Finding hope escrita por nje


Capítulo 6
5: A mudança bate à porta


Notas iniciais do capítulo

Eaí, pessoal!
Agradeço novamente pelos comentários.
Me realiza saber que estão gostando! É muito importante para mim saber o que estão achando (:
Estamos só começando... Tem muitas emoções por vir ainda, queria poder contar pra vocês... hahahaha
Enfim, é isso. Boa leitura. Espero que gostem!



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E5: A mudança bate à porta

Era sábado de manhã e Naruto se encontrava fotografando os bastidores e algumas cenas de episódios de uma série de comédia na cidade vizinha.

De um lado para o outro passava alguém se arrumando, ensaiando alguma fala ou conversando com os colegas. A maior parte das cenas eram gravadas no estúdio, no qual o cenário mais utilizado era o de uma casa tradicional de classe média-alta. As atuações aconteciam principalmente na parte do cenário que equivalia à sala. 

Os atores interagiam como uma divertida família. Havia mais alguns câmeras por lá. Naruto era o responsável pelas imagens que serviriam para divulgação da série.

Ele sentia-se grato e realizado com o que fazia. Conhecia gente de todos os lugares, em diferentes situações, classes sociais, cores e gêneros. Considerava muito interessante a diversidade com a qual se deparava a cada novo ensaio. E no auge de seus 21 anos, alcançava aos poucos um bom retorno financeiro. Retorno esse que se dava pelo esforço, tempo e dinheiro que Naruto investia em sua profissão. Ele fazia diferentes tipos de fotos, em variados locais, preços e horários. 

Tudo começou a partir de Kakashi e Iruka. Além do auxílio financeiro para realizar os cursos introdutórios, era Naruto quem fotografava as novas coleções de roupas da marca do casal; a partir da visibilidade que o bom trabalho dele teve nessa parceria, as portas começaram a se abrir.

Naruto se considerava feliz àquela altura da vida.
É verdade que por vezes se fazia doloroso ter de lidar com o fato de que nunca chegaria a conhecer seus pais biológicos. Havia lá no fundo uma certa curiosidade sobre como eles teriam sido.
Contudo, os pais adotivos o acolheram com tanto amor e o criaram tão bem que ele não poderia dizer que sentia falta de um amor paterno ou materno. Sempre teve todo o amor e suporte de que precisou. 

Tinha bons pais, ganhou até mesmo um irmão. Prosperava na carreira cada dia mais. Encontrava-se cercado de bons amigos. E sentia que estava prestes a conseguir mais do que amizade com a sua amada. Chegava a ficar desconfiado diante de tantas coisas boas que lhe aconteciam. 

Logo ao terminar tudo o que havia para fazer por lá, por volta de uma da tarde, Naruto recolheu o seu material, despediu-se de todos e subiu em sua moto rumo ao espaço no qual aconteceria as atividades da ONG. Jiraiya e Tsunade compraram aquele terreno justamente para que utilizassem em prol de alguma de suas causas. Quando surgiu a ideia da associação, tudo se encaixou.

Não demorou muito para que Naruto chegasse ao local. 
Desceu da moto, tirou o capacete e observou o pequeno prédio cinza de três andares cercado por um muro de concreto que eventualmente seria coberto de graffites em uma das oficinas que estavam programadas pelos diretores da associação. O espaço ainda carecia de ajustes, mas já encontrava-se preparado para o início de algumas atividades.

Na frente do portão azul-escuro que encontrava-se no meio do muro, em frente a grande porta de entrada da sede da ONG, Shikamaru estava parado observando as nuvens e cutucando nervosamente um palito de madeira entre os dentes. O olhar dele parecia distante. Para muito além daquelas nuvens.

— Ei, Shika! Tá suave?! — Naruto aproximou-se do amigo, preocupado. O dono do cabelo amarelo vibrante e olhos azuis como o céu num dia ensolarado observava Shikamaru, aguardardando a resposta.

— É.. — Shikamaru parou de mexer no palito e colocou as mãos dentro dos bolsos. O rapaz possuía um visual um tanto quanto largado. Usava uma calça de moletom preta e uma camiseta verde-escuro. O bigodinho e o cabelo preso em rabo-de-cavalo sempre presentes. 

— Deu pra notar. — Naruto respondeu em tom irônico. Não era preciso esforço para notar que o rapaz estava com um ar de preocupação.

Era amigo de Shikamaru desde a infância. Estudaram no mesmo colégio. Naruto passou pela mesma situação que Konohamaru andava enfrentando no colégio particular de Konoha. As humilhações foram constantes devido a relação homoafetiva dos pais dele. Era dolorido. Naruto não compreendia o motivo pelo qual seus pais tinham de enfrentar tanto preconceito, tanto que chegava até a atingi-lo. 

Ele prometia a si e ao mundo que iria lutar de alguma forma por eles e por qualquer outro que passasse por qualquer tipo de discriminação, qualquer que fosse o motivo. Sempre respeitando o espaço de cada um nas lutas, mas procurando fazer a sua parte. 

Entretanto, Shikamaru — que estudava lá por ter conseguido uma bela bolsa de estudos — nunca caçoou dele por causa da relação de seus pais. Pelo contrário, não fazia a menor diferença para ele. Era um bom amigo para Naruto e ajudou a tornar o ambiente escolar do garoto menos hostil; em certo nível até mesmo acolhedor.

Por conhecê-lo há tanto tempo, Naruto já sabia bem que Shikamaru não era do tipo de pessoa que gostava de desabafar e nem falar quando algo o estava incomodando. Ainda assim, após certa resistência, o amigo sempre acabava lhe contando o que estava tirando sua paz.

 — Tá nervoso com as aulas na ONG, é?! — O loiro continuou fazendo suposições por alguns momentos.

Shikamaru sabia que Naruto poderia passar o dia supondo que o incomodava até que ele resolvesse contá-lo. Então acabou por poupar o tempo dele e o próprio:

— É que sei lá, mano. Meus pais são professores e eu vejo o perrengue que eles passam, tá ligado?! Nem o governo, nem as instituições privadas e nem a sociedade valoriza o trampo deles. Um salário miserável e o desrespeito da maioria dos alunos e até dos pais desses alunos — Ele continuava olhando para as nuvens — E me pergunto se dou conta disso.

— Oxi, mano! Se tem alguém nesse mundo que eu acho que dá conta disso, esse é você! — Naruto respondeu com firmeza e de imediato. Aquele pensamento foi espontâneo para ele, foi a primeira coisa que veio em sua mente ao ouvir o desabafo do amigo — E digo mais: acho que cê vai ainda mais longe. Que cê ainda vai trazer muita mudança pra esse mundão.

— Po, Naruto, queria ter essa fé que cê tem em mim. — Shikamaru enfim olhou para Naruto e esboçou um sorriso.

— Na moral, eu imagino você sendo aquele professor que além de ser muito bom na matéria, é parceirão pros alunos também. O professor que eles vão confiar pra trocar ideia sobre tudo, tá ligado?! E que passa visões além da grade curricular. Umas visões de vida.. — Naruto não falava da boca para fora. De fato conseguia visualizar em sua mente aquelas cenas acontecendo no futuro — E acho que num pára por aí não, viu?! Consigo ver você com sua própria escola, servindo de modelo pra outras.. 

— Ôh cara exagerado! — Então Shikamaru deu risada e uns tapinhas nas costas de Naruto. Mas na verdade, sentiu-se um tanto quanto confortado pelas palavras do amigo. O rapaz tinha tanta fé em Shikamaru que até o próprio acabou se contagiando e compartilhando daquela idealização. 

— Vamo entrar aí, mano. Que hoje é mais um passo rumo a esse futuro. — O loiro fez um sinal de "jóia", mantendo os dedos fechados na mão, somente com o polegar elevado. E é claro, como era de se esperar, tinha no rosto um sorriso empolgado.

— Valeu, irmão! Vamo aí. — Eles começaram a direcionar seus passos para a entrada do pequeno prédio —Como foi lá hoje? E no outro dia com a Sakura?

Conforme caminhavam, Naruto ia colocando-o a par das novidades. Após adentrarem o recinto do prédio, cumprimentaram rapidamente os outros e logo cada um se direcionou até as salas que foram designadas para a aula de apresentação dos cursos que administrariam.

Naruto, como já era de se imaginar, apresentaria o curso de fotografia.

 E Shikamaru o de ciências e pesquisa. 

Um pouco mais tarde, Neji e Konan estariam sob supervisão de Naruto, o responsável por tudo o que envolvia a arte, os esportes e a cultura.

Konan estava encarregada de apresentar as aulas de artesanato e Neji as de karatê.

No caminho até a sala de aula, Naruto sentiu o celular vibrar e visualizou-o uma vez mais antes de dar início a sua tarefa. Tratava-se de uma mensagem de voz de Sakura:

"Hoje vou levar meus pais pra comer em um pico legal, diferente. No restaurante do Chouji. Eles nunca foram lá! E vou aproveitar o clima de passeio e novidade pra contar pra eles sobre o lance do Killer Bee. Torce por mim!".

O jovem percorria as ruas do bairro em cima de seu skate. Acabara de atravessar os portões que dividiam Konoha. Pela segunda vez em sua vida encontrava-se daquele lado do bairro. Ele poderia ter optado por ir dentro de algum carro solicitado em um aplicativo. 

Em sua mente, talvez fosse mais seguro. Mas não seria como estar em cima de seu skate; ali sentia-se livre e vivo. Somente remando¹ velozmente por aí é que alguma emoção vibrava por todo o seu corpo. Somente nessa vivência é que sentia-se liberto na monotonia que o consumia na maior parte de seus dias. 

Sasuke observava cada uma das casas. Eram bastante variadas. Havia as menores, com a tintura descascada e aparência de abandono; estas eram maioria. 

Uma ou outra era um meio termo: nem tão nova, nem tão acabada. Nem tão pequena, nem tão grande. E por fim, havia casas que ele se surpreendeu que estivessem do lado pobre de Konoha. Grandes e conservadas. Perguntou-se porquê alguém com condições de sustentar uma residência daquele nível iria querer morar por vontade própria numa região como aquela.

Crianças descalças e um tanto sujas corriam de um lado para o outro sem qualquer vigilância. Será que os responsáveis encontravam-se no trabalho ou que elas não tinham um lar? As dúvidas dominavam-no sem que  ele pudesse se controlar. Um forte desconforto invadiu-lhe o interior. Que estranha e incômoda sensação era aquela? 

Havia bares, mercadinhos, papelarias. Havia pessoas caminhando tranquilamente pelas ruas. Outras mais apressadas. Sasuke notava a diferença de classes até pelas roupas dos moradores de lá e pelo nível dos estabelecimentos.

Sempre soube que existia uma diferença e que ela era grande. Mas nunca havia refletido sobre o tamanho dela e o quanto poderia impactar na vida de alguém. Até aquele momento. Observando-as tão de perto. 

Pensou que se sentiria enojado. Mas ali, chegou a sentir uma pontada de preocupação com aquelas pessoas e a forma como viviam; tão limitados em comparação à dele e dos outros que faziam parte de seu ciclo social.

Lembrou-se do que estava fazendo ali. Encaminhava-se até a ONG para iniciar o cumprimento de sua pena através de serviço social. De que maneira alguém como ele poderia contribuir para uma associação sem fins lucrativos? Sentia que não possuía nada a acrescentar que não fosse dinheiro.

Não era muito talentoso para nada além do skateboard. Entretanto, em sua família e entre os seus conhecidos, ninguém levava o skate a sério. Acreditavam tratar-se apenas de uma fase e enxergar como algo infantil ou um lazer. Não compreendiam e julgavam aqueles que assumiam como uma carreira profissional. 

Tsunade e Jiraiya já o esperavam. Fugaku havia entrado em contato com eles quando soube da ONG e viu a oportunidade perfeita para que seu filho quitasse a dívida com a justiça. E embora o casal nutrisse grande antipatia pelos Uchiha e por Fugaku em especial, quem sabe se o filho dele se engajasse e realmente se entregasse à vivência com a ONG conseguiriam uma maior visibilidade? Poderia ser o caminho para mais uma barreira derrubada. Movidos por essa possibilidade, concordaram em inseri-lo nas atividades da associação de alguma forma.

Quando o rapaz estava quase chegando, vislumbrou uma pequena praça mal cuidada, na qual havia uma rampa arranhada e cheia de rabiscos. Dois jovens na faixa de 14 anos estavam claramente disputando em quesito de manobras. Ele parou pra observar e os garotos perceberam.

— Eaí, comédia. Vai entrar pro campeonato?! — Um deles perguntou, encarando-o com um sorriso desafiador no rosto. Cruzou os braços e aguardava a resposta de Sasuke.

— Pra quê?! Não tô afim de fazer criança chorar. — Sasuke também cruzou os braços e sustentou o olhar do pequeno rapaz a tentar intimidá-lo.

— Tenho certeza que cê tá é amarelando pra gente. — O garoto deu de ombros e pôs-se a remar na direção da rampa, encaixando os rolamentos frontais do skate na parte de cima dela e soltando-os logo em seguida, concluindo sua manobra. 

Sasuke esboçou um sorriso e juntou-se a eles. Esqueceu do seu compromisso com a ONG e da diferença notável entre eles. Ao contrário de Sasuke que vestia roupas de marca da cabeça aos pés, os meninos usavam camisetas surradas sem marca, bermudas no mesmo estado que suas camisetas e nos pés, tênis velhos e sem marca. 

Naquele momento, esse tipo de preocupação fez-se tão irrelevante para ele. Fazia tanto tempo que não conhecia pessoas movidas pela paixão ao skate como aqueles pequenos aparentavam fazê-lo. Ultimamente só andou conhecendo a galera que utilizava-se do esporte para status, porque o esporte andava em evidência e não por realmente apreciar a sua essência. Aqueles dois emanavam a entrega em seus movimentos e não estavam ali para ostentar marcas; nem mesmo caso quisessem fazê-lo, aliás. 

O tempo passou e o rapaz perdeu a noção da hora, envolvido na competição com os adolescentes. Já havia se passado perto de cinquenta minutos do horário que solicitaram que Sasuke estivesse na ONG quando o celular dele começou a vibrar intensamente.

— Alô?! — A voz dele soou impaciente por ser interrompido.

— Sasuke Uchiha? O senhor Fugaku passou o número do seu telefone para que eu verificasse com você o motivo do atraso em seu compromisso com a ONG. — A voz no telefone era de uma desconhecida. Provavelmente a fundadora da associação com a qual Fugaku teve contato para inclui-lo nas atividades de lá.

— Eu mesmo. Foi mal, rolou um imprevisto. Mas já tô perto. Tô colando. — Ele respondeu e desligou o telefone. Não se preocupou com formalidades. Fosse quem fosse, não era como uma chefe ou algo do tipo. 

Sasuke se despediu dos garotos, que surpreendentemente resmungaram pela partida dele. O rapaz riu com a situação. Riu sinceramente, como não se lembrava de fazer há muito tempo. E combinou que no sábado que vem estaria de volta para dar continuidade ao campeonato.

Em questão de dez minutos, ele já encontrava-se adentrando o prédio da associação. Após a entrada, havia um largo espaço que se assemelhava bastante ao pátio de uma escola. Havia mesas retangulares com cadeiras que pareciam de um refeitório. As paredes eram claras e o chão escuro. Havia incontáveis janelas, possibilitando uma boa iluminação e circulação de ar. Ao fundo, uma escada que levava aos andares acima e nos quais encontravam-se as salas com diferentes materiais e nas quais já havia algumas atividades acontecendo.

A ONG contava com o investimento de Kakashi, Iruka, bem como outros moradores do bairro. E não somente da parte mais carente, até mesmo alguns nomes da parte mais rica encontravam-se investindo na associação.

Havia apenas uma pessoa ali naquele momento. Uma jovem de longos cabelos loiros — estavam soltos naquele dia — vestida com uma regata de alcinha preta básica e calça jeans com grandes rasgos no joelho; nos pés, os mesmos tênis brancos da Adidas que ele viu no outro dia. E na verdade, tratava-se da mesma garota que ele encontrou aos prantos na cafeteria próxima de sua casa e também no restaurante&bar Akimichi's no sábado anterior. 

Ela encontrava-se sentada numa cadeira de frente para uma mesa cheia de papéis e um computador. Estava auxiliando também na parte burocrática, cadastrando no sistema interno da ONG cada inscrito nas aulas e entrando em contato com interessados para abertura de possíveis novas turmas, coletando dados. Além disso, também estava respondendo dúvidas no WhatsApp.

Sasuke se aproximou em silêncio e aguardou que Ino notasse a presença dele. Estava tão envolvida em suas atividades que demorou um tanto até que ela o fizesse. Por esse motivo, o rapaz tossiu para chamar a atenção da garota.

E então, quando Ino levantou o olhar, ficou mais branca do que já era ao vê-lo ali. Arqueou as sobrancelhas e não conseguiu disfarçar a surpresa.

— Em que posso ajudá-lo? — Perguntou sem hesitar, embora um leve rubor tingisse as maçãs de seu rosto. 

Ino gostava do estilo de Sasuke de se vestir, das chamativas tatuagens e da maneira como arrepiava os cabelos escuros ao mesmo tempo que ainda havia algumas mechas que caíam no rosto dele. Aquele físico chamava a atenção dela, não dava para negar.

Ainda assim, ao lembrar-se de tudo o que já ouviu a respeito do rapaz, retomava a consciência e a vontade de se manter distante.

Antes mesmo de Sasuke respondê-la, Tsunade estava diante deles:

— Ele é o Sasuke Uchiha, Ino. Irá cumprir aqui uma pena através de projetos sociais. Inclusive eu gostaria de pedir que você supervisionasse o período dele aqui. Fazer relatórios sobre comportamento e tudo o mais. Eu mesma iria fazê-lo, mas tenho ainda questões burocráticas daqui pra resolver, da minha própria clínica também.. E eu e o Jiraiya acolhemos alguns jovens e estamos nos ocupando bastante com eles. 

Ino estava um tanto contrariada. Mais uma responsabilidade também não cairia bem para ela. Já tinha a faculdade, a floricultura, o blog e a ONG para cuidar. 

Porém ela tinha dificuldade em dizer não. Especialmente para uma mulher como Tsunade, a quem ela admirava e tinha como referência. O engajamento social, o fato de ser tão questionadora e transformadora da realidade fazia os olhos de Ino brilharem.

— Ahn, e o Naruto? O Shikamaru? — Ainda assim, a jovem acabou demonstrando certa relutância. 

Sasuke assistia em silêncio. Era interessante a ideia daquela atraente garota sendo responsável por acompanhar a estadia dele por lá. 

— Não acho que eles tenham perfil pra algo assim.. — Confessou Tsunade, suspirando pesadamente ao pensar nos possíveis desentendimentos movidos pelas personalidades de cada um deles — Mas se for te atrapalhar, eu falo com o Shikamaru. 

Ino respirou fundo e levantou os braços em um gesto de quem estava se rendendo.

— Eu dou um jeito. Pode deixar. 

— Obrigqda, Ino. Não sei o que eu faria sem você aqui. É como meu braço direito! — Tsunade sorriu e Ino retribuiu o sorriso com sinceridade — Agora preciso ir, tudo bem? Pode resolver tudo com ele?

— Sim, senhora. — Ino prestou continência à Tsunade em um tom de brincadeira.

A mulher riu e despediu-se, saindo apressadamente logo em seguida.

Ino por fim criou coragem de encarar Sasuke. Era difícil conseguir analisar as expressões do garoto. Ele não esboçava reações facilmente. Ela, entretanto, era bastante transparente ainda que nem sempre isso fosse o desejado.

— Cê chegou a pesquisar algo sobre a ONG? — A loira indagou, encarando-o com seus grandes olhos azuis. 

— Cês oferecem uns cursos, né? Umas oficinas. Fazem umas arrecadações e doações.. — Sasuke deu de ombros e prosseguiu — Não sou bom em nada em especial. Não tenho nada pra oferecer além de grana. Tem como eu cumprir essa pena pagando algo pra vocês?

Ino não conseguia acreditar que estava ouvindo aquela proposta.

— Não, Sasuke. É óbvio que não. Te mandaram pra cá pra aprender alguma coisa que viver lá na parte mais rica do bairro, em uma mansão, com suas roupas de marca, rolês cheios das bebidas e drogas mais caras e todo o teu dinheiro num tão te ensinando. Eu num sou ninguém pra te julgar por viver assim. Mas é só isso mesmo que cê tem pra oferecer? Sério que se te tirarem isso não resta nada? Porque se a resposta for sim, fico triste e sinto pena de você.

— Pena? Ouvir isso de uma mina que mora num lugar miserável desses.. — Sasuke revirou os olhos e tentou defender-se através do ataque. Entretanto, era apenas para tentar ocultar o quanto aquelas palavras atingiram-no em cheio.
Os comentários dela refletiram questões que de fato ele tinha sobre si.

— Cê pode achar que a gente vive na miséria. Mas pior mesmo é viver na miséria que é a falta de amor, de bondade. No meio de vocês existe muito preconceito e falsidade. Preocupação com grana e status e só! Isso sim pra mim é miséria.. — Ino cruzou os braços e encarou-o. Aquele garoto mimado claramente estava precisando aprender algumas lições. Naquele momento, ela pensou que a experiência na ONG e daquele lado de Konoha realmente poderia trazê-lo algum choque de realidade. 

Dessa vez, Sasuke simplesmente não respondeu. Poderia continuar retrucando tudo o que Ino dissesse. Mas sabia que não importava o quanto ele tentasse desesperadamente confrontá-la e provar que ela estava errada, não conseguiria fazê-lo por um simples motivo: a garota estava certa. Por pior que fosse ter de assumir e lidar com isso.

Embora Ino soubesse que ele mereceu ouvir cada uma daquelas palavras, sentiu-se um tanto culpada ao notar a expressão de perturbação de Sasuke.

— Mas enfim, num tem nada que cê ame fazer na vida? — Indagou, tentando encontrar uma função para ele na associação e tornar o clima menos pesado do que estava.

Sasuke não queria demonstrar o quanto estava abalado com o discurso dela, então esforçou-se para se recompor e responder com tranquilidade:

— Andar de skate, só. 

—  Isso já é o bastante! Skate é um esporte, ué. Dá pra seguir carreira e tudo. — Constatou Ino, deixando Sasuke um tanto quanto surpreso.

Era a primeira pessoa que conhecia fora do mundo do skate que tratava com seriedade o assunto e não como um simples hobby. Ele procurou disfarçar, mas um leve sorriso iluminou o rosto do rapaz.

Embora tenham começado mal, aquele comentário animou-o e fê-lo baixar um pouco mais a guarda. Passaram então a trocar ideias sobre como ele poderia proceder com relação as aulas de skate, que tipo de postura deveria ter, material que iria precisar, quais os requisitos para os interessados se inscreverem, etc. 

E a partir daquele instante, a mudança batia na porta da vida Sasuke e ele, sem nem mesmo se dar conta, estava convidando-a entrar..

Konan estava finalizando a primeira de suas aulas de artesanato com foco em escultura. Naruto estava na porta observando-a juntamente com Yahiko, que havia já terminado o trabalho do dia com Jiraiya e aguardava a amiga. 

Havia por volta de dez interessados. Deveriam passar os dados para Ino, que iria regularizar a situação de cada um. Naruto parabenizou Konan pelo carisma e pela capacidade de comunicação dela. A garota agradeceu, mas não prolongou o assunto. Iria deixá-lo a par de todo o processo somente pela necessidade, por ele ser o responsável pelo curso do qual ela seria a professora. Contudo, não tinha interesse em uma amizade. Era bastante reservada.

Logo após a saída de Naruto, Yahiko aproximou-se da jovem.

— Eaí, mulher. Fiquei sabendo que tu abalou corações! — Ele comentou rindo. Konan encarou-o sem entender e o rapaz deu continuidade — Fiquei ali na porta só ouvindo o povo comentando como a mina de cabelo roxo e vários piercings é diferentona e muito gata.

— Eu falei um monte tentando empolgar eles com o artesanato e é nisso que prestaram atenção?! — Konan revirou os olhos e riu fracamente -— Mas sabe, preciso admitir que apesar da preocupação com o Nagato me deixando louca, não lembro quando foi que tive uma semana tão boa quanto essa com aqueles coroas.

— Tô ligado. Me sinto do mesmo jeito.. — Yahiko respondeu pensando sobre os últimos dias - Será que o Nagato vai ficar bem quando? Como será que ele vai reagir quando souber dessa vida que a gente tá levando? Tô meio pá, num sei se ele vai aceitar numa boa.. 

— Tô preocupada com isso também. E se ele quiser continuar naquela vida, Yahiko? Vendendo e usando droga pra cacete, dormindo na rua ou no motel, comendo tão pouco e quando dá.. Eu num quero mais isso. — Ela suspirou pesadamente. Balançou a cabeça como se tentasse espantar os pensamentos negativos de dentro dela.

— Pior que também num quero. Mas abandonar ele, nunca! A gente vai conseguir convencer o Nagato, eu prometo. — Yahiko sorriu, fez um sinal de jóia com a mão e em seguida envolveu Konan com seus braços, tentando acalmá-la. 

Embora não fossem mais namorados, aquele gesto ainda era comum entre eles. O carinho e o zelo um pelo outro continuava intacto. Na verdade, mantinha-se em constante crescimento.

No decorrer daquela semana, eles estabeleceram uma certa rotina ao lado de Jiraiya e Tsunade. Yahiko passou bastante tempo com Jiraiya, auxiliando-o na divulgação e venda de seus livros, conforme havia sido combinado entre eles na noite em que se conheceram. Inclusive o rapaz estava aprendendo e estudando muito sobre design, marketing, entre outras coisas.

Tsunade e Konan andavam ajustando os detalhes sobre como a jovem iria conduzir suas aulas, que tipo de conteúdo ela poderia apresentar, quais materiais iria precisar. Esses momentos acabaram aproximando-as, também.

As refeições eram feitas com os quatro juntos, na residência do casal. Continuavam aprendendo um sobre o outro, trocando visões de vida, experiências, fazendo planos para o futuro.. E todas as noites os dois jovens retiravam-se e iam dormir nos quartinhos que haviam no prédio que sediava a ONG.

Em cada um dos dias também foram visitar Nagato e ter notícias de seu estado. Entretanto, o rapaz ainda não havia recobrado por completo a consciência. O prejuízo fora grande e a recuperação estava sendo lenta.

Konan e Yahiko se culpavam por sentirem-se tão felizes sendo que Nagato — o namorado dela e melhor amigo dele — continuava sofrendo em uma cama de hospital.

Por mais que nos últimos meses o relacionamento entre eles estivesse bastante conturbado, reconheciam que Nagato fazia o que fosse preciso para que tivessem o que comer e onde dormir a cada dia. Da mesma forma que procuravam fazê-lo por ele.

Ainda assim, não concordavam com o método utilizado pelo rapaz. E como se não fosse o bastante a venda, Nagato consumia as drogas e ficava cada dia mais agressivo, o humor cada vez mais instável e imprevisível. 

Amavam-no e queriam ajudá-lo, mas já não sabiam mais como. Agora com Tsunade e Jiraiya em seus caminhos, a chama da esperança de mudar esse cenário — e toda a forma como vinham levando a vida — se acendeu novamente. 

 

 


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Notas finais do capítulo

¹ remar: pegar velocidade empurrando o skate com o pé no chão.



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