Colegas de apartamento escrita por calivillas


Capítulo 15
Seja apenas você mesma




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Noite de sexta-feira, eu e Felipe estamos deitados na minha cama, de preguiça, olhando o teto, depois de transarmos.

— Paula, o que vai fazer amanhã à noite? — ele perguntou de modo falsamente casual.

Eu me virei para ele, sem entender, ele se voltou para mim, ficamos assim, olhos nos olhos.

— Ficar com meu namorado — respondi, com um sorrisinho sarcástico.

— Eu sei. Mas... — Ele estava completamente sem jeito.

— Mas... — Eu estava totalmente curiosa.

— Minha mãe vai dar um jantar de aniversário para o meu pai, tipo uma festa surpresa, e pediu para convidá-la.

Eu o encarei por um instante, atônita, mesmo imaginando que mais cedo ou mais tarde aquele momento chegaria, de conhecer a família dele, mas não estava preparada para ser assim tão de repente. Amanhã!

— Amanhã! — Estava assustada.

— Se você não quiser ir, posso dar uma desculpa qualquer para ela.

— Não! Eu quero ir, só que não estava preparada para este convite, assim, tão rápido.

— Então, você irá? Posso falar para a minha mãe? – ele me perguntou, cheio de expectativa.

— Sim, pode dizer que eu vou — respondi, fingindo convicção.

Em resposta, Felipe abriu um imenso sorriso e se inclinou para me beijar, todo feliz, já eu não podia dizer o mesmo.

Acordei bem cedo no sábado, não conseguia ficar na cama, tinha tanta coisa para pensar e resolver. Com que roupa eu iria? Deveria fazer as unhas? Os cabelos? Comprar um presente? Mas do que será que o pai de Felipe gosta?

Sei que ele é um cardiologista bem renomado, seus irmãos também são médicos e mãe havia sido professora. E pelo que eu havia entendido, eles eram bastante tradicionais, sendo assim, estava com medo que eles não gostassem de mim.

Fui para a cozinha, preparei o meu café, mas não consegui comer, não tinha fome, só uma pedra no meu estômago, me sentei no sofá, tentando pensar no que deveria fazer, quando ouvi a porta da frente abrir e Ed entrar por ela. Ele havia retornado a sua velha rotina de chegar em casa ao amanhecer, pelo menos, não tinha nenhuma garota junto.

Nós nos olhamos, espantados, em nos vermos naquelas situações opostas, ele chegando para dormir e eu acordando.

— Bom dia.

— Bom dia. Tem café.

— Obrigado, mas eu vou dormir. O que aconteceu para você estar acordada assim tão cedo no sábado? Seu namorado está roncando?

Eu o encarei com cara feia.

— Felipe não dormiu aqui hoje. Eu não consegui dormir mais. Estou preocupada — confessei. Ele ergueu uma das sobrancelhas em interrogação. — É que vou jantar hoje, com os pais de Felipe.

— E daí? — Ele me olhava daquele jeito despretensioso, sem entender a minha aflição.

— Eles são muito tradicionais.

— E?

— E eu tenho medo que eles não gostem de mim — completei, sem esconder a minha ansiedade.

— Por que eles não gostariam de você?

— Sei lá! — Dou de ombros.

— Não se preocupe, Paula. Seja apenas você mesma e tudo ficará bem — respondeu com tanta segurança que me espantou.

— Só ser eu mesma? Simples, assim?

— Simples assim. E não se preocupe, você é a nora perfeita para qualquer família tradicional — Ele me dá aquele sorriso torto e malicioso, segurei o ar no peito. — Vou dormir. Boa sorte, Paula. — E desapareceu pelo corredor, ouvi a porta do banheiro ser fechada.

 A nora perfeita para uma família tradicional! Seria isso um elogio? Com certeza, não para Ed. Mesmo assim, resolvi seguir o conselho dele. Ser somente eu mesma.

À noite, escolhi um dos meus vestidos favoritos e pouca maquiagem e pronto. Sou eu mesma. Eu encontrei com Ed saindo do quarto.

— Como estou? — Não aguentei e perguntei.

Ele me olhou de alto a baixo. Fiquei aflit, esperando o veredicto.

— Como eu disse a nora perfeita — respondeu, me deixando mais aliviada.

Felipe veio me buscar. Também, elogiou a minha escolha. Tudo bem! Vai dar certo!

Bem posso dizer que a noite foi, no começo, um tanto tensa, mas, depois, ficou agradável. Não que os pais de Felipe não se esforçaram para ser simpáticos comigo, no entanto, eles eram meio formais demais. A casa grande com uma decoração clássica, não ajudava a relaxar. De resto, o jantar estava delicioso, a e os irmãos dele foram muito gentis, tentando me deixar à vontade. Felipe parecia bem satisfeito com a boa impressão que tiveram de mim. Constatei isso quando, por um rápido momento, fiquei sozinha com a irmã mais velha dele, Lídia, que era pediatra.

— Paula, estamos tão felizes que Felipe esteja namorando uma garota como você — ela confessou.

— Uma garota como eu? — Pisquei duas vezes, perplexa.

O que ela quis dizer com isso? Ela sorriu com simpatia.

— Sim, uma garota bem-educada e que se veste bem, discreta.

Imediatamente, eu me lembrei das palavras de Ed: A nora perfeita para uma família tradicional. Era isso que eu era?

— Obrigada — Não sabia o que falar.

— Sabe a outra namorada de Felipe, anterior a você. Ela era terrível, se vestia igual a uma... bem. Não tinha bons modos.

— A outra namorada de Felipe? — Aquilo me pegou desprevenida.

— Imagino que você não deva saber. Mas, enfim, ele era apaixonado por ela. Deu um trabalhão, fazer Felipe entender que ela não servia para ele.

Fiquei sem palavras. O que poderia dizer em uma hora como essa? Felizmente, fui salva pela entrada do bolo cheio de velas acesas e começaram a cantar Parabéns para o aniversariante. E durante o resto da noite, essa novidade ficou rodando a minha cabeça, porque Felipe nunca me disse nada? Seria melhor ou pior saber sobre o amor do passado do seu namorado?

Dentro do carro, de volta para o meu apartamento, Felipe quebrou o silêncio.

— Todo mundo lá de casa gostou muito de você — comentou, sem esconder a satisfação.

A nora perfeita para uma família tradicional, pensei.

— Que bom — respondi, sem demonstrar emoção.

 Nós nos despedimos ali mesmo no carro, pois já estava tarde e ele teria que estudar para uma prova de anatomia na segunda. Como eu também me sentia bem cansada, não me importei.

 Ao abrir a porta do apartamento, esperava encontrá-lo vazio e escuro, mas qual foi minha surpresa ao me deparar com Ed, deitado no sofá da sala, devia estar assistindo uma dessas séries, que ele gostava tanto. Olhei ao redor a procura de Tati ou outra garota qualquer.

— Boa noite, Paula. Não se preocupe, estou sozinho. — Desta vez, fui eu que ergui as sobrancelhas em interrogação. — Estava meio cansado hoje. Não estava a fim de sair. E como foi o jantar?

— Legal, ao mesmo tempo, estranho. Eu me senti uma intrusa.

— É normal — Ele dá de ombros.

 — O que você está assistindo? — Estava sem sono e muito agitada para dormir.

— Ia começar a ver um filme agora. Quer assistir comigo?

Estranhei o convite. Mas, por que não?

— Sim, estou sem sono. Espere um pouco que vou fazer pipoca para nós.


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