Juntos por uma Eternidade escrita por CamilaHalfBlood


Capítulo 13
Capitulo 13 – Recomeçar


Notas iniciais do capítulo

Opaaaa, mais um capitulo, aquele que finalmente as coisas começam a se encaminha :3
Espero que gosteem



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Capitulo 13 – Recomeçar

Pov. Bella

Assim que acordei, senti que algo estava errado. Um enjoo muito forte abalava meu estômago, me fazendo querer vomitar toda vez que tentava levantar. Devagar, me retirei da cama, aproximando mais de mim o cobertor.

Fiquei ali em pé por um minuto tentando respirar, enquanto meu estômago se contraía, tentando se livrar do restante da minha janta.

Minhas mãos tremiam e uma camada de suor cobria minha pele. Sentia como se meu corpo estivesse pegando fogo, meus músculos doíam de forma intensa, tão forte que quase não conseguia me manter em pé. Mesmo assim, tropecei para fora do quarto, utilizando a parede como apoio.

— Charlie – chamei, batendo na porta. Minhas pernas começaram a perder equilíbrio e balança. Tentei me segurar na parede, mas também já não tinha forças para isso. Pisei em falso e tombei no chão.

— Meu deus – senti a voz de Charlie ao meu lado, mas já não conseguia mais abrir os olhos – O que aconteceu?

Tentei responder, mas a única coisa que saiu foi um grunhido. Senti Charlie erguendo o meu corpo, a pele de Charlie parecia extremamente fria comparada a minha.

— Você está queimando em febre – ele arfou.

Logo, senti uma superfície macia, e algo gelado na minha testa. Instantaneamente a dor se alastrou, mas depois aos poucos foi melhorando, pelo menos no local. Todo o resto ainda ardia em chamas.

— Estou ligando para a ambulância, Bella – disse Charlie segurando minha mão – Vai ficar tudo bem.

— N-não. – baubuciei – Banho.

— O que?

— B-banho.

Dessa vez ele pareceu ter entendido algo. Senti ele me pegar no colo novamente, agora com mais facilidade que a primeira vez.

A água gelada bateu como um choque. Gritei e tentei me soltar dele, grunhindo de dor. Ela era tanta que sentia como se meu corpo inteiro queimasse de fora para dentro. De pouco a pouco, minha pele foi se acostumando com a temperatura. Fiquei ali tremendo em baixo da água gelada, até Charlie pegar uma toalha para eu me secar.

Quando ele voltou, já estava um pouco melhor. Consegui, com algum esforço, me levantar e com sua ajuda voltar pro meu quarto.

— Está melhor? – ele me perguntou, enquanto me colocava na cama.

— Água – pedi, minha voz saindo rouca.

Ele assentiu, saindo do quarto. Enquanto esperava sua volta, me levantei com dificuldade, trocando a roupa molhada. Parei e me olhei no espelho. Mesmo que minha febre estivesse melhorando, ainda tinha algo estranho.

Minha pele parecia mais branca do que o normal, até um pouco doentia.

Suspirei.

Coloquei minha mão por cima da garganta, ela era a única parte que ainda doía. Pouco, mas o suficiente para incomodar. Devia ter se inflamado com meus gritos.

Fechei os olhos enquanto me concentrava, forçando a cura do meu lado anjo funcionar. Normalmente ela se curaria sozinha, mas nada aconteceu.

“Quase humana” — pensei, comigo mesma.

Aos poucos a dor foi sumindo. Olhei no espelho novamente, e com alívio percebi que minha pele estava voltando ao normal. Não tinha utilizado meus poderes para fazer isso, mas aparentemente a água-light devia ter ajudado nisso também.

Uma sensação que eu não me lembrava se apossou de mim. De normalidade, talvez. Fazia tanto tempo que não usava meus poderes que havia esquecido daquela sensação.

Mas eu com certeza não me recordava de como a água-light era forte, como ela parecia subir por mim como se estivesse feliz por ser utilizada novamente.

Suspirei.

— Como você está? – Charlie perguntou, me entregando um copo de água

— Um pouco enjoada – falei, aceitando e tomando toda a água em apenas um gole. – Mas estou melhor, agora.

— O que acha que pode ter sido?

— Não sei – suspirei – algum vírus? Quer dizer, eu nunca fiquei doente antes, nunca tomei vacina ou remédio. Posso estar suscetível a tudo isso agora.

— Talvez. – ele se sentou ao meu lado - Ainda acho que seria melhor te levar ao médico, ou que você fique em casa por um tempo.

Não consegui evitar uma careta. Normalmente eu não achava tão ruim assim faltar a escola, mas hoje eu tinha um motivo importante para ir.

Edward.

Agora que eu tinha decidido ficar, eu precisava falar com ele. Pelo menos me desculpar pela maneira como eu tinha o tratado.

Mas isso não aconteceria se faltasse na escola.

— Já estou bem. – garanti – Se acontecer de novo, vou ao médico, pode ser?

— Promete? – ele disse– Está bem mesmo para ir à escola?

Sorri para ele, e o ato fez uma nova onda de dor passar pelo meu corpo. Mas não deixei isso transparecer.

— Claro – dei de ombros - Foi apenas uma febre pequena.

— Não vou te obrigar a nada – ele suspirou e se levantou, andando até a porta – Vou fazer seu café da manhã. Descanse um pouco mais antes da escola, tudo bem?

Assenti enquanto me deitava. Minhas pálpebras pesavam e o sono veio intensamente.

Sonhei... Com árvores. Algo muito estranho.

Já estava acostumada com os pesadelos, com toda aquela morte que acompanhava minhas noites.

Mas dessa vez, foi um sonho normal. Incrivelmente bom. Bernard estava lá, e acariciava meus cabelos enquanto eu estava deitada em seu colo. Ele sorria e olhava o céu com um sorriso relaxado.

Nem ao menos havia se passado uma hora quando voltei. Charlie me chamava, balançando-me com cuidado.

— Pode continuar deitada. – ele disse – Trouxe seu café da manhã.

— Que horas são? – perguntei, me apoiando na cabeceira da cama e coçando os olhos.

— 6 da manhã.

— Me desculpa. Tirei sua noite. – falei, enquanto pegava uma xícara para tomar o café que ele tinha trazido.

A sensação de sono era estranha para mim. Nunca tinha sentido antes, normalmente era apenas um cansaço. Algo que uma ou duas horas acabavam por suprir. Era instantâneo depois disso, Bernard sempre havia dito que nós não dormíamos de fato, mas nos desligávamos da água-light.

E agora eu entendia o que ele queria dizer. Aquilo com toda certeza não era algo que eu tinha sentido antes.

Pisquei os olhos, tentando acordar. Tomei o líquido forte e fiz uma careta, fazendo Charlie rir. Ele pegou minha xícara, colocou açúcar e leite e mexeu o conteúdo com uma colher.

— Estou sem sono. – ele mentiu, suas grandes orelha entregando o quão cansado estava – tenta ir devagar, se acostumar com o gosto leva tempo.

Voltei a tomar o líquido. O gosto ainda não era tão bom para mim, mas agora estava mais suportável e no fim percebi que não era tão ruim assim.

— Melhor – sorri para ele.

Charlie se levantou, colocando a bandeja de comida ao meu lado. Ele havia trazido junto com o café mais duas torradas com geleia de morango, algo que eu havia passado a apreciar para o café da manha.

— Estou um pouco atrasado. – ele olhou nervosamente para o seu relógio de pulso - Vai ficar bem para dirigir?

— Estou ótima – falei. A dor e o enjoo de algumas horas atrás já haviam passado. – Não precisa se preocupar.

Ele assentiu, trocando o peso de um pé para o outro em um ato de nervosismo. Vi ele estender a mão, evidenciando um pequeno aparelho para mim.

— Quero que fique com isso.

— Mas esse é o seu.. – o encarei, confusa.

— Eu sei. – ele suspirou – Se quiser, podemos ir no final de semana para Port Angeles comprar um novo para você. Mas por hora, quero que você fique com o meu, para caso aconteça alguma coisa.

Ele se aproximou, mostrando-me seu celular e como operá-lo. O modelo era um completamente diferente do que os Cullens acostumavam usar, mais antigo e parecia mais velho que eu.

— Esse é o número de casa – ele mostrou – e aqui está o número da delegacia.

Pisquei, entendendo o que ele queria dizer.

— Eu ligo se acontecer alguma coisa. – prometi, sorrindo.

Ele assentiu constrangido, mas pareceu satisfeito.

— Estou atrasado. – ele sorriu – Boa escola.

Agradeci o mesmo, segurando o pequeno celular em minha mão.

Vi ele sair do quarto. Sorri com seu pequeno ato de afeto e voltei a comer.

Charlie me lembrava de Bernard. A forma que os dois tinham de se preocupar era parecida, mas Charlie ficava muito mais envergonhado.

Dessa vez, quando as aulas começaram, não estava no telhado. Esperei encostada no capô, enquanto dividia minha atenção com a chegada das pessoas e a leitura em minhas mãos.

Vi um Volvo entrar pelo estacionamento. Guardei meu livro na bolsa, sentindo minhas mãos tremerem. Quase ri do meu próprio nervosimo, afinal: era apenas Edward, certo?  Não havia motivos para aqueles sentimentos.

Quando Edward saiu do carro junto com a sua família, fui em sua direção. Todos os Cullens olharam para mim ao mesmo tempo. Não tinha certeza, mas podia sentir os olhares das outras pessoas também. Meus passos se tornarem mais incertos, incomodada de ser o centro das atenções.

— Bom dia – falei para eles, sorrindo. A reação de cada um foi como o esperado: Rosalie me ignorou e Jasper estava indiferente, já Alice sorriu calorosamente e Emmet soltou uma risada ruidosa. Mas não me deixei enganar pelas aparências: Jasper mordia o lábio, quase invisível, indicando o quão intrigado estava, e todos estavam mais ou menos apreensivos. – Posso falar com você, Edward?

Olhei. Ele parecia surpreso com a minha atitude, mas eu não sabia como poderia abordá-lo sem causar constrangimento. Não queria esperar até a aula de Biologia para ficarmos sozinhos, se ele ainda fosse para a aula.

— Certo – falou, se adiantando. Libertei o ar que nem ao menos sabia que estava prendendo.

Seguimos, juntos, em direção ao meu carro. Não olhei para ele durante o caminho, mas sentia que ele me encarava.

— Eu aceito. – Falei de uma vez, me atrapalhando com as palavras.

— Que?

— Ser sua amiga – pigarreei sentindo-me estranha com a situação - Quer dizer, se ainda quiser.

Logo depois, ele riu. Esperava que ele brigasse comigo, depois da forma que o havia tratado, mas ele parecia feliz. Isso fez com que um pouco do meu desconforto se dissipasse.

— Eu não esperava isso. – disse ele, por fim – Você sempre me surpreende, Bella.

Sorri pra ele. Por um segundo, me distraí com seu sorriso e virei o rosto corado. Não sabia mais sobre o que falar. Nunca tinha tido amigos além de Bree, ela tinha sido a primeira e nossos assuntos eram mais protagonizados por ela. Na maior parte do tempo, eu ficava quieta.

— Posso fazer uma pergunta? – disse ele, quebrando o silêncio. Eu agradeci mentalmente por isso, e acenei positivamente enquanto esperava ele continuar. – Por que você adora tanto o telhado? Isso não é um hobby muito comum...

— Gosto da altura. – dei de ombros – e pelo menos lá, consigo ficar sozinha.

— É por isso que nega a aproximação das pessoas?

Mordi com força o meu lábio. Sabia que teria que dar alguma explicação para ele, mas ainda não tinha achado uma boa o suficiente. A única coisa que eu poderia fazer era pedir seu perdão e ele teria que se contentar com isso.

Só que eu sabia que isso não era muito justo, e também sabia que ele não aceitaria isso fácil.

 - Me desculpe por isso. – desviei o olhar – Eu sinto muito pelo modo que te tratei. Não foi certo...

— Está tudo bem. – ele me interrompeu, forçando um sorriso – Eu entendo.

Pisquei, confusa.

— Entende?

— Posso te levar para a sua sala? – perguntou ele, ignorando minha pergunta. Percebi que o quer que fosse que ele achava que entendia, também preferia manter em segredo.

 

 

 

 

Depois que nós nos despedimos na porta da sala de aula, não voltei a ver Edward por algum tempo. Me sentei junto à Ângela, como sempre. Ela sorriu e, animadamente, começou a discursar sobre um dos livros que havia emprestado na semana anterior (com a permissão de Charlie, claro).

Mas depois de algumas aulas, o enjoo da manhã começou a voltar. Pensei em ligar para Charlie, aula após aula, mas nunca parecia certo, como se ainda pudesse melhorar. Então sempre desistia e colocava o celular de volta na bolsa.

Para não piorar meu enjoo, comprei apenas uma Coca-Cola no almoço. Não que eu não estivesse com fome, mas só de sentir o cheiro de comida meu estômago embrulhava.

Suspirei, sentada na minha mesa solitária. Olhei para a mesa dos Cullens. Não tinha a intenção de encarar, mas quando vi apenas quatro pessoas sentadas em suas poses perfeitas, percebi que Edward não estava ali. Será que ele tinha ido embora após nossa conversa no estacionamento?

Mordi o lábio, intrigada, não sabendo se devia me sentir triste ou preocupada com seu sumiço. Mas esse pensamento só flutuou na minha mente por um minuto até outra onda de mal-estar passar por mim.

Abaixei minha cabeça para a mesa, respirando fundo. Coloquei minha mão dentro da mochila, procurando o celular, até que ouvi uma voz.

— Ei Bella, posso me sentar?

Olhei surpresa para Edward. Ele tinha em mãos uma bandeja, completa com uma variedade de comidas, mais do que normalmente pegava para manter seu disfarce para os humanos. Minha voz ainda não havia voltado, então apenas assenti e o observei acomodar-se na minha frente. O refeitório parecia ter ficado silencioso. Quase conseguia ouvir cochichos pelo salão. Me encolhi um pouco.

— Trouxe isso para você – ele disse, colocando a bandeja de comida na minha frente.

Tranquei a respiração e empurrei-a um pouco para longe. Aquilo com toda certeza não parecia apetitoso, não sabia como algum dia havia achado isso comestível.

— Não está com fome? – perguntou, vendo minha reação.

— Estou com mal-estar, para falar a verdade. – expliquei – Talvez algo que eu tenha comido não tenha caído tão bem.

— Precisa ir no médico?

Olhei mais uma vez para a montanha de comida na minha frente. Talvez passe se eu comer algo, pensei.

— Não é para tanto – falei, dando de ombros, enquanto começava a comer um pedaço de pizza. - Por que está aqui?

— Amigos podem sentar juntos no almoço, certo? – ele devolveu, com um sorriso brincalhão que sem perceber me fez sorrir também. Fazia muito tempo que não o via com tanta vida.

— Acho que sim – desviei o olhar antes que parecesse que estava o encarando – Por que trouxe tanta comida se você não come?

— O que?

— Você trouxe isso tudo para mim. – indicando a bandeja – É muita comida.

— E por que você acha que eu não vou comer? – ele perguntou, levantando uma sobrancelha

Mordi a língua com minha gafe. Não havia motivo, claro, a menos que ele seja um vampiro.

— Eu.. – abaixei a cabeça para ele não ver a mentira estampada em meu rosto – nunca vi você comer aqui no refeitório, então presumi...

Deixei minha voz morrer. Isso também fazia parte da farsa. Ele não pareceu perceber que eu estava fingindo, vi ele se mover em sua cadeira desconfortável. Sabia que, agora, ele não forçaria mais aquele tópico.

— Estou de dieta – ele sorriu forçadamente. Vi algo passar em seu olhar e logo me arrependi de ter agido daquela forma. Fingir ser uma humana medrosa e indefesa podia ajudar a manter meu segredo escondido, mas fazia Edward se sentir um monstro.

— Acho que uma batata.. – peguei na minha mão, a farsa agora esquecida. Se ele notou a mudança de comportamento, não disse nada. – não vai fazer mal, não é?

— Estou reconsiderando minha decisão de ser seu amigo – ele brincou

Ri com sua careta quando o mesmo comia a comida humana. Quando comi uma, logo depois, percebi que para mim ela também estava horrível. Se para mim que tinha um apetite humano aquilo conseguia ser tão ruim, não conseguia imaginar como era para um vampiro.

— Seus irmãos não vão ficar bravos por você não estar com eles hoje? – perguntei, olhando de relance para a mesa dos Cullens.

— Eles superam – ele deu de ombros. Sua mão foi até um garfo da bandeja, brincando com o objeto – Eles não ligam realmente, apenas Rosalie fica... Incomodada.

Franzi a testa estranhando o comportamento. Os outros deviam aceitar tão fácil a aproximação de Edward com uma humana? Alice e Emmet eu até entendia, mas Jasper...

— Rosalie é minha irmã. – ele explicou interpretando errado minha confusão – Jasper, Emmet e Alice são os outros.

— Conheci Alice. – comentei – Ela foi muito legal comigo.

— Você tem irmãos? – ele me perguntou interessando

— Não. – pensei por um minuto – Não que eu saiba.

— Como assim? – ele franziu a testa confuso

— Não duvidaria se Klaus estivesse por aí tentando me substituir – ri – seria bem a cara dele.

— Quem é Klaus? – ele perguntou, franzindo sua testa

Fechei meus olhos. Eu fiz de novo.

Eu devia contar a história já ensaiada, como havia feito com Jacob. Era para ser a oficial e a única, mas Edward conseguia me distrair de formas que eu realmente não percebia. O estrago já havia sido feito. Poderia distraí-lo, como havia feito anteriormente, mas aquela opção me desagrada de muitas formas.

— Meu pai biológico... – respondi, devagar.

Mas havia uma diferença entre ele e Jacob.

Edward não conhecia Charlie. Sabia tão pouco quanto eu sabia quando não havia caído, e isso fazia toda a diferencia. A menos que Charlie desmentisse, ou alguém muito perto do mesmo, como os habitantes de La Push, não teria como ele ver algo de errado na minha versão da história.

Além de que tornar minha história algo mais humano parecia mais aceitável do que a alternativa.

— Depois que a minha mãe morreu, eu vivi em um... internato. – respondi, abaixando a voz, temendo que mais alguém escutasse – Eu saí dele só quando fiz 15 anos.

— Você foi adotada pela irmã de Charlie?

— Não. – engoli em seco – Nunca conheci a irmã de Charlie.

— Você não é parente de Charlie?

Voltei a negar. Peguei a coca, dando um gole lento. Precisava de tempo para pensar, e sabia que se ficasse dando muitas pausas ele podia desconfiar da “mentira”.

— Ele é amigo do meu pai adotivo. - expliquei – Fui expulsa da escola onde eu vivia... Então ele achou que seria bom eu viver aqui.

— Não conte para ninguém, por favor. – pigarrei – Não é algo que gostaria que soubessem.

— Então.. por que me contou?

— Eu não... - pensei - Eu não quero começar nossa amizade com mentiras.

Ele se desenconstou da mesa, olhando para suas mãos. Parecia envolto em pensamentos. Algo o corroía. Era o mesmo olhar que ele tinha mais cedo, quando fui pedir desculpas.

— Sinto muito – ele pediu, ainda sem me olhar – Mas não posso ser tão franco com você.

Mordi o lábio. Aquilo que eu tinha dito era uma vertente da verdade, mas mesmo assim, era cercado de mentiras.

— Tá tudo bem. - sussurrei – Todos temos segredos.

— Não. – vi suas mãos se fecharem em punhos – Não é só isso.

— O que é?

— Você.... Você devia sair daqui, me ignorar, me manter longe. – sua voz saiu torturada – Isso é errado.

— Mas... - suspirei – Eu não quero isso.

— Eu entendo, Edward. – sussurrei – Sei que pode ser errado te trazendo para a loucura que é a minha vida

— Mas... – ele me imitou, fazendo-me sorrir.

— Eu não quero mais me manter longe de você e não preciso que você me conte tudo – ele subiu seu olhar até o meu agora, e vi o quanto ele estava aliviado - Talvez possamos relevar se fizermos um trato. Um que ajude a nós dois.

— Que seria?

— Você não pode me ver depois da escola - falei - e acima de tudo, sem mentiras.

— Bella...

— Terão coisas que você não pode me falar, e terão coisas que eu não posso te falar, então só não respondemos, mas sem mentiras – “Não mais”

— Que segredos você guarda Isabella Swan?

— Você também tem os seus – não era uma pergunta, era uma afirmação e ele percebeu esse ato.

— Você vai me contar, algum dia? – ele sorriu agora

— Talvez. - Tomara que nunca precise, pensei.

— Fico feliz – ele se inclinou para mim - Talvez isso seja um erro, mas não quero me manter longe de você. Mesmo não sendo bom para você.

— Como assim, bom para mim?

— Quero dizer que, posso não ser tão bom quanto aparento ser.

— Você é um idiota. – falei, parando de comer e olhando-o. Seus olhos se arregalaram minimamente. Escutei um estrondo vindo da mesa dos Cullens e, quando os olhei, Emmet estava rindo. Desviei rapidamente o olhar, falando baixo. Quase um sussurro. - Acha que não é bom? O que o faz pensar que eu sou boa para você?

— Eu apenas sei.

— Pois está errado – falei, me endireitando e encerrando o assunto.

Afastei a bandeja de Edward de mim. Tinha tentado não desperdiçar a comida, mas até mesmo sem meu enjoo ainda teria dificuldade em consumir tanta coisa.

— Acho que seu amigo está com muita raiva de mim. – disse ele, olhando por cima do meu ombro.

— Ele supera. – falei, divertida – Ele é até que legal às vezes, mas gostaria que Jéssica e ele namorassem logo!

— Por quê? – ele perguntou, parecendo mais interessado do que eu esperava.

— Porque... Incomoda-me... A forma que ele... – senti meu rosto corar – Corteja.

Um minuto se passou antes de Edward reagir, ele abaixou a cabeça enquanto ria, na verdade enquanto gargalhava.

— Ei. – reclamei – Não ria.

— Que linguajar é esse? – disse ele – Nasceu em que ano Bella?

“Muito antes que você Edward”— pensei

— Esse assunto me deixa nervosa. – expliquei, dando de ombros, mas por fim ri junto com ele.

O sinal tocou, fazendo-me pular de susto. Ficar com Edward parecia tão normal que nem ao menos percebi a passagem de tempo. Isso seria uma coisa boa, se no caso... Não fosse uma falta de profissionalismo da minha parte. Não era por que estava na escola que estava a salvo. Precisava ficar atenta, ainda mais agora estando perto de Edward. Não era mais apenas a minha vida que estava em jogo.

— Vamos? – perguntei, enquanto me levantava.

— Pode ir – disse ele – Não vou à aula hoje.

— Por quê? – senti um aperto em meu coração. Estar ali com ele parecia um sonho, um que eu não queria acordar.

— Faltar às vezes faz bem – explicou. Me virei para sair, mas senti sua mão na minha e logo estava ele em pé ao meu lado. Olhei alarmada em volta, mas já não havia ninguém no local para vê-lo usar sua velocidade.

— Podemos sentar juntos amanhã de novo? – perguntou ele, me prendendo em seus olhos. Percebi o quanto ele estava inseguro com tudo aquilo, seus olhos dourados me fitavam de uma forma tão profunda que meu coração começou a bater descompassado.

— Claro – praticamente sussurrei.

Fui em direção à minha sala. Saber que ele não estaria lá, principalmente agora que poderíamos pelo menos conversar um com o outro, me entristeceu.

Não entendia sua recusa de ir à aula. Os Cullens só costumavam faltar às aulas quando havia sol, mas o céu nublado do lado descartava essa possibilidade. Naquele momento, só esperava que estivesse tudo bem.

A curiosidade me preencheu, mas me obriguei a me conter. Mesmo que agora Edward e eu pudéssemos conversar, ainda não podia perguntar certas coisas. Precisava ainda manter meu disfarce, e pelo que parecia, Edward não queria se mostrar para a humana.

O professor chegou logo depois, suas mãos cheias com uma travessa. Anunciou o procedimento do dia, quitagem sanguínea em vermelho da lousa.

Que coincidência” – pensei, rindo comigo mesma.

Relaxei na cadeira, agora sabendo o por que da recusa de Edward a vir para a aula. Mesmo querendo sua companhia, preferia sua segurança a correr o risco dele em uma sala cheio de adolescentes com sangue escorrendo. Ainda mais que confiasse nele, sabia que seria um incômodo permanecer ali e não queria vê-lo sofrer.

“Obrigada Alice” — pensei, sabendo que a mesma era a provedora disso.

O professor foi até o primeiro aluno e começou a furar seu dedo, coletando sangue para o experimento. O líquido vermelho pingou no objeto de plástico fazendo-me paralisar.

O cheiro do sangue começou a se alastrar, era intenso, espalhou pela sala, como um veneno no ar. Tossi e tentei parar de respirar, mas não era uma vampira. Precisava de ar para viver.

O enjoo de repente parecia impossível de se aguentar.

Senti meus músculos doerem quase como de manhã. Um incomodo aflingiu em minha garganta. Inclinei sobre a bancada, colocando as mãos na cabeça, tentando aplacar a dor.

“O que está acontecendo?”

— Bella – ouvi. Gemi, cobrindo mais minha cabeça. Não entendia o por que a pessoa gritava, parecia que o som ricocheteava pelo meu crânio – Você está bem?

Me levantei e, sem a permissão do professor, saí pela porta, correndo e tropeçando. Meu pisar, os professores em outras salas, a música do fone de alguém, tudo parecia gritar em meus ouvidos.

Entrei no banheiro, me debruçando na pia. Molhei o rosto, precisando desesperadamente me acalmar. Um olhar rápido no espelho, no entanto, mudou tudo: o desespero gritou, assumindo minhas veias, preenchendo cada canto do meu ser. Senti gosto de bile na boca e corri para o vaso, despejando ali tudo o que havia no estômago.

Meu estômago se aliviou um pouco do mal estar agora sem a comida do almoço nele.

Mas esse fato nem ao menos foi processado pela minha mente. A imagem que vi, espelhada, tomava conta de todos os meus pensamentos. Meus olhos antes castanhos, agora estavam vermelhos, como sangue, como um monstro.

Um soluço saiu e tentei conter o choro.

“O que é isso?”

— Isabella?- escutei me chamarem, tranquei a porta rapidamente. – O professor me mandou te chamar. Você está bem?

Grunhi, agarrando meu pescoço que gritava de dor. O cheiro estava ali de novo, mais fraco, entretanto presente, como um perfume tentador.

E a lembrança do cheiro, daquele líquido tão grosso. Eu podia abrir a porta, tomá-lo para mim. Seria rápido e ninguém saberia, apenas eu.

Apenas eu.

Segurei a fechadura.

Seria tão rápido.

E tão prazeroso.

“Não posso”— gritei comigo mesma – “É uma vida, não sou uma assassina”

— Rebeca, estou bem – falei, travando meus músculos, com medo de que em um impulso, a sanidade me escapasse – Pode voltar para a aula, só fico enjoada com sangue.

— Tudo bem, posso fazer algo para você? – me perguntou.

— Não, pode ir. – esperei, enquanto os sons de seus passos ficavam cada vez mais longe e o cheiro do sangue diminuía.

Assustada, saí do box e do banheiro em segundos. Corri para fora, em direção à floresta. Era muito perigoso ficar na escola, precisava sair, precisava manter as pessoas seguras até de mim mesma.

Não via para onde estava indo, só precisava sair dali. As árvores passavam à minha volta, mas eu não via em que direção ia.

Senti algo agarrar no meu pé. Uma raiz, talvez. Saí no chão de joelhos, minhas lágrimas caindo nas folhas e no solo, deixando o pânico aflorar em meu peito.

— Que monstro sou eu? – implorei aos céus – Alguém me ajude, por favor... O que está acontecendo?

Escutei passos atrás de mim. Me virei rapidamente, mas não achei ninguém. O quão perto essa pessoa estava? Minha audição parecia estranha ainda, não conseguia distinguir a distância em que a presença estava, mas sabia que não podia ver ninguém agora. Ali era o lugar perfeito, sem nada para me impedir.

— Vá embora! – gritei, com o soluço abafado – Por favor, preciso ficar sozinha! É muito perigoso... Por favor!

Por favor não me faça ser uma assassina”

O som da pessoa se acelerou, não escutando minhas preces. Fechei os olhos, temendo que a pessoa visse meus olhos vermelhos. Travei a respiração. Eu não podia sentir aquele cheiro novamente. Minha boca já salivava e meu corpo parecia queimar em sede.

— Bella. – ouvi a voz de Edward, e instantaneamente ele estava ao meu lado, utilizando sua velocidade superior – O que aconteceu, alguém fez algo com você?

Tentei me afastar, me arrastando para trás temendo machucá-lo. Tentei parar a respiração, mas novamente precisava de ar.

Esperei o momento em que tudo voltasse, mas não aconteceu. Senti a mão de Edward em meu braço me puxando para ele, lacei meus braços em seu entorno, deixando as lágrimas caírem.

Pela primeira vez eu não reconheci o cheiro de Edward, ou a sensação de tocar sua pele. Estava completamente diferente, mas também era como se ainda fosse o mesmo - seu toque agora não era mais tão gelado, era até um pouco quente para mim.

E seu cheiro... era indescritível. Nunca havia sentido perfume como aquele, nem ao menos o cheiro do sangue era parecido com isso. Era imensamente melhor.

“Edward” — suspirei.

— Bella – ele me chamou – você está muito gelada. É melhor te levar ao médico.

Em um estalo, voltei à realidade. A mera menção de ir ao médico nunca tinha sido pior, o pânico me preencheu novamente.

Sabia que por um milagre não havia atacado ninguém na escola. Mas se fosse para um hospital, engoli em seco, apenas a lembrança do cheiro fazia minha garganta se fechar em dor.

— Não, por favor. Não me leve lá. - agarrei sua camiseta, puxando-o mais para mim.

“Por favor não me faça uma assassina”

— Me perdoa, eu... Não sou forte – sussurrei – Não consigo... Suportar...

— Tá tudo bem. – falou, com voz calma – Está segura agora, estou com você, calma...

Sua mão foi até meus cabelos, passando delicadamente pelas mechas.  Deixei-me levar novamente pelo perfume de Edward. De alguma forma ele acalmava o monstro dentro de mim e, junto com ele, a dor, a queimação na garganta e o enjoo foram se amenizando.

Mas o choro continuou, mesmo depois das sensações passarem. O medo ainda perdurava, mas lutei contra o mesmo. Quase não fui forte para suportar a fome de morte, mas precisava ser para guardar os meus sentimentos.

Me afastei um pouco de Edward. Abri os olhos levemente, com medo que meus olhos ainda estivessem com aquela cor. O vermelho do monstro. Esperei o espanto vir de Edward, mas não aconteceu. Ele apenas me olhou com preocupação, mas o inverso aconteceu. Paralisei com a imagem na minha frente.

Parecia tudo diferente, e eu demorei um segundo para notar a diferença.

Antes, toda vez que o via era como olhar para o sol. Mas agora não havia mais aura. Era apenas Edward, apenas ele, que havia vindo me ajudar quando eu precisei. Que de alguma forma acalmou o monstro dentro de mim.

E, por um momento, eu percebi que nunca tinha visto ele tão bonito antes.

Devagar, levantei minha mão até seu rosto. Sua pele agora já não estava mais tão quente. Ainda sentia aquele perfume vindo dele, que me embriagava e me puxava para perto.

Ele não pareceu incomodado com o meu ato. Seus olhos perderam o foco, fechando enquanto apreciava meu toque. Devagar, fui descendo minha mão. Nunca havia sentido nada como aquilo antes, minha pele parecia queimar pela sua. Não de uma forma dolorosa, no entanto, mas enviando sensações por onde tocava.

De uma forma tão boa.

“O que estou fazendo?” — pensei, enquanto minha mão paralisava.

Recolhi minha mão como se estivesse tocando lava. Me levantei em um pulo, quase perdendo o equilíbrio no processo. Edward também pareceu voltar a si, abrindo os olhos com espanto. Desviei o olhar dele, me amaldiçoando por ter agido daquela forma, a vergonha ainda queimando em minha mente.

— Obrigada – falei, enquanto me afastava mais com o rosto em chamas. Ele piscou confuso e se levantou comigo - Como sabia onde me achar?

— Estava no estacionamento, vi você correndo para cá, então te segui. – ele respondeu instantâneamente- o que aconteceu? O que te fez ficar assim?

Abri a boca para falar algo, mas acabei fechando. Não tinha ideia do que havia acontecido. Aquilo com certeza não era a minha parte humana, mas também não era minha parte de anjo.

Mordi os lábios, pensando em como sangue havia mexido comigo, aquela sede por sangue não era normal. Era quase como se eu fosse uma vampira.

Não. Isso não era possível, nunca havia acontecido isso com alguém sem ser mordido, devia ter uma explicação. Apenas precisava acha-la.

Nesse momento, percebi que ainda não havia respondido. Estava quieta, pensando, enquanto Edward aguardava uma resposta.

— Eu não posso te falar. – falei, abaixando o rosto vendo seus olhos endurecerem – Desculpe.

— Só quero te ajudar, sabia?

— Fizemos um trato... Por favor, não se esqueça disso.

Ele sustentou meu olhar e, por fim, suspirou.

— Você está bem agora?

— Estou bem. – minha voz se quebrou – Edward, juro que conto. Quando for a hora. Confio em você com a minha vida. Você não sabe como eu queria poder contar tudo, mas ainda não é a hora e não me sinto pronta para isso. Por favor..

— Tudo bem, vou esperar. – disse ao final – Fizemos o trato para isso, não é?

— Obrigada – suspirei aliviada

— Posso te levar para casa? – perguntou

— Eu não vou para casa hoje. – respondi. Tinha esquecido do meu compromisso. Olhei para minha roupa, toda suja de lama e folha.Teria que usar a muda de roupa, no funda da minha mochila. Mas ela ainda estava na sala. – Pode me fazer um favor? Pegar a minha mochila.. Deixei na sala quando saí correndo. – falei - E preciso do meu carro.

— O seu carro? Por que não voltamos para o estacionamento? – tentei não mostrar meu desagrado com essa ideia, mas ele logo balançou a cabeça apontando para a minha direita – Volto logo, me espera na estrada seguindo aquela direção

Acenti e observei ele correr em velocidade humana para a escola. Quis rir com a imagem, mas sabia que ele ouviria.

Era bom vê-lo assim. Mesmo não podendo mais ver sua aura, eu sabia que naquele momento eu não veria nenhuma amargura nele.

Achei a estrada alguns metros a frente, e segundos depois vi o volvo prateado tão conhecido aparecer pela estrada em alta velocidade.

— Achei que você pegaria o meu carro. – falei, enquanto entrava em seu carro.

— Ele é muito lento. – ele deu de ombros - Alice vai deixá-lo depois na frente do seu trabalho.

— Ela não é tão ruim assim. – defendi – É só você não deixar ela na quarta marcha.

— Ela? – perguntou ele sorrindo irônico

— Eu posso ter me apagado demais. – respondi no mesmo tom – Sabe como é, o primeiro carro a gente nunca esquece.

— Acho que gostaria de esquecer, se fosse um que não passa-se de 30km/h. – fiz uma careta para ele, fazendo-o rir - Onde você trabalha?

— Loja de Camping, no caminho para La Push.- respondi – Hoje é o meu primeiro dia

— Parece nervosa.

— Um pouco. – suspirei - Você vai voltar para a escola?

— Vou. – respondeu, parando o carro na frente da loja. Ele tinha dirigido tão rápido que a viagem em si durou menos de 5 min. – Tenho que buscar meus irmãos.

— Obrigada pela carona. – falei, abrindo a porta - Nos vemos amanhã?

— Claro. – ele sorriu

Saí do carro. Esperei o Volvo sair de minha vista, para então suspirar. O dia não tinha sido aquilo que eu imaginava, mas estava mais próxima de Edward e isso tinha valido a pena.

Meu expediente foi tranquilo, e bem monótono. Depois do meu surto, não voltei a me sentir mal, como se já estivesse saciado para tentar aparecer novamente.

Mike não apareceu para o seu expediente, o que me deixou sozinha com sua mãe. Ela era uma pessoa legal, foi muito paciente e tentou me explicar como funcionava a registradora e como mexer em seu computador para fazer a baixa de mercadoria. Tendo errado muitas vezes, percebi nesse dia que tecnologia não era algo com o qual eu me acostumaria com tanta facilidade.

Mesmo não tendo tanto trabalho, ao fim do dia, estava muito cansada.

Mas era uma sensação que eu apenas tinha quando ainda estava em treinamento. Quando passava o dia treinando com Bernard.

Um cansaço bom.

Então, quando cheguei em casa, me deitei no sofá. Senti meus músculos se relaxarem e liguei a TV.

O som preencheu a sala e uma mulher apareceu na tela. Me preparei para trocar o canal quando a matéria me chamou a atenção.

“Foram achados 3 corpos no rio nesta manhã. Os olhos das vítimas foram retirados e a região das pálpebras queimadas. As vítimas nessa última semana já totalizam 6, e aguardamos mais informações das autoridades.”

Era em Seattle.

Aumentei o volume, mas a matéria continuou decorrendo sobre as vítimas. Não mais sobre o ocorrido.

Bernard, com que você está se metendo?”— pensei comigo mesma. Superei, desligando a TV, e me levantei em direção da cozinha.

Não sabia o que podia ser. Nunca tinha visto assassinatos dessa magnitude, não era a forma que vampiros matavam, muito menos como os desalmados e o veneno trabalhavam.

Eles tiravam sua alma, matavam você por dentro, até não sobrar nada de bom e aumentar o seu exército.

Mas queimar os olhos até não sobra nada.

“Os lobos talvez”— pensei, para logo após descartar. Não acreditava que eles eram ruins e confiava na opinião de Charlie.

Deixei esse pensamento de lado, guardando o para Charlie quando o mesmo voltasse. Então, comecei a fazer a comida.

Ainda não era uma grande cozinheira, mas estava progredindo e já estava boa nas atividades de cortar os legumes e refogá-los, cozinhar o arroz e temperar o bife.

Ao final estava tudo com uma aparência boa. Sorri, satisfeita, e embalei tudo para esperar Charlie chegar.

Subi, passando no meu quarto para pegar a necesser. Iria tomar um banho rápido.

A água quente foi muito bem-vinda. Mesmo querendo permanecer por longos tempos ali, saí rapidamente, sentindo a fome.

Quando desci, já vestida, Charlie tinha montado a mesa. Jantamos juntos, enquanto ele me enchia de perguntas sobre o meu primeiro dia. Isso me alegrou - tirando a parte de ter finalmente conversado com Edward - ter trabalhado foi, com toda certeza, a parte que mais me tinha agradado.

Me deixei levar pelo momento, deixando que ele tirasse minhas preocupações por alguns minutos. Mas eu sabia que tinha que contar para ele o que havia acontecido no dia, e quando o jantar tinha acabado, não tinha como prolongar mais.

— Preciso falar com você. – falei, impedindo de tirar a mesa. Ele franziu a testa confuso enquanto voltava a se sentar. - Aconteceu uma coisa hoje. – continuei, tentando soar o mais despreocupada que eu conseguia - Teve quitagem sanguínea na aula de biologia.

— Parece legal. – ele disse, ainda sem entender sobre o que eu estava falando.

— É, mas...

— Aconteceu alguma coisa?

— Eu acho... que... – parei – de alguma forma, eu estou virando vampira.

Ele prendeu a respiração, sabia que essa seria sua reação.

— A forma com que eu reagi ao sangue, aquilo não foi normal.

— Você... você atacou um aluno?

— Não – falei rapidamente, temendo que ele pensasse que eu poderia ter feito isso. – Claro que não, mas eu quase... quase aconteceu, a sede... É muito forte.

— Vou perguntar para Bernard. Ele deve saber de alguma coisa. – ele disse, quebrando o silêncio. Aquilo também tinha o desesperado. – Você acha que consegue aguentar?

Estava pronta para afirmar que conseguia, mas me veio a memória de como por um fio não tinha atacado aquela menina no banheiro, a lembrança ainda fresca em minha mente. Eu não tinha certeza. Pelo o que eu sabia, a sede tendia a piorar se não sanada. Talvez, na próxima vez, eu não conseguisse nem ao menos me manter sã.

— Talvez. – engoli em seco – não tenho certeza se aquilo era sede, ou se estou virando vampira, mas... É a única explicação que consegui pensar.

Ele assentiu, ainda em seus próprios pensamentos. Ele sabia tanto quanto eu que não havia uma explicação para aquilo.

Eu nem ao menos tinha passado pela transformação. E foi aí que outra lembrança me veio.

— Charlie. – chamei sua atenção, mordendo o lábio fazendo-o me olhar – Eu vi uma notícia sobre Seattle, estão ocorrendo mortes lá.

— Bernard está tentando parar isso. – ele disse, nervosamente – só precisamos de tempo para os lobos agirem.

— O que está acontecendo lá ?– perguntei, abaixando a voz me inclinando em sua direção – O que é que está fazendo isso?

—  Vou te falar tudo quando for a hora, ainda não tenho todas as informações.

— Você prometeu não me deixar no escuro, lembra? Então pode pelo menos me falar do por que está acontecendo agora? Por que agora e não antes? Eu passei 100 anos na terra e nunca vi nada disso. Como Charlie?

Ele abaixou o olhar, sem me olhar nos olhos. O encarei por alguns minutos, esperando sua resposta. Foi então que o entendimento me veio, nunca havia acontecido antes, por que antes o céu estava inteiro, antes de eu cair e destruir tudo.

— É minha culpa. – falei, com a voz abafada, voltando a me encostar na cadeira – Pelo o que eu fiz no céu.

“Eu indiretamente matei essas pessoas”— pensei – “o que me faz diferente do Veneno agora?”

Quis ter prestado atenção quando o jornal falava das vítimas. Eu nem sabia os nomes deles, não sabia se tinham família, se eram felizes, se eram bons.

Agora estavam mortos, apenas pela minha existência inútil e pelo o que eu fiz.

— Isabella ... – sua voz foi cortada com as batidas ritmadas na porta, me levantei com a vergonha e o terror nublando minha mente com medo de olhá-lo

As batidas continuaram, mais forte e mais rápidas quase em desespero. Fui em sua direção, abrindo a mesma enquanto Charlie aparecia pela porta da cozinha percebendo a estranheza.

Franzi o cenho quando encontrei Jacob em frente a porta, totalmente sem camisa, algo que me fez corar na hora. Antes mesmo de eu conseguir dizer algo, o lobo entrou pela porta indo em direção a Charlie.

— Achamos, Charlie. Você estava certo. – disse ele frenético – Precisamos ir agora.

— Charlie, o que está acontecendo? – perguntei – Para onde você vai?

Ele me olhou com um leve toque de pânico, passando o olhar entre mim e Jacob, sem saber o que fazer.

— Temos que ir agora! – Jacob retornou a dizer – Agora, Charlie, eles já estão lá!

O mesmo assentiu sem me responder, ignorando minha pergunta e tomando sua decisão.

Apenas saí do caminho, com o orgulho ferido.

— Te conto quando voltar, mas agora preciso ir. – não o olhei, querendo que ele entendesse o quão chateada estava por suas atividades. Então me surpreendi quando o mesmo me puxou para um abraço – Desculpe, mas precisa confiar em mim. Terminamos esse conversa na volta.

Charlie saiu, quase que correndo porta a fora. Esperei até o som da picape sumir na distância, e o silêncio ser restaurado.

Fim do Capitulo 13.


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Notas finais do capítulo

Gente eu só queria deixar um adendo aqui no final.
Vcs viram que essa fic foi recomendada? cara quase morri do coração.
Eu agradeço muito pelo apoio de vcs e bom até a próxima :3
Comentem ♥



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