In Perfect Harmony escrita por EsterNW


Capítulo 2
Naturalidade em Kensington


Notas iniciais do capítulo

Oi... Esse capítulo demorou pra sair, não?
Não é um costume meu demorar tanto pra postar, mas esse mês de junho foi hard pra mim pelos meus próprios motivos e, pra completar, esse capítulo travou na metade e não saia mais do lugar xD Maaaass, foi na força do ódio que eu consegui retomá-lo esse final de semana e finalmente estamos aqui.
É um pouco mais curto do que o anterior, mas decidi deixar assim mesmo, senão ficaria grande demais.
Boa leitura ;)



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Fazia um dia de sol na capital inglesa, um acontecimento digno de comemoração pelos londrinos. Aproveitando a tarde quente, Elise traçava linhas precisas com a grafite sobre o papel, na tentativa de esboçar em seu desenho as árvores que cercavam as margens do lago Serpentine, em Kensington Gardens. Os raios solares incidiam sobre a copa das árvores, dando às folhas um brilho vivo sob a luz primaveril.

Caroline tagarelava com a irmã mais nova, Camille, sobre os acontecimentos da noite anterior, afinal, a menina permaneceu junto da mãe durante a maior parte do curto tempo em que ficou no baile, não tendo ainda idade suficiente para frequentar tal tipo de evento. A menina esperava ansiosa pela próxima primavera, onde seria livre para apresentar-se à sociedade.

— O Sr. Richmond esteve em nossa casa esta manhã para expor suas desculpas pelo vexame na noite de ontem — Caroline afirmou para Elise, que ainda ouvia à amiga, apesar do foco de sua atenção ser o desenho em suas mãos. — Expressou suas mais sinceras escusas a papai e a Clint. — Jogou um cacho loiro para o lado enquanto abanava-se com seu leque de madame. Não ventava, permitindo que um ar quente pairasse sobre a grama em que as três estavam sentadas.

— Clint disse que não se arrepende de nada! — Camille exclamou, intrometendo-se na conversa da irmã, limpando migalhas de seu vestido.

— Camille! — a mais velha censurou a outra sobre repetir em voz alta algumas das afirmações do irmão, além de meter-se em conversas alheias.

A mais nova apenas deu de ombros, guardando o restante do bolo de frutas dentro da cesta de piquenique. Elise sorriu e balançou a cabeça, plenamente ciente sobre o comportamento de Clinton. Ajeitou-se sobre a toalha, desejando ficar em uma posição mais confortável, contudo, seu vestido pesado não era de muita ajuda.

— Clint ainda levará sua própria vida social à ruína se continuar a proceder dessa forma — Caroline comentou em um suspiro, sabendo de que a amiga possuía pleno conhecimento do que se passava em sua casa, visto a reação que teve à fala de Camille.

— Creio que tal fato não seja de muita importância para Clint — Elise afirmou, erguendo os olhos para o lago, intencionando observar com mais clareza a fileira de cisnes alvos que velejava sobre a água.

Caroline riu sem humor por debaixo da respiração.

— Para ele, talvez não. Mas meu querido irmãozinho esquece-se que não será o único afetado por sua ruína social. — Ela soltou um suspiro desgostoso. — Agradeço ao Sr. Edwards na noite anterior por ter contido meu irmão antes que cometesse algo pior durante o baile.

— O Sr. Edwards é uma amizade nova de seu irmão, não? Não me recordo de tê-lo visto em outras ocasiões junto de Clint. — Elise disfarçou sua curiosidade pelo seu parceiro da valsa na noite anterior. Ambos trocaram não mais do que poucas palavras após terem deixado a pista de dança do salão dos Jones.

— Oh, não, eles se conhecem há certo tempo. O Sr. Edwards esteve fora do país por quase um ano, apresentando-se em teatros pela Europa — respondeu com um menear de cabeça, censurando o irmão pelas companhias com as quais andava. Ao menos, William Edwards era um cavalheiro agradável.

— Ele é ator. — Camille intrometeu-se na conversa pela segunda vez, deixando Elise surpresa com a informação. Sutilmente, ela tentou disfarçar o abrir de seus lábios com um bocejo. — Vamos ver a peça dele neste final de semana, não vamos, Carol?

— Decerto — Caroline respondeu sem muita animação, firmando os olhos nos transeuntes do outro lado do lago. — Tenho a impressão que você se afeiçoou muito rapidamente ao Sr. Edwards, não é mesmo, querida Elise?

— O Sr. Edwards mostrou-se deveras interessante durante nossa valsa e alguém com um senso de humor apurado, apenas. — Apesar da declaração amena, um leve tom rosado não deixou de passar pelas bochechas de Davies. Ela censurou-se pela reação.

— A valsa que ambos compartilharam pareceu dar um efeito animador em você pelo restante do tempo em que permaneceu no baile. Além, é claro, da atenção que os dois atraíram. — Os olhos mel de Caroline provocaram Elise, que apenas desviou o olhar da amiga, concentrando-se na graciosidade dos cisnes que tentava reproduzir no papel.

— As pessoas falam demais. — Foi sua única resposta. Caroline sabia que a amiga não desejava insistir no assunto, optando então por retirar a outra do centro da conversa.

— O que acham de uma caminhada até os Italian Gardens? — Caroline ofereceu, recebendo uma resposta animada da irmã e uma negativa de Elise, que preferiu continuar onde estava, na intenção de terminar seu desenho.

A jovem Davies observou as irmãs seguirem de braços dados debaixo da sombra proporcionada pela sombrinha rendada da mais velha. As duas caminhavam com calma sobre as pedras que delineavam o calçamento do parque. Os olhos castanhos observaram até a dupla sumir de vista, mirando, então, o céu por um breve instante. O azul anil reinava soberano, sem nuvens que indicassem chuva e permitindo que o sol brilhasse forte. Elise levou a mão ao rosto na tentativa de proteger-se dos raios solares que incomodavam sua visão. 

— Srta. Davies, é uma surpresa agradável poder encontrá-la novamente. — Uma voz grave e jocosa chamou sua atenção e ela voltou o olhar para baixo, deixando de lado o alto e sua imensidão.

A jovem moça deparou-se com o mesmo cavalheiro com o qual compartilhou a valsa na noite anterior. O rapaz ainda trajava vestes negras, não tendo tantas opções de cores para vestir-se. Uma cartola aveludada protegia-lhe a cabeça e sombreava-lhe o rosto. 

— Sr. Edwards — Elise disse seu nome, não conseguindo esconder o espanto por ser tirada de sua solitude. — Creio que seja a última das pessoas das quais eu sonharia encontrar em Kensington hoje — Elise afirmou sem pensar, recebendo um erguer de sobrancelha em um gesto de curiosidade do ator. 

— Deixou-me intrigado quanto à sua linha de pensamento, Srta. Davies. — William retirou a cartola de sua cabeça, passando uma mão sobre os cabelos escuros asseados por um pouco de brilhantina. 

— Não imaginava que o acaso faria com que nos encontrássemos novamente. — Distraidamente, Elise rolava o lápis por entre o indicador e o polegar.

— Bem, não foi o acaso que fez com que eu decidisse sair da reclusão de meu quarto, mas este belo dia de sol. Sinto-me agradecido que, logo na minha primeira semana de volta a Inglaterra, eu seja tão bem recebido — ele brincou com naturalidade, conseguindo um riso da moça, que levou uma das mãos aos lábios, na tentativa falha de disfarçar a própria reação.

Por sua mente passavam inúmeros rumos pela qual aquela interação poderia percorrer, deixando Elise em dúvida de como proceder com a conversa, questionando qual seria de acordo ao que sua mãe ensinara-lhe para conduzir um diálogo. O clima seria a melhor opção para uma dama, Gillian Davies a aconselharia naquele momento, sem sombra de dúvidas.

— A senhorita parece ter tido ideia semelhante à minha. — Elise não precisou se preocupar no que diria para não deixar a interação entre os dois morrer, pois William retomou a conversa em poucos segundos, sem a necessidade de pensar muito, ao contrário dela. O rapaz apontou com a cabeça para a toalha clara, na qual Elise permanecia sentada, e a cesta de piquenique abandonada logo ao lado da dama. 

— Caroline decidiu organizar um pequeno piquenique para nós, na intenção de aproveitar o primeiro dia realmente ensolarado da primavera — Elise afirmou, recebendo um aceno afirmativo do homem, que abaixou o rosto e estreitou os olhos na direção do papel que a moça trazia no colo. Vendo o objetivo da ação do rapaz, Elise mostrou seu desenho parcialmente completo.

— A senhorita é realmente talentosa com o desenho — William elogiou, fazendo com que Elise sentisse o rosto esquentar. William sorriu, achando fofa a reação da dama a um simples elogio. — Esta é uma ocasião que a diverte? Estar sozinha entre lápis e papéis? — Edwards retomou a conversa da noite anterior, relembrando-a da valsa dos dois no baile dos Jones. O ator levou as mãos até as costas, brincando distraidamente com as abas de seu chapéu. 

— Muitíssimo — Elise respondeu sincera. 

— Um ambiente estonteante como o Kensington Gardens, decerto, é de muita ajuda para colaborar com o bom ânimo — William completou, adicionando suas próprias opiniões à conversa. 

— É a primeira vez que vem a Kensington, Sr. Edwards? — Elise questionou em um ímpeto, não filtrando a questão em sua mente antes de reproduzi-la em voz alta. Às vezes, censurava-se pelo hábito, contudo, era impossível abandoná-lo.

— Não, não é. — William olhou para o lago e a família de cisnes à distância. Parecia perdido em memórias passadas naquele mesmo parque. — Entretanto, é a primeira vez em meses que visito Kensington. — Mirou o céu limpo, pouco se incomodando com a claridade que alcançava seus olhos. Um pouco de silêncio pairou sobre a dupla, apenas com o canto dos pássaros e o som de conversas e risos diversos perdidos através do vento, deixando-os sozinhos naquele pequeno pedaço de jardim. —Ainda é surpreendente para mim, que possuo a oportunidade de visitar tantos países de nosso continente, e, apesar disso, Londres sempre é a cidade mais atrativa aos meus olhos. 

—As lembranças de casa talvez afetem seu julgamento, Sr. Edwards.

— É uma possibilidade. — William mostrou-se contemplativo novamente e, com o silêncio a dar as caras novamente, Elise traçou outra vez a grafite sobre o papel, desenhando com delicadeza as crianças que iniciavam uma brincadeira infantil às margens do lago Serpentine. — Alguma vez teve a oportunidade de viajar para fora da Inglaterra, Srta. Davies? 

— Apenas uma vez, para a Escócia. Inverness — ela respondeu, ainda tendo os olhos fixos no desenho. William não deixava de observá-la de soslaio. 

— Inverness… Não tive a oportunidade de conhecer ainda. É uma das melhores opções para passar o final de ano, não? —Elise murmurou em concordância, olhando rapidamente para o rapaz, mostrando-se ainda atenta à conversa. William sorriu, entretanto, sua expressão ficou de fora do olhar da moça. — E para fora da ilha, nunca foi? — Elise negou, sendo assistida por William em sua habilidade com a grafite. — É uma pena, Srta. Davies. As maravilhas que o globo guarda… — Ele permitiu-se suspirar baixo, sentindo o sol do meio da tarde finalmente alcançar-lhes no jardim. — O Palácio de Cristal, na Rússia, é um dos meus lugares prediletos dos quais passei em minhas viagens.

— Surpreende-me que sua companhia tenha chegado tão longe com a peça — Elise adicionou repentinamente à conversa, tendo a mente dividida entre atentar-se ao próprio desenho e o diálogo com William.

— A senhorita está mais bem informada sobre mim do que imaginei. —Apesar do tom despreocupado e jocoso do ator, Elise sentiu o rosto esquentar de súbito ao dar-se conta do que ela própria deixou escapar. — Caroline informou-a sobre minhas ocupações, suponho. 

— Camille tocou no assunto ao final do piquenique. — Ela cessou o movimento do lápis sobre o papel, decidindo focar sua atenção totalmente em Edwards.

—Camille é uma garota adorável. — William sorriu, sendo um bom conhecedor da família de Clinton Jones, um de seus maiores amigos no país. — Com a sinceridade que ela possui, espero que não tenha dito nada de assombroso sobre minha performance no palco.

— Não chegamos a tocar no assunto. E prefiro eu mesma tirar minhas próprias conclusões — Elise rebateu, pronta para não deixar o assunto morrer e curiosa sobre o trabalho de William.

— Sendo assim, por que a senhorita e sua família não comparecem ao teatro amanhã à noite? Sentirei-me honrado ao saber de sua opinião sobre minha atuação, Srta. Davies, afinal, durante nossa conversa ontem à noite, a senhorita afirmou divertir-se muitíssimo em uma noite no teatro.

— Terei o prazer de comparecer, Sr. Edwards. Porém, minha ida depende de meu pai.

— Peço que avise-me caso não possa atender ao meu convite. Eu mesmo irei pessoalmente à sua residência para fazê-lo mudar de ideia. — Mais uma vez, Elise riu sem cerimônias na frente do ator. Desta vez, não importou-se de tentar esconder, sentindo-se mais à vontade na frente do rapaz.

O próprio William sorriu para a moça, desviando rapidamente os olhos dela e visando ao longe as duas irmãs Jones caminharem debaixo da sombra fornecida pela sombrinha de Caroline.

— Bem, acredito que seja a oportunidade para me retirar. Sua companhia estará aqui em breve, Srta. Davies. — Ele apontou com a cabeça para as duas moças à distância, colocando, em seguida, a cartola de volta ao lugar de outrora. —Foi um prazer encontrá-la novamente.

—Mais uma vez, tenho que concordar, Sr. Edwards. — Elise deixou seus objetos de desenho de lado e pôs-se de pé, pronta para despedir-se educadamente do cavalheiro. — Dou minha palavra que tentarei comparecer à sua peça.

William sorriu enigmático e, em despedida, tomou uma das mãos de Elise, depositando um beijo sobre o dorso, próximo aos nós dos dedos. Davies foi pega de surpresa, com seu rosto passando do morno ao quente em um piscar de olhos. William fez uma reverência exagerada, em um tom teatral, e Elise finalizou a despedida com uma mesura comportada.

Com o aproximar das duas irmãs Jones, William cumprimentou-as com um movimento de sua cartola, deixando para trás uma Elise sorridente, que não tirava os olhos da própria mão.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Apesar de me custar quase um rim pra escrever, estou ficando apaixonada pelos diálogos entre esses dois ♥ E vocês? O que estão achando? Chega mais e vamos bater um papo!
O próximo capítulo também não deve sair tão cedo, pois tenho algumas coisas pra escrever antes, mas devo aparecer por aqui de novo até o início do próximo mês.
Até mais, povo o/