Primeiro, eu matei o meu pai... escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel


Capítulo 5
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo faz conexão com o capítulo X e com o início do capítulo XI de "Enquanto o Grande Mestre não Descobrir". (Não somos a Marvel, mas adoramos um universo estendido)



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O navio que vinha da França aportou por volta das 5 da manhã em Athenas. Camus e Misty desejavam chamar o mínimo de atenção, pois os dois jovens acompanhantes da adorável menininha causaram grande comoção pela postura e maturidade dentre os ocupantes do navio. Camus carregava a pequena Aimeé no colo, que ainda dormia:

—Percebi um comportamento estranho das autoridades do navio em relação a nós – disse Misty, carregando a pouca bagagem dos três - Acho melhor termos um pouco mais de cautela.

—Eu não tenho problemas com isso… - Camus respondeu, com a postura firme de sempre – Temos o mesmo sobrenome nos documentos civis. Posso dar uma desculpa, mas perderíamos muito tempo. Melhor irmos por aqui.

Misty ajustou uma das mochilas nas costas e, seguindo o plano do parisiense, saltou do convés do navio para terra firme. Ambos usaram a velocidade de Cavaleiro para chegarem a uma distância segura do porto, onde tomaram um táxi para levar a pequena com mais conforto até as proximidades do Santuário.

Chegando a Terra Santa, Camus deu a Misty todas as instruções que este necessitava para se apresentar diante do Grande Mestre, pois era a primeira vez que o jovem cavaleiro de prata se dirigia sozinho a ele. O cavaleiro de ouro se despediu de Aimeé com um beijo na fronte e acenou para seu assecla, adentrando rapidamente em sua morada, enquanto os dois seguiram caminho ao Salão do Grande Mestre. Camus, ao fechar a porta que dava acesso aos aposentos privados da casa de Aquário, suspirou e fechou os olhos, deixando finalmente as lágrimas escorrerem:

—Espero que minhas atitudes sejam as melhores para ti, minha tão estimada Aimeé.

 

Ao adentrar no Grande Salão, o Cavaleiro de Lagarto colocou Aimeé no chão e aguardou que sua entrada fosse autorizada pelos Guardas.

—Thierry, aonde a gente está? - Questionou a menininha – Por que meu primo não veio com a gente?

—Aimeé, minha linda, ele estava muito cansado da viagem e me pediu que te apresentasse ao nosso Mestre, chefe dos Cavaleiros de Athena, para informá-lo que chegamos.

A loirinha apenas meneou a cabeça, quando a porta à sua frente abriu. Uma moça com cabelos acobreados usando uma túnica branca surgiu, saudando-os com um sorriso:

—Senhor Misty, me acompanhe por favor – a mulher disse, se aproximando - O Grande Mestre os aguarda

—Confie em mim! Tudo vai dar certo – piscou Misty sorridente para a menina antes de começarem a caminhar.

 

Enquanto isso, em Paris, Afrodite retornou a pousada onde estava hospedado apenas para pegar sua mochila e ordenar a Geisty e Shina que retornassem ao Santuário:

—E como ficou o assunto da garotinha, mestre? - A mais jovem perguntou

—Com algumas condições impostas pela família, ela irá ao Santuário para treinar – respondeu após uma pausa – Vocês podem ir na frente. Eu ainda tenho alguns assuntos a tratar com os Romanov.

—Certo, Afrodite

—Precisam de dinheiro pro navio?

—Na verdade – Geisty iniciou, em um tom divertido – Você demorou para aparecer… Achei que você tinha sido sequestrado ou, sei lá, morto por Filhos do Vento remanescentes… Aí fiz amizade com um piloto de carga. Shina e eu vamos pegar uma carona daqui a uma hora.

—Ah, por isso que amo trabalhar com vocês.

O pisciano as acompanhou até o Aeroporto de Orly, onde um animado piloto bigodudo acenava para Geisty e Shina, que usavam jeans, camiseta e óculos escuros. Afrodite chegou a pensar o que sua subordinada teria dito ao piloto para que ele levasse duas adolescentes até Athenas, mas decidiu ignorar isso e pegar um táxi de volta ao apartamento dos Romanov.

 

Paris é, desde sempre, o destino preferido de jovens casais e entusiastas de moda ou arte. Com Afrodite não era diferente. O Sueco sempre tivera vontade de conhecer a cidade, portanto queria aproveitar o tempo naquele táxi para admirar o que pudesse da paisagem. Viajava em seus próprios pensamentos, quando o carro parou em um semáforo. Já estava próximo do apartamento Romanov, quando algo chamou sua atenção:

—Me desculpe, senhor, mas descerei aqui - o jovem falou suavemente, sacando algumas notas da carteira.

Afrodite desceu do carro e atravessou a rua, caminhando apressado até uma cafeteria. Adentrou no estabelecimento e a viu. Sentada no canto, bem serena, tomando uma xícara de chá e usando um vestido simples, estava a matriarca da família Romanov, a Tatiana original. Ela sorriu ao ver o rapaz diante dela, fazendo um sinal para que ele se aproximasse:

—Por um instante, achei que você não viria - falou, pousando a xícara sobre a mesa - Você ainda é jovem, mas vejo a beleza clássica da Casa de Peixes em você - o rapaz ainda a encarava estático - Pelos deuses, desfaça essa cara de espanto e se sente. Eu já até pedi uma xícara de chá para que fique mais à vontade.

Afrodite prontamente obedeceu, sentando-se de frente para a senhora. Era extremamente parecida com a garotinha que ele treinaria dali para frente, exceto pelos cabelos e pelas sardas:

—Perdoe-me pela deselegância, mas…

—Eu sei de muitas coisas. Senti quando os Cavaleiros Negros vieram buscar Tatia… Tentei me levantar, mas esse corpo velho não seria capaz de fazer nada com eles. Eu sabia que, um dia, o poder dela ia se manifestar… Só não imaginei que seria tão cedo…

—Possivelmente tem a ver com ela ser neta do…

—Com licença - interrompeu o servente da cafeteria, fazendo com que Afrodite se calasse imediatamente.

—Eu não duvido disso, Afrodite.

—Não te disse meu nome, como…

—Já disse que sei de muita coisa, nobre Cavaleiro de Peixes. Cuide bem da minha Tatia… Ela pode ser preguiçosa e ter uma língua afiada, mas, no fundo, é uma boa e poderosa garota.

—Eu já prometi a Dama dos Punhais e farei o mesmo a senhora. Tatiana terá todo o cuidado e proteção que eu puder oferecer enquanto viver.

—Eu não duvido de suas palavras. Agora beba seu chá antes que esfrie.

 

***

 

Os dois loiros adentraram o Salão principal e, ao se aproximar do Grande Mestre, Misty se ajoelhou em respeito e Aimeé, ainda assustada com aquele lugar desconhecido, apenas se escondeu atrás do amigo, arrancando uma risada amigável do patriarca:

—Misty…Eu achei que Camus estaria com você para relatar os resultados da missão.

—O Mestre Camus ele… - o cavaleiro de Lagarto respirou fundo. Certamente o patriarca imaginava como Camus estava após perder a mestra – ele me autorizou a relatar ao Senhor…

Misty perdeu a fala ao ver Shion levantar do trono e se aproximar tranquilamente em direção a pequena que se escondia atrás de si. Deu um passo para o lado e deixou que o mesmo a visse. Ainda incrédulo, viu o bondoso Mestre se abaixar a altura da criança e lhe dirigir a palavra

—Minha pequena, sei que sofreu muito nos últimos dias – disse Shion, estendendo a mão com um sorriso para a criança – Mas está entre amigos de sua mãe agora…

Aimée piscou os enormes olhos verdes duas vezes e saiu detrás do amigo, finalmente encarando o mestre:

—Você… Conheceu minha mãe?

—Claro… Dorothée de Flamingo era uma de minhas melhores guerreiras… E morreu com honra.

Em um gesto que o Cavaleiro de Lagarto jamais imaginaria, o Grande Mestre abraçou a garotinha, afagando-lhe os cabelos calmamente. Quando a soltou, fez menção em continuar falando sobre Dorothée, mas um soldado entrou rapidamente pelas portas, postando-se em forma de reverência:

—Perdoe-me pela intromissão, Grande Mestre, mas um mensageiro acaba de trazer essa carta do Carlo… Tem um selo da Casa de Peixes.

Misty ergueu uma sobrancelha. Afrodite também estava na França:

Zephiros foi eliminado por Aimée – o cavaleiro de prata pensou – O que diabos o Afrodite está relatando nesta carta?

O Grande Mestre olhou para a serva que anteriormente guiou Misty e Aimée. Ela se aproximou e prestou reverência:

—Genevieve, por favor, leve a pequena Aimée até a cozinha e sirva um lanche bem caprichado a ela.

—Tierry…?

—Não se preocupe, Aimée – o loiro falou – Genevieve vive aqui há bastante tempo. Ela é uma pessoa muito gentil e fala sua língua.

—Eu também conhecia sua mãe – a serva falou a criança – Posso te contar algumas histórias sobre ela.

Confiando nas palavras da moça e de Misty, Aimée estendeu a mão e a seguiu. Assim que teve certeza que elas estavam longe, Shion abriu a carta de Afrodite. Antes de lê-la, olhou para o francês:

—Pode me dar o relatório agora, Misty de Lagarto.

—Sim, senhor – o loiro inspirou profundamente e soltou o ar devagar – Ao chegarmos em Paris, segui com o senhor Camus para Chantilly, enquanto o esquadrão do senhor Afrodite permaneceu na capital, mas Cervo Negro se adiantou, chegando antes de nós a Dorothée – era possível perceber as lágrimas se formando nos olhos do jovem cavaleiro – Perdão pela comoção, excelência, mas…

—Não se desculpe por isso… Eu sei exatamente o motivo pelo qual Camus não veio. Dorothée foi quase uma mãe para vocês dois – respirou – por favor, prossiga.

—Quando chegamos, tanto ela quanto Zephiros estavam caídos sem vida. Aimée estava de pé, emanando uma energia cósmica assombrosa. Alguns Filhos do Vento estavam em volta dela. O senhor Camus os liquidou enquanto eu carregava Aimée para longe. O pequeno corpo dela não suportou o poder – Misty ergueu o olhar – Dorothée possuía marcas características dos ataques de meu antigo mestre, mas ele…

—Não precisa concluir… Eu já sei onde isso acabará. Assim que o luto de Aquário passar, o encaminharei para treinar a garotinha.

—O Mestre Camus me pediu para cuidar do treinamento dela! – o loiro falou de imediato, se assustando em seguida com a velocidade das palavras – Segundo ele, eu sou um dos últimos Filhos do Vento… Saberei cuidar e controlar o cosmo da pequena.

—Claro… – o patriarca suspirou – Eu lerei o destino de Aimée nas estrelas em breve. Enquanto isso, ela ficará aqui aos cuidados de Genevieve. Pode voltar a Aquário.

—Sim, senhor.

Com a saída de Misty, Shion finalmente tirou o elmo e leu pacientemente o relatório enviado por Afrodite. A expressão antes preocupada tomou um tom divertido:

—A vida é realmente uma caixinha de surpresas… Primeiro, a filha de Salomé – deu um leve sorriso ao pensar em Marie – depois, a filha de Dorothée e, agora, a neta de Tatiana Romanov. Pelo jeito, a próxima geração de Amazonas será extremamente promissora.

O patriarca decidiu esperar por Afrodite para ir a Star Hill conferir o destino das garotas. Recolocou o elmo e foi cumprir com suas demais obrigações, até que um soldado o informou que um jato pousou próximo a uma das entradas do Santuário:

—Chame um grupo para guiar nossos visitantes e solicite a uma das servas que preparem um aposento na torre.

 

Na clareira, Afrodite aguardava junto a Raíssa, Tatiana e Vassily a chegada dos soldados para que os guiasse. Vassily optou por aguardar no jato, pois sabia que aquele era um assunto exclusivo da família. Os soldados vendaram Raíssa e a conduziram lentamente. Outra pessoa ficaria assustada com aquilo, mas não ela. Afrodite estava deslumbrado pela mulher:

—Essa postura impecável é porque ela, praticamente, nasceu dentro do Ballet Bolshoi— Tatiana falou, olhando para o Sueco - Fique tranquilo, eu também fico com inveja.

Seguiram pela rota alternativa, chegando rapidamente ao Salão do Grande Mestre. A venda do rosto da morena foi retirada e eles foram recepcionados por uma jovem de cabelos roxos:

—Saudações. O Grande Mestre irá falar com o senhor Afrodite primeiro e, assim que a audiência terminar, conversará com vocês - ela curvou um pouco o corpo - A mando dele, eu lhes preparei um aposento especial para que descansem da viagem enquanto esperam.

A serva as conduziu para uma sala mais reservada. Havia uma cama simples, uma bancada, um banheiro e um banco de mármore. Assim que a serva as deixou, Raíssa sentou no banco e suspirou, enquanto via os enormes olhos da filha a fitando com um ar de dúvida e ansiedade. Não era mentira: nada na vida havia a preparado para a maternidade, muito menos de crianças tão especiais quanto às suas:

—Mamãe… porque você tá tão nervosa? - A pequenina estendeu os braços pedindo colo - você tá com medo?

—N-não meu amorzinho. Mamãe já está pensando na saudade que vai ter de você... - A russa a pegou, colocou no banco e deitou a cabeça dela em seu colo

—Eu tô triste também… O que vai acontecer comigo? - os olhinhos dela se encheram de lágrimas - Eu vou ficar aqui porque tô de castigo por ter colocado a Tetya pra dormir?

—Não, Tatia! - Raissa suspirou enquanto alisava os cabelos cacheados da filha - Veja só… se lembra quando papai te explicou, o porquê do tio Vassily andar sempre armado e com outros tios de terno? - A pequena assentiu - Então… além de você ser uma criança especial por ser netinha da sua avó, você é especial de outro jeito também… de um jeito que as pessoas não vão entender muito bem.

—Eu sou um monstro mamãe? - suspirou cansada - Mas eu sou tão pequenininha...

—Não, Tatia, você não é um monstro… mas o mundo é cruel e não entende quando pessoas como você, seu pai e seu irmão, manifestam algo diferente.

—Como um super poder, mamãe?

—Isso! - A russa sentiu um alívio quando a menininha começou a entender melhor as coisas - É como se você tivesse um super poder, meu amor - Ela falava e dava beijinhos na pequena - E o Afrodite vai te ajudar a usar eles do jeito certo e nos momento certos.

—Pra eu não fazer besteira, não é? - Tatiana disse com um ar de riso logo depois abraçando a mãe - Eu amo você mamãe, vou sentir sua falta…

—Eu também minha flor…- Raíssa a balançava de leve em seu colo  com os olhos marejados- Mas jajá mamãe tá de volta tá? Assim que as coisas se normalizarem em casa, venho te ver…

Depois de alguns carinhos, a mãe passou a dar instruções sobre o comportamento a pequena. Claro que, depois, reforçaria com Afrodite tudo que disse, mas gostava de passar as responsabilidades para a sua ruivinha. Eram pequenas, considerando as grandes que ela teria naquele lugar. Ao terminar, ficaram brincando um pouco e Raissa trançou os cabelos da pequena pela última vez em algum tempo:

—O Vlad e o neném poderão vir? - A pequenininha perguntou com a testa franzida

—Não sei se o Grande Mestre vai permitir toda essa farra… acho que você pode esperar um pouquinho pelo Vlad, não é? Eu mandarei sempre fotos dos cães nas cartas pra você matar as saudades…

—Mas e o neném? - A pequena mantinha a testa franzida

—Tatiana, o que eu já disse sobre a testa? Vai ficar igual a do seu pai, toda marcada!

Quando a pequena ia rebater, a serva voltou acompanhada de Afrodite:

—O Grande Mestre irá falar com a senhora agora, Dama dos Punhais - o sueco falou em tom suave - Moneta ficará aqui com Tatiana, não precisa se preocupar.

 

O instinto de Raíssa nunca a traiu. Ela sabia que podia confiar na palavra do Cavaleiro de Peixes. Andaram por alguns corredores, até saírem de frente para uma porta de madeira entalhada. Dois soldados a empurraram e a visão da arquitetura do local inundou os olhos da morena. Ao fundo do Salão, um homem - ao menos parecia ser, pela altura - estava sentado em um trono, ficando de pé quando os viu:

—Não necessidade de reverência alguma. É um prazer recebê-la, senhora Romanov.

—Fico lisonjeada, senhor Grande Mestre, mas essa não é uma visita cordial… Bom, ao menos não essa. - A mulher suspirou - Pela conversa que tive com Afrodite, percebo que a única solução para Tatia é ficar aqui, porém, eu tenho algumas exigências.

—Se eu soubesse dessa parte, teria solicitado que preparasse um chá para nós - o patriarca sentou de volta no trono, arrumando a postura inconscientemente.

—Não há necessidade para tanto, pois serei breve - estava com as mãos ao lado do corpo, com a postura impecável de sempre - Primeiro: Seis meses de treino e seis meses em casa. Nada contra vocês, mas, além da saudade, prezo pela educação de meus filhos. Segundo: Tatiana cansa muito fácil, graças a uma queda em uma brincadeira com o irmão, aonde ela quebrou uma costela e  perfurou um pulmão. Terceiro: nada de muita exposição ao sol. A pele dela é extremamente sensível…

—Perdoe a interrupção, mas a senhora me ofende dessa forma – Afrodite apontou o dedo para o próprio rosto – Olha essa cútis! Como a senhora acha que mantenho esse tom de porcelana? Tenho os melhores filtros solares em minha casa. Do sol, ela estará mais do que protegida.

—Contenha-se, Afrodite - o Grande Mestre falou - Você ainda não sabe se será o responsável dela

—Perdão, senhor

—Será sim! A minha última exigência é que Afrodite seja o tutor, instrutor, mestre… Não sei qual termo vocês usam aqui, mas ele deve ser o único responsável por ela. Esse rapaz me inspirou confiança.

—Dadas as circunstância… Tudo bem, senhora Romanov. Há algo mais que deseja falar?

—Ah sim: Somente Afrodite ou eu podemos tirá-la do Santuário. Nenhuma outra pessoa. Nem meu marido, Dimitri… Ele pode acabar sendo coagido por alguém.

—Pois bem. Afrodite lhe passará o contato de Carlo. Ele é um dos elos de ligação do Santuário com o mundo externo. Qualquer recado dado a ele, chegará até nós - suspirou - Agora que estamos conversados, gostaria de um passeio?

—Não senhor… Na verdade, eu quero retornar a minha casa. Posso ver a Tatia mais uma vez?

—Claro… Leve-a de volta, Afrodite.

—Sim.

—Ah, senhor - Raíssa virou o rosto e falou antes de sair - Não preciso de venda, pois não tenho a menor pretensão de iniciar uma guerra contra o exército de Athena.

—Heh, certo. Nada de venda das próximas vezes. A começar pela sua partida hoje.

Quando cruzaram as portas, Raíssa reparou em uma moça morena de máscara aguardando ser anunciada:

—Por que ela estava usando uma máscara?- Olhou para Afrodite confusa

—Porque aceitou seu destino de guerreira. A partir do momento que uma mulher aceita servir Athena, deve colocar uma máscara para igualar sua existência a dos homens.

—Mas isso é um absurdo! - A Morena cruzou os braços, fazendo Afrodite lembrar dos gestos da pequena Tatia - Isso é machista e errado.

—Eu sei. Inclusive sempre ensinei minhas garotas a se rebelarem contra isso, só que, até agora, nada… - olhou para a morena e sorriu - Mas tenho boas vibrações quanto sua filha.

—Nunca que Tatiana se submeteria a isso - Raissa deu um meio sorriso - Tinha que ver, ela brigando com as enfermeiras no hospital quando quebrou a costela...

Após saírem da torre, Tatia foi recuperada e Afrodite  as acompanhou até o local onde o jato foi pousado. A morena deu um último abraço na filha e embarcou, ainda temerosa sobre a estadia na filha naquela terra estranha:

—As únicas piruetas e mortais que imaginei ela fazendo eram passos de dança moderna - riu sozinha, limpando uma lágrima enquanto o jato decolava - Mas,se isso ajudará a controlar seu poder, que assim seja, meu amor...

 

No solo, Tatiana e Afrodite acenavam, até que o pisciano notou lágrimas grossas e um bico imenso na pequena, ele talvez não entendesse antes todo o misanscene da mãe da ruivinha, mas uma parte ele parecia entender agora. A pequena, que tinha se mostrado tão forte e tranquila até aquele ponto, finalmente agia como uma menininha assustada de 7 anos:

—Calma, meu amorzinho… - O pisciano, que já tinha se afeiçoado a criança,se abaixou para consolá-la - Sua mãe já te disse que, assim que puder, volta pra te visitar… e, em algum tempo, você volta pra casa também!

—Eu sei… - A pequena enxugou as lágrimas mas manteve o beiço - Mas eu to com saudade da minha família e dos cachorrinhos...

O pisciano, coração mole que era, já conseguia imaginar o belíssimo pai da pequena embolado entre os quatro huskys chorando no chão de saudade, logo teve uma inspiração para afastar a tristeza:

—Pequena, sua vovó também teve que passar um tempo aqui... - ele enxugou algumas lágrimas - Não vai ser fácil, mas eu juro estar com você o tempo todo…

—Vai me ensinar a fazer florzinhas? - a pequena sorriu

—Vou sim.  Isso e muito mais. - O pisciano se levantou e estendeu a mão - Vamos? Que tal fazermos uma boquinha?

—Sim! - a pequena saltitou - Já estava ficando com fome…

—Você gosta de comida italiana, minha rosa?

—U-hum - balançou a cabeça positivamente. Os olhos verdes da ruivinha cintilaram naquele momento e ela bateu palmas - Eu, Vlad e papai amamos, mas mamãe não deixa a gente comer todo dia, pro papai não ter um troço do coração.

Afrodite franziu o cenho e riu da declaração da sua jovem aprendiz. Era a resposta que ele precisava. O sueco ainda tinha dinheiro suficiente nos bolsos para ir a “Il Palazzo”, a cantina de Carlo, um aspirante que não obteve sucesso em conquistar uma armadura, mas continuou servindo o Santuário como informante. Só precisavam dar uma volta, já que estavam relativamente longe do vilarejo de Rodório, por isso, Afrodite a carregava nos ombros, até que ouviram uma música ao longe. Ambos se viraram em direção ao som, e ao seu encontro desciam na estradinha que dava no Carlo, mais quatro jovens: Um de cabelos negros espetados, que carregava um Boombox tocando The Who, parecia entretido demais pelo som da música, outro de cabelos dourados e trajes hippies e dois jovens de longos cabelos azuis, um deles caminhava mais atrás do grupo, com um ar preguiçoso e o outro sorridente parecia caminhar ao som da guitarra de Baba o’riley e foi nele em que o olhar da pequena ruiva se fixou. Quando o viu se aproximar corou:

—E aí, Afrodite! Tá perdido por essas bandas? - Questionou o rapaz de cabelos espetados, sorridente.

—Vou levar uma amiga até o Carlo para almoçar - respondeu o Cavaleiro de Peixes - E vocês, o que fazem por aqui?

Os rapazes pararam para conversar com Afrodite, finalmente notando a menininha que ele carregava nos ombros, chamando a atenção do efusivo Aiolos e de Saga, que adoravam crianças:

Oin!! Quem é essa dálmata de porcelana? Aprendiz nova? Por que você tá sem máscara fofinha? - Perguntava em grego repetidamente Aiolos,que amava crianças e acreditava ter traquejo com elas, já que criava sozinho seu irmão mais novo, Aiolia - Olha se você for ficar por aqui posso te apresentar meu irmãozinho. Ele é um gatinho! Literalmente, já que é Cavaleiro de Leão.

—Dite, o que esse maluco tá falando? Eu não entendo nada - Tatiana olhava espantada para o rapaz que se dirigia insistentemente a ela, fazendo a mesma formar um beicinho automático - Eu tô com medo!

A atitude da menina causou estranhamento em Aiolos e fez todos os outros presentes rirem. Saga, ao ouvir o idioma em que a menina se comunicava com Afrodite, rapidamente resolveu a questão:

—Ela não entende o que você fala, seu goiaba! Não fala Grego - Sorriu o geminiano, fazendo a menininha corar instantaneamente.

—Exatamente. A menina só fala francês e você está assustando ela.

—AHHHH, por isso né?- Aiolos se exaltou dando mais um susto na pequena, que riu ao vê-lo se desculpar - Pardon, Petit Demoiselle

—Provavelmente não está acostumada com esse tipo de invasão, bicho grilo— Saga resmungou em francês, dando um tapa na cabeça do rapaz, ouvindo a risada dos outros atrás.

—Tatiana, ele é um cavaleiro como eu - Afrodite falou, ternamente - Não precisa se assustar… Ele só é meio biruta mesmo...

A ruivinha que ria da agressão sofrida pelo rapaz junto com os outros, aproveitou para observar o jovem rapaz de cabelos azuis, que bateu no amigo, se explicando em francês para que ela pudesse entender. Ele era lindo! Sentiu o coraçãozinho esquentar e o observava atentamente, fato observado pelo cavaleiro de peixes:

—Uma criança fofa dessas deve ser constantemente cercada de mimos pelas pessoas. - Resmungou Aiolos - Só se,no lugar onde ela mora, não gostem de crianças

—Ela não é cercada dessa forma por que é uma princesa, Aiolos - Afrodite resolveu o problema de forma simples e em grego. Não queria que Tatiana entendesse aquilo - Talvez, um dia, ela venha a ser imperatriz ou algo assim. Não vou dizer o nome da família porque ela pode nos entender, mas saiba que ela descende de gente importante… do Leste.

—Ah tá… - Respondeu Aiolos, ele podia ser meio sem noção, mas sabia ler entrelinhas. - Mas, mesmo assim, não aceito que não mimem essa pequena!

—Aiolos, não é porque o seu irmão te atura que toda pobre criança que você encontra por aí também tem de te aturar, né?! - O Capricorniano riu puxando o amigo pelo ombro

Saga, ignorando os amigos, e intrigado por aquela menininha que Afrodite carregava, logo se virou para a pequena, fez uma mesura e disse em seu idioma:

—Me desculpe então, princesa! Me chamo Saga e sou o cavaleiro de Gêmeos, aquele ali igual a mim só que com cara de goiaba bichada é meu irmão Kanon, o panaca que estava te enchendo é o Aiolos, Cavaleiro de Sagitário e o nosso honorável DJ é o Shura, Cavaleiro de Capricórnio

—Não tem cavaleiro de Escorpião? Eu sou de escorpião...- A ruivinha sorria de orelha a orelha para o rapaz, fato notado pelo seu novo amigo pisciano que estranhava a súbita simpatia da pequena - Meu nome é Tatiana e eu gostei dos seus amigos

Saga mantendo a cordialidade, pegou na mãozinha da pequena e deu um pequeno beijo, fazendo a mesma corar:

—Ah, como você é botinitinha! - Saga sorriu - ela é toda pintadinha, Shura.

—Tem sim, Tatiana, mas ele está treinando agora - Respondeu Afrodite interrompendo Saga - Em breve você irá conhecê-lo.

—Milo recebeu a armadura há poucos dias… - disse o geminiano - uma pena. Quem sabe, se você tivesse chegado mais cedo, Tatiana, a armadura poderia ser sua?

Os três - Saga, Afrodite e Tatia - seguiram seu caminho conversando um pouco mais a frente que os demais, até a entrada da cantina do Carlo, onde se separaram: Tatia e Afrodite escolheram uma mesa, enquanto Saga e seus amigos seguiram para seus afazeres. O gêmeo mais velho, após amarrar seu avental, olhou para a ruiva e falou:

—Vou preparar um belo prato de Spaghetti para você, boneca pintadinha.

Sorriu e entrou para a cozinha. A ruivinha, por sua vez, apoiou a mão direita no queixo, suspirou e falou ao sueco:

—Dite, preciso te contar um segredo - A pequena tinha um olhar sonhador vendo Saga ao longe, cozinhando.

—Pode dizer, Tatia… - o cavaleiro de peixes se aproximou

—Eu vou casar com o seu amigo quando eu crescer… ele é tão lindo...

—É o quê?

—Isso mesmo, Dite.  - Ela enrolava uma mecha cacheada em um dos dedos - Quando crescer, vou casar com esse homem

—Tatiana… Ele é, tipo, uns 10 ou 11 anos mais velho que você.

—E isso lá é problema, Dite? Imagina só, eu, imperatriz da Rússia de braços dados com esse homem? - suspirou - Isso é poder, meu querido.

—Você não tem juízo não é mesmo?

O sueco riu e segurou uma das mãos da menina. Ao mesmo tempo em que Carlo gritava com os rapazes pelo aparente atraso, Aiolos colocava na mesa o Antipasti, já que o prato principal demoraria alguns minutos.

 

Assim que terminou de conversar com Marie em Gêmeos, Shion rumou para o Salão do Grande Mestre, a fim de se preparar para o passeio combinado com a morena no fim da tarde, mas, no meio do caminho, mudou de ideia e decidiu ir a Star Hill. Em seu íntimo, desejava que o destino tivesse sido modificado devido às revelações que fizera a filha de Salomé - mesmo que tenham sido feitas de forma branda. Porém, ao chegar ao topo do monte sagrado, retirar o elmo e entoar os cânticos para se conectar com as estrelas, percebeu que pouca coisa havia mudado:

—Gêmeos, Sagitário, Áries e até Pavão - suspirou - eu esperava que, abrindo meu coração, conseguiria criar uma brecha, mas eu apenas envolvi a Marie no processo... Bom, só me resta ler o destino das duas jovens que chegaram hoje.

O Lemuriano concentrou na jovem Aimée e no pouco que conversou com ela. Não demorou muito e as estrelas responderam. Lagarto, Aquário, Flamingo e Cervo brilharam no céu:

—Ela herdou um grande e triste legado. Não sei se Misty terá poder o suficiente para domá-la. Esse trabalho deveria ser de Camus, mas... O mago da água e do gelo está em profundo luto. Não conseguiria treiná-la nunca. Talvez ela seja o único tipo de amor que ele conheça. Lagarto, por sua vez, era um filho do vento, que desertou o mestre e uniu-se a sua esposa - inspirou novamente e olhou para a constelação de Flamingo - pode descansar em paz, Dorothée. Sua filha está em excelente mãos.

Após o mestre pronunciar isto, a constelação perdeu seu brilho. Sua guardiã enfim descansara.

—Agora é a vez da outra jovem, a nova Tatiana Romanova.

Ao focar no rosto da ruiva, Shion tomou um susto. Todas as constelações se agitaram de uma forma que nunca aconteceu antes:

—Peixes, Serpente, Ofiúco, Perseu, Cervo, Gêmeos, Capricórnio, Escorpião… Eu simplesmente não entendo! Em anos, é a primeira vez que vejo uma manifestação estelar coletiva tão estranha… A menos que… - O patriarca se concentrou mais um pouco e enfim enxergou o futuro com clareza. Algo que o deixou ainda mais espantado - Ela é um perigo iminente, mas também uma peça de suma importância no destino de Athena e da Terra.

Com isso, recolocou o elmo e partiu para sua morada, a fim de concluir os compromissos que tinha para a tarde.


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