Segunda Chance escrita por teffy-chan


Capítulo 6
Capítulo VI




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Embora Naruto e Sasuke convivessem razoavelmente bem nas horas vagas, dentro da Academia era outra história. Os dois continuavam competindo até nas coisas mais banais e, desde que Iruka explicou o significado de todas as “palavras feias” que os dois meninos escutaram e não entenderam na época, passaram a usá-las para ofender um ao outro enquanto lutavam. Toda vez que isso acontecia os dois ficavam de castigo, sem almoço, sem intervalo e tinham que limpar toda a sala de aula. E nada disso fazia parte do castigo. As medidas drásticas começaram a funcionar aos poucos, pelo menos dentro da Academia.

Quando não estava disputando qualquer coisa com Naruto, Sasuke revezava o tempo livre entre treinar e cuidar da casa onde agora vivia sozinho. Demorou meses para ele se lembrar de que não tinha mais uma família para fazer o almoço e limpar a casa e não deixar tudo para a última hora. Era uma das “pequenas” consequências que a pessoa sofria quando tinha todo o clã exterminado. Tinha que aprender a fazer tudo sozinho na marra.

A vida era muito injusta. Cozinhar era mais difícil do que parecia. Desistiu completamente de fazer qualquer coisa doce, incluindo suco, chá, ou qualquer outra bebida que levasse açúcar… então basicamente qualquer bebida. Outro problema que ele demorou a se dar conta foi que suas roupas estavam começando a ficar apertadas. É claro que estavam apertadas, ele estava crescendo. Precisaria comprar roupas maiores com o tempo. Como era idiota, por que não percebeu isso antes?

Porque era sua mãe que se preocupava com essas coisas, e não ele.

— Olá querido. Puxa, como você está crescendo rápido — uma senhora comentou quando ele parou um instante para olhar algumas camisas para crianças na vitrine de uma loja. Só tinha parado porque achou a estampa de uma camisa estranha, mas depois notou que as bolinhas roxas e amarelas estavam na vitrine. “Alguém” tinha pichado a loja — Precisando de roupas novas?

— Talvez — com certeza ele precisava. Mas não fazia ideia de qual tamanho deveria comprar. Além do mais, quem disse que tinha dinheiro para isso? Era uma criança órfã sem fonte de renda, pelo amor de Deus — Eu só… bem, eu não sei…

— Quer ajuda com o tamanho? — a mulher adivinhou parte do problema. A voz era familiar, mas Sasuke não se lembrava de onde — Não se preocupe, você pode experimentar e levar a que servir melhor em você. Aproveite que hoje estamos com 50% de desconto.

— O que?

— Aquele moleque filho de uma… quero dizer, aquele menino problemático — ela se lembrou a tempo que estava diante de uma criança que também era seu cliente — Ele pichou a minha loja de novo. E escreveu coisas horríveis nela!

— Está falando do Naruto?

— Sim, esse mesmo — a mulher fez uma careta — A propósito, eu te vi conversando com ele uma vez. Não te aconselho a continuar andando com ele, querido. É melhor se afastar daquele pirralho, para o seu próprio bem.

— Por que todos os adultos dizem que é para ficar longe do Naruto? O que ele fez de errado? — Sasuke perguntou curioso — Além de pichar as lojas, é claro.

— Bem… você não precisa se preocupar com isso, querido. Apenas fique longe dele, está bem? — ela apoiou a mão no ombro de Sasuke gentilmente mas o menino a afastou.

— Não, não está nada bem. Quem a senhora pensa que é para me dizer o que fazer? Por que todos os adultos da vila me dizem para ficar longe dele? Não só eu, mas todas as outras crianças também! — ele exclamou mais alto do que pretendia — Tem alguma coisa errada com o Naruto? Ele fez algo ruim?

— Querido, você ainda é muito jovem para entender. Apenas fique longe dele, é para o seu próprio bem.

— Não pode me dizer o que fazer — Sasuke resmungou — Se não vai me explicar o que está acontecendo então não tem motivo para eu seguir seus conselhos idiotas.

Ele deu meia-volta, absolutamente furioso. Parou à porta quando uma luz pareceu iluminar sua mente.

— Ah! Você é aquela senhora que chamou o Naruto de vários nomes esquisitos! A que tem um cachorro chamado Bombom! — ele apontou para a mulher, finalmente se lembrando de onde a conhecia — O Iruka-sensei deixou o Naruto e eu de castigo várias vezes porque repetimos as palavras que a senhora disse. É culpa sua a gente ter ficado de castigo!

— O que? Não é minha culpa se vocês ficaram dizendo coisas que apenas os adultos podem falar — ela respondeu ofendida.

— Então não ensine besteiras para as crianças. E nem faça desconto porque as roupas estão pichadas. Não é a vitrine, aquela camisa está pichada de roxo e amarela sim que eu vi — Sasuke acusou, correndo para fora loja em seguida.

Por que as pessoas continuavam escondendo as coisas dele? Por que mentiam para ele? Foi a mesma coisa com seu pai, nunca lhe dando atenção e escondendo os detalhes sobre as missões que iria realizar. Era tão irritante ficar sem saber de nada.

Mas devia ser muito pior estar na situação de Naruto.

Ele encontrou o menino sentado em um balanço no parquinho perto da Academia. Alguns adultos o encaravam de longe, cochichando entre si. Mulheres arrastavam seus filhos para longe dele. Naruto mal parecia prestar atenção no que estava acontecendo ao seu redor. Sasuke nunca o tinha visto tão triste.

— Ei — ele parou diante do menino para que Naruto pudesse notar sua presença — Que cara é essa? Nem parece você.

— Como se você se importasse…

— Se eu não me importasse não teria parado aqui para falar com você — Sasuke respondeu, surpreendendo a si mesmo. Desde quando ele se importava com Naruto? — Vamos sair daqui. As pessoas parecem estar te fuzilando com os olhos.

Ele arrastou Naruto para longe do parquinho e caminharam sem rumo por alguns minutos até que encontraram um tronco oco no meio da estrada. Não havia ninguém por perto, então se sentaram ali mesmo.

— E então? Vai me dizer o que está acontecendo? — Sasuke perguntou, mas o menino continuou em silêncio — Levou bronca por ter pichado a vila de novo?

— Antes fosse só uma bronca — Naruto deu uma risada amarga — Eles sempre… sempre fazem questão de me lembrar que isso “já era de se esperar de alguém que não teve pais para dar educação”. — Naruto repetiu as palavras da maioria dos moradores da vila — Eu não tenho culpa de não ter pais! Queria ter, como todas as outras crianças, mas não tenho! E eles agem como se a culpa fosse minha! E ficam me olhando daquele jeito… como se eu fosse algum tipo de monstro ou aberração que eles precisam ficar longe. E eu não entendo o motivo! Sempre foi assim e eu não consigo entender por que!

Naruto respirou fundo, tentando recuperar o fôlego depois de desabafar. Provavelmente queria dizer isso há muito tempo, mas não tinha ninguém para lhe ouvir. Ele tinha razão, era tratado de forma diferente. Todos se afastavam dele e Sasuke também não sabia o motivo. Mas havia esse outro detalhe que ele nunca parou para pensar… Sasuke perdeu toda sua família em uma só noite, mas pelo menos a conheceu. Mas Naruto estava sozinho desde sempre.

— O que aconteceu com seus pais, Naruto?

— O que? — o garoto o encarou, confuso com a pergunta.

— Seus pais. Quero dizer, você veio de algum lugar. Eles são fugitivos, ou eram de outra vila, ou…

— Morreram durante o ataque da Kyuubi anos atrás. Foi o que o velhote me disse — Naruto murmurou.

— Velhote?

— Sim, o Terceiro Hokage — Naruto explicou — Eu perguntei várias vezes, mas isso é tudo o que ele sempre me diz.

— Mas você devia pesquisar mais sobre eles. Quero dizer, são os seus pais — Sasuke insistiu — Já tentou procurar as fotos ou os nomes deles na biblioteca da Academia?

— Não sei os nomes deles. Também não tenho fotos — Naruto abraçou os próprios joelhos.

— O que?! — Sasuke sentiu o queixo cair. Ser órfão era uma coisa, mas não saber nem os nomes dos próprios pais? Aquilo era cruel demais.

 — Você tem sorte, Sasuke — Naruto prosseguiu, o queixo apoiado nos joelhos dobrados — Quero dizer, nem tanto, já que a sua família toda morreu… mas pelo menos você conheceu seus pais. Sabe como os rostos deles são e conviveu com eles. E os dois devem ter te ensinado coisas que eu tive que aprender sozinho, ou que ainda não entendo. Eu… sequer sei os nomes deles — ele abaixou ainda mais a cabeça, apoiando a testa nos joelhos e escondendo a face para que Sasuke não visse seu choro.

Sasuke percebeu mesmo assim, mas não tinha ideia do que fazer. Naruto claramente precisava de ajuda, mas ele não era bom em confortar as pessoas. Queria ajudá-lo, mas não podia simplesmente trazer os pais de Naruto de volta.

Naruto sofria porque estava sozinho, assim como ele. Esteve só a vida inteira. A situação dele era um pouco diferente da sua, mas Sasuke conhecia a dor de estar sozinho melhor do que ninguém.

Ergueu a mão um pouco hesitante e apoiou na cabeça do menino, bagunçando os cabelos loiros enquanto apertava com um pouco mais de força do que o necessário, fazendo Naruto reclamar de dor e erguer o rosto.

— Esse nem parece você. Para onde foi o menino barulhento e irritante que eu conheço? — Sasuke perguntou retoricamente — Sinto muito pelos seus pais. Não posso fazer nada quanto a isso, mas… acho que você não está completamente sozinho.

— Como assim? — Naruto massageava a cabeça onde Sasuke a tinha apertado.

— Bem, para começar o Iruka-sensei parece gostar bastante de você. Ele te trata como se fosse um irmão, ou filho, sei lá — Sasuke lembrou, o que era verdade — E você está tão sozinho quanto eu. Tem razão, eu conheci minha família. Mas ela não está mais aqui. Nem minha mãe, meu pai… não tem mais ninguém aqui comigo.

— Sasuke…

— Então, já que não tem nenhum adulto para cuidar da gente, teremos que nos virar sozinhos. E nos dedicar ao treinamento por conta própria. Você realmente precisa treinar mais se quiser passar na prova da Academia — Sasuke colocou-se de pé — Esquece isso tudo e vem treinar comigo.

— Eu tenho uma ideia melhor — Naruto levantou também — Não vamos ajudar um ao outro apenas no treinamento, mas em tudo que precisarmos. Ensinando coisas que os pais deveriam explicar, mas, como nenhum de nós tem pais… bom, se outro souber a resposta terá que ensinar como se faz alguma coisa, ou o que é, e por aí vai.

— Quer que uma criança crie outra? — Sasuke ergueu uma sobrancelha e Naruto assentiu.

Aquela ideia era tão absurda… porém, estranhamente fazia um pouco de sentido. Havia coisas que seus pais tinham lhe ensinado que Naruto provavelmente não sabia. E Naruto sempre morou sozinho, então poderia ter uma ou duas dicas para dar a Sasuke para se virar agora que estava morando sozinho também.

— Está bem — acabou concordando, fazendo Naruto alargar o sorriso. Aquilo não ia dar certo… tinha o pressentimento de que iria se arrepender por ter concordado com isso. Mas pelo menos Naruto voltou a sorrir.


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