Surpresas Aqui e Ali escrita por Wanderer


Capítulo 1
Surpresas Aqui e Ali.Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778608/chapter/1

A escola Pallas oferecia aos seus alunos várias opções para atividades físicas, em aulas de quarenta minutos três vezes por semana. Basquete, atletismo e natação estavam disponíveis para ambos os sexos e havia times de basquete em cadeiras de rodas. Beisebol era só para os rapazes e softbol, um esporte feminino. Em dias chuvosos, quem praticava esportes ao ar livre ficava fazendo malhação no salão de festa das escola.  Dipper havia optado por atletismo. Mabel, softbol. Pacífica optou por natação. 

    Ao ver a sua amada ir aos vestiários Mabel se preocupou, porque sabia que não podia falar sobre o sentido de radar, e temia a possiblidade das colegas fazerem bullying. Mas logo percebeu não havia motivos para tanto: enquanto trocava de roupa Pacífica é tratada pelas outras alunas com carinho.

  Nas aulas de natação feminina era obrigatório o uso de maiô, e cada garota podia escolher a cor do seu traje.   Ao sair do vestiário com um maiô rosa choque e uma touca de borracha branca sobre os cabelos é conduzida até a borda da piscina pela professora de natação Ashley Lowell, uma mulher de 35 anos de olhos verde claro e cabelos pretos em estilo Chanel, usando uma camisa branca de mangas curtas, com legging de lycra vermelham e tênia da mesma cor.

  A desenvoltura de Pacífica ao nadar surpreende a todas e a própria garota explica o motivo:

 - Aprendi a nadar com quatro anos e na mansão que a minha família tinha em Gravity Falls, havia uma piscina olímpica. Minha mãe viu no site da escola que a piscina do colégio é do mesmo tamanho. Foi por isso que eu não tive problemas aqui.

  Após a aula, Pacífica estava começando a retirar o maiô quando para, ao sentir algo incômodo. Franzindo a testa, ela diz:

 - Tem alguma coisa caindo em cima da minha touca de natação!

 Uma garota ruiva a ajuda ir um pouco para o lado, enquanto diz:

 - Pacífica, você acaba de era atingida pela gosma fantasma!

 - O que é isso?

 - Ninguém sabe! Essa coisa é verde como uma alface, e surge de repente no teto das salas ou de qualquer outro lugar da escola. Cresce e então, começa a pingar sobre qualquer coisa ou pessoa que esteja embaixo, como está acontecendo aqui e agora.

 - A que está acima de onde você estava sentada tem o tamanho de um prato de sobremesa. – diz uma garota de cabelos pretos e ondulados, olhando para cima.

 - Já recolheram amostras disso, que foram levadas a Universidade de San Francisco, mas nem os melhores químicos de lá conseguiram descobrir do que é feita. As únicas certezas são que não é venenosa, inflamável ou corrosiva, podendo ser removida com xampu, sabão ou detergente.

 - Os faxineiros gostam dessa parte. – acrescenta uma loura de olhos verdes.

 - Além disso, ocorre mais algum fenômeno incomum por aqui?

 - Você conhece aquela neblina branca que aparece nos filmes de terror, encobrindo o chão de cemitérios e outros locais sinistros?

 - Sim. Antes de ficar cega, eu vi filmes mostrando esse tipo de cena.

 - Também temos isso.  – prossegue a ruiva - Em geral aparece á noite quando a escola está vazia, mas quando ocorre durante o horário de aula alguns alunos se sentem desconfortáveis e os novatos ficam assustados, mas logo se acostumam.

  Lowell entra na conversa.

  - Outra coisa estranha são objetos se movendo sem ninguém tocar neles ou sumir, para reaparecer em outros locais do prédio. Algumas coisas que sumiram, demoraram vários dias para serem reencontradas!

 - Eu espero que isso nunca aconteça com o meu cajado! – diz Pacífica.

 - E por fim – prossegue Lowell – nós temos Alyssa Kennison, uma aluna de olhos verdes e cabelos prateados que dizia adorar a escola, porque aqui era o lugar onde ela se sentia mais feliz.

 Em 1983, ela estava vindo de carro para a escola, onde iria acontecer o baile de debutante dela quando numa rua adjacente, dois motoristas estavam num bate-boca um bate-boca por após terem batido os carros. Um deles sacou um revólver Magnum 357 e atirou três vezes. Duas balas atingiram o outro motorista, e a terceira, Alyssa.

 Ambos foram levados a um hospital, onde os médicos começaram as cirurgias de emergência. Mas enquanto o motorista baleado foi salvo, o mesmo não aconteceu com Alyssa.

 Em meio a tristeza e dor Fraser (a pai de Alyssa) ligou para a escola a fim de relatar o ocorrido, mas nem teve tempo de terminar de falar porque o funcionário que havia atendido o telefone achou que era um trote, e o interrompeu de modo rude:

 - Que brincadeira de mau gosto é essa? Alyssa Kennison chegou na hora certa pro baile! De onde estou posso vê-la dançando no salão de festas com o namorado dela, Gleen Markham!

 Diante daquela notícia incrível, a família dela veio para cá o mais depressa possível, mas quando entraram no salão alguém lhes disse que a garota havia saído poucos momentos antes. Quando os Kennison falaram sobre a tragédia, vários alunos desmaiaram. Sei disso porque eu era aluna naquela época, e também estava no baile.

 - E você ou alguém percebeu algo diferente em Alyssa? – pergunta Mabel.

— Bem, Alyssa não quis comer ou beber nada, dizendo que desejava apenas se divertir muito e ao ser perguntada sobre ter chegado sozinha ao baile, respondeu que a família havia tido um contratempo, e viria mais tarde.

  Meses depois, um aluno novato que não sabia quem era Alyssa disse que ela o havia ajudado a encontrar uma pesquisa importante que ele havia perdido. Isso parece ser algo que ela gosta de fazer. Ninguém jamais se queixou dela ter feito qualquer ato maligno. Mas é claro que vê-la sempre deixa qualquer um nervoso. Afinal de contas, trata-se um fantasma!

 - Eu suponho que tudo isso deva ter chamado a atenção de pessoas como parapsicólogos e caça-fantasmas. – comenta Pacifica.

 - Sim. – diz outra garota, loura platinada de olhos azuis. – A Pallas até já apareceu em revistas esotéricas e de ocultismo, assim como em um programa de TV sobre eventos paranormais, e foi colocada entre das 10 escolas secundárias mais assombradas dos Estados Unidos!

 Pacífica tira o maiô, troca de roupa, pega o cajado ,põe a mochila nas costas  e sai junto com Mabel, dizendo:

 - Estas são ótimas notícias! Sem dúvida, eu escolhi o melhor lugar para estudar em toda a Califórnia!

 As alunas e a treinadora ficam trocando olhares, todas perplexas com as palavras que haviam acabado de ouvir.

  Naquele mesmo dia após o fim das aulas, sob um céu repleto de nuvens escuras indicando fortes chuvas para as próximas horas, Pacífica, Mabel, Dipper e alguns colegas de classe estavam no estacionamento da escola, aonde a mãe de Pacífica iria para busca-la, quando Natalie, uma garota olhos azul, cabelo castanho escuro, usando casaco malva e calça lavanda – percebe alguém indo à direção delas.

 - Essa não! Kim-Li Vong está vindo para cá!

 - Como ela é?

— Pele bege, olhos verde acinzentado. Fã do estilo punk-gótico. Cabelo tingido de turquesa e vermelho alaranjado. Mochila jeans nas costas. Blusa magenta de mangas curtas com a gravura de uma cabeça de tigre nela. Botas marrons de cano curto. Calças e braçadeiras de couro preto.

 - As braçadeiras têm pontas cônicas de metal. – acrescenta Mabel.

  Ethan, um garoto de cabelos castanho avermelhado, com blusa azul celeste e calças cinza claro. Diz:

— Kim é robusta e quase oito centímetros mais alta do que você.   Eu li no jornal da escola que nos anos 70, os avós dela foram espertos o bastante para perceber que sem a ajuda americana o Vietnã do Sul estava ferrado, e caíram fora do país bem antes da queda de Saigon. Os pais de Kim já nasceram nos Estados Unidos. Ela é da segunda geração.

Davina Galway, uma garota afro-americana de olhos cinza, vestida com legging verde claro e suéter azul gelo diz:

— Eu sou a editora do jornal e a reportagem lida por Ethan era sobre os melhores alunos da Pallas. As notas da Kim são ótimas, mas ela não se encaixa entre os nerds, não fez amizades entre as garotas e até os valentões tem medo dela. Os boatos são de que nem Toroa ousou importuná-la, porque é uma ótima lutadora de boxe tailandês.

   Ao chegar mais perto á garota pergunta de cara amarrada:

 - Ei panacas, o que vocês estavam falando enquanto olhavam para mim?

  Pacífica responde ao mesmo tempo em que avança, ficando entre os colegas de escola e Kim.

 - Dizendo para mim quem você é, sua aparência e como são as roupas que está usando. Então, quer falar com eles ou comigo, Kim-Li Vong?

— Com você, Pacífica Northwest. – Nunca conheci alguém que tenha se alegrado em saber dos fenômenos sobrenaturais que acontecem nessa escola. Porque sua reação foi diferente?

— Talvez porque eu tenha crescido em Gravity Falls no Oregon, uma cidade pequena em tamanho, mas onde as pessoas se deparam com ocorrências bizarras o tempo todo. Mesmo após mudar para a Califórnia, antes de perder a minha visão, vi coisas muito estranhas.

  Creio que foi por causa disto que fiquei feliz em saber que acontecem fenômenos incomuns na Pallas. Uma escola onde tudo que eu pudesse fazer fosse ouvir aulas, almoçar na cantina e fazer malhação três vezes por semana seria um lugar bastante entediante.

 Kim sorri enquanto abraça Pacífica, erguendo-a facilmente do chão.

 - Pacífica Northwest, eu gostei de você! Nós temos de tomar um sorvete no Fenton qualquer dia desses!

 - Isso me parece uma boa ideia. –responde a garota, confusa com aquele comportamento inesperado.

  Kim põe Pacífica no chão, e vai embora rindo.

 - Incrível!— comenta Ethan – Estudo aqui desde o início do ano passado, e é a primeira vez que eu vejo a Kim ser amável com alguém!

 - Pacífica, eu acho que você conseguiu a mais improvável da amigas! – acrescenta Dipper, enquanto os demais acenam a cabeça, concordando. Vários outros alunos nas proximidades e que também tinham visto a cena, começam conversar entre si.

  Outro fato inusitado ocorre dias depois, quando Pacífica pede ao diretor Aiken para que um professor a levasse por toda a escola, para que ela pudesse memorizar a planta do prédio.

 - Isso vai ser útil para mim não apenas no dia a dia, como também para alguma eventual situação de emergência.

 Aiken concorda e após falar com os professores, Laureen Wermer, uma quarentona de olhos e cabelo castanho escuro, se voluntaria para a tarefa.

 Mulher atenta ás minúcias, ela diz a Pacífica o número de portas em cada andar e o que havia atrás de cada uma delas: sala de aula, para atividades artísticas, contabilidade, sala dos professores, laboratório, biblioteca, instalações sanitárias masculinas ou femininas, etc.

  Informa até detalhes que outros teriam posto de lado por não considerar importantes, como armários e locais para guardar vassouras, material de escritório ou produtos de limpeza. Pacífica agradece muito pela ajuda.

  O banheiro feminino tinha paredes rosa gelo e piso branco, com sete privadas em cubículos individuais e cinco pias na parede a direita, onde também estava um grande espelho retangular.

 Três garotas estavam ali. Uma delas era Rong Zhu, uma oriental corpulenta, de olhos castanho escuro e cabelos negros curtos, com ombros largos e braços grossos. Vestia calças azuis e casaco vermelho.

 Com o braço esquerdo erguia pelo pescoço outra garota oriental baixinha e franzina, de olhos azuis escuros por detrás óculos redondos com armação prateada cabelos pretos arrumados numa trança curta com uma pequena fita branca na ponta. Com a mão esquerda, a garota maior forçava o braço direito de sua vítima para trás.

 Usava calças amarelo limão. O zíper do casaco rosa gelo de mangas longas havia sido aberto, mostrando a blusa branca com a gravura de uma marinha mágica cor de rosa, com um coração da mesma cor dentro de um círculo dourado. As botas azul turquesa de cano curto estavam dez centímetros acima do chão.

  Com os olhos arregalados de medo, a menina respirava devagar enquanto era revistada por Sidney Campbell, uma loura e atlética, de olhos verdes e cabelo louro acinzentado arrumado num rabo de cavalo baixo, com calças azuis e casaco marrom de mangas compridas.

 Irritada, Sidney olha para o dinheiro e o celular que conseguido retirar da desafortunada colega de escola.

 - Só 38 dólares, algumas moedas e um celular barato? Você está curtindo com a nossa cara?

Mas antes que a garota responda uma voz vinda de trás diz:

— Faz apenas 15 dias que eu entrei na Pallas, e estou testemunhando a ação de duas valentonas que também são delinquentes!

 As duas garotas olham para ver quem havia falado e veem Pacifica Northwest, com um casaco pêssego cujo capuz estava abaixado, e calças púrpura. A loura cega havia tirado a alça do cajado do pulso direito e calma, acrescenta:

 - Claro que estou usando a palavra testemunhar no sentido metafórico.

 - Caia fora daqui, loura cega! – diz Sidney, enquanto a gorducha larga outra menina, que cai sentada no chão.

 - Eu vou sair, depois que vocês devolverem o que não lhes pertence a sua legítima dona.

 - Acha que eu e minha amiga não temos coragem pra dar uma surra em você? – diz Rong.

— Tenho certeza de que ambas são desprezíveis o bastante para isso.

  Sidney ataca num movimento rápido, mas Pacífica se esquiva, ao mesmo tempo em que usa o cajado para fazer Sidney tropeçar. Sidney cai para a frente. Pacífica faz um giro completo com o cajado para atingir a oponente com uma bordoada na nuca, enquanto faz um comentário inesperado:

 - Imprudente.

  Em seguida ela gira de novo o cajado, fazendo um movimento para trás por baixo do braço direito para atingir Rong no fígado com o cabo de bronze quando estava prestes tentar agarrá-la por trás. A robusta garota faz uma careta de dor pondo as mãos na barriga quando Pacífica gira o corpo apoiada num pé como um bailarina para completar o contra-ataque com uma joelhada na bunda de Rong, enquanto diz:

 - Barulhenta.

  Rong cai em cima de Sidney, que estava começando a se levantar. Ambas batem no chão com força.

 Ainda sentido dores elas olham para a loura cega, que aponta o cajado dizendo:

  - Agora devolvam tudo, e saiam daqui antes que eu fique zangada!

 Assustadas elas obedecem, enquanto Pacífica pergunta á garotinha:

— Pode me dizer o seu nome?

— Lien Hua Cheng, senhorita Northwest.

— Você me conhece?

— Todos na Pallas a conhecem, senhorita Northwest!

 - Por favor, são seja tão formal E então, você está machucada?

 - Não, apenas um pouco assustada e totalmente perplexa! – responde Lien, enquanto guarda de novo no casaco o dinheiro e o celular.

 - Com o que acabei de fazer?

— Sim, aquilo foi extraordinário!

— Nem tanto. Eu acho que apenas tive sorte.

 - Mesmo assim, você tem a minha sincera gratidão pela ajuda. – responde Lien, fazendo uma reverência para depois ajudar Pacífica a entrar num dos cubículos com vaso sanitário e depois vai para a saída.

  Quando está quase no lado de fora, ouve uma voz masculina dizendo num tom ríspido:

 - Derrubado no chão por duas cretinas que estavam correndo como éguas selvagens! O lugar certo para isso é na pista de atletismo, e não nos corredores do colégio!

  Com cautela, Lien espia pelo canto da parede para não ser vista e vê quem estava falando: era Willian Denissov. Magro e forte, com cabelo cinza que já estava começando a se tornar branco, era tão severo quanto um sargento do Exército e estava sempre de cara amarrada, motivo para os alunos o apelidarem de “Buldogue”.

 Erguendo o braço, ele aponta para as escadas.

 - Agora subam! Vamos para a sala do diretor!

  Lien espera até os três saírem de vista e volta para a sala de aula ainda com o coração batendo acelerado, lamentando não poder contar sobre o incidente no banheiro para Denissov.

 (Se eu falasse sobre o que Pacífica fez, ele iria pensar que é mentira! De fato, acho que nem os meus pais irão acreditar no que aconteceu!).

  Sidney e Rong são levadas até Aiken e após outra bronca, recebem como castigo duas semanas de suspensão por agredir um funcionário da escola. Ao chegar em casa com uma carta da Pallas falando sobre o ocorrido, elas ainda têm de encarar a ira dos pais...

  As aulas haviam terminado e maioria dos alunos inclusive os irmãos Pines já havia ido embora, com pressa para escapar da chuva cuja ocorrência já era óbvia desde a hora do almoço.

 Pacífica estava em pé perto da porta lateral no estacionamento, com casaco impermeável amarelo de mangas compridas, calças rosa choque e botas azul marinho de cano curto quando ouve uma voz familiar:

— Porque continua aqui?

— Ah, é você Kim-li?

 A garota se aproxima. Usava calças pretas, botas e casaco púrpura de mangas compridas com capuz, que estava abaixado. Segurava pela alça uma sombrinha vermelha.

— Sim sou eu e então, qual é a resposta?

— Estou esperando a minha mãe.

— Devia ter imaginado. 

— E você, porque ficou até agora?

— Estava na sala de informática, usando um dos PCs para concluir uma pesquisa de Física que tenho de entregar amanhã. Os computadores da escola são muito melhores e mais potentes do que o PC que eu tenho na minha casa.

 - Uma ótima ideia. Agora me diga por que insiste nesse papel de punk rabugenta.

 - Tenho motivos para isso. Agora, me diga se por acaso o carro da sua mãe é um Hyundai Sonata branco.

— Sim. Por acaso esse é o veículo que eu estou ouvindo se aproximar daqui?

 Um forte trovão estremece as janelas da escola, impedindo Pacífica de ouvir a resposta da colega de escola. As primeiras gotas de chuva começam a cair.

  - Onde você mora, Kim-li?

  - Na Avenida Coral.

— Ei, a minha casa é na Avenida Avalon. A sua casa fica no meio do caminho. Que tal vir comigo?

 Outro trovão ocorre pouco antes da intensidade da chuva começar a aumentar. Priscilla, com um belo vestido azul turquesa com decote redondo, diz enquanto abre a porta traseira do Hyundai:

 - Depressa, garotas! Vai cair um pé d’agua!

 Kim percebe que não havia outra opção, e entra no carro. Priscilla também. Kim põe a sombrinha no colo, Pacífica faz o mesmo com o cajado, às mochilas escolares são colocadas no piso do veículo e todas fecham os cintos de segurança, enquanto começa a tempestade.

 - Me fale mais sobre você, Kim. Porque optou por um visual punk e comportamento rabugento?

 - A minha família valoriza muito boas notas na escola e por isso sempre estudei bastante para obtê-las. Só que desse modo, sem querer atraí a inveja das outras garotas e também de alguns garotos, e comecei a ser alvo de bullying.

 Então, o meu avô sugeriu que eu devia aprender modos de me defender. Escolhi o boxe tailandês. Treinei bastante até conseguir uma braçadeira branco e amarelo, a segunda graduação naquela arte marcial.

  Passei a retaliar e depois que espanquei uns dez colegas, todos entenderam que o melhor era não me importunar e a partir daí, fui deixada em paz.

 - Quantas vezes você foi advertida ou suspensa por causa dessas brigas na escola?

 - Nenhuma, porque nunca fui tola de brigar sob as vistas dos professores ou monitores. Eu atacava meus inimigos quando estávamos sozinhos em algum corredor ou nos banheiros. Sem flagrante ou testemunhas, não havia punição para mim.

 - Uma tática bem bolada, porém não muito ética.

— O comportamento dos meus colegas de escola para comigo também não era ético. Pouco antes de entrar na Pallas, li reportagem em uma revista sobre o movimento punk e percebi que o visual agressivo deles seria um ótimo meio de conseguir respeito dos outros alunos. Funcionou desde o primeiro dia.

 - Nunca pensou em usar sua habilidade em artes marciais para ajudar os alunos que são vítimas de bullying? Poderia ganhar amigos.

 - Se os nerds são tolos o bastante para só ficar chorando ou lamentar quando são agredidos, isso é problemas deles. Eu não quero a amizade de fracotes.

— Kim, durante muito tempo eu também acreditei que ter amigos era tolice, até que os irmãos Pines me mostraram o quanto eu estava errada.

  Não foi algo que aconteceu de repente, mas depois que percebi o valor da amizade a minha vida tornou-se muito melhor, algo que também pode acontecer com você. Por favor, pense nisso.

— Eu peço desculpas em interromper a conversa, meninas – diz Priscilla, mas a Avenida Coral fica após o próximo quarteirão à direita. Avise quando estivermos diante da sua casa, Kim.

 A garota fica olhando as residências até que vê um grande prédio cinza claro com três blocos geminados de dois andares no estilo bangalô e diz:

 - É aqui! Muito obrigado pela carona, senhora Northwest! – diz a garota, sem saber que a mãe de Pacífica havia se divorciado de Preston, e não usava mais aquele sobrenome.

 Em seguida, Kim solta o cinto de segurança, ergue o capuz, põe a mochila nas costas, abre a porta do carro e a empurra para fechar, enquanto abre a sombrinha vermelha. Logo está correndo escada acima, rumo ao prédio enquanto o carro com Priscilla e Pacífica vai embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Surpresas Aqui e Ali" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.