Finding hope escrita por nje


Capítulo 7
6: Cada um com seu caminho


Notas iniciais do capítulo

Oie, pessoas!
Muito me anima a interação de vocês! As observações, reflexões, dicas e é claro, os elogios também hehehe agradeço pelos comentários! Me incentivam a continuar e a buscar evoluir ❤

Enfim, cá estou eu com mais um capítulo.
Boa leitura! Espero que gostem ;)



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— Neji, a minha intenção era que cê nem soubesse dessa gravidez.. – A pequena garota com o cabelo preso em dois coques, um em cada lado do alto da cabeça, estava sentada de frente para Neji balançando nervosamente as pernas e com dificuldade de encará-lo naquele momento — É que eu sou linguaruda, num consigo guardar nem meus próprios segredos..

 Ele apenas se manteve em silêncio por alguns momentos, procurando assimilar a notícia.

Neji e TenTen mantinham relações sexuais havia por volta de dois anos. Os dois treinavam karatê na mesma academia na cidade vizinha de Konoha, foram se aproximando como amigos e visto que sentiam desejo um pelo outro, acabaram acrescentando sexo à amizade.

Entretanto, não havia sentimentos românticos entre eles. Tratava-se apenas de atração física e conveniência. Isso era muito bem estabelecido para ambos. 

 Por mais que vez ou outra Neji até tivesse curiosidade sobre como seria vivenciar um romance, não era com TenTen que ele imaginava isso acontecendo. Na verdade, procurava evitar esse tipo de pensamento, pois só conseguia visualizar uma garota com a qual desejava viver essa experiência e ela era inalcançável, intocável, impossível para ele. A filha mais velha de Hiashi Hyuuga. Hinata.

Não se falavam e não se viam já havia alguns anos. Desde que ocorreu a briga entre Hiashi e Hizashi e foram embora do lado nobre do bairro, mudando radicalmente de vida e cortando totalmente os laços com a família de Hiashi. Ao contrário de Hanabi, que estava sempre a desafiar o pai e encontrando o primo ainda que sem permissão, Hinata nunca mais o havia procurado. Em certo nível isso o deixava um tanto ressentido com relação a ela. Ainda assim, era difícil vencer a sensação que o consumia de querer vê-la, saber como estava e se havia mudado muito desde o último encontro entre eles..

 A princípio, foi difícil para Neji adaptar-se a uma realidade tão diferente. Não contava mais com o conforto, o luxo e a estabilidade financeira que já havia se acostumado. Apesar disso, fez amizades de grande valia para ele, o que não ocorria quando ainda estava morando em sua mansão. E ficou ainda mais empenhado na realização de seu sonho de ter uma academia própria de artes marciais. Já era algo que ele desejava desde mais novo, quando começou a lutar karatê. Mas em vez da chama se apagar quando as dificuldades financeiras bateram à porta, ela somente se alastrou. O desejo de prosperar na vida através da luta – em vários sentidos – somente se fortaleceu.

 Àquela altura da vida, já havia se acostumado com a grande mudança. Entretanto, ainda sentia falta de Hanabi e Hinata, que eram suas grandes amigas e parceiras na aventura de descobrir a vida e o mundo. Quando crianças e até mesmo na pré-adolescência os três aprontavam bastante juntos. Matavam aulas para ir ao cinema, pregavam peças nos adultos da família, chegaram a experimentar bebidas alcoólicas muito cedo, etc.

 Hinata, dócil e muito preocupada, relutava. Mas no fim não conseguia resistir a uma nova aventura com aqueles dois. E quando as consequências vinham, Neji sempre dava um jeito de protegê-la e assumir toda a responsabilidade para que ela não fosse prejudicada de nenhuma forma. Ele sentia um instinto de cuidar dela.

 Enquanto Neji encontrava-se perdido em pensamentos, a garota que estava diante dele encarava-o com ansiedade. Tinha olhos de um tom castanho puxado para o chocolate e estes mantinham-se fixados em cada traço da expressão do rapaz, procurando identificar qual seria a sua reação, mas estava bastante difícil de ler. 

 Neji demorou a responder. Em silêncio, repassava em sua mente todas as experiências amorosas desde a ingênua paixão por Hinata até as aventuras sexuais com TenTen e também com outras garotas. Pois embora fosse reservado, sua exótica aparência chamava a atenção. Os longos cabelos castanhos e bastante hidratados, os olhos perolados e as tatuagens em seu corpo definido levavam as mulheres a se atraírem e até mesmo a tomarem a atitude de chamá-lo para sair. Dificilmente aconteceria caso dependesse dele, uma vez que respeitava tanto o espaço de uma mulher que não ousava abordá-la em nenhuma hipótese, chegando a ser taxado pelos amigos como "devagar". 

 De qualquer forma, o rapaz tinha uma vida sexual consideravelmente ativa, mas nunca deixou de usar preservativo. Nem mesmo com TenTen, em quem confiava.

— Não duvido de você, TenTen. Eu juro que não. Mas a gente sempre se previniu. Como isso aconteceu?

 TenTen revirou os olhos e então respirou fundo, procurando ter alguma paciência. Sabia que Neji não estava perguntando por não acreditar nela e sim porquê a situação de fato era atípica.

— Não sei se cê sabe, mas rola um percentual de falha, a margem de erro. — Ela cruzou os braços e encarou-o, dizendo com firmeza: — Mas oh, eu nem tinha intenção de te contar. Cê sabe bem que sou durona, ia me virar sozinha!

— Não é justo, TenTen. Não é certo. Vamo dar um jeito de fazer isso juntos. – Neji também estava com os braços cruzados contra o peito e sustentou a mesma postura firme da garota.

TenTen respirou fundo. Um filho não estava em seus planos e ela até mesmo considerou a ideia de não tê-lo. A indecisão a consumia e ela decidiu conversar com seus pais, um casal bastante racional e aberto ao diálogo. Eles a apoiariam independente da decisão. Caso decidisse não gerar um filho, compreenderiam e auxiliariam em todo o processo. Entretanto, caso decidisse gerá-lo, garantiram que ajudariam-na a cuidar da criança, inclusive para que ela pudesse continuar se dedicando em sua carreira.

Ela passou alguns dias ponderando o que faria. E no fim das contas, acabou optando por ir adiante. Porém não pretendia compartilhar com Neji. TenTen tinha por ele um sentimento real de amizade e desejava de fato vê-lo realizando o sonho de prosperar através das artes marciais e mudar a história de sua família. Não queria atrapalhá-lo nessa luta.

— Mas, Neji, eu num quero namorar com você! – Ela admitiu um tanto constrangida. Por mais que sentisse tesão por ele, para TenTen não era o bastante para assumir uma relação. 

— Não foi isso que eu quis dizer! Tô falando que é meu dever cuidar dessa criança contigo, é minha responsa.

— E quando cê quiser assumir compromisso com alguma mina?! – TenTen sugeriu e Neji riu fracamente – O que a Hinata vai pensar quando souber?

Ele estremeceu ao pensar nisso. Já a tinha distante. Era certo que isso a afastaria de uma vez.

— TenTen, a Hinata num quer nem saber de mim. – O rapaz deu de ombros, como se não se importasse com a opinião de Hinata. Entretanto, a verdade das palavras que proferiu fazia com que seu coração se apertasse. Ele logo buscou mudar de assunto: – Você me conhece. Acreditou mesmo que eu ia te deixar criar um filho sozinha?

TenTen esboçou um sorriso. De fato, Neji levava tudo bastante a sério. Era o mestre da disciplina e da responsabilidade. Ele entendeu que o assunto havia sido encerrado e saiu de lá com um turbilhão de pensamentos e emoções que procurou não transparecer para a amiga. 

Era certo que um filho estava longe de ser o ideal naquele momento. Não tinha condições financeiras e muito de seu tempo era utilizado para treinar, dar aulas e lutar em competições. Ajudava com o dinheiro em casa e a outra parte utilizava para juntar até ter condições de montar a própria academia.

Resolveu, inclusive, ir para a academia em que dava aulas e aproveitar do benefício que tinha de utilizar livremente o espaço para treinar. Além de sua profissão, a luta era um meio que ele encontrava de se expressar e descarregar as energias. Precisava espairecer e processar melhor a informação antes de contar aos seus amigos e à sua família. 

Ela ia se ajeitando no decorrer do caminho até o escritório dos donos de sua confecção de roupas preferida. Não estava atrasada, mas o nervosismo era tanto que não importa o quanto se arrumasse ainda sentia que não estava bom o bastante.

Tentava manter o escorrido cabelo em um coque volumoso. Como o de costume, uma grossa mecha caía em seu rosto. Vestia uma camisa de mangas longas em um tom amarelo-escuro desbotado e uma calça flare preta. Nos pés, um tênis da Nike com uma pegada mais skate para que não parecesse completamente formal. 

Por mais que se tratasse apenas de uma entrevista de estágio, era muito importante para Hanabi. Entrar no mundo da moda com apenas 16 anos seria legal, sim, de qualquer maneira. Mas seria ainda melhor caso conseguisse fazê-lo através de uma marca que admirava, cujo os valores e o estilo iam de encontro com os seus.

Uma outra garota ligeiramente mais alta caminhava ao seu lado. Tratava-se de sua irmã, Hinata. Mais básica, com uma camiseta branca justa, jaqueta preta, jeans altos no estilo mom e tênis pretos também da Nike e da mesma linha de skate que era conhecida como SB. Os cabelos estavam soltos e voando devido aos fortes ventos típicos do Outono. Embora fizesse sol e o céu estivesse em um tom azul vibrante, o clima predominante era o frio.

Elas foram até mais da metade do caminho de ônibus e havia uma caminhada que durava de cinco a dez minutos até chegar ao local de destino: o escritório de Kakashi e Iruka.

Pela velocidade que Hanabi andava e que Hinata tentava acompanhar, não demorou para que se vissem diante de uma conservada porta de madeira protegida por uma grade semelhante a um portão. Havia ali um interfone. Hanabi olhou para Hinata, que assentiu em um incentivo para que a irmã mais nova apertasse o botão do aparelho e se pronunciasse; assim ela o fez.

Em poucos instantes, Iruka estava diante delas. O moreno abriu a boca em um largo sorriso exibindo belos dentes brancos e convidou-as a entrar. Sentia uma certa simpatia por Hanabi, não sabia ao certo se pelo tanto que Konohamaru contava histórias sobre a garota e a elogiava ou se pela valentia dela ao ir conversar com ele e com Kakashi sobre a marca deles e pedir-lhes para olhar as criações dela.

As duas pediram licença e adentraram o local. Era bastante simples, um espaçoso cômodo apenas. As paredes eram tingidas de cinza e variados tecidos e croquis estavam distribuídos pelo local, bem como alguns manequins de diferentes tipos e tamanhos. No centro havia uma pequena mesa de madeira cheia de papéis e dois notebooks em cima. Uma cadeira acolchoada era ocupada por Kakashi, que alternava o olhar entre a tela de seu celular e o papel que rabiscava. Ao lado dele havia outra cadeira e essa estava vazia. Possivelmente era a que Iruka ocupava antes de ir recebê-las.

Kakashi interrompeu o que fazia e acenou para elas.

Havia dois puffs próximos à mesa. Ele indicou com o rosto que as meninas se sentassem ali e Iruka riu um tanto sem graça.

— Nos desculpem por não termos cadeiras decentes para vocês. É que não costumamos fazer muitas entrevistas ou receber gente aqui. 

— Não precisa se preocupar, senhor. Se fosse preciso eu sentaria até no chão sem crise! – Hanabi sentou-se e sorriu. Hinata não disse nada, apenas assentiu concordando com a irmã e acomodando-se no outro puff ao lado dela.

— Beleza. Boa resposta! – Ele comentou — E sem mais delongas, vamos direto ao assunto. Temos algumas perguntas básicas para fazer e depois queremos dar uma olhada no que você trouxe pra gente, ok?! Mas antes... vocês querem um cafézinho ou uma água?

Elas recusaram e Kakashi soltou o celular e o papel que tinha em suas mãos, colocando-os sobre a mesa. O homem analisava atentamente as duas, especialmente Hanabi. Observador como era, notou o nervosismo dela ainda que a garota estivesse procurando escondê-lo. A respiração dela estava ligeiramente irregular e as mãos estavam um pouco trêmulas, de maneira quase imperceptível. Nem Iruka e nem Hinata haviam reparado nisso. Entretanto, Kakashi não deixava passar nenhum detalhe.

— Particularmente não sou dado à formalidades. Que tal me passar os seus desenhos para eu dar uma avaliada? – Ele propôs e ela entregou-o de imediato a pasta, procurando camuflar a insegurança.

Iruka riu fracamente.

— Bom, pra mim é importante saber um pouco mais sobre você. Conta um pouco mais sobre a sua família, sobre a escola, o que gosta de fazer. As suas inspirações e aspirações.

 Então Hanabi desandou a falar sobre tudo o que ele havia sugerido e até mais. Contou sobre os pais e as diferenças entre eles, as maldades que ouvia — dentro e fora de casa — por causa de seu peso, as questões de autoestima e a vontade de construir uma moda mais inclusiva, onde nas passarelas pudesse levar modelos de todos os tipos e tamanhos, gêneros e cores. Vontade essa que surgiu a partir de sua própria experiência. Por mais que ela ainda encontrasse roupas estilosas que ficassem bem em seu corpo, se preocupava com as mulheres consideradas plus size. Almejava um dia ter uma marca que contasse com belas roupas para todos os tipos e tamanhos de corpo. 

Queria ver o cenário mudando nas passarelas — e fora delas também —, exaltando e valorizando as diferenças. Queria que as pessoas se sentissem realmente representadas!

Além disso, também pretendia mesclar um estilo mais elegante com um estilo mais street, mais moderno. Era inclusive com esse pensamento que ela escolhia as próprias roupas e desenhava aqueles esboços que levou para eles.

 Hinata ouvia com orgulho e emoção a fala da irmã.

 Iruka ficou maravilhado com a atitude e as histórias da garota. Também deu uma olhada nos esboços dela e enxergou potencial. Kakashi, embora mais reservado, se sentiu da mesma forma que o marido.

— Não vou negar que me surpreendeu. – Comentou Kakashi, ainda com os desenhos em mãos.

— Por mim, já pode começar na segunda! – Iruka propôs, mas antes olhou para Kakashi – Qual a sua posição sobre isso?

Kakashi ficou quieto e pensativo por alguns instantes. Aos olhos de Hanabi, nunca alguns segundos haviam demorado tanto para passar como aqueles. Inclusive Hinata sentia-se tensa pela irmã e também estava aguardando a resposta de Kakashi, que parecia mais rígido que Iruka.

Ele já havia tomado a sua decisão desde o momento em que deu uma olhada nos desenhos dela. Mas observando a tensão com que aguardavam a sua resposta, Kakashi demorou mais do que o necessário para se pronunciar, somente movido pela diversão que sentia ao alimentar o suspense. 

— Tudo bem! Eu concordo! – Embora a boca dele estivesse coberta por um grande cachecol preto, a curva de seus olhos indicava que havia um sorriso escondido por trás do pano.

Iruka riu gostosamente ao notar que Kakashi havia feito toda aquela pose de malvado para divertir-se um pouco. Hanabi respirou aliviada e entre pulos de animação, respondeu: 

— Obrigada! Eu prometo que vou fazer valer essa chance!

— Mas é preciso lembrar que você é menor de idade e só vai poder começar realmente na segunda com a autorização de seus pais. Vou elaborar um termo aqui, carimbar e você vai precisar trazer assinado por eles. Sem esse papel preenchido, nada feito. – Kakashi levantou-se e foi na direção de seu notebook, abrindo o aplicativo do Word pronto para colocar em prática o que havia dito. 

 Hinata olhou preocupada para Hanabi, que fez com as mãos um gesto de "jóia" tentando demonstrar confiança. Tinha certeza de que a irmã mais velha direcionou o olhar para ela daquela maneira por causa do medo ou da insegurança por saber que Hiashi não ficaria contente com a situação. Mas Hanabi estava certa de que daria um jeito de convencê-lo. Ela sempre dava.

 Em poucos minutos Kakashi já havia finalizado o termo e entregou-o nas mãos dela, dando as orientações sobre o preenchimento. 

Iruka propôs que tomassem um café. Limpou parte da mesa, colocou uma toalha e em cima alguns biscoitos que tirou de uma das gavetas. Serviu a todos com café e uma conversa mais leve e amistosa iniciou-se entre eles.

 Embora estivesse feliz pela irmã, algumas questões inundaram a mente de Hinata. Vê-la em tão perto de trabalhar com aquilo que amava instigou na própria irmã mais velha o desejo de se sentir assim também. Gostava do que fazia na gravadora, isso era fato. Mas não falava com o mesmo ardor e nem tinha o mesmo brilho nos olhos que via em Hanabi ao falar de moda ou até mesmo o de seu pai com relação à música. A mãe não trabalhava, vivia apenas em função do marido e dos filhos. Não era essa a vontade de Hinata também.

 Naquele momento, ela se viu almejando fazer algo que amasse. Entretanto, o que será que ela amaria fazer? Por onde começar a tentativa de descobrir? Por fora procurava se envolver na conversa, por dentro sentia-se um tanto quanto perdida. Não queria ficar para sempre administrando os negócios da gravadora somente porque isso já estava em suas mãos e esse seria o caminho mais fácil e lucrativo. Sentia que a vida poderia e deveria ser mais do que isso.

 

As variadas canções de jazz soavam nas caixas de som do Akimichi's naquela noite de sábado. Era por volta de 19h00m. Mais tarde, perto das 22h00m, ocorreria a apresentação de um grupo iniciante e local.

 Uma mulher de idade adentrou o local acompanhada pelo marido e pela filha. Havia tanto tempo que não saía para jantar em um restaurante que a admiração se fez presente em sua expressão ao percorrer o ambiente com o seu olhar.

 Tão agradável! Valia a pena para ela ter tirado do guarda-roupa o seu melhor vestido, que inclusive já estava quase mofando lá dentro devido a falta de uso. Comprou-o quando a situação financeira deles ainda não era tão precária. O vestido rodado tinha uma tonalidade gelo, as mangas eram longas e se estendia até pouco abaixo dos joelhos. Os fios de seu cabelo alternavam entre os grisalhos e os castanho-claro e uma franja caía-lhe sob o rosto. Tinha na testa e abaixo dos olhos algumas marcas de expressão provocadas pela preocupação e pela idade. Chamava-se Mebuki Haruno e se tratava da mãe de Sakura. Vendo os olhos de Mebuki era possível compreender de quem Sakura os tinha herdado.

 Quanto ao homem ao lado dela e da filha, este era Kisazhi Haruno. Cabelos grisalhos arrepiados, olhos azuis e um bigode. Excessivamente magro graças ao estado de saúde em que se encontrava. Pouco mais alto que Mebuki e Sakura. Ele se apoiava em muletas e sua vestimenta era bem mais simples. Utilizava uma camiseta em tom verde militar e uma surrada calça jeans preta.

O homem andava bastante apático e insatisfeito desde o dia em que caiu de uma construção alta no trabalho e perdeu parte dos movimentos, impossibilitando o seu retorno às atividades laborais, bem como limitando sua vida em variados aspectos. E pela falta de recursos e possibilidades, em vez de procurar novas maneiras de vida ou uma adaptação, ele simplesmente desistiu e rendeu-se ao desânimo. Entretanto, havia fagulhas de animação em sua face naquela noite, pela primeira vez desde o acidente. Esse singelo momento aqueceu o coração de Sakura.

 Após o instante inicial de apreciação do local, os três se dirigiram até uma mesa próxima à janela. Pela localização do restaurante, era possível vislumbrar dali algumas partes do lado nobre de Konoha. 

 Não demorou para que Karui viesse atendê-los com a maior atenção e carinho. A bela dona do estabelecimento possuía a pele negra, longos cabelos ruivos e olhos em um tom caramelo. Embora fosse geniosa e do tipo que não fica quieta diante de nenhum tipo de absurdo ou desaforo, tratava os clientes com muito carinho e zelo. Especialmente os pais de Sakura. Conhecia a garota e a história de sua família. Sabia que um momento como aquele era raro para eles e fez o que pôde para torná-lo mais especial.

Sakura tinha algumas economias guardadas e com parte delas é que pretendia pagar por aquele jantar. Se tudo corresse bem naquela noite, seria o primeiro passo para que um dia alcançasse a prosperidade financeira – e em todos os níveis – através da música. E quando isso se concretizasse, faria questão de proporcionar aos pais uma vida mais confortável e menos sofrida; com mais lazer e leveza.

 Por mais que procurasse disfarçar, o frio na barriga consumia a rosada. As mãos estavam suando e ela mordia os lábios nervosamente. Em silêncio, ela vivia uma batalha interna na busca por coragem para revelar aos pais o ocorrido da segunda-feira com Killer Bee. Não o havia feito antes pois a mãe trabalha durante o dia como doméstica em uma casa e durante a noite em outra, de maneira que dificilmente estava no próprio lar. A hora que ela chegava Sakura já encontrava-se dormindo. Somente nos sábados ela folgava. E vez ou outra ainda fazia algum freelance

— Olha só, tudo arrumado com tanto cuidado! — Mebuki comentou ao observar o pequeno vaso com flores brancas no centro da mesa. Havia um esboço de sorriso em seus lábios finos.

— Pois é. Cês merecem esse cuidado! – Respondeu Sakura, procurando ser gentil com a mãe. Andavam emocionalmente distantes uma da outra. A mãe, movida pelo sofrimento e as dificuldades da vida, acabou tornando-se um tanto desesperançosa, até mesmo amargurada. Já Sakura lutava para manter alguma fé e não se deixar contagiar pelo clima geral de desânimo que reinava em sua morada.

— É, fia. Nem que eu trabalhe muito num consigo dar esse luxo pra nós. — Mebuki refletiu, abaixando um tanto a cabeça. Logo em seguida elevou-a novamente e concluiu sua fala: — Mas cê pode ser nossa esperança, né?! Estudar muito, entrar numa faculdade, virar uma advogada ou uma médica.. Uma arquiteta ou uma engenheira. Igual o filho dos meus patrão!

Kizashi apenas assentia, concordando com tudo o que Mebuki dizia. 

Sakura tomou para si o máximo de fôlego que pôde. A sua ansiedade não permitiria esperar muito mais para conversar com os pais sobre a profissão que almejava. Aquele comentário da mãe inclusive culminou na oportunidade perfeita para que a jovem se pronunciasse.

— Já que cê tocou no assunto... Quero sim poder dar esse luxo e muito mais pra vocês. Mas não sendo arquiteta ou advogada. Quero trampar com música, mãe. Com o rap. Até com jazz, talvez. Olha só que bonitas essas canções que tão tocando aqui hoje.

Mebuki balançou a cabeça de um lado para o outro, como que em negação ao que ouvia a filha dizendo. E havia repreensão em sua voz ao responder:

— Fia, de novo esse assunto?! Achei que a gente já tinha se entendido sobre isso.

Embora contrariada pela reação da mãe, a rosada respirou fundo e procurou manter a calma.

— Mais ou menos, né?! Cê tinha dado a sua opinião e eu só fiquei quieta. Mas a senhora Hirochi me deu folga na segunda e eu acabei indo na reunião com o rapper, o senhor Killer Bee. Ele disse que tá disposto a me produzir e sem cobrar nada!

— Sakura Haruno, você me desobedeceu! - O rosto da mãe de Sakura foi tingido de leve rubor causado pela raiva – Cê acha que isso vai dar em alguma coisa?! Quem diacho é Killer Bee?! Ele num tem grande relevância como músico. Ainda se me dissesse que foi o senhor Hiashi Hyuuga que te notou, eu daria algum crédito.

Kizashi não se pronunciou. E a rosada sabia que isso é porque ele concordava com a mãe dela.

As bochechas de Sakura também encontravam-se coradas pela revolta que sentiu ao ouvir as palavras da mãe e pela omissão do pai.

— Pois eu prefiro alguém como o Killer Bee, que saiu da miséria e cresce cada dia mais na música através da honestidade e sem atrasar ninguém. Pelo contrário, ajudando as pessoas. Já esse Hiashi aí, num respeita nem a própria família. Todo mundo sabe a fama dele! Por quê cê acha que o senhor Hizashi tá morando por esses lados?! 

— Já trabalhei pro senhor Hiashi e você sabe bem que admiro ele.

— Não sei como a senhora pode admirar alguém como o Hiashi e num apoiar a própria filha e um cara todo do bem, engajado em causas sociais e preocupado com a família como é o senhor Bee.

As duas tinham firmeza e hostilidade em suas palavras. A discussão tomava um novo rumo. Definitivamente não era aquela a direção que Sakura pensou que a conversa tomaria.

— Ué, Hiashi é um homem de família. Casado, ama e cuida das filhas. Muito educado e limpinho! Já esse Bee é pai do filho de uma mulher que num é esposa dele. Solteiro e gosta de festejar. Bom sujeito num pode ser. Só prezo pelo seu bem, minha filha!

— Mãe, cada um com o seu caminho. Ser casado e educado num é prova de honestidade, não. Assim como ter filho sem ser casado e festejar também num é atestado de desonestidade. Mas num é esse meu objetivo aqui. Eu num tô pedindo permissão, tô é comunicando que vou aceitar a proposta do senhor Killer Bee! – Sakura cruzou os braços e encarou os pais. A sua intenção de início era conseguir a aceitação e incentivo deles.

Entretanto, aquela conversa foi fugindo do controle. As palavras saíram de sua boca no impulso. Mas agora que as havia dito, não estava disposta a voltar atrás.

 Nesse momento, um garçom chegou e serviu os pratos de cada um. Feito isso, retirou-se desejando a eles uma boa refeição. Mebuki ficou em silêncio e rangia os dentes, segurava os talheres e o copo com uma força desproporcional, cortava a carne em seu prato com agressividade. Nem ela e nem Kizashi direcionaram mais a palavra nem o olhar à Sakura. Pelo resto da noite se mantiveram em silêncio ou só trocavam palavras entre si, ignorando a filha. E sabe-se lá por quanto tempo estavam dispostos a manter aquela postura.

 A rosada segurava as lágrimas que ameaçavam cair de seus olhos. A falta de apoio por parte dos pais por um lado a feriu e desanimou, mas por outro fê-la concluir que mais do que nunca ela mesma precisava ter fé em si. Por mais que tivesse lá sua fé em alguma Entidade Suprema que rege o mundo, também no destino ou no que quer que fosse, acima de tudo sentiu que era principalmente nela mesma que deveria depositar a sua fé naquele momento. Que não poderia voltar atrás e abrir mão daquela oportunidade nem de seu sonho, que desistir dele dentro daquele cenário seria desistir de si. Por mais difícil que fosse de alcançá-lo e tinha consciência de que o seria.

Abriu os olhos e se deparou com um local desconhecido. Direcionou o olhar para si mesmo assustou-se ao se ver em uma cama de hospital. O esforço foi grande para se recordar sobre como havia parado ali, tão grande que forte pontada atingiu-lhe a cabeça.

 Tinha em sua memória alguns flashs das drogas sendo consumidas e do grande desespero na expressão de sua namorada e de seu melhor amigo. Ao se aprofundar nesses borrões em sua mente, recordou-se também da sensação de estar ouvindo vozes depreciando-o e acreditar que vinham de pessoas que desejavam matá-lo. Essas lembranças atormentaram-no tanto que desejou que não passasse de um pesadelo. Mas ao ver-se ali pôde deduzir que infelizmente foi real.

 Quem será que o havia levado até o hospital? Será que Konan e Yahiko estavam por lá ou o haviam abandonado? Onde estavam as drogas que ele tinha na bolsa aquele dia? As dúvidas faziam a dor em sua cabeça aumentar, levando-o a gritar.

Não demorou para que uma mulher morena entrasse com uma medicação em mãos.

— Nagato? Está consciente? – Ela indagou analisando cada traço da expressão do rapaz. Ele encontrava-se notavelmente abatido, mais pálido do que já era. Profundas olheiras cercavam os seus olhos. 

Shizune aguardava uma resposta, mas Nagato permaneceu encarando-a sem dizer nada. O silêncio, a ansiedade e o desconforto dominavam aquele quarto de hospital.

 


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