Juntos por uma Eternidade escrita por CamilaHalfBlood


Capítulo 12
Capitulo 12 – A reserva


Notas iniciais do capítulo

Gente eu tenho novidades, mas eu falo no final kkkk
Vou deixar vcs lerem em paz primeiro



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Capitulo 12 – A reserva

Pov. Bella

O final de semana havia finalmente chegado, e eu ainda não havia me decidido.

Minha cabeça latejava. Realmente queria poder esquecer de tudo, mesmo que só por algumas horas.

Eu estava grata por aquilo que Edward estava fazendo. Ele tinha me dado o espaço que eu precisava durante as aulas de Biologia, pelo menos no começo. Mas depois, a única coisa que sua ausência fazia era eu me sentir ainda pior.

Via ele de longe, sempre pensando nas vantagens de ficar, mas a lista de prós era quase sempre tão grande quanto a de contras. Eu tinha medo. Medo de tomar uma decisão, medo de machucá-lo, mas ainda mais de nunca mais vê-lo.

Bufei enquanto cobria o rosto com o travesseiro. A noite de sono havia sido inquieta, cheia de pesadelos e pensamentos, mas pelo menos havia conseguido dormir.

Me levantei sem saber exatamente o que faria durante o dia, desde que fui designada não havia tido momentos de descanso. Vampiros são muito piores de se zelar do que um humano, já que não dormem ou agem normalmente. Nunca tive hobbies, tirando aqueles que eu podia fazer enquanto protegia, como ler. Mas nada passava muito além disso.

Pelo menos era algum começo: nas minhas noites em claro, pegava os livros de Charlie para me distrair, folheando e lendo. Mas todo esse tempo livre já estava esgotando minhas possibilidades, e era hora de tentar renovar o repertório.

Ali em Forks não havia nenhuma biblioteca ou livraria, a cidade era muito pequena para isso. Poderia ir até Port Angeles ou Seattle, lugares cheios de coisas para fazer e explorar. Pensando nisso, acabei levantando mais animada, com a cabeça cheia de possibilidades.

Quando comecei a me arrumar, no entanto, notei algo que me deixou incerta. Todas as roupas que eu tinha eram da ex-mulher de Charlie. Elas eram bonitas e combinavam, mas a possibilidade de Charlie ter lembranças associadas me incomodava bastante. Afinal, ele as havia guardado por algum motivo.

Então outra ideia se passou pela minha cabeça: eu podia trabalhar?

Senti a empolgação fluir em mim de novo. Essas eram possibilidades que eu nunca tinha considerado, experiências que sempre me foram impossíveis desde que nasci. As coisas ainda passavam em minha cabeça quando percebi, com surpresa, que ser humana pode não ser tão ruim afinal.

Mas isso tudo valia apenas se eu ainda continuasse em Forks.

Coloquei uma roupa leve e saí do quarto para compartilhar minhas ideias com Charlie. quando o encontrei, ele estava de costas preparando ovos para o café da manhã. Mas o que mais me chamou atenção foi sua aparência: ele estava bem arrumado, havia penteado o cabelo e suas roupas davam a aparência de uma pessoa bem mais nova.

— Bom dia – falei, me inclinando a seu lado - pra onde vai tão arrumado?

Sorri ao ver ele corar e me sentei. Charlie se arrumou na cadeira da frente, colocando os ovos no meu prato. Ter um paladar ativo era, na minha opinião, a melhor coisa de ser uma humana: o gosto era incrível, e uma sensação que eu nunca pude apreciar antes de cair.

Eu não sei como tinha sobrevivido tanto tempo sem sentir isso.

— Estava pensando em ir na reserva, ver um amigo meu – respondeu – gostaria de vir comigo? Ele tem um filho da sua idade, acho que se dariam bem.

Pensei nos planos que havia feito para o dia, e cheguei a conclusão que nenhum era tão imediato. Ainda teria o dia seguinte para realizá-los (caso ainda quisesse), além de ser bom passar um tempo com ele. Charlie era a única pessoa para quem eu não precisava mentir e isso era reconfortante.

E se eu decidisse ir embora, essa seria uma boa forma de dar adeus.

— Quando você vai?

— Em uma hora – respondeu - você vem também?

— Claro – Me levantei, pegando os pratos vazios para lavá-los – Estava pensando em começar a trabalhar, o que você acha?

— Ouvi dizer que a loja dos Newton estão procurando uma pessoa para trabalhar. Não seria um salário tão grande, mas fica dentro de Forks.

— Pode me levar lá na volta da Reserva?

“Eu apenas quero ver, isso não é uma escolha” — pensei comigo mesma. Eu constantemente tinha que me lembrar que ainda não tinha decidido nada.

— Sem problemas.

Lancei um sorriso para ele, deixando toda a louça para escorrer. Falei que precisava pegar algumas coisas antes e corri para cima.

Troquei a roupa que havia colocado anteriormente por uma roupa mais séria, já que talvez faria uma “entrevista” de emprego. Por fim, guardei um livro na bolsa por precaução de tédio e saí do quarto.

Charlie já estava me esperando quando desci novamente. Parecia um tanto nervoso, não estava muito acostumado a passar tempo com uma garota de 18 anos, ou pelo menos com a aparência de uma. Entrei na caminhonete, o motor com que já estava acostumada rugiu enquanto lutava para se aquecer no frio tão comum de Forks.

— Quem é o seu amigo? – perguntei curiosa.

— Billy Black mora em La Push, conheço ele desde criança.

— E quem é o filho dele?

— Jacob foi dono dessa caminhonete antes de mim. É um bom garoto.

— Nunca fui para La Push.

Tentei vasculhar os momentos em que Cullens haviam morado em Forks, mas nenhuma menção a uma reserva me ocorreu.

— Acho que os Cullens são proibidos lá – ele disse como se isso explicasse o porquê nunca havia ido em La Push.

Pisquei, confusa pelo motivo dele ter me contado isso.

— Por que?

— O povo que mora lá é descendente de lobos.

“Como Lobisomens?” – pensei, ainda em choque.

Eu não sabia o que isso queria dizer. Como os Cullens nunca os haviam encontrado antes? Parecia impossível que nunca tivessem sido vistos, mas eu tinha certeza que nunca os tinha encontrado antes. Não sabia nem que lobisomens existiam – mas se os Cullens eram proibidos lá, então eles deviam ter alguma noção.

Como eu não sabia disso?

— Não sei muito bem como funciona – continuou ele, vendo meu silêncio - eles não sabem o que eu sei. Foi Bernard que me contou há muito tempo.

Bernard?”— se ele sabia disso, por que havia mantido segredo? E como ele sabia disso?

— E lá é seguro? – perguntei, por fim.

— Fique tranquila. Sempre fui lá e nada nunca me aconteceu e, de qualquer forma, não é como se eles pudessem te machucar.

— Não sei mais. Meus poderes já não são os mesmos. – falei, desviando o olhar a paisagem do carro.

— Já sumiram? – perguntou preocupado.

— Não, mas é como se eles estivessem travando. Um momento estão muito fortes e logo depois é como se eu fosse humana – abaixei minha voz – na verdade, eu não sei se consigo entendê-los mais. É como se eles estivessem mudando.

— Isso não é bom. Seus poderes são a nossa linha de defesa contra o Veneno, se você estiver fraca eles virão para Forks.

Pisquei surpresa. Eu havia, de fato, contado para Charlie sobre o veneno. Mas não lembro de ter dito como eles funcionavam, estava com receio que ele ficasse bravo comigo por trazer perigo para sua cidade. Provavelmente ele já estava ciente disso, quando me deixou entrar em sua casa.

Não sabia que Bernard havia contado tanto a ele dessa forma. Ele podia até saber mais do que eu sabia, já que aparentemente Bernard estava guardando muitos segredos de mim.

— O quanto você sabe, Charlie? – perguntei séria. Ele se remexeu, incomodado, então percebi que havia chegado em um ponto em qual nossa relação não podia ir além.

— Apenas o que Bernard me contou. – disse, sem me olhar.

Me senti realmente mal por isso. Pensei que deveria ter ficado em casa e evitado essa situação. Era claro que eles guardavam segredos: embora eu tenha contado tudo para Charlie, ele não tinha essa mesma confiança em mim.

— Ele disse algo sobre os meus protegidos?

— A família Cullen? Eles são vampiros, certo? – Sua voz era indiferente, mas havia uma entonação de curiosidade que o entregava – Você não sabia?

— Sabia... – falei, presa nos meus pensamentos.

Bernard havia contado muito mais do que eu esperava. Senti uma pequena irritação, os segredos não eram dele para contar. Mas mesmo assim, estamos aqui e Charlie parecia saber muito mais do que eu.

Se por acaso Edward visse, na mente de Charlie, que ele sabia, eles definitivamente sairiam do país. Não podia correr os riscos, teria que manter Charlie e Edward o mais longe possível um do outro.

— Como os Cullens não sabem sobre você?

— Já encontrei um Cullen ou outro durante esses anos, mas sei guardar segredo. O menino deles deve achar que eu penso muito em futebol. – ele riu um pouco, mas eu ainda me sentia muito incomodada para achar aquilo engraçado. Ele devia ter percebido isso, já que limpou a garganta. - Pode confiar em mim, nunca contei a ninguém e não pretendo contar.

Mordi a língua, evitando a resposta que gostaria de dar.

“Do mesmo jeito que confiam em mim?”

— Certo – falei, voltando a olhar para a paisagem.

— Tudo bem – Eu havia mentido descaradamente. Ele parecia ter percebido desse fato, pois ficou quieto pelo resto do trajeto e eu não tentei continuar nossa conversa.

A casa em qual paramos não era exatamente como eu previa que seria. Era uma pequena casa de madeira com janelas apertadas, com a pintura fraca e desgastada que a deixava parecida com um celeiro. A cabeça de um garoto apareceu na porta, antes mesmo de que eu pudesse sair da caminhonete. Sem dúvida, o barulho familiar do motor o havia alertado.

Ele parecia ter dezesseis, talvez dezessete, e tinha cabelo curto. Sua pele era linda, sedosa e com uma cor saudável, até um tanto mais bronzeada do que o normal. Seus olhos eram escuros, bem posicionados no alto das maçãs bem-feitas do seu rosto. Ele tinha só um pouco de infantilidade que havia permanecido no seu queixo. No geral, um rosto bonito.

E vindo de alguém que havia convivido com vampiros de aparência perfeita a vida toda, aquele era um elogio muito bom.

— Ei Charlie, como vai? - Ele disse, depois olhando para mim e sorrindo.

Analisei por um momento, me perguntando se ele era um dos lobos que Charlie havia dito. Ele parecia forte e era bem alto também, mas talvez aquilo não significasse nada, eu sabia praticamente nada sobre essa nova espécie para chegar em alguma conclusão, e duvidava que os filmes estivessem certos para me basear neles.

— Oi Jacob. Esta é Bella, minha sobrinha. Por que você não mostra o lugar para ela? Tenho algumas coisas para conversar com Billy.

Observei, pelo canto do olho: ele tentava não insinuar a minha ausência. Mas sua escolha de palavras havia sido muito reveladora, mesmo sem um tom maldoso.

— Tudo bem. – ele se virou animado, sorrindo largamente – Vamos, Bella?

Me despedi de Charlie com um aceno, seguindo Jacob pela calçada.

— Então Bella é apelido de que? – perguntou ele quebrando o silêncio.

— Isabella. Mas não gosto do meu nome. Não me chame assim. – alertei.

— Por que?

— Não acho justo alguém escolher o meu nome, ainda mais se for alguém não o merece, então meu nome é Bella.

— Você deve realmente odiar essa pessoa.

Olhei para a casa, onde Charlie havia sumido há minutos atrás. Ela parecia silenciosa, mas sabia que algo estava acontecendo lá dentro. Quando ela saiu de minha vista, suspirei pesadamente e me virei para Jacob.

— O que acha que Charlie tem tanto a falar com Billy? – perguntei, sobre aquela conversa na qual não queria me aprofundar.

— Para falar a verdade, não faço a menor ideia. Eles são amigos há muito tempo, mas o que podem esconder afinal?

Ele seria capaz de contar o meu segredo?”— mordi o interior da minha boca contemplando o pensamento. A conversa no carro havia me abalado mais do que eu gostaria de admitir.

— Não sei – suspirei – Pra onde nós estamos indo?

— Você vai ver.

— Você não tá me sequestrando, né? – falei brincando fazendo-o rir ruidosamente.

— Não seja absurda, Bella - exclamou - Então o que Charlie é para você, exatamente? – evitei uma careta por lembrar dele novamente. Era quase irônico pensar que horas antes nossa relação era totalmente diferente.

— Ele é meu tio, meio-irmão da minha mãe.

—  Não sabia que Charlie tinha uma irmã.

— Minha mãe não é muito chegada à cidade pequena. - falei automaticamente - Além do mais, eles são meio irmãos, não foram criados juntos.

Pelo menos isso era verdade. Eu agradecia a Charlie por ter feito uma historia com tanta base na verdade de sua vida. Eu preferia não mentir para Jacob, ele parecia realmente uma pessoa legal, mas sabia que não tinha escolha.

— Então por que está aqui? Não tinha outro parente com quem ficar?

— Gosto de Charlie e não, nunca conheci ninguém além dele.

Gostaria de poder dizer o mesmo de Klaus. Ele era o único parente que eu conhecia, mas era uma das pessoas que eu mais odiava. No Paraiso, eu tinha apenas Bernard, aqui na Terra, havia Charlie, mas nenhum dos dois realmente confiavam em mim, e as pessoas que eu mais me importava, nem ao menos me conheciam.

Eu estava mais sozinha do que imaginava.

— Chegamos – indicou ele, me tirando dos meus pensamentos.

A visão que estava a minha frente era de tirar o fôlego. Era um penhasco, a altura não era tão grande como eu gostaria, mas nada poderia tirar a beleza daquela visão. As ondas batiam lá embaixo contra as pedras, e o vento ecoava muito fortemente. Fechei os olhos, sentindo aquela sensação.

Era quase como se eu estivesse voando, mais uma vez.

— Aqui é lindo.

— Eu sei, eu e os garotos pulamos daqui de vez em quando.

— Podem me chamar na próxima? – falei rapidamente, ansiosa para fazer aquilo, se aquela sensação já era incrível, pular dessa altura devia ser maravilhoso.

— Você não tem medo de altura? É uma longa queda.

— Isso não me incomoda, acredite. - falei sorrindo comigo mesma – Vamos nos sentar?

Eu fui até a beirada e me sentei ali, colocando minhas pernas em queda. Um movimento e eu cairia para aquele mar ruidoso, e meus nervos se contorceram ansiando por aquela sensação.

— Você realmente não bate bem. – disse, quando sentava ao meu lado.

— Como são seus amigos? – perguntei.

— Somos um grupo de 8 pessoas. Não somos um grupo tão comum, mas eles são legais depois que você conhece. Devo muito a aqueles caras, só não diga que eu falei isso, seria vergonhoso e seria zoado eternamente – ele riu - E os seus, o que há de melhor fora dessa reserva?

— Eu não tenho muitos. – Confidenciei, desviando o olhar de seu rosto, envergonhada.

— Nem na sua antiga casa? – perguntou.

— Lá sim, ela se chamava Bree. Ela era diferente, sempre tão animada e positiva com tudo. Ela nunca ligou para o que as pessoas diziam de mim, era uma das únicas que me via como eu realmente sou.

Senti a saudade apertar no meu peito, pareciam que há décadas eu não a via. Embora, de verdade, tenham passado apenas duas semanas.

— Ela parece incrível. – disse ele, percebendo meu estado de espírito.

— Ela é. – sorri minimamente.

— Bella, às vezes você podia tentar, sabe. Devem ter pessoas legais em Forks também. Não tão legais como eu, claro, mas acho que dá para o gasto. – ele sorriu, batendo seu cotovelo em mim - Antigamente eu também era meio sozinho. Mas quando eu me entendi comigo mesmo, entendi verdadeiramente quem eu sou, as pessoas passaram a aparecer. É só questão de descobrir.

— Mas e se eu não for feita para ter amigos? – sussurrei olhando para ondas - Eu não acho que eu mereça isso.

— Bom, um você já tem, então acho que essa possibilidade não é viável. – ele disse, me fazendo dar um pequeno sorriso - Teve uma época que... eu tinha medo, muito medo de destruir tudo em volta de mim. Não faz muito tempo, para falar a verdade.

— O que você fez?

— Eu tentei – ele virou o rosto para o mar – O medo nunca foi embora. Ainda sinto que pode ser por um fio, mas eles me ajudaram a me segurar melhor nele. O medo não pode reger nossa vida.

Pensei por um minuto no que ele estava falando. Eu não sabia do que ele podia ter tanto medo, mas vi que isso era algo que o preocupava. Talvez aquilo tudo de Lobo fosse mais perigoso do que Charlie passava.

Mas não foi isso que me chocou, realmente, mas sim que ele parecia saber exatamente o que eu sentia.

Conseguia ver a verdade em suas palavras. Afinal, eu podia estar sozinha aqui, mas era por uma escolha minha. Por medo do que aconteceria no futuro, por um sentimento tão simplório como o medo, e se eu realmente pudesse ficar perto de Edward, ser amiga dele, poder fazer memorias, ter alguém.

Isso parecia muito mais do que eu merecia.

A vida humana na terra podia ser viável para mim? Talvez, só talvez, eu pudesse realmente passar por tudo isso. O veneno nunca me encontraria, e eu poderia viver aqui, ter um futuro, sem ser uma sombra, deixar pegadas onde eu for, e ser importante.

Eu queria aquilo. Com todas as minhas forças. Por isso, não havia conseguido decidir nada. Não por medo de ir, mas por esperança de ficar.

Senti meus olhos se encherem de lágrimas, e abracei Jacob. Ele pareceu surpreso e ficou paralisado por alguns minutos, mas retribuiu o gesto um tanto envergonhado.

— Obrigada, Jacob. – Sorri verdadeiramente. Havia passado tanto tempo em meus próprios pensamentos que, tendo aquela conversa com ele, já havia aliviado meu estresse.

E eu me senti realmente ansiosa pela segunda-feira.

— Acho melhor voltarmos – disse ele, enquanto eu me afastava.

— Certo.

Olhei uma última vez para a passagem. Era tão encantadora que eu sentia que poderia ficar ali por séculos. Tentei guardá-la em minha memoria, cada pedaço, marcá-la como uma promessa.

— Você realmente precisa me chamar na próxima vez que houver o pulo. – falei, maravilhada – e faça acontecer rápido.

— Eu te aviso. – respondeu – Prometo.

Segui pela trilha, preenchendo o silêncio com minhas perguntas: descobri que ele tinha duas irmãs, ambas na faculdade, Rachel e Rebecca. Não toquei no assunto dos lobos, mas minha curiosidade borbulhava pra saber sobre algo tão desconhecido.

Logo a casa de Jacob apareceu na minha visão, tão quieta agora quanto há uma hora atrás.

Quando entrei, me surpreendi com a quantidades de adultos que havia naquela casa. Eram cinco, no total, e apenas pude reconhecer Charlie entre todos. Nunca os havia visto antes. Me perguntei se algum deles era um lobo. Em sua maioria, todos pareciam ter a idade de Charlie, mas havia um que se destacava, já que era o mais novo da sala. Parecia ter cerca de 19 ou 20 anos. Jacob logo se adiantou e foi em sua direção.

Todos no recinto conversavam e não pareceram perceber a intromissão.

— Isabella – me chamou Charlie – Jacob foi um bom guia? Gostou do lugar?

— É lindo – respondi – Obrigada por me trazer.

A única mulher do grupo se adiantou, tocando de forma muito natural o ombro de Charlie. A maneira como Charlie sorriu envergonhado me fez lembrar da maneira que ele tinha ficado hoje, de manhã.

— Você é a Isabella, certo? Sou Sue. – ela estendeu a mão, que eu logo aceitei – Que bom que tem alguém cuidando desse menino. Não sei como ele ainda está vivo.

— Sou. – sorri - Vocês estão juntos?

Vi Charlie corar em minha frente, enquanto Sue abria um sorriso tímido. Ele não parecia saber o que responder, passando o olhar de mim para Sue. Ri com seu comportamento.

— Somos amigos, querida. – respondeu Sue por fim.

— Vamos, Bella? – perguntou Charlie embaraçado – temos que passar na loja antes que ela feche.

Com todos os acontecimentos do dia, eu havia esquecido completamente da procura por um emprego.

— Vou me despedir de Jacob. – respondi, já indo em direção a ele.

Ele e o adulto mais novo pareciam estar em uma discussão. Peguei apenas pequenos trechos como “Você não pode ter apenas aceitado”, fazendo a minha curiosidade se atiçar. O que quer que Charlie havia feito ali, parecia que tinha causado problemas.

— Hey Jacob – chamei. Ele se virou para mim, rapidamente, mas parecia estar bem irritado. Suas mãos estavam apertadas em punhos e ele parecia tremer um pouco. – Já estou indo.

— Vai fugir tão fácil assim, Bells? – brincou ele – Esse é o Sam, amigo meu.

O adulto mais novo, Sam, acenou para mim e se afastou, sem nem ao menos me dar tempo de responder. Pisquei estranhando seu comportamento, Jacob era tão amigável que parecia estranho seu amigo agir daquela forma.

— Eu... Atrapalhei alguma coisa?

— Não, nós brigamos, só isso. – disse ele olhando o amigo – Venha me visitar, estarei esperando!

— Tudo bem.

Me afastei. Procurei por alguns instantes Charlie. Quando o vi, conversando com Sue, fiz um sinal de que iria esperar do lado de fora. Então, saí da casa.

Me apoiei na caminhonete, suspirando e esperei.

O inesperado sol estava em Forks há quatro dias, um recorde com toda a certeza, algo tão diferente do frio que era comum naquela região. Particularmente gostava mais do frio, tinha convivido com ele toda a minha vida, mas mesmo assim a forma com que o sol batia na vegetação verde de Forks era lindo. Estiquei a mão tocando a luz.

Paralisei.

Era uma sensação estranha, mas aconchegante e quente, dei um passo a frente fechando os olhos, apenas sentindo minha pele se aquecer com os raios do sol. Parecia tão estranho, mas ao mesmo tempo tão certo.

O calor.

Minha resistência ao clima se foi.

Cada dia era mais Bella, a humana. Mas incrivelmente, isso não me deixou preocupada ou triste. Por um lado, estava feliz.

Com a minha decisão de ficar, aquilo parecia ótimo. Eu queria que minha vida ali desse certo, e meus poderes não faziam parte disso mais.

— Isabella? – ouvi a voz de Charlie – Tudo bem?

— Não é nada – falei, rindo, seguindo-o para dentro do carro e esperando a arrancada.

— Quem eram aqueles na cabana? – perguntei quando o carro começou a se movimentar.

— Eram os “Líderes” da reserva, antigos lobos e chefes de matilha, Jacob é um lobo também – Assenti, já tinha desconfiado desse fato. Quando o abracei no penhasco, havia percebido sua pele estranhamente quente.

— Porque você convocou uma reunião? – mordi o lábio, enquanto esperava sua resposta. Ele pareceu ponderar por uns instantes antes de voltar a falar.

— Sei que está brava comigo Isabella, mas espero que entenda que o segredo de Bernard é dele. Não posso contar, mas posso esclarecer uma parte do que está ocorrendo – disse ele. Eu apenas esperei pela continuação.  - Bernard me deixou uma carta ontem, me instruindo a fazer algumas precauções. Tive que pedir esse favor para os lobos da reserva e, como eles não sabiam que eu e você sabíamos, achei melhor você não participar da conversa. Mas agora eles sabem que eu conheço, pelo menos.

— O que está acontecendo? Tem algo haver com o Veneno? – perguntei por fim.

— Não sei ainda. É complicado, nem sempre Bernard me conta tudo o que ocorre, mas parece que tem algo ocorrendo em Seattle. Por favor não vá para lá, vamos tentar manter a distância do problema, certo?

Olhei para ele, procurando sinais, mas vendo a verdade em suas palavras, suspirei assentindo.

— Queria que Bernard confiasse em mim. – falei, por fim – Ficarei longe de lá, mas por favor não me deixe no escuro.

— Certo. – senti um peso ser tirado. Gostava de Charlie e aquela situação estava me abalando mais do que esperava. - Por que você não conta para os lobos sua identidade?

Sua pergunta me pegou de surpresa. Além do próprio, nunca tinha considerado contar meu segredo a ninguém. Era grandioso e problemático demais. Havia gostado de Jacob e ele já estava envolto no mundo sobrenatural, mas isso ainda não me parecia certo. Se fosse por essa lógica poderia contar dele para os Cullens também, e isso não era uma opção.

— Não os conheço muito e, se possível, é melhor deixar o círculo desse segredo o menor que pudermos. – respondi, lembrando-me dos poderes de Edward e como seria fácil ele conseguir ler a mente dos lobos. – Você quer que eu conte?

— Não, foi só uma sugestão. – disse ele – Assim, você poderia participar das reuniões como hoje.

— Vou pensar – respondi. Se essa fosse a única maneira de me manter informada, então teria que ceder. – É isso que Bernard pede normalmente para você?

— Não, – ele sorriu – eu só ajudo quando vocês caem. Bernard apenas me fala o nome do lugar e como chegar lá.

— Como assim?

— Mesmo que os outros anjos tenham proteção quando escolhem cair – começou ele – Para viver aqui na terra, aparecer aqui sem memória, sem dinheiro, sem ninguém para ajudar é... complicado. Normalmente, eu ajudo todas essas pessoas.

— Então eu... Não sou a primeira?

— Você é a primeira que se lembra de lá.

— O que acontece com eles?

— Eu tenho alguns contatos. Se é um anjo muito novo, eu o levo até um internato que eu conheço fora da cidade. Se tem idade para trabalhar eu arrumo algo e encaminho para algum lugar.

— Isso é incrível.

Pensei em Bernard. Me intrigava a maneira como ele passava por cima das leis da redoma de uma forma tão fácil. Se comunicar com humanos não poderia ser possível, mas ali estava Charlie. Parecia conhecer tão bem Bernard quando eu, ou até mais em algumas questões. Ajudar os caídos era para ser proibido também, era uma das coisas que a Redoma fazia apenas para evitar que isso acontecesse com muita frequência. Eles até podiam esconder você do veneno, mas sua ajuda não passava disso. Nada de proteção contra desalmados, muito menos ajuda na Terra.

— Como você e Bernard se conheceram, Charlie? – perguntei percebendo que não sabia desse fato.

— É uma história um tanto deprimente. – ele riu, um pouco sem emoção – Eu tive uma filha. Quando ela fez dez anos, ela... Morreu afogada.

— Minha esposa estava com ela na hora, mas não conseguiu salvá-la. Ela se culpou pela morte e se suicidou duas semanas depois. Eu não fiquei muito bem, e Bernard apareceu. Achei que Deus havia vindo para me levar também, mas então era só um homem na minha frente, me dizendo que minha filha estava bem, que estava em outro lugar, e que eu poderia ajudar que o mundo que ela pertence ficasse seguro.

— Eu achei que estava louco. Mas aí as cartas começaram a chegar. E os pedidos. Acho que eu só acreditei mesmo quando ajudei a primeira pessoa.

— Eu só estou aqui hoje por ele. – ele terminou – Bernard me deu algo para fazer em minha vida, um objetivo.

— Sinto muito pela sua família. – Falei – Como era o nome da sua filha?

— Britanny. Ela era a cara da mãe, tinha até mesmo o mesmo temperamento. – ele riu – Você me lembra ela. Acho que vocês seriam grandes amigas.

— Tenho certeza que sim. – sorri com ele.

Olhei para Charlie. Ele parecia triste, mas continuava ali, firme e forte, tentando depois de ter passado por tanto sofrimento. Admirei sua força, e fiquei verdadeiramente feliz que ele tinha Sue. De todas as pessoas, ele merecia ser feliz.

— Chegamos! – Declarou. Olhei nervosamente para ele, limpando minhas mãos na calça. Com a conversa, tinha me esquecido do destino que estaria me esperando – Sem compromisso. Só pergunte sobre o cargo e relaxe.

Assenti, repetindo suas palavras mentalmente para não esquecer. Abri a porta do carro e respirei funda.

— Isabella – falou ele, me fazendo virar – Boa sorte.

Como tudo em Forks, a loja também era pequena. A hera subia pelas paredes se juntando a coloração amarelada da loja. Com um letreiro na parte superior que marcava “Loja de Camping” em letras grandes e coloridas que se destacavam. Em sua frente, havia algumas canoas apoiadas no lado da loja.

Quando entrei, a porta fez aquele comum barulho de sino. Vi Mike, parado do outro lado da bancada. Assim que ele me viu, sorriu esperando me aproximar.

— Bella, está me seguindo? – brincou.

— Charlie disse que estão procurando um empregado aqui, e bom, aqui estou eu. – esclareci nervosamente.

— Ah, claro – disse, soando um pouco desapontado. – Vou chamar minha mãe.

Ele cruzou uma porta, localizada na esquerda, e sumiu de vista.

Minhas mãos suavam e tive que limpá-las uma vez na calça. Já me perguntava se aquilo realmente tinha sido uma boa ideia.

— Pode entrar – disse, depois de ter voltado.

Segui pela porta até o corredor.

A encontrei nos fundos do lugar, em uma sala clara, mas extremamente apertada. Em sua mesa havia diversos papeis, todos empilhados e desarrumados.

A mãe de Mike parecia muito com ele – tinha o mesmo rosto redondo e as mesmas feições já conhecidas por mim, a única diferença gritante era apenas sua altura. Ela era bem mais baixa do que o filho. Assim que me viu, sorriu e levantou.

— Olá, Bella – disse ela, estendendo sua mão, que eu logo aceitei - meu filho me disse que você veio para a entrevista de emprego?

— Sim, de recepcionista.

— Você já trabalhou antes em alguma área?

— Não, vai ser o meu primeiro. – respondi prontamente.

Eu duvidava que ela considerasse minha experiência de proteção, como algo que pudesse colocar em meu currículo.

Ela continuou com suas perguntas, e a cada uma eu ficava mais insegura. Eram muitos “Não” e poucos “Sim”, mas continuei tentando mostrar tranquilidade e não tirei o sorriso do rosto.

Ao fim do que parecia uma eternidade, ela parou as perguntas anotando em seus papéis. Tentei olhar para ver o que a mesma escrevia, mas estava fora de meu alcance.

— Você poderia começar na segunda? – perguntou, por fim, me observando calmamente.

— Claro – sorri para a mesma – Então, estou contratada?

— Bem vinda. – ela esticou sua mão e eu apertei confiante - Na segunda, decidimos toda a sua papelada.

— Obrigada, Sra. Newton!

No dia seguinte, desisti de ir a Port Angeles. Passei o dia inteiro utilizando o Charlie como uma fonte de informações de como devia me portar e o que fazer em todas as situações possíveis. Separei uma roupa que parecia apropriada para a ocasião, embrulhando-a em uma sacola plástica, para evitar que se molhasse. Coloquei ela no fundo da bolsa da escola, podendo então ir direto da escola para o trabalho.

Charlie e eu não voltamos a tocar no assunto de Bernard.

Mesmo que me incomodasse, era melhor garantir uma boa convivência, e estava funcionando. Me sentia realmente relaxada perto de Charlie, e ele parecia mais à vontade com a minha presença.

Fim do Capitulo 12.


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Notas finais do capítulo

PESSOAS, eu (finalmente) tenho um beta
Cara vcs nn sabem como isso me deixou feliz, ele não vai mexer no texto em si, mas vai revisar tudo para mim, o que já é um alivio muito grande.
2 dias para um novo cap foi rapido né? kkk eu tava um pouco inspirada, mas com a volta da faculdade talvez demore mais um pouco daqui em diante (sorry ;-;)
Vcs podem se acostumar com caps grandes agora viu kkk
Bom era só isso msm
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