Tyrion estava deitado em sua cama, um livro lido pela metade pendendo em uma das mãos, a cabeça pesada demais para que conseguisse dormir. Sabia que se fechasse os olhos veria cabelos vermelho-sangue e olhos azuis intensos encarando-o de volta ao invés da costumeira escuridão, um efeito colateral da conversa que tivera há não mais de uma hora com a dona daquelas características que tanto o enfeitiçavam.

Ele suspirou esfregando os olhos, deixando o leito para se debruçar sobre a janela do quarto disposto a contemplar algo que não fosse os seus pensamentos enervantes.

A lua ainda persistia no céu, o sol nunca nascendo como se estivesse esperando por algo, algum acontecimento especifico, para só então ressurgir entre as nuvens e varrer o mundo com a luz que precisava para despertar de seus devaneios. As noites em Winterfell tendiam a ser longas de uma forma bastante inquietante, ele pensou distraidamente.

Uma batida o fez voltar-se para a porta, surpreso. Ainda era muito cedo para partir considerando que ele só planejara deixar o norte pela tarde. Mas os assuntos do reino nunca tinham hora para chegar afinal, então rapidamente supôs que fosse um mensageiro trazendo-lhe alguma notícia de Westeros.

Com rapidez praticada vestiu a túnica que estava sobre a cama e atravessou o cômodo para abrir a porta.

A Rainha do Norte estava parada alí, emoldurada a sua frente. Tinha abandonado o manto pesado e as luvas de couro e vestia um roupão simples de um cetim azul escuro e profundo.

"Lady Stark” ele cumprimentou, a voz vacilante com o espanto, fosse por sua beleza ou pela visita inesperada

Ela adentrou o quarto sem palavras e parou de costas para ele, como se estivesse inspecionando o ambiente. Mas por sua postura tensa, sabia que não estava.

Tyrion fechou a porta suavemente e esperou que ela falasse.

Quando o silêncio se estendeu por uma duração insuportável demais, ele finalmente perguntou. 

“A que devo o prazer de sua visita?”

Sansa se virou, aparentemente assustada com a voz. Seu rosto era um enxame de emoções e nervosismo contido, nada parecido com o semblante inexpressivo que sustentara em sua presença mais cedo, porém ainda assim, era ilegível.

”Posso servi-la uma dose de vinho?” indagou, aproximando-se
 

Ainda encarando-o, ela assentiu em concordância, sentando-se na borda da cama enquanto ele ocupava-se em encher as taças.

Quando entregou-lhe um dos copos, suas mãos demoraram-se para se afastar e isso o deixou ainda mais ansioso para saber o que ela fazia ali.

Ele já estava se acostumando a tê-la por perto.

”Eu disse que não funcionaria.” ela falou, fitando o copo como se tivesse tirado as palavras dalí

”O quê?” questionou, tomando um gole do vinho

”Eu e você. Nas criptas. Durante a longa noite.”

Tyrion sentiu a bebida descer quente pela garganta. De todas as coisas que ela poderia ter dito, aquela era mais inesperada.

”Ah sim, isso.” ele respondeu, observando-a solver um pouco do liquido “Uma ironia cruel, não é? Sua única ressalva era meu dever em relação a Daenerys, e agora que ela partiu, sua obrigação para com o norte e a minha para com os seis reinos é o que nos impede. Como eu disse, alguns de nós simplesmente não têm sorte.” sorriu de forma agridoce, apertando o copo junto a si

”Tyrion Lannister.” ela disse pausadamente, escondendo um sorriso por trás da taça “A essa altura do jogo você já deveria saber que nós é quem fazemos nossa própria sorte.”

Ele prendeu a respiração ao som das palavras, o coração batendo expectante no peito com uma emoção há muito tempo contida.

”Eu demoro a aprender e a enxergar as coisas como elas realmente são. Mas eu aprendo, eu enxergo.” sussurrou, pondo as taças de lado para entrelaçar suas mãos num aperto cálido

“Uma vez meu pai me disse que, quando chegasse a hora certa, ele me escolheria um homem gentil, corajoso e benevolente, que me honrasse e respeitasse a menina que eu era e a mulher que me tornaria e eu espero que, onde quer que esteja agora, ele saiba que eu já fiz essa escolha muito antes de sequer perceber.” ela finalmente olhou para ele, os olhos brilhando com determinação “É claro que eu espero que ele me escolha também.”

Tyrion olha para ela, momentaneamente mudo, permitindo-se apenas sentir o peso daquelas palavras tão decisivas e admirar o quão exposta ela parecia, o quão bela estava sob a luz bruxuleante das velas recém acesas.

”Minha senhora” começa, encarando seus olhos de um azul rico e intenso “Posso afirmar com toda certeza que não há nada no mundo que o faria mais feliz do que ser escolhido por você.”

Ela sorri com abandono, daquele jeito bonito e sem reservas que sempre o fascinara.

”É bom ouvir essas palavras, principalmente vindas dele.” responde, divertindo-se com sua expressão atordoada
 

Quando beija sua mão dessa vez, repetindo o ato de quase um ano atrás, Tyrion prova pele ao invés de couro. É quente e suave e ele pode sentir o sangue dela vibrar por debaixo de seus lábios como se reconhecesse o toque.

”Tem certeza disso?” indaga, esfregando o polegar delicadamente no torso de sua mão “Você já me escapou uma vez. Não corra o risco de entrar na toca de um leão novamente, Sansa Stark, pode nunca mais sair de lá.”

Seu sorriso da lugar a uma risada maliciosa.

”Bem, você é o único que está confinado no covil dos lobos nesse exato momento. Acho que sou eu quem vai prendê-lo a mim dessa vez.”

”Então, temo não ter escolha a não ser permanecer em Winterfell pelo resto dos meus dias.”

”Isso é uma promessa?”

”Se você quiser que seja.”

O beijo que se sucedeu foi doce e terno, um par de lábios imóveis unidos em uma única respiração. Embora casto, o contato era vívido e quente, inflamando-se rapidamente.

Ele ancorou os braços ao redor de sua cintura puxando-a para si, reivindicando-a por completo no momento em que um longo beijo se iniciava, alimentado com sons viciantes de respirações entrecortadas e bocas se movendo em busca de mais contato.

Tyrion a beijou profundamente como jamais havia sido beijada antes, nublando seus sentidos com o mais sincero dos desejos.

Quando finalmente se afastaram, estavam ofegantes, as testas unidas em silenciosa contemplação.

”É tão tarde agora.”

”É sim.” ele coloca um beijo em sua bochecha “Talvez devêssemos dormir um pouco.”

”Sim.” concorda, afastando-se um pouco “Eu posso... posso dormir aqui com você?” pergunta hesitante

Tyrion a encara, surpreso.

”O que foi?”

”Nada. É só que... Jamais dividi a cama com uma mulher que não estivesse sendo paga pra isso.” confessa, um pouco envergonhado

”Então ficarei contente em compartilhar esse prazer noturno com você.”

”Lady Sansa.” diz, saboreando o nome dela em seus lábios “Temo não haver prazer noturno que um homem e uma mulher possam compartilhar juntos numa cama que eu já não conheça.”

Ele a observa, fascinado, enquanto um rubor violento colore suas bochechas ao compreender o teor sugestivo de suas palavras, sentindo-se der repente muito vitorioso por conquistar aquela reação dela.

Corar era um dos últimos tópicos na lista de coisas que a Rainha do Norte estava acostumada a fazer.

”Bem, hoje você vai conhecer.”

O resto da noite é um borrão completo. Ambos deitam-se na cama embrenhados em uma confusão de membros e cobertores, abraçados um ao outro como dois mísseis a procura de calor.

Ela repousa a cabeça em seu peito relaxando enquanto ele acaricia seus cabelos distraidamente, as mãos entrelaçadas até que a exaustão os mergulhe de volta na escuridão onde dormem um sono tranquilo e sem sonhos.

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Sansa desperta vagarosamente, sentindo os raios fracos de sol lamberem sua pele pálida com o calor fresco da manhã.

Seu corpo se espreguiça dentre os lençóis, sentindo-os mais confortáveis do que de costume, o rosto ainda apoiado sobre a superfície quente e firme na qual se ancorara durante a noite.

Ela olha para cima, apenas para encontrar um par de olhos fitando-a intensamente.

”Está me assistindo dormir?” pergunta, tentando parecer irritada

Tyrion sorri lentamente.

”Estou, mas apenas porque a visão daqui é tentadora.” confessa, acariciando sua bochecha “Bom dia.”

”Bom dia.” ela responde suavemente, inclinando-se para o toque

Seus olhos voltam-se para a janela do quarto, onde a luz matinal ressurge gloriosa em meio a branquidão pálida da neve.

”Já é manhã.”

”É.”

”Os jardins de Winterfell são excepcionais para uma caminhada a essa hora, meu senhor.”

”É mesmo, minha senhora?” indaga, colocando um beijo em sua têmpora

Ela fecha os olhos, desfrutando do momento.

”Suponho que já que é tão versado nos prazeres noturnos, talvez eu deva apresentar-lhe alguns matinais.” responde de forma provocativa

Tyrion ri lânguidamente, a voz rouca denunciando que não estivera acordado por muito tempo.

”Estou contando com isso.”