Colegas de apartamento escrita por calivillas


Capítulo 16
Quando dei por mim...




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Durante o resto da noite ali, sentada, ombro a ombro com Ed, nossas cabeças bem juntas, assistindo aquele filme e comendo pipoca, tudo parecia tão normal e ao mesmo tempo tão estranho. Convivemos meses juntos, mas nunca me sentia totalmente à vontade ao lado dele, não sei se por ser tão bonito e tão cheio de confiança ou por ter algo a mais, que até algum tempo atrás, eu não entendia. Minha mente voava, apesar dos meus olhos continuarem fixos na tela do computador apoiado no colo dele, meus pensamentos vagavam, estava perdida em ideias que nem acreditavam que fossem minhas. Percebendo o sútil calor que seu corpo emanava, o cheiro da sua pele, escutando nossas respirações, no silêncio, na penumbra, lembrei daquele beijo inconsciente, durante o seu sono, de meses atrás.

Preste atenção no filme, Paula! Preste atenção no filme! Tomara que seja um filme bem longo.

E o filme chegou ao fim, não havia mais desculpas para ficarmos assim, lado a lado.

— E aí, gostou? — ele perguntou

— Sim, muito — eu menti. — Acho melhor ir dormir. Obrigada pela companhia.

— Por nada. Boa noite, Paula.

— Boa noite, Ed.

Fui direto para o banheiro e depois para o meu quarto, troquei de roupa e me enfiei entre as cobertas, não conseguia dormir, estou muito agitada. No escuro, na calada da noite, ouvi a porta do banheiro ser fechada e aberta, em seguida a porta do quarto em frente ao meu. Imagino Ed tirando a roupa, sabia que ele dorme só de cueca, me lembrei da noite em que ele teve febre, quando eu tirei o cobertor de cima dele, mesmo na penumbra deu para reparar, a cueca box preta. Tão sexy! Então, em pensamento, relembrei de cada detalhe do corpo dele, os que não me lembrava, imaginei. Mas, por que estava fazendo isso? Sei lá! Porém, os pensamentos são só meus, podia pensar no que eu quiser. Então, fantasiando, caí lentamente no sono.

Acordei mais tarde do que de costume, em uma manhã cinzenta e chuvosa. Meus planos de sair daquele apartamento e me encontrar com Juliana e Leo foram por água baixo, ninguém gostava de sair de casa em um dia assim.

Então, estou conformada, quando deixei o meu quarto e encontrei o apartamento silencioso. Será que Ed ainda está dormindo ou foi a algum lugar? Talvez, se encontrar com a Tati. Mas, o que que eu tenho com isso?

Não demorou muito e a porta do quarto dele foi aberta, uma pequena luzinha de felicidade se acendeu em mim.

— Bom dia — Ele surgiu na cozinha, ainda com cara de sono.

Ele foi direto à geladeira e pegou o leite, sentou-se na minha frente e da pequena mesa da cozinha, nossos joelhos se roçaram e eu, rapidamente, recolheu minhas pernas.

— Bom dia. Que dia horrível, nem dá vontade sair — comentei de modo falsamente casual.

— Verdade. Um dia como hoje é bom ficar em casa.

— Também acho, o que se pode fazer? — Dou de ombros.

— Você vai se encontrar com Felipe, hoje? — ele quer saber, de modo displicente.

— Não. Ele vai estudar. E você vai ver a Tati?

— Não tenho visto muito a Tati, ultimamente.

Por que fiquei tão feliz com essa notícia?

— Ah! Que pena! Achei que vocês se dessem bem.

— Mais ou menos. Acho que não sou um homem que se prenda a uma única garota.

Por que fiquei tão triste com essa constatação?

Durante o resto do dia, tentei não me encontrar com ele, mas era quase impossível para duas pessoas que moravam juntas, em um apartamento não tão grande.

 Não sei o que estava acontecendo comigo, por que me sinto assim tão diferente quando estou perto de Ed? Mesmo assim, por que quero ficar tanto perto dele?

Mais tarde, conversei com a minha mãe, que declarou a vontade de me visitar, conhecer onde morava, minha colega de apartamento. Até, agora mesmo depois de meses, ainda não havia contado a ela que minha colega de apartamento era um homem.

— Então, Paula, podemos combinar, poderei ir aí em um fim de semana. Ficaremos nós três juntas, eu poderei cozinhar para vocês, conversaremos e ainda terei a chance de conhecer Felipe, pessoalmente. Estou tão curiosa em conhecer o namorado da minha filha — disse, toda animada. Eu gelei por dentro.

— Bem, minha colega de quarto pode não ser do jeito que você espera — Comecei com cautela.

— Como assim, Paula? Ela tem algum tipo de problema? — Minha mãe ficou alarmada.

— Não, só que é uma pessoa diferente do que você imagina.

— Diferente como?

— Talvez, não goste das mesmas coisas que a gente ...

— O que você quer dizer com isso? Ah! Quer dizer que a orientação sexual dela é diferente da sua — Minha mãe tentava não parece antiquada ou preconceituosa, lutava contra sua educação tradicional de cidade do interior e se saía muito bem. Não podia dizer o mesmo do meu pai, que ainda tinha certas reticências.

— Com certeza, nós temos gosto bem diferentes, mãe.

— Você sabe que não sou uma pessoa preconceituosa. Eu não me importo com a orientação sexual de cada um — declarou, com certo orgulho.

— E quando você pretende vir? — Preciso me preparar. Será que Ed não se importaria de ficar um fim de semana fora? Não tenho coragem de pedir isso a ele.

 — Ainda não resolvi. Sabe como é o seu pai? Não gosta de ficar sozinho, nem tão pouco viajar. — Respirei aliviada, ainda tinha um tempinho.

Depois que acabamos de falar, as palavras da minha mãe ficaram dançando na minha cabeça. Mas, talvez, fosse melhor assim, acabar com essa história de uma vez por todas.

Imaginei a cena, minha mãe chegando no apartamento de mala na mão e dando de cara com Ed.

— Mãe, esse é Ed, meu colega de apartamento. Sim, eu sei ele é bonito e gostoso e vive cercado de garotas, mas não se preocupe, ele nunca deu em cima de mim, não faço o tipo dele. — Represento para mim mesma. — Ai! — Dou um grito e um pulo, assustada, quando ouvi batidas na porta do meu quarto.

— Paula, vou pedir uma pizza. Você vai querer? — ele perguntou através da porta fechada.

— Sim, obrigada.

Meia hora mais tarde, estamos sentados no chão da sala, cada um com uma fatia de pizza de muçarela na mão.

— Não vai sair com Felipe hoje? — Ele me perguntou, quando estou dando uma mordida na minha fatia. 

O queijo esticou e arrebenta, um fio escorregou para o meu queixo. Tentei limpar, enquanto, falava:

— Ele tem prova na segunda, precisa estudar.

— É duro namorar um estudante de medicina.

— É um sei. E você e a Tati não vão sair?

Ou com qualquer outra garota?

— Não estou com vontade. Ainda tem queijo aí? — Ele apontou para o seu rosto.

— Onde? Eu faço muita bagunça comendo pizza assim com a mão — eu me desculpei, tentando limpar mais uma vez.

— Aqui — Ele pegou o guardanapo da minha mão e passa no canto na minha boca, fiquei paralisada, senti um arrepio correr pela minha espinha. Percebo que ele está demorando demais e está muito próximo. Tão próximo que reparo seus olhos castanhos rajados de cor-de-mel.

Daí em diante, não sei bem o que aconteceu, nós nos aproximamos mais e mais, e quando dei por mim, estávamos nos beijando.


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