I Won't Give Up || SANRION escrita por Lady Capuccino


Capítulo 2
Chapter Two




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Ele a encontrou na Torre Quebrada, a mais alta de Winterfell. Ela estava debruçada sobre a borda da construção, o rosto pálido e inflexível iluminado pela luz vacilante do crepúsculo, seus longos cabelos ruivos - que agora pareciam desbotados como as chamas de uma fogueira invernal – farfalhavam com o vento que entrava por uma das janelas de arco da torre. Estava imóvel, olhando fixamente para a negridão da noite, observando algo que parecia estar só ao alcance de seus olhos. Naquele momento, permitiu-se o luxo de simplesmente olhar para ela, apreciando sua beleza como se fosse a primeira vez que a via.

Tyrion perdeu o fôlego ante a vista, lamentando imediatamente interromper sua solidão. Ele inalou uma respiração brusca e se movimentou em direção a porta mas já era tarde. Sansa se virou e em um instante, seus olhos estavam presos nos dele.

“Lorde Lannister” cumprimentou, a voz cansada, impassível

“Lady Stark” ele atravessou a sala, caminhando lentamente até onde ela estava “Perdão, minha senhora, mas me parece exausta. Por que não tenta dormir um pouco? O dia hoje foi longo.” diz, tentando não ceder ao desejo de questionar o que a incomodava

“Não consigo.” é menos que um sussurro, mas ele ainda ouve “Acho que vou ficar mais um pouco, se não se importa.”

As palavras eram afiadas, firmes, mas por algum motivo também eram insondáveis. Tyrion apertou os punhos nervosamente, perguntando-se se deveria permanecer ali. Não queria atrapalhar suas reflexões silenciosas.

“Claro que não. Peço desculpas por interrompê-la, com sua licença eu irei me recolher.”

Ele não dá mais do que alguns passos em direção a saída, quando ela corta o silencio novamente.

“Houve um tempo em que essa torre foi o meu único refúgio.” confessa num murmúrio quase inaudível

Sua voz é como um grito quieto ecoando no escuro, algo que não pode ser ignorado. Tyrion se volta para ela esperando que continue, mas Sansa mal parece notar sua presença ainda ali. Ele reduz a distância entre ambos disposto a ouvi-la falar e pode ver seu cérebro trabalhando em busca das palavras adequadas.

“Quando me casei com Ramsey e ele – ele...” parou, tomando fôlego “Bem, era aqui que eu vinha depois que tudo terminava. Lady Brienne disse que se eu precisasse de ajuda, bastava acender uma vela nesta janela” murmurou, passando o dedo indicador na madeira nobre do parapeito “...e ela viria.”

“Eu nunca conheci Ramsey Bolton.” diz, apoiando-se na parede ao seu lado “Mas pelo que já ouvi falar sobre ele, suponho que você tenha acendido a vela.”

“Eu acendi.” seu olhar parece estranhamente distante, como se vagasse por memórias tortuosas

“Sansa” ela olha para ele ao som de seu nome, o rosto lívido de emoção “Eu sinto muito...” sussurra, sentindo o peito afundar um pouco com o semblante vazio em seu rosto

Ela desvia os olhos dos dele, encarando as próprias mãos.

“Quando eu e você nos casamos em Porto Real, pensei ser uma das piores coisas que os deuses já haviam me reservado. Mas o destino me provou que eles tinham planos muito mais perversos para mim e então percebi que se tivéssemos continuado casados, eu jamais precisaria acender uma vela por sua causa.”

Tyrion não sabe o que dizer, o silêncio preenche o ambiente por um tempo incalculável antes que consiga responder.

“Você faz parecer que eu era o marido mais adequado do mundo.”

“Você era pra mim.”

“Isso não muda o fato de que ainda estaria comprometida com um anão bêbado.”

“Você não me parece bêbado agora.”

“Talvez eu esteja me reservando para mais tarde. Deveria checar a adega de Winterfell, podem estar faltando alguns frascos de vinho por lá.”

E então ele ouve, é fraco e suave como a brisa da manhã, mas lá está: uma risada. Ela está rindo e é tão fácil simplesmente ouvi-la rir que ele quase se esquece de respirar e der-repente está rindo também, contagiado pela leveza daquele único instante.

Era francamente terrível que ambos tivessem um senso de humor tão deturpado.

A risada cessa, deixando-os inquietos e ofegantes enquanto tentam se recompor, o momento vai embora tão repentinamente quando veio e eles mergulham numa quietude plácida novamente.

 

 

Dessa vez, o silêncio é confortável, porém cheio de uma estranha apreensão. Ela ainda não havia lhe contado tudo.

“Recebi uma carta do Vale de Arryn hoje a tarde.” engole em seco, respirando devagar antes de continuar “Um dos tutores de Robin Arryn elaborou argumentos convincentes o suficiente para me fazer acreditar que uma união entre mim e seu Lorde seria vantajosa para o reino. Uma aliança que garantiria a continuidade das nossas casas e os herdeiros dos quais Winterfell precisa, bem como o progresso da linhagem real e a estabilidade do meu reinado enquanto guardiã do norte. Mas-“

“Mas você não quer isso.” completa, sua mente ainda processando as informações de forma muito mais lenta do que o habitual

Ela ri, uma risada amarga e curta.

“O que eu quero não importa.” suspira, olhando para ele com exasperação “Jon está além de uma muralha que nem existe mais, exilado junto a patrulha da noite. Não recebo noticias de Arya há semanas, o que denuncia que ela está viajando muito além de onde os corvos conseguem voar. Quanto ao Bran... Bem, você o conhece, sabe que ele não pode ter filhos.” sua voz perde o ritmo, as palavras diluindo-se na escuridão

“E então você acha que uma casamento com o Lorde do Vale asseguraria o futuro de Winterfell e da sua casa.”

“Certamente uma aliança dessa estirpe beneficiaria bastante não só Winterfell, como o resto do reino. A casa Arryn é relativamente influente e agora que o norte finalmente alcançou independência do resto de Westeros preciso me preocupar em manter relações sólidas com outras fontes de poder. E como nós dois sabemos, não há forma melhor de fazer isso do que através de um matrimonio.” ela diz, com a formalidade de quem recita uma lista de compras

“Mas e quanto a você, Sansa?”

“A mim?”

“Sim, você.” responde, olhando-a com sinceridade “Nas duas vezes que se casou por obrigação, você acumulou uma série de experiências traumáticas. Fez tudo o que pôde para assegurar interesses que não satisfaziam os desejos do seu coração e pagou um preço alto por isso. Está certa de que quer fazer isso novamente? Você é jovem, bonita e forte, ainda pode se apaixonar por um jovem rapaz e ter uma vida feliz. Qualquer homem dos sete reinos ficaria contente em tomá-la como esposa. ”

Ela o encara por um longo momento, completamente atônita com suas palavras e der-repente a enormidade de seu amadurecimento o atinge em cheio. Seus olhos estão endurecidos com uma resignação que há alguns anos ele jamais imaginaria encontrar alí.


“Você não entende.” finalmente diz, movimentando-se pelo cômodo “Isso não se trata de mim ou dos sonhos ingênuos que eu tinha quando menina, eles nem mesmo existem mais. O meu reino e todo o legado da minha família estão em jogo, tudo que meus ancestrais levaram anos para construir pode desaparecer se o meu sangue não for levado a diante. Eu sou a rainha do Norte e Lady de Winterfell, é meu dever garantir que isso não aconteça.”

“E para isso você vai sacrificar toda a felicidade que ainda pode conquistar?”

“Tyrion, eu não sou mais assim. Há muito tempo deixei de fantasiar sobre cavaleiros bonitos em armaduras douradas satisfazendo meus anseios românticos. Essas coisas não me cabem mais, eu pensei que você, de todas as pessoas, compreendesse isso. Tudo que eu preciso é de alguém que me honre, me respeite e tenha boas referências, não me imagino querendo nada além disso. Não mais.”

Ela ainda está olhando firmemente para ele, as bochechas coradas devido a eloquência de seu discurso. Pela primeira vez desde o reencontro deles em Winterfell há quase um ano, Tyrion sente dificuldade em encará-la, pois isso significava olhar também para o emaranhado de cicatrizes internas que deixara transparecer com aquelas palavras e ele não sabia se podia lidar com isso.

Quando fala novamente sua voz está calma e solene, repleta de um dose corajosa de franqueza.

“Eu quero.” Sansa voltou-se para ele, fitando-o surpresa “Houve um tempo em que eu pensava exatamente como você. O amor deixou de ser uma possibilidade e minha única ambição era me mudar para Casterly Rock, cultivar um imenso vinhedo contendo a melhor bebida já fabricada em todos os reinos e morrer numa poça do meu próprio vinho.” sorri ironicamente “Pensei que nada no mundo me faria mais feliz.”

“Quando isso aconteceu?”

“Logo depois da minha fuga de Porto Real.”

“E o que o fez mudar de ideia?” ela indaga, aproximando-se

Tyrion sorri para si mesmo.

“Sor Jorah Mormont.” responde, observando-a estreitar os olhos com curiosidade “Eu estava me refugiando em uma das cidades livres de Essos quando ele me encontrou e me sequestrou, também bateu em mim no processo, embora eu ache que tenha merecido um pouco.” riu, divertindo-se com a lembrança “Ele me fez viajar durante horas sob um sol escaldante em uma canoa que mais parecia um cubículo. Desde o momento em que pus os olhos no homem me perguntei o que o estava encorajando a fazer aquilo, as duas respostas mais prováveis eram as mesmas de sempre: amor ou ouro. Talvez os dois. Não me demorei a escolher a primeira opção.”

”Ele estava ali unicamente porque achava que me levando a Daenerys Targaryen poderia conquistar o seu perdão, durante o trajeto contraiu uma das doenças mais letais de que já se ouviu falar e embora eu só tenha descoberto isso mais tarde, olhando para trás posso afirmar que mesmo após isso ele não se arrependeu uma única vez. Sor Jorah a amou até o fim, sem exigir nada em troca e a devoção desse amor, por mais unilateral que fosse, era tão íntegra que me inspirou a voltar a acreditar nesse tipo de vínculo afetivo novamente.”

Sansa parece momentaneamente abalada com suas palavras, mordiscando os lábios com indecisão.

“Não duvido da sinceridade desse sentimento, nem de sua existência.” replica, após um momento de silencio reflexivo “Meus pais possuíam algo assim. Minha mãe sempre me contou sobre a solidez do amor que eles cultivavam um pelo outro, que não se amaram a primeira vista mas que, com os anos, construíram esse amor e não havia alma viva no mundo que olhasse para eles e afirmasse que não era verdadeiro.”

“Mas...?” ele pergunta, ciente de que havia um porém

“Mas talvez esse tipo de ligação não tenha sido feita para todo mundo.” suspira longamente “Talvez não tenha sido feita para mim.”

“Sansa, posso estar me precipitando, mas não acredito que o amor tenha um molde ao qual as pessoas precisem se adequar. Todos nós queremos em algum nível ser amados como somos. Até o próprio Joffrey, mimado e cruel como era, caiu nos encantos de Margaery Tyrell pois queria acreditar que ela o queria. Alguns de nós simplesmente temos muita pouca sorte no assunto” deu-lhe um sorriso auto-depreciativo “Mas não acho que isso seja motivo para desistir de tentar.”

Ela estava olhando-o com o semblante aberto e admirado, tão imersa em suas palavras que mal percebeu quando ele se inclinou para pegar uma de suas mãos enluvadas.

 

Sansa olhou para onde os dedos se encontravam em um torpor completo, sentindo bastante conforto com o contato.

“Se algum dia decidir tentar novamente não será porque você estará cedendo a anseios tolos ou algum senso de obrigação moral, mas porque você deseja alcançar esse tipo de realização, porque você merece isso tanto quanto a maioria das pessoas no mundo que está a procura da mesma coisa. Quero que me prometa que não vai desistir assim tão fácil.”

Leva um tempo mas entre uma olhadela e outra para onde suas mãos se tocam, ela assente fracamente.

“Não sei se posso prometer-lhe com tanta certeza” entoa baixinho “Mas sei que posso tentar.”

Ao seu lado, Tyrion sorri satisfeito e eles permanecem ali por mais alguns instantes, numa calmaria tácita, contemplando a aurora que se ergue no horizonte envolta a um brilho perolado e fugaz.


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