Primeiro, eu matei o meu pai... escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel


Capítulo 6
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo faz conexão com o capítulo "Let's Kiss and say good bye" de "Enquanto o Grande Mestre não Descobrir". (Não somos a Marvel, mas adoramos um universo estendido)



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Aimée ficou um pouco temerosa ao ser separada de Misty, mas a serva de cabelos cor de ferrugem logo a acalmou:

—Não se preocupe, mon petit— a acalmou em sua língua nativa - Eu cuidarei de você, enquanto o Grande Mestre vê seu futuro nas estrelas.

—Ele… Ele vai me jogar na rua por não ter mamãe ou papai?

—Oh não - as duas haviam chegado a uma espécie de cozinha, onde a serva a colocou sentada em uma cadeira e virou-se para preparar algo para ela comer - Muitos de nós já chegamos ao Santuário órfãos. Conta-se nos dedos quantos Cavaleiros conviveram com seus pais e, se esse convívio existiu, foi por pouquíssimo tempo… É uma honra para um cavaleiro perder a vida em batalha.

—Didier, meu primo a quem vocês chamam de Camus me disse isso.

A pequena ainda tinha os olhos cabisbaixos quando a serva colocou em sua frente um copo de suco, uma espécie de pão e alguns pedaços de carne:

—Camus é um bom garoto - Genevieve se sentou e sorriu, com o gesto, a loirinha notou algumas marcas do tempo - E eu sei que você confia nele… E ele confia no Grande Mestre e em mim. Coma e, depois, eu te levarei a um lugar para você descansar.

—Mas… Eu achei que ia ficar com o Thierry e meu primo…

—Isso só depois do Grande Mestre ler as estrelas… Mas fique tranquila. Certamente, você será treinada por um dos dois e será uma amazona tão excepcional quanto sua mãe foi.

Genevieve contou a Aimée coisas sobre Dorothée, sobre seu poder de luta e conquistas no Santuário. Falou também sobre Camus e Misty e o quanto eram promissores, mesmo tão jovens. Isso a tranquilizou um pouco, a ponto dela fazer a refeição completa. Depois disso, o cansaço finalmente atingiu seu corpo:

—Eu vou preparar um aposento para você na torre - a mulher falou com uma voz terna, segurando a mão da pequena.

Caminharam por diversos corredores iluminados por tochas. Aimée se sentia em um dos contos que a mãe lia para ela dormir. Até que pararam. A serva pediu que ela aguardasse alguns instantes, pois verificaria uma coisa. Entrou por uma porta e a fechou. Provavelmente, alguma outra obrigação que tinha. Aimée ficou de pé, observando o bruxulear de uma tocha, até que ouviu vozes vindas de uma outra porta, que estava entreaberta. Ousou espiar pela fresta e viu uma mulher de cabelos negros sentada em uma espécie de banco de pedra, com uma menina ruiva com a cabeça deitada em seus joelhos. Elas conversavam em francês, o que possibilitou a filha de Dorothée ouvir parte da conversa. Eram mãe e filha:

—Mas...Genevieve disse que poucos têm papai e mamãe… - a menina falou para si, se afastando da porta - Elas acabaram de chegar… Eu não entendo…

—Aimée - a serva que a acompanhava havia retornado - desculpe a demora. Precisei confirmar com outra serva qual o quarto você ocupará por enquanto.

A loira apenas assentiu a cabeça e seguiu Genevieve até uma outra porta, que dava acesso a uma pequena suíte, com uma cama macia, uma cadeira e uma mesinha, na qual havia uma sineta em cima:

—Se você precisar de algo, basta tocar, que alguém aparecerá.

—Tudo bem, Genevieve. Obrigada.

—Você é linda e muito educada.

Acariciou o cabelo da loirinha uma última vez e saiu. A enorme cama macia colaborou para que o corpo da pequena finalmente descansasse por completo. Aimée dormiu durante toda a tarde e, tirando toda a preocupação Genevieve, acordou para fazer a refeição noturna, escovou os dentes e tornou a dormir. Foi acordada pela serva no horário da manhã, com uma bandeja de frutas, iogurte, pão e fatias de carne:

—Estava muito gostoso, Genevieve - a criança respondeu, com a boca ainda melada de Iogurte.

—Fico feliz que tenha gostado… Agora vá se lavar, que tenho que te levar ao Grande Mestre. Ele te encaminhará ao seu mestre hoje.

 

Em Peixes, uma situação semelhante acontecia. Tatiana despertava em meio aos enormes lençóis de seda e travesseiros macios, com um enorme desjejum servido por uma serva de cabelos castanhos e cacheados. Tatia observou que ela vestia uma túnica de cor diferente das outras, com um tom azul claro, que Afrodite apresentou como Dione:

—Ela cuidará do que eu não puder fazer para você - o pisciano falou, roubando uma uva da bandeja - como ajeitar suas roupas, te dar banho…

—Ah tá… Achei você já ia me abandonar.

—Isso nunca, minha rosa! Dione cuidou de min quando eu era mais jovem e agora delego a ela essa função... - acariciou-lhe os cabelos bagunçados - Agora coma, se limpe e se troque, pois o Grande Mestre nos espera.

Cerca de uma hora depois, Misty chegou ao Salão do Grande Mestre e aguardou ser anunciado, ao mesmo tempo que Afrodite chegou acompanhada da pequena Tatiana, chamando a atenção do francês:

—Senhor Afrodite… - o loiro o cumprimentou com breve reverência - Não o vejo desde que retornei da França.

—Não houve tempo, Misty… E, por Athena, largue essas formalidades. Não sou seu superior ou nada do tipo.

—Tecnicamente, é sim… - virou seu olhar a pequena ruiva - E essa garotinha?

—Ah, Tatiana… É uma pequena bruxinha com habilidades cósmicas incríveis que encontrei enquanto estava no encalço de sua ex-amiguinha Ananda.

—Estava demorando para começar as provocações - rolou com os olhos - Achei que, quase seis anos, seriam o suficiente para desvincular minha imagem com a de Zephiros.

—Oh não, meu caro… Ainda mais agora, que soube que você resgatou a prole dele.

O Sueco apontou sutilmente para a frente, levando Misty a virar o olhar, vendo a pequena Aimée se aproximar em roupas gregas, de mãos dadas com Genevieve. A pequena sorriu ao ver o loiro, que virou o rosto de volta para Afrodite, franziu o cenho e falou sério:

—Nenhuma palavra a ela sobre este homem! Ela acredita que o pai morreu antes dela nascer.

—Pode deixar que não falarei nada… Adoro um drama familiar - o sueco passou um dos dedos no canto direito da boca de Misty - Seu batom está levemente borrado, querido.

—Você é tão venenoso quanto suas rosas - e virou o corpo todo, a fim de recepcionar a filha da mestra.

Tatiana apenas encarava aquele diálogo, em uma língua que ela não entendia, com um sorriso enigmático no rosto. Ainda tinha saudades da família, mas sentia que tinha arrumado uma distração:

—Dite… - o chamou, puxando pela capa.

—Sim, Tatia?

—Quem é essa garota com cara de camponesa?

Apesar do tom baixo, a loira claramente ouviu a declaração. A garota ruiva em nada lhe agradara. Claramente possuía alguns privilégios que ela não tinha, a começar por uma mãe. Aimée se preparava para tomar satisfação com aquela garota, quando viu as portas do Salão do Grande Mestre se abrir e um soldado fazer sinal para que entrassem. As duas garotas caminhavam em frente aos rapazes, sendo que Tatiana sorria e olhava para frente, enquanto Aimée a encarava com ódio. Pararam a poucos metros do trono do Patriarca, que fez sinal para que eles não se ajoelhassem. Ele estava de pé entre duas servas, que seguravam algumas roupas dobradas:

—Misty de Lagarto - o mestre falou com voz firme - Aproxime-se com a criança.

—As suas ordens - o francês deu dois passos à frente, gesto repetido por Aimée e curvou o corpo:

—Nascida Aimée Belmount, sob o signo de Aquário… As estrelas agora lhe dão um novo nome. Kammy, aquela destinada a domar os ventos, guiada por Misty de Lagarto - o patriarca virou para a serva da direita e pegou uma máscara prateada, ornamentada com triângulos pretos ao redor dos olhos - É de sua vontade servir ao exército de Athena?

—Sim, Grande Mestre - a pequena respondeu, se aproximando.

Shion entregou-lhe a máscara, que foi colocada no rosto sem questionamentos. Genevieve havia lhe dito o que isso significava na vida de uma mulher que aceitasse servir Athena no campo de batalha. Após isso, ajoelhou em reverência, ouvido o mestre tratar com a outra garota:

—Nascida Tatiana Dimitrievna Romanova, sob o signo de Escorpião… As estrelas lhe chamam Sammyrah, aquela que…

—Pera: o cabelo de alface quer dizer que não posso usar meu nome?

—Tatia, pelos deuses - Afrodite falou com certo constrangimento - Pense nisso como uma forma de omitir sua identidade

—Hm tá bem…- A pequena cruzou os braços e se balançou com um meio sorriso - Continue, Grande Mestre.

Após uma respiração um tanto quanto incrédula, Shion prosseguiu o ritual de iniciação. Tatiana, agora Sammyrah, recebeu uma máscara ornamentada com três rosas abaixo do olho esquerdo.

Ao fim dos ritos, tanto  Misty, quanto Afrodite decidiram levar as garotas para um tour de reconhecimento pelo Coliseu, já que elas treinariam ali a partir daquele momento. Era uma segunda-feira ensolarada e a maioria treinava com esmero. Seguindo as recomendações de Raíssa, Afrodite tratou de emprestar uma sombrinha branca com detalhes em renda para que Sammyrah se protegesse dos raios de sol. Kammy, que estava ao longe com Misty, não deixou de reparar na nova frescura da ruiva:

—Ela realmente pretende ser uma guerreira com tantos "não me toques", Mis? - a loirinha falou, agitando as mãos - estamos de máscara e mangas longas, o sol não vai nos queimar.

—No começo também achei um exagero, mas entendi nos ritos quem ela é... Acaso você já ouviu falar da família Romanov?

—Uma vez Didier esqueceu o livro e me contou a história de uma garota perdida... E ela tinha esse nome, Romanov. Era uma princesa, mas criada como plebeia, porque não sabia quem era.

—Digamos que o mestre Camus contou uma meia verdade - suspirou - os Romanov quase tiveram um triste fim, mas uma das herdeiras sobreviveu e deu continuidade a família. Sammyrah é uma descendente direta da família, por isso tanto cuidado.

—Ela é uma princesa?

—Teoricamente... Até onde sei, a família recuperou apenas a fortuna. O título nobre e os palácios ficaram com o governo russo... Em outras palavras, ela é mais sem teto que a princesa da história que o Mestre Camus te contou.

—Por falar nele, quando o verei?

—Daqui a pouco... Vamos logo terminar com as explicações e iniciar um treino leve.

Do outro lado do Coliseu, Afrodite falava como seria a rotina de treinamento para uma desinteressada Sammyrah, que estava sentada em um toco de coluna, segurando a sombrinha. Graças a máscara, podia observar o ambiente sem que o pisciano notasse:

Como essas ruínas ainda podem estar de pé? - pensava - É tudo tão lindo... O Vlad adoraria ver isso tudo. Será que ele está cuidado dos nossos cachorros? Se ele não estiver, o papai está... Isso se a mamãe não enfiou um punhal nele. Eu nunca a vi tão estressada com ele quanto esses dias.

A ruivinha permanecia absorta em seus pensamentos, até que Saga passou por eles, vestindo a armadura de Gêmeos completa. Foi impossível não virar o rosto e o segui-lo até que ele sumisse de sua vista:

—E é por isso que, uma vez por mês, sacrificamos um porco e dançamos nus em cima de suas vísceras - Afrodite falou sério - Tudo bem pra você, Sammyrah?

—Ah claro.. Tudo tranquilo - respondeu, acenando com uma mão.

—Eu não estou acreditando, Tatiana! Sério que eu estou falando há mais de meia hora e você não ouviu nada?

—Claro que eu ouvi... - respondeu, torcendo uma mecha de cabelo - É aqui que vamos treinar.

—Deuses - levou a mão a testa - não ouse mais usar essa máscara para desviar o olhar enquanto eu falo. Senão eu serei obrigado a suspender algumas de suas regalias.

—Ah não, Dite. Tudo menos isso. É que me distrai quando o Saga passou. Ele parecia tenso, sei lá.

—Sim, de fato, eu o notei meio estranho - respirou - mas agora vou explicar novamente como vai funcionar o seu treinamento. Preste atenção dessa vez

Afrodite reexplicou as características mais importantes do treinamento e mandou a pequena se alongar, dando algumas coordenadas de movimentação e se impressionando com a elasticidade dela. Assim que ia começar a primeira lição de treinamento, foi interrompido por Geisty, que vinha acompanhada de duas menininhas, suas aprendizes:

—Mestre Afrodite! Bom dia..

—Olá, Geisty - Afrodite sorriu - Shina me contou que você recebeu duas novas aprendizes também…

—Sim, essas duas pestes - Geisty suspirou - Elas não se entendem muito bem, mas convivem alegremente. É bem engraçado de ver.

—Como assim?

O cavaleiro e a amazona se distraiam conversando sobre as crianças, enquanto as mesmas se encaravam com um ar de curiosidade. Até que Astrid, uma garotinha negra de cabelos brancos trançados, que usava vestes verdes abraçou Tatiana e se apresentou em francês :

—Oi! Qual o seu nome? Meu nome é Astrid e o dela é Maggie - Disse apontando para uma garota com sardas nos ombros e cabelo cacheado castanho escuro.

—Oi - A ruivinha sorriu ao ouvir seu idioma - Meu nome é Tatiana. Você é francesa também?

—Não, eu sou da Costa do Marfim!

—Ah tá… - a pequena estendeu a mão para a outra garotinha - Você é muito bonita, Astrid. Suas tranças são muito legais...

—Obrigada - a pequena saltitou, puxando uma tímida Maggie, que se escondia atrás dela - A Margareth não fala muito. Ela é escocesa e ainda não entendemos muito o que ela fala… mas é legal também…

Maggie deu um pedala em Astrid e cruzou os braços, arrancando risadas das duas. Ali enquanto seus mestres conversavam, passaram a tentar estabelecer uma amizade. Naquele local desconhecido:

—Legal encontrar alguém que fala francês também… a maioria das aprendizes só fala grego… A Maggie é a única que se esforça para se comunicar…

—É verdade… mas Astrid só entende o que ela quer - A morena resmungou em inglês com seu forte sotaque irlandês, arrancando risadas das meninas.

Ali surgiu uma inocente amizade, o grupo conversou por mais algum tempo, até que seus mestres perceberam que não faziam os alongamentos e separaram o trio.

Após terminar os exercícios básicos, Misty decidiu subir com Kammy para Aquário:

—Você foi muito bem, Aimée… - o loiro olhou para ela e se corrigiu - Digo, Kammy. Nós temos que evitar usar nossos nomes civis enquanto estamos no Santuário.

—Mas porque isso, Mis?

—Quando despertamos o cosmo, é como se nascêssemos novamente. As estrelas nos dão um novo nome e devemos aceitá-lo. Algumas vezes, o destino vem tão certo, que os próprios pais acabam por dar a seus filhos o mesmo nome que eles receberiam das estrelas… Mas, mesmo aceitando o nome estrelar, não abdicamos o nome civil porque podemos fazer alguma missão mundo afora… E isso requer nossas identidades “mundanas”.

—Eu entendi - ela colocou as mãos sobre o ventre - Podemos ir logo? Estou com fome

—Desculpa, passei totalmente da hora das refeições - sorriu, a pegou e colocou sob os ombros - Não se acostume com isso.

Apressando o passo, logos os dois franceses passaram por todas as casas, até que finalmente chegaram a Aquário. Encontraram Camus na área comum, sentado em uma poltrona, enquanto conversava com um rapaz de cabelos arrepiados:

—Como disse, o Grande Mestre pediu para que eu ficasse no porto, caso mais algum cavaleiro negro aparecesse - o rapaz falou - Eliminei todos os Cavaleiros Negros que apareceram por lá, menos a grávida.

—Ou seja, você deixou o inimigo escapar.

—Como relatei ao Grande Mestre: acompanhei toda a gravidez da Dot. Minha índole não permite assassinar uma grávida, mesmo que inimiga.

—Não sei, Crystal.... Sinto que isso pode nos dar dor de cabeça no futuro.

—Eu não sei, Mestre. Só sei que o coroa não me puniu e ainda me deu um moleque para treinar na Sibéria Oriental… - Crystal olhou para o lado e viu Misty chegando, acompanhado de Kammy. Abriu um sorriso e começou a falar em francês - Olha só quem está aqui! Como vai, Misty? E você, pequena Aimée?

A loirinha olhou o rapaz e acenou com a cabeça. Ela sentiu que o conhecia, mas não lembrava de onde. Camus, por outro lado, olhou sério para Misty e, ficando de pé, vociferou:

—O que está fazendo aqui com sua aprendiz, Misty de Lagarto?

Kammy se encolheu. Jamais havia visto o primo erguer a voz daquela forma:

—É que ela está com fome e…

—Nada justifica! - o tom firme e alterado continuava - Você sabe muito bem que aprendizes não são permitidos nas Doze Casas.

—Mas eu sou seu assecla.

—Exato: você é meu assecla! - enfatizou - Ela não. Ela é sua aprendiz, não minha.

—Você não quer que eu fique aqui, Didier?

O francês apoiou os dedos as sobrancelhas, respirou fundo e respondeu:

—Pelo visto, você ficou de conversinha com essa garota, não é, Misty? - ergueu o rosto carrancudo e o direcionou para a garotinha mascarada - O meu nome é Camus! E, acho bom, toda vez que você ousar falar comigo, colocar um “senhor” antes dele. Respeite seus superiores - voltou a olhar para Misty, que estava igual ou tão espantado quanto Kammy - Hoje eu deixo passar. Peça as servas que alimentem sua aprendiz e, enquanto ela come, tente uma audiência com o Grande Mestre, pois amanhã não permitirei que fiquem aqui.

—Façamos assim - o rapaz que conversava com Camus se manifestou - Eu levo a garotinha até a cozinha e vocês dois conversam sem gritos e em grego, certo?

—Faça como quiser, Crystal

—Vou entender isso como um “tudo bem”, Mestre Camus - o rapaz abaixou, encarando os olhos prateados da máscara da menina - Vamos a cozinha?

—Eu sei que te conheço, mas não lembro seu nome…

—Crystal - o francês dele tinha um sotaque estranho - Cavaleiro de Coroa Boreal… Eu visitei você e sua mãe diversas vezes quando você era pequena… - ele percebeu o olhar de Camus, então levantou e pegou na mão da menina - vamos. Vamos logo fazer algo pra você comer. Lá a gente conversa mais sobre isso.

Assim que eles saíram para a cozinha, Misty olhou extremamente sério para o guardião do décimo primeiro templo:

—Eu entendo que o senhor quer que ela seja forte, mas aquele teatro todo era necessário?

—Aquilo foi por ela… E por mim - ele respirou fundo - Estava tão afetado pela morte da Dorothée, que esqueci o detalhe da cabana. Eu a confiei a você, Misty… Pois sei que você será capaz de transformá-la em uma mulher tão forte quanto a Dot foi.

—Eu farei isso, Mestre Camus. Tenha certeza disso - ousou pousar uma mão em seu ombro, em sinal de conforto - mudando de assunto, o que Crystal faz aqui?

—A missão dele na França acabou oficialmente… Ele veio responder uma convocação do Grande Mestre para treinar um garotinho na Sibéria. Parece que a armadura de Cisne finalmente terá um dono.

—Você falou a mesma coisa quando o Crystal começou a treinar com você e a Dot.

—Não fique caçando assunto, Mis - o encarou sério, tirando a mão dele de seu ombro - Vá logo falar com o Grande Mestre - o encarou e falou baixo - Eu não sei se serei capaz de dar outra bronca desse jeito em Aim-… digo, Kammy.

—Não precisa repetir, eu já entendi.

E saiu. Camus, na maioria do tempo, agia como um velho ranzinza, mas Misty sabia muito bem que tudo aquilo era fachada. Era doloroso demais para ele ficar perto da prima sem demonstrar qualquer afeto por ela. Iria cumprir as ordens e o desejo de seu superior:

—Você vai ver, Mestre Camus - o loiro falava para si, após sair de peixes, observando a armadilha de rosas se abrir para que ele passasse - Eu prometo que, em no máximo, 7 anos, farei de Kammy a Amazona mais poderosa desse Santuário.

Ao chegar ao Salão do Grande Mestre, Misty teve que aguardar um pouco, pois o patriarca estava em audiência com algum cavaleiro de ouro. Depois de alguns minutos, as portas se abriram e um, aparentemente, desnorteado Saga deixou o local:

—Mestre Saga… - o cavaleiro de prata ousou chamar - está tudo bem com o senhor?

—Não me chame de senhor, tampouco de Mestre, cavaleiro - o dourado respondeu, com os olhos levemente avermelhados - Eu não sou digno do seu respeito… Não sou digno de respeito algum.

E saiu caminhando. Misty ainda tentou conversar com o grego, que claramente estava com algum problema, porém foi chamado a presença do Grande Mestre. O francês explicou toda a situação a Shion, que designou a ele sua antiga cabana, na época que ainda era discípulo de Zephiros. Um tanto decepcionado, já que aquele local trazia más recordações, Misty retornou para Aquário. Procurou Camus na área comum e na biblioteca, mas não o localizou. Acreditando que ele estava em seu aposento particular, foi até a cozinha onde uma serva informou que Kammy estava com Crystal no quarto do Cavaleiro de Lagarto. Seguiu para o local cantarolando. Ao chegar no corredor, pode ouvir as risadas da garotinha e a animada voz do Cavaleiro de Coroa Boreal contando uma história de quando ela era pequena. Já próximo de seu quarto, Misty travou quando viu Camus espiando o quarto por uma pequena fresta aberta na porta. Era possível notar finas lágrimas escorrendo de seu rosto:

—Mestre Camus… - Misty chamou baixo, colocando a mão em seu ombro.

—Você me assustou - respondeu, se afastando da porta rapidamente e passando a mão no rosto - Conseguiu falar com o Grande Mestre?

—Sim… Amanhã retornarei a cabana que usei quando era um Filho do Vento.

—Eu consigo ver no seu olhar que isso não lhe agradou.

—Eu simplesmente odiei isso! Acho que o estigma de ter sido treinado, mesmo que parcialmente, por Zephiros nunca sairá de mim - suspirou e o olhou sério - Não precisava ser dessa forma, Mestre.

—Precisava… Isso é preciso para que ela… para que ela se torne forte - suspirou, enquanto pensava - e eu também — olhou para Misty e falou em voz alta - Irei me recolher agora. Amanhã, a hora que sair para treinar, ordenarei aos servos da casa que levem seus pertences e o de Kammy para a cabana. Boa noite, Misty.

—Boa noite, Mestre Camus.

O loiro entrou no quarto e sentou no chão ao lado de Aimée, assistindo junto com a discípula a dramatização de Crystal de como foi a primeira vez que precisou ajudar Dorothée com uma troca de fraldas. Os três ainda fizeram alguns desenhos, até que o sono falou mais alto e finalmente foram descansar.

 

No dia seguinte, a agitação no Santuário estava acima do normal. Corria um burburinho no Coliseu que Saga aprisionou Kanon no Cabo Sunion e, horas depois, desapareceu. Óbvio que, apesar de não saber falar grego, Sammyrah acabou descobrindo o que se passava por meio de duas servas fofocando em francês. Dias se passaram sem notícias, até que o Grande Mestre deu as buscas por encerradas e foi realizar uma viagem de rotina, deixando o Santuário no comando de Arles de Altar, seu subcomandante e de Aiolos de Sagitário, que estava treinando para ser o novo Grande Mestre. Dois dias depois, Sammyrah acordou de madrugada com uma grande agitação. Encontrou Dione no corredor totalmente atordoada, com uma garotinha abraçada em suas pernas assustada:

—O que… - coçou um dos olhos - Está acontecendo Dione? Por que tanto barulho?

—Ah, jovem mestra… Soaram os alertas de emergência. Parece que Aiolos atentou contra o bebê Athena. Agora os cavaleiros de ouro estão em seu encalço…

—Achei que era alguma invasão e que nós estávamos em perigo...- murmurou - Se é só isso, vou dormir

Dione ficou olhando a criança sair. Certamente não tinha entendido a gravidade do assunto e tratou de cuidar de sua pequena Hypathia, que ainda tremia com toda a confusão causada.

Afrodite foi um dos primeiros a chegar ao Salão do Grande Mestre e flagrou uma cena um tanto quanto curiosa. Arles estava sem a máscara, encarando o espelho. Ficou confuso quanto aquele rosto:

—Kanon? Você não estava… Espere: é você, Saga?

—Sim e não - virou o rosto. Era Saga, mas estava diferente. Os olhos avermelhados e a expressão maligna denunciaram a possessão - Esperava por você, Afrodite. Por isso não coloquei a máscara.

—Por que esperava justamente a mim?

—Porque já ouvi seus discursos sobre como a sociedade está doente, infectada com costumes horrendos e ultrapassados. Você, apesar de jovem, possui uma excelente visão de justiça… E é isso que pretendo, tirando os velhos do poder: JUSTIÇA.

—Você arquitetou tudo para que Aiolos fosse acusado de traição?

Saga - ou aquele que se parecia com ele - apenas sorriu de lado e respondeu:

—Claro… Precisamos derrubar os fracos para que os fortes subam ao poder… O poder da justiça. Você aceita estar ao meu lado, Afrodite?

—Eu gosto de estar do lado vencedor - suspirou, passando a mão nos cabelos - considerando que o cosmo de Aiolos já está enfraquecido, considere-me um aliado, Mestre Arles - o reverenciou.

—Eu não esperava menos do mais belo de toda a confraria.

Arles e Afrodite se dirigiram ao Salão Dourado, onde os demais cavaleiros de ouro estavam. Por questão de idade, Shura foi incubido de eliminá-lo. O sol já estava nascendo quando Afrodite regressou para casa. Hypatia o aguardava no salão principal da casa:

—Por favor, quando a Sammyrah acordar, diga a ela que não treinaremos hoje. Eu preciso dormir ou ficarei com olheiras.

—Sim, Mestre Afrodite

O pisciano tomou um banho e, enquanto aplicava seus cremes faciais, pensava:

Por um lado, esse “sumiço” de Saga me trouxe um benefício: Sammyrah conseguirá focar em seu treinamento… Embora eu suspeite que essa paquera não duraria muito… Ela só tem sete anos. Logo se encantará por um garoto de sua idade…

 

O tempo no Santuário sempre passava de forma diferente para cada pessoa. Os que já viviam lá há anos, diziam que passava rápido ou normal. Para alguns aprendizes, cada dia era como a eternidade no tártaro, entretanto, havia aqueles que se destacavam pelo bom rendimento e mal sentiam o passar dos dias.

Como prometido e autorizado pelo grande mestre, Raissa visitava a filha com uma certa frequência que se resumia até quase que mensal. Com o tempo pode-se notar mais alguma coisa, a mãe da menina estava grávida, mais um irmãozinho para a pequena Tatia.

Raissa tinha o costume de ficar conversando e brincando com a pequena em um dos campos de flores que havia no Santuário. Kammy, que muitas vezes via e ouvia as duas juntas enquanto buscava um canto sossegado para ler, sentia uma pontada no coração, sentia uma falta absurda de estar assim com sua mãe e agradecia pela máscara que era obrigada a usar, já que costumava chorar de tanta revolta que sentia.

Por que ela tem tudo que eu tanto quero e ainda é malvada? - pensava a jovem aquariana em eterno questionamento.

Até o dia que Afrodite levou Sammyrah embora. A pequena comemorou internamente, talvez o tempo dela tivesse passado ali naquele lugar e ela poderia ter, finalmente seus momentos de paz. Ledo engano, pois como a loirinha viria a descobrir mais tarde, a ruiva passava metade do ano no Santuário e metade em casa, como forma de viver suas duas vidas igualmente.

Enquanto isso, a filha de Dorothée treinava arduamente sob sol e chuva, sem se importar com nada. Como as amazonas tinham um treinamento especial, vez ou outra elas precisavam ir até a área exclusiva das Guerreiras, onde homens não podiam pisar. Com isso, Sammyrah ficava aos cuidados de Geisty, junto a Astrid e Maggie, mas retornava para Peixes a noite. Já Kammy e Satrina ficavam com Ellen de Lebre, antiga companheira de treino de Misty. Graças a isso, a loira criou um vínculo de amizade com Satrina, discípula de Ellen, que havia chegado no Santuário quase na mesma época que ela. Longe de seu mestre, as provocações de Sammyrah para cima da loira eram maiores, mas Kammy respirava fundo e optava por relevar. Não valia a pena brigar com alguém como ela. Nesse ritmo, seis anos se passaram…


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