Finding hope escrita por nje


Capítulo 3
2: Encontrando esperança




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Era por volta de uma da tarde e o dia estava bastante frio, mas ensolarado. Algumas bexigas coloridas e cartazes com frases motivacionais escritas estavam distribuídos por toda a extensão da quadra. Havia também barraquinhas oferecendo gratuitamente pipoca, cachorro-quente, algodão doce e bebidas como água, refrigerante e suco. 

Crianças brincavam animadamente de pega-pega e pique-esconde. Os idosos, adultos e adolescentes em sua maioria encontravam-se conversando, caminhando pelo local e tecendo comentários sobre o evento e sobre a curiosidade que sentiam em relação a ONG.

Os diretores já estavam à postos próximos ao palco, no qual havia caixas de som e algumas lâmpadas para efeitos de luz nas apresentações. Tsunade e Jiraiya estavam regulando o microfone para que a loira iniciasse o seu discurso. 

Uma vez que ficou tudo pronto, ela ajeitou o seu grande suéter verde e as calças curtas de um tom caqui. Mexeu em seu cabelo curto que estava solto e no meio de sua testa sempre havia grudada uma pedrinha verde que sua avó Mito Uzumaki deixou para ela. Tsunade era uma mulher muito vaidosa e gostava de sentir-se bela, bem arrumada. 

Quando estava pronta tanto em aspecto físico quanto mental, respirou fundo e deu início a sua fala:

— Boa tarde! Sei que grande parte das pessoas que estão aqui já até me conhecem. Mas para os que não conhecem, o meu nome é Tsunade Senju. Sou psicóloga e também a fundadora dessa ONG que está sendo inaugurada hoje, a Finding Hope. Vou explicar melhor para todos vocês sobre ela, começando significado do nome: "finding" quer dizer "encontrando" e "hope" quer dizer "esperança". E comecei falando isso porquê diz muito sobre o objetivo da ONG. O objetivo de juntos encontrarmos esperança para mudar o cenário em que vivemos, no qual a discriminação impera. Através do conhecimento. Através da arte, da cultura, dos esportes, da pesquisa, do estudo. Da caridade. 

— Criamos essa associação para mostrar aos nossos moradores que eles podem sim realizar seus sonhos por mais que a situação pareça desfavorável. E mais do que somente para mostrar isso, a ONG servirá para dar suporte na concretização desses sonhos. Talvez muitos aqui já até tenham realizado-os. No entanto, existem tantos outros que se sentem limitados. Não possuem condições financeiras nem para se alimentar direito, quem dirá investir em estudos ou em negócios. 

— Essas palavra tudo é muito bonita, dona. Mas na prática, como é que vai funcionar? — Um dos moradores indagou e os outros concordaram com o questionamento.

— Essa foi uma boa pergunta. Daremos todo o suporte que estiver ao nosso alcance pra dar suporte a vocês tanto na parte profissional quanto pessoal. E as atividades vão ser variadas. Contaremos com cursos, oficinas e temos projetos de até mesmo incluir programas de estágio em várias áreas. O Naruto Uzumaki será o responsável por todas as atividades que envolvem arte, esportes, lazer e cultura. O Shikamaru Nara é quem cuidará de tudo o que estiver relacionado com ciências e pesquisas. E a Ino Yamanaka vai cuidar do relacionamento entre os moradores e o pessoal da ONG. Além disso, ela também vai organizar os eventos, arrecadações e doações. Ficou claro?

Alguns ainda demonstravam dúvidas. Outros assentiram com vêemencia e explicavam com suas próprias palavras aos demais. Um burburinho iniciou-se, mas estavam animados. 

A prefeitura não olhava para eles. Não dava nenhum tipo de suporte. É claro que aquela associação não era a resolução de todos os problemas. Mas significava que alguém se importava com eles e isso já era muito para quem recebia tão pouca atenção.

Ela pediu aos diretores que subissem ao palco. Eles imediatamente colocaram-se ao lado de Tsunade e deram início às apresentações.

O primeiro foi Naruto Uzumaki. O rapaz explicou o conceito de Arte, de Cultura, de Esportes e Lazer. A importância de cada uma dessas atividades na formação dos moradores como seres humanos, o que cada uma das áreas tinha para acrescentar não somente em níveis profissionais, mas o que ampliavam em nível pessoal também. Ele disse tudo isso à sua maneira, com gírias e palavras simples. Naruto possuía grande capacidade oratória e também conseguia se conectar com diferentes públicos, adaptar sua fala de acordo com o contexto. A receptividade e empolgação das pessoas foi grande.

E Tsunade se deu conta que ainda pecava nesse aspecto de conseguir adequar a sua maneira de falar de acordo com o público que a ouvia. Trabalharia mais nisso.

Em seguida foi Shikamaru Nara quem se pôs a falar. O rapaz encontrava-se cursando o último ano da faculdade de Ciências Biológicas e sua intenção era atuar como professor. A experiência na ONG seria boa tanto pelo que acrescentaria de conhecimentos ao seu bairro, quanto por ser também um treino para ele.

O rapaz apresentou alguns planos de atividades que realizariam na área de Ciências e Pesquisa. Explicou a importância desse tipo de ação para o progresso e as novas descobertas da humanidade. 

Por fim, era a vez de Ino falar. Da mesma maneira de Tsunade, a garota também tinha certa dificuldade em adequar a sua fala ao público. No entanto, como futura jornalista e responsável pelo relacionamento e pelos eventos da ONG, era uma capacidade que ela se esforçaria cada vez mais para desenvolver. Apresentou-se indicando que seria ela a responsável por levar a voz e do povo aos administradores da associação e vice-versa. E que todos os eventos, arrecadações e doações também eram de sua responsabilidade. Contou um pouco sobre que tipo de eventos tinham em mente de organizar, como festas e shows beneficentes. Bem como apresentações que englobariam também as outras áreas da ONG. E uma série de planos que tinham. Disponibilizou o número que atenderia em determinado horário para ouvir e responder sugestões, reclamações e dúvidas e informou que em breve haveria um site para o mesmo fim. 

— E tudo isso aí que cês falaram, é só ideia? Num tem nada certo ainda? — Um dos moradores questionou.

— Na verdade, algumas coisas tão mais certas que outras. O site já tá quase pronto e o número que passei já tá ativo pra vocês conseguirem falar com a gente... — Explicava a jovem, tentando se expressar da forma mais simples possível — Também já temos um professor que vai dar as aulas de ciências e também um pesquisador que vai ajudar a fazer as pesquisas. E o professor das aulas de fotografia e de karatê já tão certos também. 

O burburinho se fez presente. Já começavam a pensar em quais daqueles cursos se inscreveriam, em sugestões a fazer, dúvidas a tirar, de que forma poderiam contribuir, etc. 

Os responsáveis pela ONG estavam bastante satisfeitos com o engajamento que a comunidade demonstrou. Se aquela chama se mantivesse acesa, poderiam alcançar grande evolução juntos.

Eles desceram do palco, anunciando que em meia hora o rapper Killer Bee realizaria um show. Os jovens moradores demonstraram grande empolgação, já os mais velhos não sabiam bem de quem se tratava e estavam mais interessados em comer cachorro-quente e papear com seus amigos e conhecidos sobre o evento e sobre a associação. Havia os descrentes, que não acreditavam que aquela atitude faria grande diferença. Porém num geral foi grande a expectativa que se fez presente entre a população.

— Mandou bem, Ino! — Naruto sinalizou, sorrindo e fazendo um sinal de jóia. Se referia a todo o evento, mas em específico ao fato de conseguir levar Killer Bee até ali. 

A loira sorriu de volta e agradeceu feliz da vida ao ver que seu esforço era reconhecido.

Não demorou muito para que Sakura se aproximasse deles.

— Às vezes você me tira do sério, mas é a melhor amiga do mundo! — A rosada abraçou-a com gratidão. A verdade é que ela tinha um grande sonho de tornar-se uma artista do rap, mas com um pai acidentado e impossibilitado de voltar a trabalhar ou ajudar em tarefas domésticas e uma mãe que trabalhava como empregada em casas de diferentes famosos para sustentá-los — e por isso mal ficava no próprio lar — era difícil investir na música por questões de tempo e dinheiro. Estava sempre na floricultura, fazendo o máximo de horas extras possíveis e ao chegar em casa ainda tinha de limpar, arrumar, preparar a refeição.

— Pô, minha gata, cadê meu abraço também?! - O loiro aproximou-se das duas e riu, provocando-a. Sakura revirou os olhos.

— Tá ousado, hein, Naruto?! — Ela observou, separando-se da amiga e colocando as mãos na cintura, encarando-o.

— Num é assim, também. Cê sabe que eu te respeito muito! — Ele cruzou os braços contra o peito e um leve bico emburrado formou-se em seus lábios. 

— Tá, tá. Para de drama! — Sakura resmungou e envolveu-o em um forte abraço. O rapaz abriu um sorriso iluminado, derretendo o coração da rosada. Ele enlaçou-a em seus braços não muito fortes, mas que passavam para ela uma sensação de aconchego. 

— Meu casal! — Ino comentou maliciosa e rindo. Sakura corou e Naruto ficou todo feliz com o comentário.

— Nem brinca com isso que meu coração não guenta, mulher. É meu sonho! — O rapaz respondeu de imediato, apertando Sakura ainda mais em seu abraço. 

O sentimento dele pela rosada era assumido. No entanto, o que ele não imaginava é que era recíproco. Sakura limitava a relação deles somente à amizade, mas isso por sua insegurança e também pela barra que enfrentava; a garota não tinha tempo e nem cabeça para um compromisso naquele momento.

— Que fome! Vamo ali comer um cachorro-quente antes do show começar... — Sakura soltou-se do abraço dele e desconversou. Ele apenas assentiu. Doía-lhe a rejeição dela, mas a amava e respeitava e nunca gostaria de forçar a mínima barra que fosse entre eles. Ela puxou os dois pelo braço, arrastando-os até a barraquinha.

Shikamaru já estava lá, conversando com Chouji, seu melhor amigo. 

— E então? Cadê a Karui e a Chocho? — Indagou Shikamaru, colocando as mãos no bolso e observando atentamente o movimento ao seu redor, confirmando que elas não estavam ali. Karui era a mulher de Chouji e ChoCho a filha deles.

— Elas tão no restaurante. Num dá pra deixar lá sozinho por tanto tempo, tá ligado? Muito movimento de sábado.. — Explicou o rapaz, enfiando uma das rechonchudas mãos no pacote de Ruffles para pegar uma batatinha. Era viciado naquilo.

— Po, que pena! A ChoCho ia brincar até cansar.. — O moreno de olhos pretos puxados e cabelo escuro preso em um coque cutucava os dentes com um palitinho de madeira e observava o amigo comer — Eu não ligo pro seu peso, parceiro. Cê sabe que te acho daora assim, do jeito que cê é. Mas essas batatinhas fazem um mal, tem tanto sódio.. 

Chouji continuou comendo-as com gosto, ignorando o comentário do amigo. Sabia que Shikamaru realmente não se importava com o fato de ele estar vários quilos acima do peso e que era verdade que tratava-se de zelo por sua saúde. Mas num geral se alimentava bem. As batatinhas eram uma exceção.

Ino, Sakura e Naruto logo juntaram-se a eles e começaram a conversar, rir, se provocar. Naruto e Sakura aguardavam ansiosamente a subida de Killer Bee ao palco.

— Depois vocês vão poder trocar uma ideia com ele. Ele disse que tá disposto a ficar depois do show e conversar com geral. — Ino deu a boa notícia com um sorriso, orgulhosa.

— Você é foda! — Os dois disseram ao mesmo tempo, animados. 

— Posso respirar aliviada que parece que tá tudo sob controle.. — Ela observou, respirando fundo e olhando ao redor. As crianças brincando, os adolescentes colados no palco aguardando a apresentação do rapper e os mais velhos comendo, conversando. 

Estava sendo um evento tão leve e agradável! Entretanto, ainda era cedo para concluir isso.

Pouco tempo depois daquele diálogo, um homem negro, alto e forte subiu ao palco. Ele usava uma jaqueta e uma calça, ambas brancas com detalhes em azul, da marca Nike. Calçava nos pés um tênis da mesma marca. 

Nos únicos lugares que estavam descobertos — as mãos, o pescoço e o rosto — era possível ver tatuagens. Os cabelos estavam com box braids. O cara chamava atenção! Tratava-se de Killer Bee.

Sua apresentação foi emocionante. Suas letras em grande parte eram baseadas em suas vivências e também continham críticas sociais bastante relevantes.

Além disso, o rapper interagia frequentemente com o público. Seu pedido constante era de que não desistissem de seus sonhos por mais que a situação fosse desfavorável e o caminho fosse difícil. Ressaltava que por serem pobres ou estarem fora de algum padrão, poderia ser ainda mais complicado. Mas que ele — um homem negro e pobre — estar ali era prova de que o cenário estava mudando. De que deviam continuar para que um dia as oportunidades fossem iguais para todos.

Mesmo a parte do público que não conhecia o trabalho dele interagiu e se emocionou. Aquela tarde estava reavivando a esperança em muitos daqueles moradores, que andavam sem grandes expectativas de progresso e mudança para o futuro.

Ao fim do show, Killer Bee desceu do palco e se dispôs a falar com cada um dos que foram procurá-lo fosse para uma foto ou para dar-lhes mais palavras de incentivo. Uma grande quantidade de gente aglomerou-se ao seu redor, inclusive Naruto e Sakura.

— Eaí, cara! Eu sou seu fã, mas não é por mim que eu tô aqui hoje, não! — Naruto dirigiu-se ao músico, que prestava atenção no que o loiro dizia, apesar da movimentação ao seu redor — É que essa mina aqui comigo, a Sakura, manda muito nas rimas.

Sakura corou e esmurrou o braço de Naruto, que fez bico e resmungou. Killer Bee deu risada e voltou a sua atenção a Sakura.

— Isso procede? — Indagou com interesse. Ele estava sempre investindo em novos talentos.

— N-não.. Quer dizer, é! Mais ou menos. — Ela respondeu.

O homem cruzou os braços, encarando-a com seus puxados olhos pretos.

— Ué? É ou num é?! 

— E-eu faço umas rimas e batidas de vez em quando, mas é só por gosto mesmo. Não é nada tão bom ou profissional.

— Aí cê tá tirando conclusões por mim. Faz o seguinte.. — Ele pôs-se a falar, puxando do bolso um bloco de anotações e uma caneta. Anotou algumas coisas em uma das páginas do bloco, retirou-a e entregou na mão de Sakura  — Me tromba nesse dia e nesse endereço. É a minha gravadora. Vamo dar uma olhada no que cê tem aí.

Killer Bee sorriu. Sakura arqueou as sobrancelhas e a surpresa foi tanta que a deixou desorientada por alguns momentos. Passada a surpresa do momento, ela disse animada:

— Valeu, senhor Killer Bee! Nem tô acreditando nisso.

— Agradece ao seu namorado, que se ele num dissesse nada, eu num saberia que cê faz música. 

— E-ele não é meu namorado! — Ela cruzou os braços, corada, e Killer Bee riu. Ainda assim, Sakura direcionou seus grandes olhos cor de esmeralda até Naruto e sorriu — Mas obrigada, Naruto. Cê é muito bom pra mim.

O agradecimento foi sincero. Embora já não passassem a mesma quantidade de tempo juntos que passavam quando mais novos, Naruto sempre procurava dar uma passada na floricultura ou na casa dela para saber como estava, se precisava de algo ou incentivá-la de alguma forma. 

Os dois se despediram de Killer Bee e foram correndo contar para Ino. 

No entanto, Ino não estava vivenciando um momento fácil. A sua felicidade por ver todo o evento dando certo foi camuflada quando aproximou-se dela um senhor alto, de longos cabelos loiros, olhos azuis e algumas linhas de expressão na face. Ele chamava atenção no local. Camisa cinza, calça preta e um grosso sobretudo preto no mesmo tom da calça. As pessoas olhavam-o não somente por sua elegância, mas porque sabiam de quem se tratava. Inoichi Yamanaka.

— Podemos conversar? — Ele indagou para a jovem. Era notável a semelhança entre eles.

A loira tentou disfarçar a contrariedade. A relação entre ela e o pai era delicada. Isso porquê Ino foi o fruto de um relacionamento polêmico entre Inoichi e sua empregada, Hirochi. A família Yamanaka reagiu à notícia da pior maneira possível, obrigando-o a escolher entre a sua herança e a relação com Hirochi e com a filha deles. Inoichi escolheu o dinheiro, levando a mulher a se afastar dele. Ele pensou que poderiam continuar se encontrando às escondidas e que poderia criar a filha em segredo. 

Ela demitiu-se, foi morar do outro lado de Konoha e investiu tudo o que tinha em uma floricultura, que permitiu a Hirochi investir nos estudos de Ino e suprir as necessidades dela, mesmo que vez ou outra a situação apertasse. Com frequência ele ligava para ela e insistia em ajudá-la financeiramente, mas por mais difícil que fosse em alguns momentos, Hirochi recusava. Não aceitava a ideia de que a família dele poderia pensar que foi um golpe, que ela engravidou de caso pensado para crescer na vida. 

Inoichi até aquele momento nunca fora procurar a filha. Sabia que se a família descobrisse qualquer visita dele a ela e a Hirochi, logo iriam deserdá-lo. Ainda assim, a saudade que sentia de Hirochi, o desejo de conhecer a filha e a sensação de solidão — ainda cercado de pessoas — consumiram-no até que não suportou mais.

Ino sabia de toda a história dos pais. E por melhor que fosse o seu coração, não conseguia perdoá-lo. Era a primeira vez que o via pessoalmente. Já havia lido notícias a seu respeito e visto algumas fotos. 

— E quem é o senhor? Não sei se consigo conversar agora, a responsável por esse evento sou eu e preciso me certificar que tudo tá correndo bem.. — Ela disse friamente. Era difícil a loira agir daquela forma com alguém. Mas além de ter escolhido o dinheiro em vez de escolher a convivência com ela, demorou quase 20 anos para procurá-la. Por que o fez? Por que naquele momento?

— Não se faça de desentendida, filha. Eu sou Inoichi Yamanaka, o seu pai. Fiquei sabendo do seu envolvimento com a ONG e com esse evento. O orgulho foi tanto e a curiosidade de te conhecer também, que não resisti e tive de vir conferir com meus próprios olhos! — O homem observava a filha. Ela era linda e muito elegante! Usava um vestido roxo de mangas longas e gola alta. O vestido ia até a altura dos joelhos e  ela vestia por baixo uma meia-calça preta transparente. Nos pés estava com uma bota de salto, curta e escura de camurça. 

É fato que a jovem não costumava arrumar-se tanto, era mais despojada normalmente. É que levava muito a sério tudo o que fazia e queria passar alguma credibilidade ao se apresentar aos moradores.

— Cê podia ir com calma, né? Me chamar de filha sem nem me conhecer! — Ino rebateu de imediato. Sua voz estava trêmula. Os braços estavam cruzados e as pernas mexiam-se nervosamente. Bem como já havia voltado a mexer em uma das mechas de seu cabelo.

— Você é sangue do meu sangue. Mesmo que não queira, é sim minha filha. Mas eu não quero forçar. Vou te chamar de Ino, tudo bem? Podemos recomeçar? Estou muito arrependido do que fiz com a sua mãe e com você. Sei que não vai ser fácil assim, mas o que vocês pedirem que eu faça, eu farei. Qualquer coisa para que me perdoem e aceitem! — A ansiedade era notável na expressão dele, que fixou os grandes olhos azuis no rosto da filha tentando analisar sua reação.

— Eu preciso pensar.. — Ela respirou fundo. Ino acreditava na mudança das pessoas. Em segundas chances. Sentia-se até um tanto tola por esse motivo. 

— Tudo bem. Aqui está o meu número. Se me der uma chance de te conhecer e tentar ser pra você o pai que nunca fui... Sei que não é simples assim, mas podemos ir nos conhecendo. Vou mostrar a vocês que estou bem intencionado e sou digno de confiança agora! — Inoichi abaixou a cabeça e juntou as mãos, em súplica. Ino pegou o cartão que ele a estendia e assentiu.

Ele assentiu de volta e se retirou, sem dizer mais nada. Ela alternava o olhar entre a figura dele indo embora e o cartão que ele entregou-a.

Não sabia como reagir. Nem o que pensar ou fazer. A confusão era grande entre a curiosidade de conhecê-lo e ao mesmo tempo o rancor que guardava por tê-las abandonado por dinheiro. Indecisa, respirou fundo e esparramou-se ali na cadeira mais próxima, aguardando que os amigos se aproximassem para enchê-la de perguntas.

A garota devorava o algodão doce em suas mãos. O rapaz observava-a, rindo da cena.

Hanabi era desajeitada e estava se sujando toda. Ela era para ele como uma irmã mais nova. E fazia tanto tempo que não se viam, tinha esquecido como era estar na presença da prima de segundo grau. A jovem era tão animada e cheia de vida. Até mesmo comer um simples algodão doce era algo magnífico para ela.

— Uau! Esse show foi tão motivador! — A dona dos exóticos olhos perolados exclamou, com empolgação. 

— Cê achou?! — As sobrancelhas de Neji se arquearam levemente e ele perguntou surpreso. Concordava que o show foi bom. No entanto, se perguntava no que alguém como rica como Hanabi poderia ter se identificado. 

— Sabe, eu sou um pouco zoada na escola por estar acima do peso.. E a Hinata pela timidez. — Ela confessou constrangida. Neji cerrou os punhos, frustrado. Se estivesse por perto, nunca deixaria que ninguém as maltratasse — E também eu sonho muito em trabalhar com moda. Mas o velho morreria do coração se eu decidisse seguir carreira nisso. De qualquer forma, o Killer Bee me fez pensar nisso. Falou tanto sobre ser maior que o preconceito e persistir nos sonhos. Tô refletindo, sabe?

— Sei... — O rapaz assentiu. Ele era bastante sério e de poucas palavras. Entretanto, sentia que a prima precisava ouvir algum incentivo ou palavra de conforto — Cê se considera bonita, Hanabi? Cê gosta do que vê no espelho?

A morena se surpreendeu com a pergunta. Nem precisou pensar muito para responder.

— Sim! Muito! Esses olhos, esse cabelo.. Esse estilo! E a pessoa que eu sou, também! — A menina até começou a se gabar.

— Então, isso importa mais que o que os vacilões que te zoam acham, certo?! — Neji indagou e Hanabi assentiu. Ela encarava-o com atenção e ele prosseguiu — E sobre o lance da moda.. Pra ser a filha perfeita o seu pai já tem a Hinata. Alguém tem que começar a mudança nessa família, né? Já cansou esse negócio de briga por dinheiro, gravadora...

Hanabi sorriu para o primo, cheia de gratidão. 

— Era esse o incentivo que eu precisava pra criar coragem e ir falar com aqueles dois ali! — Disse a garota, apontando discretamente na direção de Kakashi e Iruka.

Neji assentiu, fazendo um gesto de jóia com a mão para que ela fosse mesmo até lá. E então, a jovem Hyuuga levantou-se e foi até eles.

— Prazer, senhores! Eu sou a Hanabi Hyuuga. — E estendeu-lhes a mão para um aperto.

Os dois retribuíram ao gesto e se apresentaram também.

— Sabemos quem você é! É a amiga do nosso filho Konohamaru. — Iruka observou com um sorriso simpático no rosto. Kakashi manteve a seriedade e observava Hanabi, aguardando que ela se pronunciasse sobre qual era o objetivo de falar com eles naquele momento.

— Sim, eu mesma! O Konohamaru é bem bravinho, mas comigo é um amor. — Ela observou sorridente, embora estivesse nervosa. E por mais que sua afeição por Konohamaru fosse grande, esse não era o foco e Hanabi foi direto ao assunto — Mas eu conheço vocês não é por ele, não. É que eu sou muito apaixonada por moda e a confecção de vocês é tão inclusiva e tão diferente da maioria que se vê no mercado, sabe? E faço umas roupas também, inspirada nas coleções da marca de vocês.. S-será que existiria alguma chance de darem uma olhada? 

A jovem não conseguia encará-los por muito tempo. Era muito fã do trabalho deles. Além disso, eram muito belos, cada um a sua forma. Iruka era bronzeado e tanto os cabelos quanto os olhos puxados tinham um tom achocolatado. Já Kakashi era quase pálido, tinha os olhos negros e os cabelos já grisalhos. Além disso, estava quase sempre com um lenço encobrindo a sua boca. O mistério que rondava esse fato gerava comentários na mídia.

— Ahn, não esperava ter de falar sobre negócios aqui.. — Iruka coçou a cabeça, um tanto constrangido — Mas como o Kono fala muito bem de você, acho que podemos agendar uma reunião, então. O que acha, Kakashi?

Era raro algum dos dois tomar uma decisão — no trabalho ou em casa — antes de consultar o outro. 

— Por mim tudo bem. Penso que poderíamos até fazer uma entrevista de estágio.

Iruka concordou. Estavam sentindo que as coleções deles começavam a cair na rotina. Se Hanabi realmente fosse boa, seria interessante o olhar de uma jovem.

— Isso é muito mais do que eu pensei que conseguiria! Valeu! — Hanabi respondeu animada, dando pulinhos. E então se deu conta de que deveria tentar manter uma postura profissional. Recompôs-se e lhes estendeu a mão mais uma vez — Obrigada, de coração.

Os dois lhe esboçaram um sorriso e apertaram a mão que lhes era estendida. 

Kakashi entregou para ela o cartão deles com anotações manuais que fizera indicando o dia e horário da entrevista e a garota não demonstrou, mas viveu um momento silencioso de êxtase. Despediu-se deles e saiu quase que correndo para contar a Neji. 

Quando Hanabi já estava longe, Iruka indagou a Kakashi:

— Cadê o Kono? Ele vai ficar todo feliz com a notícia! 

— Konohamaru não parou de fotografar o evento todo. Não o vi parando nem pra comer. — Constatou Kakashi, com expressão pensativa — Ele está levando a sério, não é mesmo?! Não conversou com ninguém além da Ino, que estava dando as coordenadas para ele sobre como queria as fotos.

— É, acho que isso tem a ver com o Naruto. O Kono admira o irmão mais velho, mas também tem uma baita competição com ele, né?! Uma vontade de superá-lo em tudo..

— Sim. — Kakashi assentiu — Ainda bem. Naruto é um bom exemplo. Se o Konohamaru seguir nesse caminho, poderemos dizer que fizemos um belo trabalho com os dois.

Iruka concordou. Então eles avistaram Inoichi indo embora e ficaram surpresos. Olharam para Ino, que encontrava-se um tanto desolada e rodeada de amigos.

Logo pensaram em Hirochi. Será que ela sabia daquele encontro? Se não, como reagiria quando soubesse? De imediato, Iruka ligou para que contassem à amiga o que viram. Não conseguiam nem imaginar como ela lidaria — ou talvez já estivesse lidando — com aquela situação...
Continua..
 

 

 

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