Finding hope escrita por nje


Capítulo 8
7: Passado, presente, futuro


Notas iniciais do capítulo

Eaí, pessoal!
Aqui estou eu com mais um capítulo nessa noite fria de domingo rs
Enfim, sigo agradecendo todo o carinho e incentivo em cada um dos comentários. Não imaginam minha felicidade ao ver o quanto estão gostando! E também em saber o que a fanfic está trazendo de alguma forma pra cada um. Fico realmente realizada.
Aliás, ainda falta responder alguns comentários. Mas saibam que li todos e agora que consegui concluir o capítulo em andamento vou tentar me dedicar a fazer isso com o carinho e atenção que merecem.
Obs: claramente me empolguei com o tamanho do capítulo x) kkkkk

É isso! Espero que gostem! Boa leitura! ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778412/chapter/8

 

 

 

7: Passado, presente, futuro

Estava escurecendo. O rapaz passou a tarde toda treinando, procurando espairecer a mente após a notícia bombástica que recebera mais cedo naquele dia. Ele caminhava lentamente e totalmente imerso em pensamentos pelas ruas do bairro enquanto voltava para casa. Nem conseguia imaginar como seria a reação do pai, Hizashi e de sua mãe, Harumi. Acreditava que eles não receberiam a notícia muito bem, tanto por saberem que o filho seria pai tão jovem e pouco estabilizado na vida quanto pelo tipo de relacionamento do rapaz com TenTen, a mãe da criança. Certamente iriam desejar que fossem morar juntos ou algo assim. Seria uma conversa embaraçosa.

Suspirava profundamente ao pensar que aquele seria apenas o primeiro e o menor dos desafios que enfrentaria. Ainda assim, por ser o mais imediato, era o que mais lhe preocupava naquele momento. Ele encontrava-se tão envolvido com as próprias questões que surpreendeu-se ao ser bruscamente interrompido por uma fina e animada voz que lhe era conhecida:

— Neji! Ei, Neji! — Hanabi tinha nos lábios um largo sorriso. A baixinha acenava empolgadamente para que Neji a notasse.

E assim o teria sido, se a garota ao lado dela não houvesse roubado totalmente a atenção dele. Procurou disfarçar, mas não conseguia tirar os olhos de Hinata. Os longos cabelos preto-azulados, a franjinha na testa, a postura tímida e a face facilmente corada. Isso tudo sobre ela se mantinha como em suas recordações. Talvez o modo de se vestir estivesse um pouco mais alternativo e moderno do que ele esperaria levando em conta a personalidade da garota. Mas salva essa exceção, era exatamente como se lembrava.

Tão fixado em observá-la, demorou a notar o bater forte e acelerado de seu próprio coração. Agradeceu por estar em uma razoável distância delas e aproximando-se em passos lentos, pois se estivesse mais perto elas conseguiriam perceber o estado ridículo em que ele encontrava-se ao rever Hinata. Não aceitava sentir-se tão abalado ao vê-la após todos esses anos de distância, ressentimento e falta de contato.
Ainda assim, quando botou os olhos nela, foi como se o tempo não tivesse passado. Mas além de passar, o tempo – e tudo o que coube dentro da passagem dele até aquele instante –  também a tornou ainda mais impossível para ele.

Do outro lado, aguardando a aproximação total do primo, Hinata via-se em confusão semelhante. A cada passo que Neji dava na direção delas, o coração batia mais forte e o rubor nas maçãs do rosto da garota se intensificava.

Ele era ainda mais belo do que em suas memórias. O tempo somente lhe favoreceu. De fato, sempre houve na postura dele um ar de maturidade que o fazia parecer mais velho do que de fato o era. Entretanto, agora isso se manifestava até mesmo em seus traços. Além disso, chamava a atenção o físico definido pelas lutas e algumas das tatuagens que estavam visíveis através da camiseta branca básica que o rapaz vestia.

A curiosidade de conhecê-lo melhor para verificar as mudanças internas a consumiu. Entretanto, como poderia fazê-lo? Não tinha autorização para ficar frequentando o lado pobre de Konoha. E mesmo que o fizesse, duvidava que Neji desejasse a aproximação dela depois de ter se afastado tanto dele somente para cumprir as ordens do pai.

Tantos foram os pensamentos que couberam no curto espaço de tempo que Neji levou para chegar até as duas. Tanto se passou no interior deles naquele instante. Ao finalmente estar mais próximo, ele sorriu fracamente para Hanabi. Não se direcionou à Hinata.

— Neji, cê num sabe! Adivinha quem conseguiu o estágio dos sonhos?! — A Hyuuga mais nova tinha um incontrolável riso nos lábios enquanto pulava novamente de alegria.

— Parabéns! — Ele disse com sinceridade, abraçando-a rapidamente e sem jeito.

— Agora vou estar quase sempre por perto. Sei que cê não tem muito tempo livre, mas.. Já é melhor do que viver do outro lado do muro, né?! — Ela comentou, aproximando-se dele e envolvendo-o com seus braços, apertando-lhe em um abraço demorado. Hanabi era desinibida e não tinha problema em expressar o carinho e amizade que nutria pelo primo, embora o mesmo fosse um tanto mais contido.

— Fiquei feliz por você! — Ainda que estivesse constrangido por não ser muito bom com demonstrações de afeto, procurou retribuir ao abraço e esboçou um sorriso.

Hinata assistia tudo em silêncio. A vontade era de sair correndo dali. Não pensou que o rapaz iria simplesmente ignorá-la. Esperava que tivesse ao menos a cortesia de cumprimentá-la.

— A propósito.. — Hanabi interrompeu o abraço e apontou na direção da irmã — Caso num se lembre, essa é a Hinata, minha irmã e sua prima.

— Foi mal. É que cê já chegou com a novidade, nem tive chance de falar com ela.. — O rapaz procurou disfarçar. Aproximou-se dela e apertou uma de suas delicadas mãos brancas e gélidas.

O choque provocado por esse rápido toque percorreu-lhes por inteiro, mas os dois se esforçaram para que isso não se fizesse tão notável.

Ela retribuiu ao aperto de mão e suas bochechas nem mesmo por um instante deixaram de estar ruborizadas. Pelo contrário, ficavam cada vez mais.

— É bom te ver.. — Hinata comentou buscando dentro de si toda a coragem que pôde.

Ele arqueou as sobrancelhas movido pela surpresa e logo em seguida recompôs-se e assentiu, como se concordasse com o comentário. Sentia vontade de conversar com ela, revelar que encontrava-se chateado pelo distanciamento entre eles. Porém, naquele momento não seria capaz de fazê-lo. Não enquanto ainda assimilava a notícia de que seria pai do filho de outra. 

— A gente devia fazer um rolê os três juntos pra comemorar a minha conquista e matar a saudade da infância, aprontar alguma coisa.. — Hanabi sugeriu, procurando tomar a frente e fazer um intermédio para que eles se aproximassem novamente. 

Hinata assentiu com timidez e Neji não respondeu nem se manifestou de nenhuma forma. E a prima mais nova não pôde deixar de comentar:

— Tá tudo bem? Sei lá, tô te achando tão quieto. Cê já é mesmo meio reservado, mas tá ainda mais que o de costume, num sei.. Sua cara também, tá mais séria e até pálida que a de costume.

A garota era observadora. Mas por mais que estivesse louco para compartilhar com alguém a notícia que teve mais cedo naquele dia, definitivamente não era a melhor hora para fazê-lo. Confiava em Hanabi o bastante para isso. Entretanto, não desejava ainda que Hinata soubesse. Neji ainda não sentia-se emocionalmente preparado o bastante para lidar com a reação dela naquele momento. Ainda procurava se recompor dos sustos que aquele dia o estava proporcionando.

— Vamos fazer esse rolê aí pra comemorar. Então conversamos com calma. — Neji sugeriu. Sabia que não poderia esconder por muito tempo. Que ainda que não fosse pela boca dele, em algum momento a notícia acabaria chegando até elas. 

Por esse motivo, tentou ao menos ganhar tempo. Precisava antes conversar com os pais, com os amigos e estar mais acostumado com a ideia de ser pai. Não deveria se importar com a opinião de Hinata, mas não conseguia deixar de fazê-lo ainda que o quisesse muito. 

— Combinad... Opa, o busão tá chegando! Faz o sinal, Hina! — Hanabi ordenou enquanto dava um abraço rápido de despedida em Neji.

Hinata fez o sinal ao ônibus que parou imediatamente. Em poucos instantes elas já encontravam-se subindo no transporte. A mais velha olhou para o rapaz mais uma vez. Sussurrou as palavras "me desculpe" ao ver que ele estava com os olhos fixos nela também. O rapaz teve o ímpeto de puxá-la para que pudessem conversar. Mas com muito custo não reagiu e nem fez nada a respeito, apenas observou a figura dela se afastando cada vez mais até que o ônibus desaparecesse do alcance de sua visão.

Um grupo de quatro pessoas encontrava-se sentado ao redor de uma mesa de madeira, na qual havia uma garrafa de uísque e alguns charutos. Três homens e uma mulher. Dois deles aparentavam já ter certa idade, enquanto que o outro provavelmente não tinha nem mesmo 30 anos. A mulher que estava junto a eles era a noiva deste último e estava na mesma faixa etária que ele, bem como sentada ao seu lado. Eles degustavam de sua bebida pura e com muito gelo. 

Uma das paredes daquele cômodo era de um tom marrom-escuro. Nela havia pendurada uma série de premiações, manchetes de progresso e fotos de artistas. Tudo o que estivesse relacionado ao crescimento da Gravadora de Música Hyuuga. As outras paredes eram brancas sem nenhum tipo de enfeite. Uma delas apenas era ocupada por um painel de madeira que sustentava a grande TV LCD de 50 polegadas junto a algumas caixas de som.

Havia encostado sobre outra um grande sofá de couro preto. Em cima dele estavam os papéis e o Macbook que anteriormente ocupavam a mesa na qual os visitantes encontravam-se bebendo juntamente ao dono da sala e de toda aquela gravadora: Hiashi Hyuuga.

— Hoje minha filha foi pros lados da ralé, fazer uma entrevista com aquele casal de bichinhas.. — Desabafou o dono dos longos cabelos castanhos e exóticos olhos perolados característicos da família Hyuuga enquanto segurava o copo cheio de uísque em uma mão e direcionava o charuto à sua boca. 

— O meu outro filho esteve por lá hoje, também. Mas por obrigação, pra cumprir a pena determinada pela justiça.. — Um dos homens mais velhos confessou também em tom de embaraço. Ele tinha marcas de expressão na testa provocadas pela idade. Os olhos era negros e o cabelo castanho-escuro tinha comprimento médio. — Conhecendo aquele moleque mimado e arrogante tenho certeza que esse risco de ele se afeiçoar à pobreza eu não corro. Pelo menos isso.

— Você pega pesado com o Sasuke, papai. — O homem mais novo entre eles era bastante semelhante ao que acabara de falar. Os cabelos tinham o mesmo comprimento, a diferença é que eram negros tais quais também eram seus olhos puxados. Este era Itachi Uchiha. Alto, forte. Vestia uma camisa cinza, por cima um grosso sobretudo preto e uma calça na mesma tonalidade.

A mulher ao lado dele não disse nada. Apenas observava a fala do sogro e do noivo. Em certo nível concordava que Sasuke era mimado e arrogante, mas que também Fugaku o desprezava muito. Por outro lado, num geral discordava da criação da família Uchiha. Rebaixando os mais pobres e enaltecendo os mais endinheirados. 

A própria família dela não era rica e Itachi bem sabia disso, mas omitia o fato ao pai. Isso a angustiava e doía-lhe cada vez que o ouvia ofender ou duvidar da capacidade de alguém somente por causa de suas condições financeiras. Itachi frequentava a casa da família dela, mas dizia a Fugaku que moravam longe e dificilmente conseguiam ir até Konoha. Fazia isso para evitar este encontro e a polêmica que surgiria a partir dele.

— Eu pego é leve, Itachi. Olha o tanto de dor de cabeça que ele me dá! — Fugaku revirou os olhos e tragou intensamente o charuto que tinha em uma das mãos. — Você na idade dele já estava perto de concluir a primeira faculdade. 

— Sei bem como é isso, Fugaku. A Hinata é a minha salvação. Reservada, obediente, não sai muito, administra bem os negócios da família.. Hanabi, a mais nova, é o oposto. Onde é que erramos na educação dos mais novos? Ou será que é a juventude que está perdida?! — Hiashi seguia em um tom de lamentação e crítica.

— A segunda hipótese faz mais sentido! — Comentou Fugaku em total concordância.

A mulher se mantinha em silêncio. Dona de longos cabelos castanhos e uma franja que ficava caída de lado. Os grandes olhos eram pretos e a pele branca. Usava um vestido preto e por cima um sobretudo grosso e preto como o de Itachi, porém menor. No dedo anelar da mão direita era notável a aliança de diamante. 

Seu nome era Izumi, noiva de Itachi. Contava os segundos para ir embora. Aqueles senhores eram para ela detestáveis. Mas o noivo ao menos uma vez por semana insistia que se reunissem com eles para agradar ao pai dele. 

Desejava contrariá-los, dizer que os tempos estavam mudando e o que não mudava era a mentalidade daqueles dois, por isso não conseguiam compreender ou se relacionar com os filhos mais jovens. Não procuravam entendê-los, ouvi-los e aceitar as diferenças entre eles, tratando-os como seres individuais e não como extensões deles mesmos e das próprias vontades. Entretanto, não queria se indispor com Itachi. Para ele a aprovação do pai era importante e Izumi com muito esforço respeitava isso.

— Bom, vou deixar a Hanabi achando que tem algum controle sobre a própria vida.. Vamos ver até onde vai. Quando eu me cansar dessa cena de adolescente rebelde, movo uns pauzinhos para acabar logo com isso. Quem sabe não acabe até sobrando para o casal de bichinhas.. — Hiashi riu com escárnio e deu um longo gole em sua bebida.

Fugaku riu na mesma proporção, apoiando a postura do amigo.

— Também vou ficar de olho na tal da ONG do Jiraiya e da Tsunade. Não quero que se torne um inconveniente. Já pensou, a ralé achando que tem tanto direito quanto a gente e começar a frequentar os mesmos lugares? Buscar as mesmas oportunidades? Não enquanto não trabalharem tanto quanto nós para ter uma conta bancária parecida.

— Até parece que aquele povo do outro lado tem capacidade para isso. O potencial deles no máximo é largar a preguiça e ir trabalhar no mercadinho da esquina. — O Hyuuga comentou com desprezo. O álcool no sangue aumentava e o filtro de suas palavras diminuía. — Digo, ainda fui muito bom no meu comentário. Muitos servem no máximo para o crime, para sujar as mãos por nós, se é que me entende.

Fugaku seguia rindo a cada comentário feito por Hiashi. E Itachi e Izumi desejavam desesperadamente ir embora dali. Itachi fingia concordar com tudo aquilo somente para não contrariar o pai. Mas aqueles comentários preconceituosos provocavam-lhe náuseas.

Era por volta de oito horas da noite quando o casal conseguiu escapar com a desculpa de que tinham de se encontrar com os amigos que nomeariam como padrinhos de seu casamento. Diante desse motivo, Fugaku e Hiashi não protestaram. Aceitaram que eles fossem e se mantiveram ali; bebendo, rindo e caçoando de todos aqueles que não gostavam.

— Cadê a Konan?! E o Yahiko?! — O abatido rapaz deitado na cama do hospital não respondeu a médica que indagava se ele encontrava-se consciente. Entretanto, ter discernimento o bastante para perguntar por seus entes queridos mostrou-a de alguma forma que houve certo progresso em sua recuperação, visto que no decorrer daquela semana Nagato despertara algumas vezes, mas só falava palavras e frases desconexas, sem contexto ou de teor paranoico.

— Eles têm vindo te visitar dia após dia. — Comentou Shizune, sem se aprofundar muito na resposta. Não era o ideal ter conversas complexas naquele momento.

O ruivo pensou em rebater, em acusá-la de não responder a sua pergunta devidamente. Mas o cansaço e a dor o consumiam. Acabou apenas ficando em silêncio.

A médica então sugeriu que fizessem a bateria de exames necessários para chegar a cogitar dá-lo a alta, com a condição de acompanhamento psicológico e psiquiátrico. O rapaz achou tudo o que ela disse uma baboseira, mas fingiu concordar somente para ir embora de lá o mais rápido possível.
Algumas horas depois de conversar com variados médicos e realizar variados exames, o jovem teria de retornar ao quarto para aguardar por lá até que houvesse saído todos os resultados. Ao acomodar-se novamente na cama, Nagato recebeu a notícia de que tinha visitas. 

Poucos minutos depois, Konan e Yahiko estavam diante dele.

— Bom te ver acordado, irmão! Sentimos a sua falta! — Yahiko tomou a frente, apertando a mão do frágil e pálido amigo.
Konan logo em seguida aproximou-se também de Nagato e afagou-lhe os cabelos com um esboço de sorriso no rosto. Ela era contida em suas demonstrações de afeto. Yahiko era o mais caloroso dos três.

— Como se sente? — Perguntou a garota. Ela prestava atenção em cada traço do rosto do namorado, analisando-o.

— Cansado e com dor. — Ele fechou os olhos por um momento. A claridade do quarto estava incomodando-o, bem como ser o foco das atenções e olhares dos outros dois ali. Não deixava de se perguntar o que Konan e Yahiko deveriam estar pensando dele após tudo o que ocorreu. Certamente o taxavam de louco.

O silêncio se fez. 

De um lado havia Nagato consumido pelo medo do julgamento e sentindo-se substituível ao ver o quanto a namorada e o amigo pareciam bem sem ele. As feições coradas, bem vestidos. O que será que andavam fazendo? 

Do outro lado havia Konan e Yahiko constrangidos, inseguros por não saber como contar para Nagato sobre a nova vida que estavam levando e que desejavam continuar.

— Temos umas ideias pra trocar, mano. — Yahiko se pronunciou. Ele era bastante objetivo e não gostava de deixar nada por dizer. 

Nagato encarou-o com desconfiança e assentiu para que o rapaz prosseguisse.

Então, o dono dos cabelos alaranjados se pôs a narrar passo a passo de tudo o que ele e Konan andaram vivenciando ao lado de Tsunade e Jiraiya. A boa alimentação e moradia, os aprendizados, a possibilidade de viver honestamente.

Konan não dizia nada, apenas observava cada uma das reações de Nagato. Por se conhecerem há muito tempo, percebiam as mais sutis mudanças nas expressões um do outro. Naquele momento, elas alternaram entre a confusão, a dor e a raiva.

Quando Yahiko terminou de falar, respirou fundo e novamente a quietude tomou conta de todos ali. Nagato sentiu-se traído e sem utilidade para aqueles que eram os mais importantes em sua vida. 

— Que fita.. Não consigo ver onde me encaixo nisso tudo. — Finalmente o ruivo se pronunciou. 

— Ué, cê é bom de lábia, também. Pode se juntar à mim e ao velho Jiraiya. Na real, acho que cê tem capacidade pro que tiver vontade de fazer. Cê é do tipo que aprende tudo facinho! – Yahiko procurou animá-lo e tranquilizá-lo. — Além disso, a gente nunca te abandonaria, tá ligado né?! Se a gente num soubesse que tem lugar pra você também, nunca teria aceitado nada disso.

— Preciso pensar sobre isso tudo, Yahiko. Por hoje, é melhor cês vazarem. — Comentou Nagato, virando o rosto e com esforço o corpo para ficar de costas para eles. Fechou os olhos e passou a ignorar qualquer outra coisa que tenham dito a partir dali. Estava tão cansado e decepcionado. Só queria dormir um pouco mais. Depois que oficialmente recebesse a alta ele pensaria melhor no que fazer a respeito. Levando em conta a dor de cabeça e o cansaço extremo que sentia, duvidava que seria liberado ainda naquele dia. Já havia se olhado no espelho. As fundas olheiras, o abatimento, a falta de apetite.. Claramente ainda não tinha condições de ir embora daquele lugar. Não precisava nem ser médico para atestar isso.

Após a reação de Nagato, Yahiko ainda tentou se manifestar. Mas depois de um longo tempo sem obter respostas, desistiu de falar e pôs-se a sair da sala, acompanhado por Konan. Diferente de Yahiko, ela não tinha esperanças que a reação de Nagato fosse outra que não aquela. Na verdade, com o despertar dele sabia que um desafio estava por começar. 

O amava. Mas dia após dia, a vida ao lado dele andava desgastando-a. Nagato não era mais o garoto que conheceu no Ensino Fundamental I do colégio. As pancadas da vida foram convertendo aquele rapaz simples, dócil e bondoso em alguém frio e agressivo. O abandono dos pais, a morte da avó, a falta do que comer, a violência do bairro. O desequilíbrio emocional aliado às drogas pesadas acabou por levá-lo a ter crises. E elas só pioravam cada vez mais. A última foi a pior de todas. E se ele não mudasse de vida, temia até onde elas poderiam chegar.

Tsunade e Jiraiya os aguardavam para levá-los até o prédio que sediava a ONG, no qual eles residiam temporariamente. Yahiko ia contando para o casal cada um dos momentos que vivenciaram no hospital. E Konan, em silêncio, apenas observava-o. 

Nos últimos dias, era constante a recordação de tudo o que viveram. Tudo desde que se conheceram. A amizade entre o trio, o relacionamento entre Yahiko e Konan, o relacionamento entre Konan e Nagato. Perguntava-se se Yahiko também pensava sobre isso.

Foi uma decisão dele terminar o namoro assim que soube dos sentimentos de Nagato por Konan. Ela, no auge da vulnerabilidade e confusão, acabou por aceitar Nagato e aprender a amá-lo como namorado.

Ainda assim, por mais que quisesse muito, nunca sentiu com Nagato o que sentira quando namorava com Yahiko. Entre ela e o hiperativo garoto de cabelos espetados e alaranjados havia uma química genuína, um sentimento que não precisou de esforço para existir; acometeu-os espontaneamente.

A proximidade de Yahiko nos últimos dias, a ausência de Nagato e o desgaste do namoro entre eles deixavam-na em dúvida. Por outro lado, sabia que caso o relacionamento chegasse ao fim, ainda assim Yahiko nunca iria permitir que acontecesse uma volta do romance dele com Konan. Nagato para Yahiko era família. E família para ele vinha na frente de qualquer envolvimento amoroso.

Konan chacoalhou a cabeça, como se fosse possível assim espantar aqueles pensamentos. Era com Nagato que namorava e ele encontrava-se enfrentando uma difícil fase. Não poderia deixá-lo em um momento crítico como aquele. Que tipo de pessoa seria ela caso fizesse algo assim? Voltou a prestar atenção na conversa.

Para tentar melhorar o humor dos jovens, Jiraiya e Tsunade se ofereceram para levá-los ao Akimichi's. Eles aceitaram sem muita resistência. Seria bom deliciar-se com a comida divina do local, a agradável companhia do casal mais velho e, naquele atual contexto, seria bem-vindo até mesmo um pouco de saquê para ajudar a relaxar.

A garota acomodou-se no sofá de veludo rosa-claro ao lado da mãe. Colocou sobre elas um cobertor e puxou para mais perto de si o notebook que estava na mesinha de centro da sala. Precisava concluir um trabalho da faculdade que teria de apresentar na segunda-feira. O cansaço era notável em sua expressão. Hirochi aninhou-se mais perto da filha e não desviou os olhos da simples TV que estava à sua frente, em cima de um raque. Passava ali um filme clichê de romance. 

Ino não estava prestando atenção nele. Não era muito fã de filmes desse gênero. Mas o seu foco desviou-se totalmente da tela de seu computador portátil quando ouviu um abafado som de choro que vinha da direção de sua mãe.

Ela direcionou o olhar para a mulher rechonchuda, de pele clara e longos cabelos castanhos ao seu lado. Hirochi procurava limpar as lágrimas e silenciar-se colocando as mãos na frente da boca. Ino riu ao ver o que motivava o choro da mãe: a história de amor que se desenrolava na tela da TV. Abraçou-a e brincou com ela:

— Parece que alguém aqui tá com saudade de se apaixonar.

Primeiramente Hirochi revirou os olhos, mas logo em seguida um riso se fez em meio às lágrimas.

— Acabadinha e gordinha do jeito que eu tô?! Nem na minha melhor fase quiseram ficar comigo e me assumir. Num é agora que vão querer, filha. 

Ino respirou fundo ao ouvir a fala da mãe. Entendeu que nas entrelinhas ela se referia mais uma vez ao abandono de Inoichi. Sabia que Hirochi não fazia por mal e nunca tivera a intenção de colocá-la contra o pai. Entretanto, Ino tinha a sensação de que a mulher nunca havia superado totalmente os sentimentos por Inoichi – nem o ódio, nem o amor – e que por isso não conseguia seguir com a vida e estava sempre a tecer comentários sobre o assunto.

Como o de costume, a jovem procurou desviar-se com bom humor:

— Acabadinha tô eu, dona Hirochi. Essas minhas olheiras, minha cara pálida tanto tempo sem pegar um solzinho.. Cê tá melhor que eu! — Um sorriso malicioso estava formado nos lábios de Ino — Vários clientes da floricultura dão vários sinais de interesse em você. Mas cê num dá uma abertura, mulher.

— Meu bem, pode parar com essa história. Você podia se passar por modelo que ninguém duvidaria. — Ela afagou o rosto da filha e sorriu. Logo em seguida, o sorriso se desfez e a mulher deu continuidade ao outro assunto: — Aqueles homens só querem me levar pra cama, filha. E eu não vejo problemas nisso, mas sou romântica, sabe? Gosto de namorar, andar de mãos dadas por aí, ir no cinema..

— Mas mãe, cê num tem como saber isso! Sei que tem muitos babacas por aí. Só que quando a gente se fecha totalmente pra vida tentando se proteger de coisas ruins, pode acabar impedindo de chegar coisa boa também. 

— Eita, tá insistindo muito nisso, senhorita. E ainda sem moral pra falar de mim! Você é igualzinha. A minha história com seu pai foi tão ruim que até você tem medo de se relacionar, num é, filha? Tenho essa sensação. — Hirochi abaixou a cabeça e apertou as mãos nos próprios joelhos, como se estivesse tentando conter algum tipo de dor. 

— Mãe, eu tô tentando mudar isso. Tô tentando perdoar o meu pai, me acostumar com a ideia de aceitar ele de novo na vida. E quanto aos garotos, bom, tô trocando mensagens com um menino que conheci no Akimichi's e agora tá vendo de dar aulas na ONG.. — Ino omitiu a parte que o garoto era Sasuke e que ele estava lá somente para cumprir uma pena judicial.

Em partes foi doloroso para a mãe dela ouvir que a filha estava disposta a perdoar Inoichi e conviver com ele. Mas procurou focar na parte do discurso que a garota revelou sobre seu interesse em algum rapaz. Não se importava que Ino preferisse estar solteira, mas lhe deixava preocupada pensar que isso poderia ter relação com a desastrosa história do relacionamento entre os pais dela.

Hirochi insistiu para saber tudo sobre ele. E após longo tempo, Ino acabou por revelar quem se tratava. A mãe não reagiu bem:

— Minha filha! Por favor! Não quero te ver sofrendo o que sofri. Esses caras ricos podem até gostar da gente, mas num é com a gente que vão casar. É com alguém com a mesma vida que eles, com a mesma condição financeira..

— Fica tranquila, mãe. Tô só conversando com o Sasuke. O cara é meio perdido, sabe? Precisa de uns toques de realidade. E além do mais... É um gato. Talvez acabe rolando uns beijos?! Sim. Mas nunca me imaginaria ficando pra valer com alguém como ele.

— Seja o que for que role nessa história, nunca deixe ele te fazer duvidar do seu valor, tá bom? Nunca coloque esse rapaz como prioridade na sua vida. E acima de tudo: use camisinha sempre! — Hirochi cruzou os braços e encarou a filha, que riu de nervoso e corou totalmente ao ouvir as palavras da mãe.

— Relaxa, mãe. É só um lance de atração... Uns amassos e nada mais, eu prometo. — Ino piscou para a mãe e voltou novamente a sua atenção ao trabalho da faculdade que tinha em andamento no seu notebook. 

Compartilhava da visão da mãe. Presenciou a vida toda – e continuava presenciando – as marcas que a relação fracassada com Inoichi deixaram em Hirochi. Definitivamente não seria tola de se deixar levar pela conversa de um garoto bonito e rico qualquer. 

Começou a vagar por seus pensamentos e também se deu conta de que o desejo de perdoar o pai ardia em seu interior, mas conforme a mãe fazia declarações que reafirmavam o abandono de Inoichi como namorado também lhe fazia recordar do abandono dele como pai. Era difícil – e a jovem não conseguia nem imaginar o quanto – ser abandonada pelo homem amado. Mas também não era fácil para uma menina crescer sem conhecer o amor de um pai e saber que ele trocou esse amor por dinheiro e status.

Na tela de seu celular podia ver pela barra de notificações mensagens de Sakura, Tsunade, Sasuke e Inoichi. Suspirou pesadamente. Era difícil encarar todas as questões que a presença dos dois últimos traziam à sua cabeça. Por outro lado, estava cansada de deixar o peso da história da mãe e de seu próprio passado dominarem tanto o presente.

Ino tinha consciência de que o único caminho para se ver livre daquilo que a machucava era limpar calmamente a ferida não importa o quanto viesse a arder.

Após a decepcionante noite que teve, não era nem mesmo 22:00 e a garota encontrava-se deitada na cama com o celular próximo à orelha, na espera incessante de que o rapaz atendesse as suas ligações. Era já a vigésima vez que ligava e apenas chamava até cair na Caixa Postal. Mandou mensagens e não obteve resposta. Nada. Nenhum sinal dele.

À princípio, movida por certo egoísmo ela sentiu-se irritada por pensar que recorria a alguém que estava ocupado demais com alguma outra coisa qualquer e não podia dar-lhe atenção. Entretanto, pouco a pouco essa irritação era substituída por preocupação.

Mandou mensagens aos amigos em comum que tinham, com o intuito de verificar se algum deles possuía notícias do rapaz. Fazia algumas horas já que ele não os respondia também e nem atendia as chamadas telefônicas. Todos compartilhavam do incômodo pelo prolongado sumiço do amigo. Ele até demorava um pouco para responder ou atender, mas nunca por tanto tempo. 

Por fim, após grande relutância, a jovem acabou entrando em contato com os pais dele.

—Alô? Oi, senhor Iruka! Tudo certo?! — Sakura procurou demonstrar tranquilidade e até animação em sua voz. 

— Sakura! Por favor, diz que está com o Naruto! —  Ao ouvir a resposta cheia de desespero do homem, Sakura estremeceu. Sentiu o coração se apertar de maneira que nunca antes o havia sentido.

— Queria poder dizer que sim, juro! Mas infelizmente não. Liguei exatamente na busca por notícias sobre ele...

— Bom, vou tentar não me desesperar ainda mais. Ainda não é caso de ativar a polícia nem nada. Temos que esperar no mínimo até amanhã a tarde.. — Ainda que Sakura não o estivesse vendo, podia imaginar perfeitamente a expressão de preocupação de Iruka. 

— S-seria muito abuso eu ir aí esperar por com vocês? Os ônibus ainda tão circulando.. —  Ela pediu em tom de súplica. — É que meus pais num estão falando comigo. E ficar sozinha nesse quarto esperando por notícias dele.. Seria uma tortura.

— O que houve, Sakura? Por quê não estão se falando? — Indagou Iruka um tanto surpreso. Entretanto, logo completou sua fala. — Pessoalmente você me conta. E é claro que pode ficar com a gente aqui! Inclusive tô indo te buscar. Não vou deixá-la vir sozinha a essas horas da noite!

— Valeu! Obrigada mesmo, senhor Iruka. Vai dar tudo certo. Logo vamos ver o Naruto entrando em casa! — Procurou expressar um tom de confiança. Entretanto, em seu interior temia que isso não acontecesse. 

Eles se despediram. Kakashi e Iruka chegariam lá para buscá-la em mais ou menos meia hora. Durante o período de espera a rosada nem mesmo se deu ao trabalho de se arrumar. Somente sentou-se em sua cama com os cotovelos apoiados em seus joelhos e as mãos no rosto, enquanto lágrimas caíam torrencialmente. 

A mente de Sakura foi acometida por um turbilhão de recordações. É como se um filme se passasse dentro de sua cabeça com as cenas que vivenciou desde o dia em que conheceu Naruto. 

Na infância foram vizinhos. Amigável e hiperativo como ele era, não demorou para que acabassem se aproximando. Ainda que estudassem em colégios diferentes, todos os dias se encontravam para brincar juntos um pouquinho que fosse. E Sakura, temperamental e responsável como era mesmo quando criança, sempre repreendia Naruto pelas pegadinhas que ele pregava nos mais velhos –  ao mesmo tempo em que se divertia ao lado dele – , que escutava suas broncas e procurava mudar de comportamento. Entretanto, ser brincalhão e travesso estava em sua essência e eles se mantinham nesse ciclo de repreensão, diversão e falsas promessas de mudança. 

“ — Eu prometo que não vou mais colocar almofada que faz barulho de peido na cadeira do senhor Jiraiya quando ele vier tomar café na casa dos seus pais ou dos meus, Sakura! –  O jovem do cabelo amarelo vibrante e arrepiado uniu as duas pequeninas e rechonchudas mãos em um tom de súplica. Ele a encarava com aqueles grandes olhos azuis que assemelhavam-se ao tom do céu num dia ensolarado. 

Sakura estava com as mãos na cintura e um bico formado em seus lábios, que não se manteve por muito tempo. Logo aquela expressão de aborrecimento foi tomada por um riso que procurou conter com suas pequeninas mãos para manter a pose de brava, mas como o de costume quando se tratava de Naruto, não conseguiu fazê-lo por muito tempo.

— Sei que num vai, Naruto! Cê só apronta! Mas preciso admitir que foi engraçado..

Então os dois caíram na risada comentando a reação de Jiraiya ao sentar-se na almofada, constrangido e negando que tratava-se de flatulência por parte dele. Depois constatando que essa era mais uma das artes de Naruto, ele o repreendia da mesma maneira que Sakura: com uma tentativa falha de bronca que acabava em um sorriso divertido no rosto."

Isso se manteve até que tinham por volta de 14 anos, quando Naruto de fato passou a mudar um tanto. Amadurecer. As brincadeiras ainda faziam parte de sua vida mesmo aos 21 anos. Entretanto, iam tomando uma forma diferente. Não pregava mais peças em ninguém. O humor dele era mais do tipo de rir de coisas bobas na internet, ficar reproduzindo os memes¹, etc. Nunca algo que fosse ofensivo a ninguém. E Sakura e ele mantinham-se próximos. Mas ao invés de se encontrarem para brincar, alternavam entre ver vídeos engraçados e fazer reflexões sobre a vida. 

Por fim, aos 16 anos, quando o pai de Sakura se acidentou, eles se uniram ainda mais. Naruto se manteve ao lado dela até que o pai saísse do hospital e no período de adaptação às mudanças de vida que enfrentaram na época. Dadas as circunstâncias, foram morar em uma casa mais simples, Sakura passou a trabalhar na floricultura da mãe de Ino e ser responsável pelos afazeres domésticos, enquanto que sua mãe estava trabalhando como empregada em diferentes lares. E ainda assim, Naruto esteve ali. Conciliando com os estudos e trabalhos dentro da fotografia, sempre deu um jeito de passar na casa dela para verificar como estava a situação por lá, até mesmo ajudá-la em alguma tarefa ou levar uma refeição para fazerem todos juntos: ele, ela e o pai dela. 

E então, quando tinham 18 anos, Naruto se declarou para Sakura.

"Era um dia chuvoso. A exaustão a consumia. Acabara de sair do trabalho e tomava chuva no ponto de ônibus. O cansaço aumentava ao pensar que chegaria em casa e ainda teria mais trabalho, bem como teria de encarar o abatimento do pai. Aquela rotina a estava entristecendo cada dia mais.
Teve medo quando diante de si um motoqueiro estacionou a moto e se direcionou a ela. O coração disparou intensamente. E na mesma proporção do susto, foi o alívio quando o rapaz retirou o capacete e chacoalhou os cabelos loiros desgrenhados. 

— Mulher, olha só o que comprei hoje! Vem, deixa eu te levar pra casa! — Ele sorriu empolgado. Aguardava a reação dela e analisava-a com animação e ansiedade.

— Parabéns pela sua conquista! Mas olha essa chuva, Naruto! Tá doido?! Tenho medo! — Sakura cruzou os braços e encarou-o com seus grandes olhos verdes. Aqueles olhos verdes que o faziam derreter.

— Cê confia em mim, certo?! — Ele se aproximou e tomou as mãos dela entre as suas. — Cê sabe que eu daria a minha vida pra te proteger se fosse preciso, num sabe?!

Ela estremeceu ao sentir o toque gélido dele envolvendo suas mãos e e ao ouvir aquelas palavras. A expressão de Naruto ao proferi-las tinha uma seriedade que não lhe era comum.

Sakura não respondeu de imediato. A surpresa era evidente em sua boca entreaberta e olhos arregalados.

— Sakura... Eu sei que cê tem muito com o que se preocupar, tá ligado?! E num quero ser mais uma preocupação. Pelo contrário, mesmo com as correrias da vida tudo o que tento fazer é te ajudar, tirar um pouco o peso da responsa de cima de você ou pelo menos te alegrar, sei lá.. — A voz dele estava ligeiramente abafada e as palavras saíam de maneira que a rosada necessitava de muita atenção para poder compreendê-las. — E mano, eu num sei nem como dizer isso, se é que cê já num sabe, porque é meio óbvio.. Mas a real é que eu.. eu te amo, Sakura. Num sei nem quando esse sentimento começou, se é que já não te amei desde que te vi a primeira vez.. Tão linda descendo do caminhão de mudança com seu vestidinho verde e umas flores na mão.

A chuva os encharcava, mas nenhum dos dois estava se importando muito com esse fato naquele instante. 

Sakura ficou atônita. Sentia-se da mesma forma. Fazia já algum tempo que o seu coração acelerava ao vê-lo ou ao tocá-lo. E que em cada despedida ela já almejava com ansiedade e com saudade o momento em que se veriam novamente. E embora que tivesse a sensação de que o rapaz compartilhava daquele sentimento – e naquele momento a confirmação –, não podia se envolver em um romance. Não sem ter nada a oferecer além de uma vida bastante bagunçada. Sem renda, sem tempo e sem condições emocionais.

— Naruto.. Nesse momento da minha vida eu num tenho cabeça pra isso, sabe?! Num tem espaço pra um romance.. Seria até egoísta da minha parte. O mundo se acabando em casa e eu de namorinho por aí, tá ligado?!

Naruto abaixou a cabeça com frustração e não disse nada a princípio. Por mais que fosse persistente num geral, nunca forçaria Sakura a amá-lo de volta e nem assumir uma relação com ele.

— Tudo bem, mulher. Só precisava que pelo menos cê soubesse.. — Ele respondeu em um tom  baixo e desanimado, o que não era característico de Naruto. Mas logo esforçou-se para sorrir e demonstrar simpatia ao prosseguir com a fala: — Nada muda entre a gente! E eu num posso te largar aqui esperando o busão sozinha, nessa chuva, encharcada e sem previsão de quando vai chegar o próximo.. Por favor, aceita pelo menos minha carona.

Ela respirou fundo e assentiu, resignada. Um leve riso surgiu em sua face, embora o coração estivesse doendo por decepcioná-lo; por deixá-lo pensando que não o correspondia."

Ao reviver em seus pensamentos aquele dia, as lágrimas se intensificaram. O ar chegava a faltar-lhe. Infelizmente a garota não conseguia acreditar que esse sumiço não era um mau sinal.

Ficou pensando que se arrependeria mais por vê-lo partir sem nunca ter se permitido viver aquele amor do que por ter arriscado uma relação mesmo diante de uma situação desfavorável. Seria melhor falhar do por tentar do que viver para sempre com a dúvida do "e se?", "como seria?".

— Onde você tá, Naruto?! — Perguntou desesperada, como se ele pudesse ouvi-la de onde quer que estivesse. 

 

 

Capítulo Anterior

Próximo Capítulo

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Finding hope" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.