Mágicos escrita por Aiwa Schawa


Capítulo 6
V


Notas iniciais do capítulo

Como eu demorei tanto para postar isso?



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Aquilo que eu vi. Aquilo parecia um sonho.

Enquanto dormia sobre o efeito do poder de um mágico, minha alma pode ir para o outro mundo, a dimensão dos sonhos, lá nada poderia fazer sentido, porém...

O que vi foi Pietra, ela estava num trem e fugindo de algo.

“Eu pensei que tinha deixado esses sentimentos desnecessários de lado, eu não lembro de ter sonhado com mulher alguma antes... digo... a Elizabeth é realmente uma mulher? Não, não é isso que pergunto, ela certamente é uma mulher, só me pergunto se ela é humana suficiente para a considerar uma mulher”

Enquanto pensava Pietra ainda corria.

Ela estava segurando uma arma.

“Essa... é a minha arma? ”

Pietra se virou e apontou a arma para o que a estava perseguindo.

—Não se mova mais! —Ela apontava sem técnica alguma, só porque a arma era leve a estava segurando com apenas uma mão, sequer considerou o recuo, ela balançava a arma de um lado a outro e ela pendia para esquerda ou para direita em intervalos constantes.

O quer que a estivesse perseguindo parou, no fim, mesmo se a arma voasse, um tiro apenas seria suficiente para matar alguém.

Pietra dava curtos passos para trás, perceptiva como sempre, olhava para as sombras, reflexos nas janelas e mantinha em mente como um trem assim seria construindo para nunca tropeçar e manter a vilã com uma arma mirada na cabeça.

Entretanto, Pietra começou a sentir uma pequena tontura, continuou seu caminho, depois sonolência, então ela quase atirou com um passo bambo da mulher.

Graças ao sono ela demorou mais do que deveria para entender o que havia acontecido.

Mesmo sem o trem ter plantas, se ela mudasse as propriedades das plantas que passavam aos lados e por baixo dos trilhos, fazendo isso continuamente o efeito seria quase o mesmo.

—Mas... esse uso de mágica é altíssimo!... —Foi o que ela sussurrou para si.

Aqueles vagões apertados estavam a fazendo perder muito tempo, o efeito das plantas não podia ser muito forte, provavelmente o objetivo seria afetar especificamente uma mulher mais jovem, porém isso não tirava a mágica dona do poder completamente dos alvos.

Por isso Pietra precisava achar o caminho mais rápido para a frente do trem, lá ela conseguiria a ajuda que precisava.

Parece que ela lembrou do que fizemos mais cedo, ela pulou da janela e então para cima do trem, ela tinha apenas um caminho reto até a frente da locomotiva.

O trem se movia a toda velocidade, ela corria e seu cabelo voava para o lado oposto, aquele vestido longo certamente não é a roupa ideal para ação.

E mesmo com isso ela corria, ela tinha motivos para correr...

Ou era o que ela pensava, pois, o corpo dela lentamente parou de se mover, sua mente continuava a mil, o corpo não estava acompanhando, Pietra já tinha que se arrastar tentando avançar para a frente da locomotiva.

Atrás dela, a verdadeira culpada, uma mágica que se escondeu por anos, com muita astucia e uma motivação simples que existiu desde os primórdios da humanidade.

Pietra se virou, sabendo da presença dela.

—Se sua determinação a impede, irei agir diretamente no seu corpo...

Claro, Pietra já tinha imaginado isso, o corpo dela estava ficando mais pesado, uma atrofia brutal, o gás que Senhora White fez a deixou como uma arma que enferrujou no fundo do mar por décadas.

Essa forma de usar o poder parecia chegar a drenar energias dela, ou talvez fosse apenas a atrofia em menor escala, o qual estava a afetando também.

—Agora, depois que te jogar daqui, finalizar o moleque, tudo vai acabar...

Ela se movia lentamente e dando indícios de passos errados, porém ela se mantinha firme e voltava atrás quando necessário, olhando apenas para o próximo objetivo, cada passo foi calculado.

Pietra apontou a arma, dessa vez foi ainda mais desleixada, quase acordei vendo aquilo.

—Você sabe o que é certo, não atire.

Mesmo sem expressar medo, ela desacelerou seus passos.

Pietra olhou para seu dedo e então puxou o gatilho.

Obviamente o recuo fez a arma voar para longe.

Enquanto isso, a mulher continuava em pé, paralisada, porém...

Ilesa.

—Essa era sua chance...

O tiro passou bem longe, a mulher voltou a andar depois de alguns segundos, tão calmamente quanto antes, eu pensei que Pietra iria perder, tentei me focar em voltar ao meu corpo e impedir isso.

Uma preocupação contraditória e desnecessária.

—E eu aproveitei essa chance, esse tiro foi só um aviso...

—O que?

—Olhe para a frente.

E a frente dela, a locomotiva se aproximava em alta velocidade da chave do plano de Pietra.

Um túnel.

—É obvio que eu sabia onde esse trem pararia, onde havia tuneis e vegetação, eu não subi para chegar mais rápido à frente da locomotiva, foi para que você subisse também. Depois a arma só serviu para te atrasar até chegarmos no túnel, um túnel cheio de vegetação que você alterou!

Ela teve que se deitar no trem para não ser jogada pelos limites do túnel.

—Agora nós estamos numa área de ar confinado... cheio do gás que você criou... você vai aguentar tanto gás? Aguentar tanto do seu próprio remédio...

Então, a escuridão do túnel as envolveu...

Um gosto forte, amargo e picante surgiu na minha boca, antes meu paladar havia sumido por completo, ele voltou repentinamente.

—AH!

“Isso arde muito! Queima muito! Alguém corte a minha língua! Não! Não! Não! Não! Isso não resolve nada! AAAHHHH! ”

—Moço...? O que foi?

Olhei ao redor, voltei ao meu mundo.

A garotinha tinha algo nas mãos, uma flor diferente.

“Se eu acordei... deve ter sido por causa dessa flor, mas... isso significa que aquela maluca pode ainda estar à solta! Pior, ela pode estar atrás da Pietra! ”

—Garotinha! Espere aqui só um pouco, eu preciso fazer uma busca.

Sai e fechei a porta da cabine, corri para a frente do trem, passei por alguns vagões.

“Onde!? Onde?! Onde?! Onde!? ”

Não achava ela, não importava quandos vagões eu atravessasse, isso até eu passar perto de algo.

A minha arma, ela estava entre vagões, no chão.

“Como ela foi parar aí...? ”

Nesse momento o som de um tiro veio a mim, ele estava claro como uma orquestra profissional, por isso pude entender o que houve, de onde aquela arma veio.

—De cima!

Peguei a arma e pulei para cima dos vagões, olhei para um lado, nada, quando olhei para o outro eu vi, as duas estavam caídas em cima da locomotiva.

Corri, as duas estavam dormindo.

“De alguma forma ela deve ter usado o gás ao seu favor”

Elas podiam cair na próxima virada que o trem tomasse, peguei as duas, umas em cada braço, Pietra em especial mal parecia pesar algo, para a mulher eu tive que me esforçar um pouco, mas aquele corpo esguio não podia conter muito peso.

As levei para a frente da locomotiva, expliquei parte da situação aos funcionários e esperei chegarmos em Londres.

Eventualmente ambas acordaram, eu impedi a suspeita de tentar fugir novamente e ajudei Pietra a reportar a situação, com ajuda do telegrafo, a polícia londrina nos esperava assim que saímos do trem.

—Pietra, o que você vai fazer?

—Como assim?

—Qual vai ser o fim dela? E dos filhos?...

—Isso não cabe a mim de decidir, eu dou os fatos e outra pessoa executara a justiça.

—Sim, realmente, no fim estamos na mesma posição... por mais que no fim você tenha feito quase tudo sem minha ajuda. Na verdade, é estupido me preocupar, eu... acho que eles conseguem... —Lembrei de quando briguei com o filho, porém ele não necessariamente tinha morrido, tinha que depender da minha sorte dessa vez para impedir isso.

—Bem, no fim acho que os motivos eram bons, até o mordomo que não tinha relação alguma com a família tomou um posto, o posto mais perigoso ainda.

—Sim, foi. Será que ele não era o pai de verdade?

—Impossível.

—É, até eu consegui deduzir essa parte. Estou indo, já fiz tudo que podia por aqui —“Ela foi presa, Pietra está a salvo, um peão não precisa esperar prêmios, ele sai assim que seu dever acaba”

Me virei e entrei na cabine, o meu trem de volta já tinha chegado, eu não tinha negócio algum em Londres.

Pensei que seria uma viagem calma.

Até que a cabine abriu.

Meu ódio era tão quente quanto o brilho daqueles cabelos.

—Pensei que iria ficar.

—Você não é bom em pensar.

O som de partida soou novamente, a vista da janela começou a mudar, o trem havia partido.

—Então, o que você quer agora?

—Por que você estava ali? Por que começou a perseguir ela do nada?

—Ah... eu só tive um mau pressentimento e fui tirar satisfação. Simples assim, quero saber como você estava lá.

—Mesmo depois da confissão... tinha muita coisa estranha, se o mordomo não sabia que ele era um mágico e se entregou tão fácil, por que ele o matou de forma tão indireta? Ele poderia ter apenas cortado o pescoço dele a noite, ou atirado nele a queima roupa, não seria difícil. Por isso fiquei estudando o caso durante a noite, com isso descobri que aquela planta azul tinha propriedades que não batiam com nenhuma planta conhecida, os testes de laboratório não levavam a crer que essa planta era algum tipo de mistura de sementes bizarra também, algo estava anormal.

—Entendi. Então agora meu papel aqui acabou de verdade?

—Acho que sim...

—Finalmente... eu quase pulei do trem e voltei para a cidade a pé quando você entrou.

—... —“O que é isso agora? Ela finalmente ouviu o que eu disse? ”

—...

A viagem passou sem mais comentário algum, apenas quando estava saindo da cabine ao voltarmos ela falou mais uma coisa.

—Eu vou ver o que posso fazer... apesar de tudo aquele mordomo tinha boas intenções, além de que ele não fez nada de verdade.

—Faça o que acha ser certo.

“Eu tenho alguns trabalhos agora”

Dia 20 de maio.

Por sorte o filho da família tinha sobrevivido os danos imediatos, a filha estava na casa de antes e oficialmente o mordomo estava cuidando dela, sendo pago pelo filho que tomou os negócios da família.

“Mas... o desgraçado ficou doente... parece que nem todo mundo tem tanta sorte...”

De início era só um vírus, mas o corpo dele enfraqueceu e ele já me disse que ele estava com os dias contados, nenhuma medicina atual poderia ajudar ele.

—Se ele morrer, a culpa é minha. Isso não importa, eu não vou ser levado a justiça por isso, muito do caso não foi revelado a justiça, mas... não importa.

Eu fui até a delegacia, disse que precisava entregar algo ao Delegado Loiret e eles me deixaram passar, entrei no escritório dele de novo.

—Hum, o que você precisa? —Ele não estava surpreso nem impaciente pela minha visita, apenas pronto e atento para ouvir.

—Vocês, os mágicos têm vários tipos de habilidades, não é?

—Sim.

—Algum mágico poderia curar pessoas?

—O que você precisa?

—Tem alguém que precisa ser curado, alguém que está com os dias contados e se essa pessoa morrer ele vai deixar sua família para trás, onde eu posso achar um mágico que possa salvar pessoas?

—Em lugar nenhum. Mesmo que eles possam curar doenças, nossos poderes não podem salvar ninguém.

—Não fale besteiras e responda a minha pergunta.

—Eu recuso. Você não tem o direito de saber disso.

—Grr... é de família isso? Me dê essa informação e eu vou embora, só preciso disso.

—Mesmo se você soubesse, você teria que convencer o conselho também, eles nunca aceitariam um trato desses.

—Como? Por que não? Tem uma vida em jogo, essa confidencialidade é insignificante perto de uma vida humana.

Não! Não fale mais nada!

“O que é isso agora? Ele ficou com raiva por isso? ”

—Vocês todos são loucos então?! Vão deixar pessoas morrerem para manterem suas vidas tranquilas?

—Você não sabe do que está falando, você mal é um mágico! Saia daqui.

—Jamais! Tem a vida de outras pessoas nessa mesa, por essas pessoas que não vou sair daqui! —“Droga. Eu estou levando isso para um lado muito pessoa, mas acho que vai servir para ele se convencer”

—Se você não sair imediatamente, você vai morrer —Ele estava sério, outras pessoas já ouviram isso, muitas dessas realmente morreram, pude ver pelo olhar dele.

—Hum, sinto que isso é só um blefe.

Ouvi o som de metal dele preparando uma arma.

Coloquei minha soqueira, achei que seria egoísta pedir para que ele tirasse minha cegueira, porém isso significava que minha soqueira continuava invisível.

A batalha iria eclodir em instantes.

1...

2...

3...

Batidas na porta?

—Com licença, Brian.

—Gah! Entre, entre.

Um oficial de alto escalão entrou no escritório, mais do que do alto escalão

“Ele é um mágico! ”

—Senhor, houve um problema numa vila que você está responsável, relatos de um licantropo foram ouvidos, a próxima lua cheia será no dia 1.

—Ah... droga... irei cuidar disso, tem mais algo a dizer?

—Não.

—Ainda bem... eu vou cuidar dessa situação...

O oficial saiu.

—Rafael... tome estas... —Ele abriu uma gaveta, dela ele tirou 12 balas de revolver, olhando de perto...

—Balas de prata... um licantropo... é um lobisomem?

—Não posso colocar pessoas que não sabem de nada para fazer isso, normalmente eu tenho que fazer esses trabalhos pessoalmente, porém você está aí, se você me trazer a cabeça do licantropo no dia 2 eu irei arranjar as coisas para você ter uma conversa com o conselho.

—Hum, melhor do que matar um delegado —Eu peguei as 12 balas e guardei no meu sapato.

—Vá preparar suas malas, você precisa estudar a vila para fazer a caçada.

—É claro.

Se eles forem tão ferozes quanto as lendas, consigo imaginar porque ele queira me colocar para a caçada, eu tenho bem mais chance de morrer do que trazer a cabeça dele de volta.

Entretanto, eu sei que a sorte está do meu lado.

Dia 21 de maio.

Avisei ao pessoal que teria que me ausentar até o dia 2, coloquei algumas trocas de roupa na mala, um pouco de comida e um cantil, coloquei minha arma e munição no sapato.

“Pronto”

Brian estava na estação, ele pagou a minha passagem também, disse que cuidaria do meu aposento e comida, nós dois entramos na cabine e observamos os horizontes mudarem.

—Então, mágicos e agora lobisomens, esse mundo é tão misterioso assim?

—É como as coisas são...

—Toda essa palhaçada para poder usar magia é “como as coisas são” também Brian?

—Acho... é melhor contar logo...

Mesmo com ele grudando os olhos no horizonte, ainda pude ver a expressão dele escurecer.

—Podemos dizer que o mundo tem uma jarra, toda vez que um mágico usa seus poderes, essa jarra se enche um pouco, com o tempo ela vai esvaziar sozinha. O problema é quando colocamos muito na jarra.

—Ela... vaza?

—Sim, o vazamento de mágica é mágico, a verdade é essa, quando nós usamos muito os nossos poderes, é aí que seres bizarros veem, como um licantropo. Entendeu porque nós não podemos usar nossos poderes por meros caprichos?

—Que... por que você não me disse isso antes?

—Você controla seu poder? Não. Seria inútil contar, porém agora sinto que sua situação vai mudar... drasticamente.

—Espera. Se usar os poderes enche essa sua jarra, o que a minha sorte faz?

—Exatamente o que eu disse, você não os controla e ainda aumenta o risco que nós corremos ao usar nossos poderes.

—Há! Não tente me fazer sentir culpa Brian, a culpa daquele idiota está doente é toda minha, não tem mais ninguém para culpar, mas eu não ligo nem um pouco, só quero salvar ele porque aquela garotinha me ajudou quando eu estava no trem. Nunca vou me arrepender por algo que eu sequer escolhi.

—Bem, faça seu trabalho.

Os horizontes lentamente mudaram, até finalmente chegarmos a vila.

Metra.

Uma vila com poucas ruas de pedras mal colocadas, com enormes arvores com centenas de anos saindo em meio as casas estranhamente posicionadas, cobrindo grande parte do sol, feiras para todos os lados, ricos e pobres correndo para pegar roupas de tecidos vindos de outros continentes e joias raras, era quase um festival.

—Tem certeza que um lobisomem está por aqui?

—Claro. Vamos para o hotel, lá darei o que mais sabemos sobre licantropos.

Um senhor de idade nos recepcionou, ele nos deixou entrar num quarto sem sequer pensar no pagamento, subi para meu quarto de madeira cinza e uma cama empoeirada.

“Esse lugar é bem diferente, mas bem interessante”

—Pouco fora do centro dessa vila tem um cemitério, o licantropo passa por ele numa noite de lua cheia, próximo dia 1, ele se alimenta dos corpos enterrados e ataca quem passar perto.

—Por que eu vim tão cedo então? Tem mais de um cemitério?

—Você precisa investigar, esse lobisomem é um mito que ganhou forma pelos nossos erros, você deve perguntar aos moradores sobre o licantropo, usando essas informações você deveria tentar achar a forma humana dele, se possível cura antes que se transforme novamente, se não use as balas de prata, não posso garantir que vai funcionar ainda, mas isso é com você.

—Hum... vou só fazer perguntas para os moradores... dava para resumir a isso.

—Faça então, vou inspecionar a vila. Sua missão já começou.

Ele saiu, me deixando para trás pensando no que fazer.

“Pelo que soube nessa vila só há um mágico, um homem, seus pais já morreram e ele não é casado”

“Brian provavelmente foi lidar com ele... o que não me leva a lugar algum... vou ir para a feira enquanto ainda há muitas pessoas na rua então”

Arcos e postes estavam por todo lado, agora crianças estavam correndo pelas ruas, tinha atrações de todo tipo, truques de mágica complexos, atos de escapismo, pequenas peças, tiro ao alvo e até lutas com espadas de madeira.

“Nenhum mágico a vista, acho que vou entrar em alguma competição...”

“Tiro ao alvo...”

Cheguei na hora que um dos arcos estava na mesa.

Aquilo era apenas um tiro ao alvo livre, havia vários arcos e as pessoas atiravam para se divertir, era difícil de avaliar a habilidade média dos moradores pelas marcas nos alvos, elas estavam longe demais.

Peguei o arco, pôs a flecha.

“Apenas me deparei com essa arma quando caçava, esse é um dos meus campos mais fracos, porém tinha algumas noções mais básicas”

O alvo tinha 5 círculos incluído o meio.

“Tenho uma ideia”

Mirei o arco como se fosse uma arma, apenas um pouco mais para cima para compensar o quanto a flecha deveria cair”

Atirei.

—Ponto! —As pessoas próximas bateram palmas e gritaram.

“Normalmente isso não seria assim, eu pendi um pouco para a direita enquanto a flecha saia do arco, talvez o suficiente para a flecha voar para a floresta, porém o vento compensou isso”

—Moço! Mais uma! —Alguém gritou por trás de mim.

—Ah? Sim? —Era um jovem de cabelo esquisito e colete.

—Ei, tire esse chapéu, você tem que fazer algo tão fantástico quanto o arqueiro da vila.

—Hum... o que ele fez?

—Ele atirou no centro dos 5 alvos em apenas 10 segundos, acha que consegue competir?

“Impossível, eu mal conseguir acertar no centro de 1 alvo com tempo ilimitado, fazer isso está fora de questão”

—Tudo isso? Pode ir chamando ele, vou fazer isso em apenas 5 segundos —“Eu não sei até que ponto minha sorte pode me levar, é hoje que vou testar ela”

Meu blefe foi tão absurdo que o jovem esquisito me deu uma aljava para as 5 flechas e o que ele disse ser o melhor arco disponível.

Eu tenho que atirar e logo em seguida colocar a flecha no arco, assim que a flecha estiver voando eu preciso olhar para o próximo alvo, fora isso é só fazer como antes, isso vai testar até onde minha sorte pode ir.

Pôs a primeira flecha no arco.

—Eu vou contar com 5 palmas, a primeira vem quando você atirar.

—Certo...

Yi!

Èr!

San!

Sì!

Wu!

Em 5 segundos eu esvaziei a aljava, focando no resultado em cada alvo eu determinei os limites da minha sorte.

O primeiro acertou em cheio, o segundo quase saiu do centro, o terceiro também foi perfeito, porém o quarto sequer foi atingido e o quinto caiu para o terceiro círculo.

“Então minha sorte tem algum limite, não compreendi exatamente qual, porém acho que esse festival é a minha melhor oportunidade de continuar a testando até achar seus limites”

Quando fui pegar meu chapéu a multidão estava bem maior, pessoas tinham corrido para chamar os outros, esperando que eu realmente pudesse fazer o que disse.

Eles tinham olhares vazios e decepcionados, o esperado, nada mais justo.

Eu apenas pus meu chapéu de volta e me preparei para ir para outra parte do festival.

Apesar da multidão já está se dispersando, o jovem de cabelo espetado, colete cinza e calças azuis ainda foi falar comigo.

—Ei, ei, o que houve com seu olho? —“Como ele viu isso? Eu tive cuidado para não chamar atenção sobre isso, até agora ninguém da cidade que não se envolveu no caso sabe disso”

—Eu não sei, um dia ele simplesmente ficou assim, mas tudo bem, eu sempre fechava ele quando ia atirar.

—Ah sim, que coincidência, nosso arqueiro também perdeu um olho, ele não disse como, mas eu vi ele sem o tapa-olho uma vez e era bem feio...

—Será que perdeu caçando o lobisomem? —“Ele mora aqui, deve saber algo

—Não... esse lobisomem apareceu a pouco tempo... imagino como ele veio para cá.

—Você acha que ele mora na vila?

—É bem plausível, mas eu ainda não consegui investigar.

—Você sabe como achar um lobisomem na forma humana? Eu posso fazer a busca.

—Ah sim, tem várias coisas, primeiro que quando a pessoa se transforma ele vai crescer pelos na testa e unir as duas sobrancelhas, as unhas vão crescer muito rápido e ficaram curvadas, além de que a pessoa vai começar a andar esquisito, passos muito longos e velozes, balançando muito os braços —“Como você pode não perceber um cara desses? Essa vila deve ter 100 habitantes, esse maluco é mais atrativo que um farol”

—Entendi. Vou fazer a minha busca no festival, aliás, qual seu nome?

—Glen, você vai fazer uma busca? —“Pensando bem... essa missão é... secreta? ”

—Não, não... só quero ficar atento, não que eu ache que tenha um lobisomem por aqui, mas nunca se sabe...

—Ok.

Corri assim que pude e comecei a caçada.

O dia acabou, porém...

Me sentei na cama do pequeno hotel que ficaria.

“Eu entrei no campeonato de esgrima, assisti a um ato de escapismo, chequei se o ‘mágico’ não era um mágico como eu por assim dizer e no fim eu não consegui achar o cara”

Numa vila de 100 pessoas era válido supor que apenas 50 seriam homens, eu só tinha que achar qual desses era o lobisomem, entretanto de alguma forma eu não achei ninguém suficientemente suspeito para dar-se como caso fechado.

Depois do festival terminar encontrei Glen, porém, que tinha uma visão a mais para isso.

—Eu não achei nada hoje, mas amanhã vai ter a grande corrida daqui até a cachoeira, o vencedor vai ganhar um bolo de maça da melhor cozinheira da vila, só preciso ver quem está correndo de forma esquisita.

Isso parecia bom para terminar o dia, no entanto eu quis ver o que Brian tinha feito e matei tempo na porta do hotel, conversando besteiras com a recepcionista, apenas uns 10 anos mais nova que a dona do meu dormitório.

Brian Loiret eventualmente voltou.

—O que estava fazendo? —Apesar de uma hipótese, não tinha certeza.

—Perguntando ao mágico sobre os truques dele, nada de mais —“Ele quer falar em código agora? ”

—Hum, só tem um mágico nessa vila? Ele consegue fazer todos os truques para o festival todo?

—Mágicos são difíceis de encontrar, lá na cidade você já encontrou todos, além de que os truques deles são bem abertos, contudo eles não devem usar todo seu repertorio num festival só, imagine o que poderia acontecer.

—Sim, você está certo... vai ir embora já?

—Não, apenas amanhã assim que terminar meus negócios, você vai ter que ficar muito mais tempo?

—Talvez, apesar que acho poder terminar todo o trabalho amanhã ainda.

Ele me encarou com um olhar negro e foi para cima.

“Sim... por hoje basta”

Na questão de avaliar os limites da minha sorte, sinto que estou muito perto de encontrar um limite dela. Talvez amanhã eu consiga.

Dia 22 de maio.

Acordei como acordava todos os dias desde que cheguei na Inglaterra, no fim eu sempre estava longe de casa, aquela cidade não era especial, essa vila é a mesma coisa para mim.

Mas no treino de um guerreiro temos que aceitar dormir ao redor de pedras e de formas desconfortáveis, muitas vezes passar parte da noite em claro para que não sejamos emboscados, essa é a natureza da guerra.

Assim que ia sair...

Uma batida, outra ainda mais forte, muitas batidas na porta.

—Delegado! Delegado! Nós precisamos de ajuda!

Eu mesmo abri a porta, Brian nos colocou no mesmo quarto por alguma razão.

—Calma, o que houve.

—Sim, Madame? O que houve? —Brian falou por trás de mim.

—É... sim... um corpo... acharam um corpo no cemitério...

—Não é para isso que fazem cemitérios...?

—Estupido, saia da frente —Ele me jogou para parede e tomou meu lugar— Você está me dizendo que houve um crime no cemitério?

—S-Sim...

—Maldição!... Vou ver isso imediatamente.

Ele correu para fora do quarto, eu tive que seguir ele, aonde há fumaça, há fogo.

Nós chegamos no cemitério da cidade.

A vista lentamente ficou mais clara, as arvores enormes sumiam e o sol aparecia, aquele belo nascer do sol estava sendo machado de sangue.

Assim que podia ver tudo perfeitamente comecei a temer o que iria estar nos esperando.

Mas a surpresa veio bem antes, pisei em algo estranho, era frágil e quase foi esmagado pela minha bota.

—Não...

Era metade de uma mão ensanguentada.

Seguindo o rastro do sangue, no meio dos túmulos violados, um corpo que foi aberto, muitos de seus órgãos não estavam mais lá e metade do seu rosto estava dilacerado.

“Isso... isso é ainda pior do que os maiores terrores da guerra... o que é isso?...

—Mas... como... ontem não foi uma lua cheia, então... um humano fez isso...?


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Notas finais do capítulo

Yeeey terminar em cliffhanger porque disseram que capitulo de 8000 palavras é muito



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