Primeiro, eu matei o meu pai... escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel


Capítulo 4
Capítulo III.




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Naquela manhã, Camus estava em Aquário, aproveitando um pouco a incomum tranquilidade. Entre uma página e outra de “A Dama das Camélias”, saboreava uma fumegante xícara de chá. Estava tão imerso na leitura, que não percebeu quando Misty entrou afoito na biblioteca, carregando um envelope com o selo do Grande Mestre rompido:

—Mestre Camus? - o cavaleiro de Lagarto o chamou suave, sabia que o dourado detestava ser interrompido quando lia – Perdoe-me por atrapalhar sua leitura, mas… Um soldado do Grande Mestre trouxe essa convocação. Disse que era urgente.

—Urgente quanto? - questionou sem tirar os olhos do livro

—Eu… Tomei a liberdade de abrir – respondeu com receio – Tem a ver com Dorothée.

Ao ouvir o nome da mestra, Camus tirou os óculos e atirou o livro na poltrona, ainda caminhando, a armadura revestiu seu corpo:

—Creio que essa carta exige a presença de um assecla – indagou, parando no meio do caminho, sem virar o rosto – O que você está fazendo aí parado?

O loiro nada disse, apenas seguiu os passos do Cavaleiro de Aquário, questionando em seu íntimo como seu superior sabia o conteúdo da carta sem sequer tocar nela.

 

Os dois aguardavam serem anunciados para estarem a presença do Grande Mestre. Assim que entraram no salão, Camus tomou um choque, pois outro cavaleiro de Ouro também estava lá: Afrodite de Peixes, juntos de suas duas asseclas. O baque foi tão grande, que o francês quase perdeu a compostura, mas se recompôs, ajoelhou em reverência e saudou:

—Eu vim o mais rápido que pude, Grande Mestre.

—Eu vou direito ao ponto – o Patriarca falou em voz firme, fazendo sinal para que os dourados e seus asseclas ficassem de pé – A pouco recebi uma mensagem de Crystal de Coroa Boreal – respirou – Após quase seis anos, os Filhos do Vento finalmente deram sinal de vida. Zephiros e os demais foram avistados na Riviera Francesa.

—Quando partimos? - Camus perguntou depressa. Não queria mais explicações.

—Irei acompanhá-los até o limite do Santuário… Teletransportarei-os até Paris, pois tenho quase certeza de que eles procurarão algo por lá antes. Afrodite, você ficará com Shina e Geisty acompanhando os passos deles de perto. Quanto a Camus e Misty…

—Chantilly – respondeu sério – Não precisa falar duas vezes, senhor.

—Vocês tem 20 minutos para apanhar o que precisar. Após isso, me encontrem no limite oeste, próximo ao monte Star Hill.

                                            

                                              ***

O que era para ser apenas uma missão de reconhecimento e, talvez, captura dos Filhos do Vento tornou-se algo extremamente diferente. Afrodite chegou no fim da batalha, mas pôde ver aquela pequena garota de cabeleira vermelha esvoaçante causando dor psicológica a uma amazona negra. Sentiu o cosmo que fluía dela, junto com algo antigo e poderoso, algo que ele jamais sentira antes. Aquela garota era Tatiana Romanov, descendente direta da antiga família real russa.

—Essa garota, Mestre Afrodite – Geisty tomou a palavra. Tinha parte da máscara partida – Ela tem um poder incrível. Devemos levá-la ao Santuário imediatamente.

—Primeiro de tudo: eu preciso do relatório da missão. Segui Zephiros um bom tempo, mas perdi seu rastro. Creio que Camus e Misty o interceptaram, já que não sinto o cosmo dele – respirou – Depois disso, preciso falar com a família dessa garota.

—Mas senhor Afrodite – Shina tomou a frente – Ela quase aniquilou uma amazona negra apenas com a mente. Por que falar com a família dela quando…

—Esta garotinha pertence a uma família que quase foi totalmente dizimada… Quase, pois recebeu ajuda do Santuário no passado – olhou para o rosto sardento, que dormia sereno, sujo de fuligem – Não posso tomar nenhuma decisão sem antes contatar os pais dela. Parece que está no destino de Peixes ajudar os Romanov.

—Romanov?! - a amazona de Serpente questionou espantada – Aqueles Romanov?

—Eles mesmos… - Afrodite deu um meio sorriso quando ouviu a amazona de Ofiúco soltar uma exclamação de espanto - Por enquanto, vamos voltar ao nosso abrigo e esperar que ela acorde. Amanhã, pela manhã, eu mesmo a levo para os pais.

Na hospedaria, Afrodite ouviu com atenção o relatório de Geisty e Shina. A pequena Tatiana ainda estava desacordada, o que gerou uma leve preocupação no pisciano:

—Geisty, por favor, dê um banho nela. Shina, prepare uma sopa… Ela vai acordar faminta.

—E se ela acordar assustada e fizer conosco o mesmo que fez com a Amazona Negra? - Shina questionou.

—Não tema isso, criança – falou sorrindo – aquilo foi fruto da adrenalina. Ela não domina seus poderes… Se dominasse, teria derrubado nós três e fugido pra casa saltitando. Eu vou até o serviço postal enviar um telegrama para a família.

—Ótimo, vão pensar que somos sequestradores – Geisty retrucou. Graças a máscara parcialmente quebrada, foi possível ver um de seus olhos negros rolando para cima.

—Não, porque eu sei usar as palavras certas – Afrodite olhou para a alemã e completou – Garota… Ou você coloca uma máscara inteira ou tira essa de vez. Tá bizarro te olhar com essa cara de ciclope.

—Mas a lei…

—É uma piada ultrapassada. Estamos nos anos 70, quase 80! Vocês deviam queimar os bustiês de treino para ganhar liberdade.

Torceu uma mecha do cabelo e saiu. Afrodite era uma figura excêntrica e misteriosa, mas, acima de tudo, era justo e respeitador.

 

Passava das 6hrs da manhã quando alguém tocou a campainha do apartamento da família Romanov. Ainda meio sonolento, Dimitri vestiu o robe e se prontificou em abrir a porta. Deu de cara com a irmã de pijamas e cabelos desalinhados, carregando apenas Vladmir:

—Alix?! - questionou confuso – O que faz aqui a essa hora e onde está…

—Saia da frente, Mitrya – a irmã o empurrou, entrando na casa – Onde está aquela meretriz que você chama de esposa?!

—Não falte com respeito a minha mulher em minha própria casa, Alexandra! Posso saber o motivo da senhora estar tão cedo aqui?

—Oras, sua praga! -A mulher resmungou-Tatiana e Vladmir me doparam para brincar na floresta e, adivinha o que aconteceu? Tatiana foi sequestrada, segundo o irmão, por homens de preto!

Raissa, que despertou logo depois do marido, um pouco desnorteada, vestiu a camisola que estava jogada no chão, um robe e desceu, enquanto ouvia uma discussão a acalorada ecoando nos corredores;

—COMO ASSIM A TATIANA SUMIU ALEXANDRA? - O ruivo urrou, sentindo o filho correr atrás de si

—Mas o que diabos você está fazendo aqui, gritando na porta da minha casa a essas horas? - A morena resmungou sonolenta sentindo Vlad abraçar uma de suas pernas assustado

—Isso mesmo, suka. Seus amiguinhos da KGB finalmente vieram atrás de vingança pela sua traição! - Alexandra caminhou ferozmente em direção a cunhada e foi segurada pelo irmão - Pra cima dos meus sobrinhos!

—Não me ofenda, sua desvairada!– Raíssa avançou para cima da cunhada, mas foi interceptada por Dimitri que já pedia aos céus que arrumasse alguém para ajudá-lo a apartar as duas, até que viu um dos cachorros começar a latir contra sua irmã, sendo seguido dos outros.

—MAS QUE DLOGA, PAREM COM ISSO! - Vladmir, com lágrimas nos olhos, gritou e bateu os pézinhos – Invés de perderem tempo se xingando vocês deveriam estar procurando a minha Tatia!

Quando o pequeno se manifestou e se debulhou em lágrimas, Raissa sentiu o tamanho da seriedade do que estava acontecendo. Pegou o pequeno no colo e encarou o marido assustada:

—Ligue imediatamente para Vassily. Eu vou dar um banho no vlad para acalmá-lo - Ela suspirou enquanto acalentava o ruivinho - Isso não pode vazar de maneira nenhuma! Entre em contato com a equipe de segurança da sua casa também, Alexandra! Sua mãe também pode ser um alvo.

A mulher a encarou com um ar de superioridade, mas concordou, tentou pegar no braço do irmão mas esse a repeliu, e caminhou rapidamente até o telefone. Uma noite perfeita tinha sido estragada sem precedentes.

 

Raissa deu um banho morno no pequeno e o colocou para dormir com seu ursinho favorito em sua cama, descendo logo depois para a sala com o coração na mão. Conforme as horas iam passando, a tensão no apartamento aumentava.

Alexandra resmungava ao telefone com alguém na casa, Raíssa andava de um lado para outro fumando e Dimitri encarava o telefone de outra linha. Vassili estava na calçada e, caso visse algum movimento estranho, informaria o serviço de segurança pelo rádio. Foi quando um funcionário do serviço postal lhe entregou uma carta. Seria algo banal, se um selo em especial não chamasse a atenção do antigo parceiro de Raíssa:

—Preciso levar isso para o Mitrya agora.

O loiro subiu as escadas rapidamente, abrindo a porta de supetão, assustando Dimitri, que parecia bastante desnorteado:

—Tatia apareceu?

—Não, mas…

—Eu sabia que esse seu amigo incompetente só queria chamar atenção, sua vaca comunista!

—Dimitri, eu juro que, se sua irmã falar mais uma vez nesse tom, eu volto a ser uma espiã de verdade e…

—Você nunca deixou de ser uma espiã, suka! Não passa de uma cadelinha comunista, que se fingiu de bailarina para seduzir meu Mitrya!

Vassili e Dimitri resolveram ignorar a briga por hora. O assessor ainda pensou que, se Raíssa resolvesse realmente torturar a cunhada, não seria de todo mal. Estendeu o envelope a Dimitri, que o olhou atentamente:

—Esse selo é…

Ele abriu o envelope e confirmou o que imaginava. Um cartão com grafias gregas e um símbolo do zodíaco. Piscis. No verso, a caligrafia bem desenhada e extremamente formal:

“Minhas cordiais saudações, Dimitri Romanov. Escrevo-te para informar que a pequena Tatiana está bem, sob meus cuidados e de meu clã, após quase sofrer um sequestro por parte de alguns mercenários. A casa de Peixes jurou proteger a sua família há séculos, o que é uma honra para mim. Levarei sua garota em segurança após as 15hrs de hoje e aí conversamos pessoalmente. Atenciosamente Afrodite de Peixes”

—Senhor.. - Vassili falou – trata-se de…

—Sim. Uma carta de cavaleiro – respondeu sorrindo – A Casa de Peixes segue protegendo os Romanov.

—Dimitri… - Alexandra caminhou em sua direção, tomando a carta de sua mão – Acaso é um pedido de resgate?

—Não, Alix… Um comunicado de proteção - Ele respondeu cansado

—Não entendo nada do que diz aqui – jogou o cartão na mesa – de qualquer forma, vou a polícia, essa situação já passou dos limites. Pegue o carro, Vassili.

—Não, você não vai! - Dimitri a segurou – Afrodite nos devolverá Tatia à tarde.

—O que você quer dizer com isso, Dimitri? - Raissa deu um tapa numa mesa de centro, se levantando com raiva - você mandou sequestrar nossa filha?!

Dimitri fechou os olhos e respirou fundo. Em seguida, olhou para o assessor:

—Vassili, por favor, mande o carro que a trouxe levar a Alix de volta para a casa dela… mamãe não pode ficar sozinha...

—Mas eu não quero ir para a casa, Mitrya! - Alexandra exclamou – Eu quero estar aqui para quando Tatiana chegar.

—Sua casa é mais segura, Alexandra – Raissa disse tranquila, abrindo um novo maço de cigarros – Vá para lá.

—Por que garante que minha casa é mais segura?

—Porque eu sei que, tudo que você fará aqui, é acusar Tatiana pelo próprio sequestro, dizendo que ela herdou a índole de terrorista comunista da mãe, que se fingiu de bailarina do Ballet Bolshoi para seduzir seu amado Mitrya – tragou o cigarro com ódio – sua casa é mais segura porque eu não estarei lá para te eviscerar quando acusar a minha filha do que ela fez.

—MAS ELA ME DOPOU PARA FUGIR PELA FLORESTA!

Sestra, por todos os deuses – Dimitri falou com o polegar e o indicador entre os olhos – Fui eu que ensinei a dose exata pra te fazer dormir 12 horas seguidas! Cansei de fazer isso quando você vinha passar as férias em casa, considerando que você sempre foi completamente maluca. Agora vá pra sua casa ou eu chamarei um táxi!

—Mitrya! Eu não acredito que você…

—Vamos, dona Alexandra… - Vassili interrompeu, tomando a senhora pelo braço e arrastando-a para fora – vamos logo, antes que a Raíssa tire as facas sei lá de onde… Irya deve estar lá embaixo...

Assim que eles bateram a porta, a morena respirou aliviada, se jogou na poltrona e encarou o marido:

—E então? O que tem pra me dizer?

—Bem… primeiro quero que Vassily volte, vamos para o meu escritório aonde sei que ninguém vai nos ouvir... - Ele apenas abraçou as esposa alisando suas costas - Nunca pensei que fossemos passar por algo do tipo…

—Nada de funcionários nesta casa, por enquanto – A morena suspirou – Não quero essa história correndo por aí porta afora.... Eu vou checar o Vlad para ver se ele está bem... – Raíssa se soltou dos braços do marido – Tadinho... deve estar apavorado com isso tudo..

—Eu sei…- o Ruivo fungou se aproximando da esposa e dando um beijo em sua testa  – E nós pioramos ainda mais a situação…

—A  tóxica da sua irmã piorou, diga-se de passagem – Raíssa tinha um tom sério – Não pense que isso termina hoje… Eu estou cansada dessa postura ridícula dela!

—Eu sei – respirou fundo –Mamãe nos criou igualmente...Não entendo porque ela é desse jeito!

Dimitri decidiu ir informar a equipe de segurança para que cancelasse todas as atividades de funcionários em casa. Não precisava de mais ninguém ali, apenas se sentou no chão e abraçou um dos cachorros, que parecia tão triste quanto seu dono:

—Calma, Bordeaux! Nossa Tatia está bem protegida… Já já ela volta pra andar com você...

Quando Raíssa  voltou à sala, acendeu um cigarro e se serviu de uma dose de Vodka.

—Vai morrer com tanto cigarro - Disse o ruivo, que agora alisava dois cães

—É isso ou esfaquear alguém… No caso, o alguém é a sua irmã – deu um último trago e apagou o cigarro, observando o ruivo servir mais duas doses de vodka – E então, vai me explicar a carta e quem é Afrodite?

—Você sabe do ataque que minha família sofreu, não é?

—Que russo não sabe disso, Mitrya? - deu um gole leve – Eu mesma fui enviada pelos vermelhos para descobrir se você tinha algum golpe em mente… Se hoje eles não se metem contigo é porque sabem que estou aqui com Vassili.

—E eu sou eternamente grato por sua precisão com facas – sorriu – minha mãe teve sua própria Raíssa. Um anjo de armadura dourada, que a livrou dos algozes, levando-a a viver em um lugar belo, saído diretamente das páginas da mitologia Grega: o Santuário de Athena.

—Dima, o que tem no seu copo além de vodka?

—Nada... Estou te contando o que minha mãe me contava antes de dormir… E quando minha irmã não estava por perto. Mama Tanechka me falou do que viveu lá, contou sobre o Grande Mestre e como os cavaleiros se ocultavam na sociedade. Quando ela teve poder suficiente para sair das sombras, enfrentou os Russos e recuperou parte de suas posses e se exilou em Paris.

—O que você quer dizer com poder suficiente?

—Você já percebeu que eu tenho uma ligação especial com animais, tal como o Vlad e a Tatia é a criatura mais intuitiva do universo? Minha família… Ela vem de uma antiga dinastia de druidas, sendo que o poder maior flui nas mulheres da família. A reunião que tive ontem, por exemplo, era com uma representante do clã de Salém. Queria informações de magias de proteção para…

—Dimitri… Se isso for verdade mesmo, nossos filhos, sobretudo Tatiana, precisará de muita proteção.

—Não é pra tanto… Alexandra, mesmo, quase não manifesta seu poder. Na verdade, mama colocou na cabeça dela que era somente intuição.

—Não digo da sua descendência, mas da minha... Ou você acha que eu, dançando ballet, conseguiria apenas enxergar os assassinos atrás de você e atirar as facas? - virou o copo de vodka e completou – Eu sou descendente do mais alto escalão Nganasans, a tribo xamã do norte da Sibéria… Você sabe bem o que isso quer dizer? Que ambos temos uma linhagem de feitiçaria que só se manifesta em mulheres! Tatiana precisa de muita proteção.

Enquanto os dois se encaravam, os cachorros começaram a latir desesperadamente e puderam ouvir a voz grave de Vassily e os gritinhos da filha celebrando a recepção dos animais. Logo caminharam rapidamente até o lobby, encontrando com Vassily e um rapaz desconhecido, aparentava ter em média 15 anos. Tinha um corpo definido, mas o rosto era delicado como os das divas hollywoodianas dos anos 50. Uma rosa estava em sua orelha direita. Já Tatiana, pulava alegremente no colo do rapaz que era atacado com alegria pelos 4 cachorros da família:

—Meu deus! Filha – Raíssa tomou a frente, pegando a pequena nos braços e tentando esconder algumas lágrimas  – você está bem?

—Uhum, tô sim – abraçou a mãe – Viu como meu novo amigo é bonito? E bem forte também. Ele e as outras moças que me salvaram, embora eu tenha acabado com a vadia que me sequestrou.

—Olha a boca, filha! - Dimitri repreendeu, alisando os cabelos dela – por que não vai colocar uma roupa do seu tamanho, enquanto converso com o rapaz?

—Claro, papai - deu um beijo em seu rosto e desceu do colo de Raíssa – Mas não deixe a mamãe atirar facas nele, igual ela quer fazer.

Raissa desceu a menina, que foi saltitante acompanhada pelos cães até seu quarto.Assim que a criança estava bem longe, Raíssa encarou o jovem. Pela aparência, sequer tinha quinze anos. Percebendo o incômodo da morena, sorriu e falou:

—Como Tatiana disse, não há necessidade para usar esse punhal preso em sua cintura… E nem a faca borboleta, disfarçada de presilha em seu coque – deu seu melhor sorriso – A família Romanov é realmente fascinante.

—E quem é você, afinal de contas? - a russa mantinha a postura firme, com a mão direita ainda pronta para pegar qualquer uma das armas de estimação – Não pense que me encanto com sorrisos, palavras ou rostos bonitos.

—Ah, eu peço perdão por minha deselegância, mas creio que o Senhor Dimitri sabe quem sou, visto que está em silêncio mediante minha presença.

—Porque creio que seja Afrodite. Estou certo?

—Exatamente - curvou o corpo brevemente - Afrodite de Peixes a disposição dos senhores.

—E você espera que eu acredite que, se esse exército de Athena realmente existir, eles teriam em seu esquadrão um garotinho andrógino magricela? - debochou a ex-espiã.

—Bom, se minha palavra não basta – o jovem fechou os olhos e uma luz dourada inundou o local, fazendo com que Dimitri e Raíssa escondessem os olhos. Quando o brilho se dissipou e suas visões voltaram ao normal, o corpo esguio do jovem estava revestido com uma bela armadura dourada – creio que o oricalco unido ao ouro presente em minha armadura são suficientes para que a dama acredite no que digo. Agora, sem mais delongas – ele deu alguns passos e acomodou-se no sofá de couro branco – precisamos conversar sobre o que Tatiana é capaz de fazer.

O olhar de Dimitri correu rapidamente pela armadura do rapaz. Era semelhante a um desenho que sua mãe havia feito a ele, enquanto relatava o tempo que viveu na Grécia. O ruivo viajava nas lembranças quando a voz da esposa o tirou do transe:

—Ao que se refere quando diz “o que Tatiana pode fazer”?

—É um assunto delicado… Seria melhor se vocês se sentassem e… - agitou os cabelos – sei lá, bebessem algo.

—Meus modos – Dimitri levou a mão a testa – aceita uma Vodka, Afrodite?

—Obrigado pela oferta, mas, apesar de Cavaleiro, a Dama dos Punhais estava certa ao afirmar que sou apenas um “garotinho”.  Tenho 14 anos…. Não posso beber álcool, mas um suco de laranja ou um chá-preto seria de bom grado.

—Bem, vou buscar algo então para refrescar, já que liberamos todo o staff de casa hoje… a última coisa que eu queria era que isso tudo virasse um grande escândalo...

O ruivo saiu e, então, o cavaleiro virou o olhar para a morena:

—Perdoe-me, senhora, mas certos assuntos, a gente trata com quem tem o maior poder da casa – ele sorriu – É fato que o Sr Romanov deixou sua parcela, mas o maior poder xamânico de Tatiana veio de você.

—E como sabe disso?

—Eu sou um cavaleiro. Abençoado por Athena e guiado por uma constelação. Eu sinto a magia, mesmo que leve comparada a sua filha, em você. Algo antigo e que, provavelmente, passado apenas as mulheres da família.

—Está certo sobre isso… Mas o que ainda está me escondendo?

—Você tem uma intuição muito forte, mas não é nem 1/10 do poder de sua filha – ele pousou uma mão sobre a dela – concentre-se no meu olhar… Eu não posso dizer o que escondo em voz alta.

Foram apenas flashes rápidos, mas Raíssa viu as memórias de Afrodite. O que a filha fez com uma mulher guerreira. Algumas outras histórias desconexas, algo que a assustou, e fez soltar a mão do sueco:

—Isso… O Mitrya, ele…?

—Eu creio que nem a dama Alexandra Romanov saiba… É algo que apenas a sua sogra tem conhecimento.

Dito isso, o jovem cavaleiro ficou de pé e encarou um dos quadros na parede, um retrato da responsável pela continuidade da família. Era bem semelhante a garotinha que ele salvara, exceto pela ausência de sardas e do cabelo castanho:

—Minha mãe era uma mulher muito bela quando jovem – indagou Dimitri, que retornava ao escritório com uma bandeja com um bule de chá, suco, frutas, geleias e alguns biscoitos – Ela vivia repetindo, quando eu era criança, que tínhamos proteção divina vinda da Grécia, até que um dia me contou sobre os cavaleiros.

—Ah, que gratificante – o sueco virou o corpo com um enorme sorriso na face – o lanche parece delicioso.

—Agora que o Mitrya voltou – disse Raíssa, servindo-se de uma xícara de chá – Poderia nos falar sobre o porquê Tatia precisa de sua proteção?

—Ah claro! - o sueco se sentou, cruzou as pernas e serviu-se de um copo de suco – a filha de vocês possui um grande poder adormecido. Um poder antigo e que desconheço – olhou para Dimitri – eu sei quem é sua mãe. E sei que ela têm as mesmas habilidades. Uma antiga tribo de feiticeiros… Tal como a família da Dama dos Punhais – sorriu para Raíssa, deu um gole em seu suco e prosseguiu – mas, além disso… Sua filha possui o poder de queimar e expandir a cosmo energia. Algo que apenas os escolhidos por Athena são capazes de fazer.

—E o que isso quer dizer? - a morena questionou curiosa. Diferente de Dimitri, que aparentava manter-se calmo, ela ainda não entendia tudo aquilo.

—Tatiana precisa ser levada ao Santuário e receber um treinamento para controlar suas habilidades. Ambas habilidades.

—Durante quanto tempo?

—Não sei dizer com precisão. O tempo é variável de acordo com a habilidade e predisposição de cada indivíduo. Há aqueles que controlam em 100% seu cosmo com um ou dois anos e apenas aguardam o chamado de uma armadura, como também existem aqueles que treinam por anos e só conseguem atingir o nível de soldado raso – deu mais um gole em seu copo de suco.

Raíssa e Dimitri se entreolharam. O ruivo acenou com a cabeça para a esposa. A decisão cabia a ela. Inspirou profundamente, lembrando que tudo que o jovem cavaleiro lhe mostrava. Era o certo a ser feito:

—Muito bem, Afrodite de Peixes – a morena falou, encarando os olhos azuis do rapaz – Você pode levar a Tatia para o Santuário, mas com algumas exigências de minha parte.

—Eu sabia… - deu um leve sorriso – Estou às suas ordens. Diga suas condições

—Sem ofensas, Afrodite, mas não quero dita-las a você. Não duvido de sua força e de seu valor para o exército de Athena, porém todo exército que se preze possui um general. Eu eu quero uma audiência com ele.

—Eu já esperava por isso, Madame, por isso tomei a liberdade  de enviar uma carta ao Grande Mestre, o comandante geral das forças de Athena, informando que, possivelmente, levaria a jovem Tatiana e um de seus responsáveis para, assim, discutirmos o melhor que pode ser feito por ela...

Dimitri parecia querer se manifestar, mas um do cães latiu e o distraiu, fazendo com que Raissa falasse antes:

—Eu posso ir com você não é? - Raissa logo se pronunciou - Acho que me sinto mais confortável com isso tudo se for eu quem acertar tudo...

O sueco assentiu com a cabeça e a morena deu um meio sorriso ao ver que o marido deu de ombros, no fundo ele sabia que a esposa não se perdoaria por não ir. O Russo ia se manifestar e dizer mais alguma coisa, porém seus pensamentos foram novamente interrompidos com os latidos insistentes de um dos cachorros, que parecia mais falar em uma língua estranha:

—Ah os cachorros devem ter acordado os meninos - Dimitri levantou-se e abriu a porta, vendo os dois filhos caindo ao seus pés, derrubando um dos animais - Vocês subiram no Bombay para ouvir a conversa?

Os pequenos deram um sorriso amarelo de resposta, enquanto o cachorro respondia com latidos:

—Ah ótimo! Venham logo…

Dimitri pegou os dois no colo com um sorriso triste, talvez fosse por um bom tempo a última vez que brincaria com os seus dois filhos juntos. Não seria fácil, até porque sua despedida não seria das melhores, a verdade era que ele odiava despedidas, não tinha durado no colégio interno pois sofria horrores com a falta da mãe.

O cavaleiro de peixes deixou o apartamento com a desculpa de ir resolver algumas coisas antes que partissem no outro dia. Enquanto isso, a família aproveitou de um raro momento de privacidade, enquanto arrumavam os pertences de Tatia e aproveitavam aqueles últimos momentos juntos.

 


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