hora e meia em casa?

 - Sim, as aulas daqui são um ótimo aquecimento.

 Ao ouvir aquilo, os alunos que não gostavam das aulas de educação física ficam surpresos. Os que adoravam esportes admiram Pacífica como uma igual. Sidney e Rong percebem que a derrota delas não havia ocorrido por acaso e que qualquer tentativa de vingança contra colega de escola iria ser mais difícil do que elas haviam pensado.

 - Se incomoda se a senhora Lowell acompanhá-la hoje até a sua casa, para ver como é o seu treino?

 - De modo algum, senhor Aiken. Só vou ligar para a minha mãe antes, avisando que hoje iremos receber uma visita.

— Só gostaria de saber quem eram as delinquentes que atacaram a pequena Chen. Mas ela parece estar com medo demais para dizer os nomes das culpadas. Bem, acho que vou ter de me conformar com isso. Bem, é só isso. Bom apetite, senhorita Northwest.

 - Obrigada, senhor diretor.

 Enquanto volta para o escritório, Aiken pensa de novo sobre o incidente. Então, lembra de Sidney e Rong que semanas antes, haviam derrubado no chão o irascível Denissov. O incidente havia ocorrido perto de um dos banheiros femininos.

(Será que elas foram as valentonas que Pacífica derrotou? Elas são amigas que sempre andam juntas, além de grandes, fortes e problemáticas, mas espertas demais para serem pegas em flagrante.)

 Outra lembrança surge na mente de Aiken, que se lembra da suspensão que havia imposto a dupla e sorri.

 (Se eu estou certo então as castiguei, ainda que por outro motivo. E para garotas arrogantes e truculentas como elas, terem sido vencidas por uma oponente cega deve ter sido uma humilhação terrível!)

 Aquela convicção satisfaz Aiken, e é com o coração leve que ele volta ao trabalho.

  Refeitório da Escola

 Assim que Pacifica termina de comer e sai do local junto com os irmãos Pines, a causa da cegueira da garota logo vem à tona. Todos alunos que não tinham ido para a festa ficam chocados com a notícia.

 - Ela ficou cega após uma tentativa de assassinato? – pergunta uma garota de olhos verdes, cabelo louro avermelhado, vestido pêssego com mangas longas e gola alta

— Mas quem fez isso, e por que?— pergunta um garoto de cabelos castanhos olhos cinza, usando um casaco de couro azul marinho.

— Eu não sei, porque ela não disse.  – responde uma morena de olhos verdes com casaco rosa. Mas acho que nós não devemos perguntar nada sobre esse assunto.  – disse a ruiva de olhos verdes, usando um suéter azul claro de gola alta que havia contado sobre o ocorrido.

 - Mas por que? – pergunta um rapaz de cabelos negros e olhos castanhos, com uma camisa alaranjada de mangas compridas.

 - Pacífica deve ter pesadelos por causa disso. Agora me digam: o que vocês fazem quando tem pesadelos? – pergunta um rapaz forte de cabelo castanho claro e olhos verdes, com um casaco abóbora.

 - Acordo e abro os olhos. – fala uma loura de olhos azuis, com suéter violeta.

 - Já tive pesadelos que além disso, também me fizeram acender o abajur. – acrescenta uma garota nipo-americana de olhos verdes e cabelos pretos num rabo de cavalo, com casaco cor de rosa de gola marinheiro e lenço branco.

 - Sim, é o que todos fazem. – comenta o rapaz. – Mas no caso de Pacífica, nenhuma dessas coisas ajuda!

 - Caraca! É mesmo! – diz um rapaz afro-americano de blusa cinza. – Você está certo, Clyde. Não iremos tocar nesse assunto, a menos que Pacífica queira.

 Aquela convicção logo se espalharia por toda a escola.

  Quarta feira. Sala de informática 6B.

     Uma garota atlética de olhos castanhos e cabelos louro cinza ondulados, usando um pulôver bege e calças jeans estava diante de outra, mais baixa e magricela, cabelos cinzentos lisos e curtos, olhos azul escuros, de casaco branco e calças cor de rosa.

Você vai fazer o meu trabalho de casa de ciências, porque as minhas últimas notas foram horríveis e se isso acontecer de novo, eu estarei ferrada! Isso é melhor do que levar uma surra, você não acha?

 Antes que a outra garota responda, ambas ouvem uma voz vinda de trás delas.

 - Eu tenho outra ideia: que tal você estudar mais?

 As duas olham e veem Kim-li, usando botas pretas de cano curto, calças de couro cinza claro e jaqueta magenta de mangas longas com estampa frontal de um tigre rugindo. E esfregava os punhos, mostrando que estava pronta para brigar. A magrinha arregala os olhos e a valentona sente um calafrio descendo a espinha.

—  Mas como estou de bom humor, vou oferecer outra opção: estudar junto comigo!

 - Com você? – pergunta a valentona, confusa com aquela proposta inesperada.

— As notas da Kim em ciências são melhores do que as minhas! – diz a outra menina – Se não acredita pergunte ao nosso professor, o senhor Wolcott!

— Muito bem, o que está acontecendo aqui?

Elas olham e veem Fiona Cormick uma das monitoras, mulher alta cabelos louro palha curtos, olhos aqua, ombros, busto e quadris largos, usando um traje esportivo de nylon vermelho com mangas longas, encarando-as com as mãos na cintura. Com uma perfeita cara de pau, Kim-li responde:

— Bethany está com notas ruins em ciências e pediu a Grace para ajudá-la, mas como  Grace está sem tempo disponível eu me ofereci para fazer isso, e nem vou cobrar pelas lições extras! – diz Kim, enquanto põe a mão no ombro esquerdo da colega de escola.

— Eu gosto de ver esse espírito escolar! Parece que hoje é o seu dia de sorte, Bethany!

 Olhando para a monitora enquanto sente o doloroso aperto de Kim no ombro, a valentona concorda e responde, com um sorriso amarelo:

Sim! Com certeza, senhora Cormick!


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