In Perfect Harmony escrita por EsterNW


Capítulo 3
Apresentações em West End


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, povo! Sentiram minha falta?
Estou bem ativa esse mês, porém, a In Perfect Harmony acabou ficando um pouco de lado no meio do meu surto criativo. Porém, eis que consigo escrever um capítulo inteiro hoje, na virada do mês, e aqui venho eu com ele direto do forno para vocês.
Vamos com a Elise ver a apresentação de menino William?
Boa leitura ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778411/chapter/3

 

As luzes dos lustres do interior do Her Majesty’s Theatre eram quase cegantes de tão fortes. Da mesma forma era o brilho da soberba de boa parte dos espectadores naquela noite, pavoneados com suas vestes exuberantes. O lado de fora do teatro no bairro de West End estava lotado de carruagens particulares dos ricos presentes. De uma delas desceu Elise, radiante em seu vestido amarelo claro. Ela entrou na construção, sendo acompanhada de seus pais, parando logo na entrada, onde a família recebeu os cumprimentos do diretor e seu bigode chamativo e bem cuidado. 

— Dr. Davies, Sra. e Srta. Davies, bem vindos, sejam muito bem vindos — ele saudou, guiando-os para seus assentos em um dos luxuosos camarotes. — Não vamos tratar de negócios essa noite, Dr. Davies, peço-lhe — o Sr. Michaels pediu para o médico, enquanto mãe e filha acomodavam-se em seus lugares. —Deixe esta noite para divertir-se com sua família. Teremos muito tempo disponível para tratar de negócios.

Ambos os senhores trocaram sorrisos confidentes e despediram-se com um aceno de cabeça. O diretor voltou para a porta do teatro e o doutor sentou-se ao lado da esposa.

— Deixa-me curiosa o tanto que confabula com o Sr. Michaels, meu bem —Gillian sussurrou para o marido, assim que ele se aproximou dela.

— Agora não, querida, conversaremos sobre isso mais tarde. — Com um olhar, o casal pôs-se em silêncio. 

Elise apenas observou a conversa dos pais em quietude, abanando-se com seu leque branco. A noite não era muito abafada, entretanto, a temperatura parecia acentuar-se dentro do teatro.

— Gillian, querida — Lady Ferrars, recém-chegada no camarote, saudou a amiga de longa data com entusiasmo. As duas trocaram um beijo no rosto como cumprimento e a mulher fez o mesmo com a filha da amiga. — Elise, querida, como você cresceu! Está tão bonita — ela elogiou, alisando a bochecha da jovem com uma mão enluvada. — É uma admirável coincidência dividirmos o mesmo camarote esta noite.

A senhora sentou-se no assento vago ao lado de Elise e seu marido, Lorde Ferrars, chegou tampouco a esposa se acomodou. Diferente dela, ele cumprimentou a família Davies com discrição. Os homens puseram-se a meramente observar o teatro com seus binóculos para a ocasião e as mulheres iniciaram uma conversa animada sobre assuntos banais. Elise apenas ficou entre as duas, ouvindo a tudo e dando sorrisos amarelos, demonstrando a simpatia contumaz que ensaiara para tais ocasiões.

Enfadonho. 

Aquela conversa era realmente enfadonha. Com a mente bem longe do falatório, ela permitiu que seus olhos observassem o teatro. No camarote do outro lado, viu as cabeleiras loiras da família Jones. Caroline observou a amiga com seu binóculo e Camille acenou ao longe para Elise. Ela retribuiu timidamente. Apertando os olhos para enxergar melhor, ainda viu Charles de braços cruzados, dando a impressão de estar em uma breve madorna, ao menos àquela distância. Ao contrário do irmão, Clinton ocupava-se em uma conversa intensa com quem fosse seu acompanhante de camarote. 

— Oh, a peça irá começar — Lady Ferrars anunciou, como se não fosse óbvio o que aconteceria quando as cortinas se abriram e a orquestra tomou seu lugar como trilha sonora para a encenação.

Elise ajeitou-se em seu lugar, com suas saias farfalhando um pouco. Apesar de boa conhecedora das obras de Shakespeare, Macbeth era uma das poucas peças do dramaturgo das quais nunca lera. Era entusiasmante conhecer a história pela primeira vez através do teatro.

O espetáculo teve início com as três bruxas, em uma encenação exagerada e até um pouco cômica, gerando riso em alguns de seus companheiros de camarote. Elise também sorriu, achando graça. 

A peça prosseguiu, dando espaço para outros atores. Na próxima cena, William Edwards apareceu. Elise reconheceu sua voz no meio da de outros atores que contracenavam com ele. Ela desejava ter um binóculo igual ao de seu pai, contudo, ele já fazia uso do objeto. Seus sentidos teriam que ser suficientes sem auxílio externo. 

A cena mudou, com os atores retirando-se e dando lugar para apenas dois, sendo um deles William. O rapaz interpretava Banquo, o companheiro do personagem principal, Macbeth, o qual dava nome à peça. Elise admirava ainda mais as habilidades do rapaz, observando cada movimento dele em cena com as três bruxas. Elas deixaram de ser cômicas naquele instante, ao menos para ela. Mas ainda o eram para os personagens no palco, que zombavam das previsões do trio.

A peça prosseguia e os atores mostravam a que vieram, com atuações impecáveis, arrancando as emoções certas da plateia nos momentos exatos. Em um dado momento, chegou a hora da cena da morte de Banquo e do filho, Fleance, emboscados a mando de Macbeth, o amigo que traíra-lhe, com medo da profecia do trio de bruxas no início da história. Elise não pôde deixar de mostrar surpresa quando o personagem de William foi assassinado com uma facada, aplaudindo entusiasmadamente quando as cortinas desceram, marcando o fim daquele ato.

Ela impressionou-se pela história escrita por Shakespeare séculos antes e interpretada naquele teatro no coração de West End. Mesmo com o trabalho digno de nota por parte do elenco, ela ainda sentia falta das cenas com Banquo. Talvez houvesse se afeiçoado ao personagem, supôs.

O último ato chegou ao fim, com as cortinas carmim fechando-se e declarando, portanto, o fim da apresentação. O público ovacionou de pé, as palmas como um epílogo para a peça. Elise esperou ver os atores uma última vez, despedindo-se em agradecimento, porém, suas expectativas não foram correspondidas.

Os espectadores dispersavam-se aos poucos, com alguns ainda em seus assentos no fosso e nos camarotes, em conversas próprias, enchendo a casa de espetáculos de burburinhos. 

— Irei me encontrar com os Jones na entrada, papai — Elise avisou para o Dr. Davies, ocupado em uma conversa com Lorde Ferrars, que, pela primeira vez na noite, interagia com alguém.

O pai autorizou-a e a mãe não muito se importou, absorta em um diálogo com a amiga ao lado. Elise desceu as escadas, encontrando Camille e Caroline logo no último degrau, esperando-a.

— Elise, não foi uma noite espetacular? — Camille, em toda sua espontaneidade, expressou sua opinião junto de pulinhos empolgados. Caroline e Elise trocaram olhares por cima da mais nova, sorrindo da pequena Jones.

— O espetáculo foi espetacular. — Elise tentou brincar com a menina, que riu ainda mais.

Elas pararam às portas abertas do teatro, sentindo um pouco do ar que vinha do lado de fora, um alívio para o abafado do interior da construção. Caroline ainda assim abanava-se com o leque e Elise mantinha o seu fechado nas mãos.

— Eu teria apreciado mais a peça se Clint parasse de tagarelar ao meu lado por pelo menos um dos atos — Caroline reclamou em um bufar e a irmã deu uma risadinha baixa. — Espero que ele nos acompanhe para casa, ao menos.

— Não são Clint e o Sr. Edwards vindo em nossa direção? — Camille apontou, sendo repreendida pela mais velha, pois, segundo ela, era feio apontar.

Elise abriu o leque e pôs a abanar-se com ele, tentando afastar um calor que tomava-lhe a face.

— Deem seus cumprimentos a uma das grandes estrelas dessa peça, irmãs! — Clinton chegou espalhafatoso como sempre, para o terror da irmã. Caroline censurou o gêmeo com os olhos, percebendo os cochichos das outras pessoas no saguão. De nada adiantou. 

William riu, dando um tapinha no ombro do amigo.

— Ainda não, Clint, ainda não. Ou ficarei mal acostumado com a fama antes da hora — ele devolveu a brincadeira, gerando novas risadas do amigo, de Camille e, dessa vez, também de Elise. Caroline era a única insatisfeita com a conversa chamativa.

— Aquele entrando naquela carruagem é Frederick Milton? — Clinton apontou para um homem de preto que ia embora do teatro. — Ah, aquele…

O gêmeo de Caroline abandonou os companheiros, correndo para alcançar Milton, antes que esse se tornasse inalcançável em seu coche.

— Milton deve algumas dezenas de libras para Clint — William elucidou, recebendo um acenar de cabeça coletivo por parte das damas. Caroline suspirou pelo irmão. Sempre o mesmo. — O que acharam da noite, senhoritas?

— A peça foi maravilhosa, Sr. Edwards. — Camille logo elogiou, sincera como apenas ela era.

— Tive um bom momento, confesso. Sua companhia, sem dúvidas, merece ser congratulada pela apresentação. — Caroline se rendeu e elogiou. William deu um sorriso educado para as Jones, junto de um aceno de cabeça.

— Eu… — Elise parou, ao ver a atenção dos três voltada para ela. —Compartilho da opinião de Caroline. A companhia merece elogios pelo trabalho, Sr. Edwards. — William sorriu em agradecimento e, instantaneamente, Elise elevou o leque alguns centímetros à frente do rosto. — Foi uma ótima maneira de travar contato com Macbeth pela primeira vez.

— Pensei que conhecesse todas as peças de Shakespeare, Lise — Caroline disse para a amiga. — A vi inúmeras vezes com um dos livros dele.

— Shakespeare foi autor de inúmeras peças, demanda algum tempo para ler todas. — William ofereceu motivos para a afirmação de Elise, sorrindo para ela em seguida. A morena corou por trás do leque, que serviu para disfarçar sua face.

— De fato, está correto em sua afirmação, Sr. Edwards. Macbeth e O Mercador de Veneza são algumas das minhas próximas leituras dentro dos meses a seguir. 

— São uma ótima escolha, se me permite opinar. — Ele colocou as mãos para trás das costas, um gesto contumaz do ator. — Talvez voltemos na próxima temporada com O Mercador de Veneza — segredou a novidade para as três damas reunidas à sua volta.

Caroline e Camille aprovaram a nova informação. Elise, entretanto, chegou a uma conclusão em meros segundos.

— Isso significa que o senhor não irá ficar muito tempo em Londres?

— Pelo próximo mês, sim. — Com a resposta, as feições preocupadas de Elise suavizaram aos poucos. As expressões da dama não passaram despercebidas por William, mais atento a ela do que às duas irmãs ao lado.

—Creio que deva despedir-me — Elise anunciou para o trio, vendo seus pais caminharem de braços dados em direção à saída.

— Nós vemos amanhã, Lise — Caroline despediu-se com um anúncio subentendido de que faria uma visita à residência dos Davies no dia seguinte. 

— Au revoir, Lise — Camille acrescentou em francês, na intenção de exibir sua habilidade com o idioma que começava a dominar.

— Tenha uma boa noite, Srta. Davies. Foi um prazer revê-la. — William sorriu para ela uma última vez naquela noite. O rosto de Elise iluminou-se em um sorriso. Bem como suas bochechas com um rubor.

Com as despedidas dos amigos, ela saiu do Her Majesty’s Theatre, sendo acompanhada pelos pais. Os Davies não travaram um grande diálogo dentro do coche particular da família, sendo o maior tópico de conversas a ida ao teatro.

Com o cansaço da noite movimentada, Elise logo dormiu ao chegar em casa. Na manhã seguinte, foi saudada por raios de sol tímidos entre as nuvens e o anúncio de um pacote, endereçado a ela. Em uma caligrafia inclinada, seu nome e endereço estavam marcados pela letra de William Edwards, o remetente. 

Na solidão de seu quarto, Elise abriu o pacote, encontrando uma edição de Macbeth em uma capa sóbria de cor azul marinho, tendo as letras do título em dourado, sendo o maior destaque na frente. Na folha de rosto, encontrou um papel dobrado entre as páginas.

“Cara Srta. Elise Davies,

Sinto em não termos tido muito tempo para conversar na noite passada. Foi uma noite memorável, preciso dizer, e apreciei nossa breve conversa junto das irmãs Jones.

Quando cheguei em meu quarto, avistei esse exemplar no meio de meus livros e recordei-me que a senhorita não conhecia a história de Macbeth até aquele momento. Isso fez-me recordar a primeira vez em que eu mesmo tive contato com a obra, quando ainda era um mancebo, sem nenhuma ambição com a dramaturgia... Preciso manter o foco em meu bilhete, caso contrário, acabarei usando frente e verso dessa folha.

Pois bem, retornando ao assunto, foi com este exemplar que tive contato com a obra do grande William Shakespeare pela primeiríssima vez. Então, como um agradecimento pela sua presença na estreia da peça em Londres, estou lhe dando este livro, para que, assim como eu, a senhorita possa encantar-se com a história de Macbeth, através da narrativa do próprio William. Ainda temos o mesmo nome, que coincidência!

Enfim, espero que aprecie.

William Edwards



 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hum, acho que o pombo correio vai ter algum trabalho com esses dois.... Então? O que acharam dessa ida ao teatro?
Espero não demorar muito com o próximo xD Se virem algum erro, me avisem para que eu corrija ;)
Até mais, povo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "In Perfect Harmony" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.