I Won't Give Up || SANRION escrita por Lady Capuccino


Capítulo 1
Chapter One


Notas iniciais do capítulo

Essa história é inspirada na música I Won’t Give Up do Jason Mraz. Ando pensando muito nesses dois nos últimos dias e ouvindo essa música durante todo o processo de escrita.
De alguma forma, apenas pareceu se encaixar.
Boa leitura!



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SANSA

Os ventos gélidos ondulavam ociosos em direção a fortaleza do norte, Winterfell, que se erguia austera e imponente como um castelo de gelo em meio a um rigoroso inverno. Neve caia em abundância, formando um tapete grosso e cristalino que, com toda a sua imensidão pálida, cobria grande parte do solo úmido.

Sansa Stark apertou o manto aveludado junto a si conforme os flocos de neve pousavam indisciplinados em suas vestes, sentindo o calor do ato preenchê-la de uma forma reconfortante e familiar.

Seus olhos estavam fixos no horizonte onde uma carruagem surgia em meio a densa neblina que adornava os ares nortenhos daquela manhã.

O burburinho atrás de si se intensificando conforme o coche adentrava os portões, era a primeira vez em algum tempo que o norte recebia uma visita de cunho diplomático e ela não pôde deixar de refletir que não seria a última.


TYRION

A carruagem parou lentamente conforme as rodas se embrenhavam na neve macia. Tyrion apertou os olhos em direção a Winterfell, admirado com a maneira como o céu parecia suave e solene em contraste com o lar dos Starks, um véu invernal pairando sobre a construção daquela forma particularmente obstinada que só o clima nortenho parecia possuir.

Os conselheiros reais aproximaram-se da carruagem prontos para recebê-lo e ele não pôde se impedir de apreciar a figura que os liderava.

Ventos sopram em direção A Rainha do Norte e com força fantasmagórica despojam sua cabeça do capuz prateado de suas vestes revelando um longo cabelo - tão vermelho quanto um bom vinho Dornês - cuja cor parece ainda mais acentuada em comparação a toda a branquidão do ambiente. No topo de sua cabeça, a inegável prova de sua autoridade real: uma coroa de ferro nobre - forjada para se parecer com as flores do inverno quando entrelaçadas - emprega um pouco de romantismo inocente ao seu caráter, algo que ele reconhece não passar de pura impressão. Não há sinal algum da garota que um dia ela fora, aquela que havia conhecido sobre este mesmo solo há muito tempo e com quem havia se casado poucos anos depois.

“Lorde Lannister” ela cumprimenta, inclinando-se em um breve aceno

O manto aveludado que a mantém aquecida flutua ao redor de si. Parada ali, ela parece exatamente como o lobo que ilustra o brasão de sua casa, ferozmente territorial e de uma autoridade tão íntegra que parece quase irreal. Tyrion sente uma inesperada vontade de rir com a violência de sua admiração, mas se contém.

“Majestade” ele se curva em uma reverência, levantando os olhos para ela “A realeza lhe cai bem.”

Sansa lhe lança um olhar suntuoso, injetado da mais pura determinação, ao reconhecer o elogio.

“Bondade sua, meu senhor. Mas em minha curta experiência acabei por perceber que a realeza costuma cair bem em todos aqueles que estão em posição de liderança.”

“De fato.” responde simplesmente “E você se parece exatamente como a líder que sua família sempre almejou para o norte.”

Seus lábios franzem com apenas a breve sugestão de um sorriso lisonjeado.

“É bom ouvir isso já que a maioria dos meus conselheiros estão mais preocupados em questionar minha autoridade e decisões.”

“E por acaso uma dessas decisões consiste em me receber em Winterfell?” ele pergunta, cauteloso.  

“Bem, você é um Lannister e um sulista, duas das coisas menos populares entre os nortenhos.”

Ela não é a única loba territorial da matilha, afinal. Tyrion reflete distraidamente.

“Eu aceito a culpa, mas espero poder convencê-los de minhas mais honestas intenções .” afirma, empregando o máximo de sinceridade em suas palavras

“Eu também espero. Não duvido de que conseguirá, você sempre foi muito bom em convencer as pessoas daquilo que elas menos acreditam.” diz ela, seu tom de voz emanando ousadia

“Uma arte que você também dominou, senão esses senhores não estariam aqui a minha espera.”  

Sansa deixa seu olhar vagar momentaneamente em direção aos Lordes que a acompanham, todos mantendo uma distância respeitável mas que os permite observar a interação entre ambos com ares de desconfiança e prudência. Ela exala lentamente, voltando-se para Tyrion.

“Tem razão. Mas acho que isso se deve mais ao fato de se sentirem intimidados do que convencidos.”

“Ah, sim.” exclama, sorrindo ironicamente “Difícil não encontrar um homem que não se sinta intimidado na presença de uma mulher poderosa. A cada dez de nós, nove certamente o fazem.”

“Devo presumir então que você não faz parte dessa lista?” ela pergunta com presunção

“Muito pelo contrário. Acredito que sou o primeiro dela. Mas diferente de seus lordes, o poder de um bom líder, sendo mulher ou não, inspira em mim apenas sentimentos positivos.”

Sansa sorri e dessa vez o sorriso se demora um pouco mais em seu rosto, iluminando suas feições. Ela parece estonteante.

“Vamos entrar.”

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  SANSA

“Espero que as instalações sejam do seu agrado.” Sansa diz assim que deixam a ala de hospedes de Winterfell

“São mais do que eu mereço.” ele responde sorrindo

Tinha escolhido dar o máximo de conforto que podia oferecer ao novo visitante, não apenas porque era conselheiro de seu irmão e o segundo homem mais importante dos seis reinos, mas porque realmente gostava de Tyrion Lannister. Ele era muito pouco parecido com a maioria dos homens que ela havia conhecido e que não pertenciam a sua família, todos os quais em algum momento de sua vida a fizeram passar por abusos que persistiam em assombrar os seus sonhos mais profundos. Ele era bom e gentil, assim como os nobres Starks que haviam construído o legado de sua casa.

Em algum lugar em seu íntimo ela se sentia culpada por tê-lo abandonado em Porto Real quando foi incriminado pelo assassinato de Joffrey e embora soubesse que ele não a condenava por sua conduta e que havia sido manipulada para cair nas garras de Mindinho com a fuga, ainda cultivava uma estranha vontade de demonstrar sua gratidão pelos esforços dele em poupá-la da crueldade dos outros Lannisters durante o tempo em que foram casados. Foi naquela cidade que sua vida começara a desmoronar, mas ele não tinha sido cúmplice de sua miséria.

Logo após sua acomodação nos aposentos onde ficaria para a noite, ambos seguiram para o salão principal onde uma longa discussão a respeito das relações diplomáticas entre Westeros e o norte os aguardava.

Por mais aliados que fossem os reinos, os conselheiros estavam encontrando dificuldades para fazer a aliança funcionar em um verdadeiro equilíbrio. Devido aos danos provocados pelo fogo e pela guerra, Porto Real, onde se concentravam algumas das riquezas e das valiosas fontes de sustento de Westeros, estava praticamente dilacerada e as dificuldades para reconstrui-la se mostravam cada vez mais desafiadoras afetando também a economia do norte que encontrava complexidade em importar alimento de uma região que não podia fornecê-lo.

“O clima aparenta estar um pouco mais frio do que costumava ser, se é que isso é possível.” ele diz, interrompendo seus pensamentos

“E no entanto você não parece nenhum pouco incomodado. O norte o deixa confortável, Lorde Lannister?” pergunta com genuína curiosidade

“Fui agraciado com alguma experiência sobre os invernos nortenhos durante as minhas duas últimas estadias aqui, então acho que posso sobreviver a uma terceira vez.”

Ela sente seus lábios tremerem com a vontade de rir. Tyrion nunca deixara de surpreendê-la, mesmo depois de todos esses anos.

“Muito bem, meu senhor. Você acaba de me provar que pode ser resistente ao mais rigoroso aliado do norte.”

“Isso seria lisonjeiro, se eu não estivesse falando com a própria personificação da resistência.”

Sansa sorri amargamente, demorando-se um pouco naquelas palavras.

“Nós dois passamos por muitas coisas. Mas aqui estamos, não é? E você parece muito bem.”

“Ah, sim. Nem posso dizer o quanto estou aliviado por estar enfrentando um clima frio ao invés de uma situação de quase morte dessa vez.”

Ela suspira, entre uma risada e uma respiração.

“De fato um grande progresso.” responde, encerrando a conversa conforme eles adentram o salão

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TYRION

Tyrion serviu-se de uma generosa dose de vinho inclinando-se mais sobre o criado mudo para dar uma boa olhada na numerosa papelada a sua frente, contendo os detalhes das negociações que haviam sido feitas naquela tarde. Fora relativamente fácil convencer os senhores a ceder alguns dos recursos essenciais para a reconstrução de Porto Real - como uma boa mão de obra e muitas das ferramentas que haviam sido dizimadas durante o conflito sanguinário que culminara na destruição da cidade - tudo em troca de alguma facilidade na importação de especiarias específicas do sul cujo cultivo estava estagnado, mas que por ora voltaria à ativa.

Ele reclinou-se no acento solvendo um longo gole de vinho, observando atentamente a caligrafia bem desenhada da Rainha do Norte que dava legitimidade ao acordo. Sansa fora espantosamente habilidosa naquela tarde, sua capacidade de liderança jamais deixando de surpreendê-lo. Demonstrara conhecer muito bem as necessidades de seu povo, bem como o caráter genioso de seus conselheiros, e, com igual astúcia, utilizara de um ótimo jogo de palavras e de seu vasto conhecimento administrativo recém adquirido para ajudá-los a chegar num consenso que fosse satisfatório para todas as partes.

Ele não precisara fazer muita coisa além de impor as condições prévias, pois ela é quem trabalhara para que se adequassem ao que era solicitado e fossem aceitas.

A lua já se encontrava alta no céu quando a reunião terminou e os Lordes finalmente se dispersaram. Tyrion estava apenas apanhando os papéis para se recolher em seus aposentos até o jantar, ambos conversando distraidamente sobre as diferenças entre as canções de cada região dos sete reinos, quando ela recebeu uma carta do mensageiro.

Ele pôde sentir quase que instantaneamente a atmosfera da sala tornar-se gélida com algo que não tinha nada a ver com a temperatura. Enquanto lia, observou a expressão de concentração e contentamento se diluir lentamente em seu rosto e tudo que conseguia pensar é que nunca tinha contemplado um semblante tão sério em suas feições.

Ela saíra apressada, mal olhando para ele ao se despedir e até onde sabia estava confinada em sua câmara de dormir alegando indisposição. Bem, pelo menos fora essa a desculpa que a criada dera enquanto servia o jantar no quarto, frustrando seu desejo de obter uma refeição adequada junto a ela no salão e perguntar-lhe o que a afligira de tal forma. Não queria ser evasivo, a rainha era uma mulher adulta afinal, que provara ser suficientemente capaz de resolver seus problemas sozinha, mas a verdade é que ele não conseguia deixar de ser o velho Tyrion Lannister, aquele que tinha jurado protegê-la e confortá-la perante todos os sete deuses em seus votos de casamento. Por algum motivo, esse juramento ainda importava bastante para ele, embora não ousasse ponderar o porquê.

Foi só quando a escuridão engolfou o cômodo, indicando que a última vela acabara de derreter por completo, que ele percebeu estar prostrado ali por tempo demais. Apesar disso não se sentia cansado, dormir era a última coisa da qual precisava no momento.

Levantando-se, decidiu que uma caminhada noturna o ajudaria a acalmar seus pensamentos tumultuosos, e como isso em mente deixou a solidão escura do quarto.


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