Primeiro, eu matei o meu pai... escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel


Capítulo 13
Capítulo XII




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778172/chapter/13

Com a missão de Camus, Kammy pediu que Misty lhe fizesse uma visita, pois não era muito fã de ficar sozinha na imensidão da Casa de Aquário. Eles estavam sentados em uma área comum conversando entre uma partida de damas, quando a Amazona sentiu o ar gelar repentinamente. Olhou para o loiro, que assentiu com a cabeça. Lágrimas brotavam dos olhos de Misty que, sem acreditar, murmurou:

—Crystal se foi…

A filha de Dorothée não escondeu a dor que sentiu naquele momento, apenas deixou que um murmúrio choroso escapasse e baixou a cabeça deixando o choro tomar conta de si. Crystal era como um irmão mais velho, alguém que contava as histórias de sua mãe e as peripécias de seu primo quando este não estava por perto. Sabia que, se hoje estava na casa de Aquário como assecla, era graças a intercessão dele junto a Arles:

Mesmo que, após aquela conversa estranha com o chefe, ele tenha ficado meio esquisito— pensava, enquanto as lágrimas escorriam por trás da máscara – Misty… Thierry… Você sabe qual missão o Mestre Arles deu a ele?

—Existe um burburinho na parte baixa sobre um tal Hyoga de Cisne ter tomado uma vila na Sibéria toda como refém. Esse garoto foi discípulo de Crystal e, creio que, por isso, também chamaram o Senhor Camus.

—Eu deveria ter imaginado – a Amazona de Cervo não tinha mais a voz embargada, mas demonstrava o mais puro ódio – Esses malditos rebeldes! Crystal cuidou esse tal Hyoga desde pequeno! Como ele pôde fazer isso? Quando Didier... Digo, o Mestre Camus retornar, pedirei permissão para acabar pessoalmente com esse traidor!

—Mas você não… - Misty ergueu a mão inconscientemente 

—Não ouse dizer que sou jovem demais para uma batalha! - bradou - Você foi meu mestre e sabe muito bem do que eu sou capaz! A Herdeira de Zephiros! A Última Filha do Vento! É assim que me chamam lá embaixo, não é? - ela ficou de pé e o encarou. Misty tinha um olhar assustado – Não precisa responder. Seu olhar diz tudo – virou de costas e saiu andando – estarei na biblioteca…

Quando ela se afastou o suficiente, Misty respirou aliviado e passou a mão pelos cabelos:

—Quando ela quer… É mais intimidadora   que o Mestre Camus.

 

A morte do cavaleiro de Coroa Boreal também foi sentida no Salão do Grande Mestre. Sammyrah, como sempre, estava por lá, a portas fechadas com o Mestre do Mal:

—Estamos ficando sem opções, minha estimada bruxinha… - Arles falou, com leve ar de impaciência, andando de um lado para o outro, mas parou e encarou o rosto prateado da ruiva – Acha prudente que eu envie outro Cavaleiro de Prata?

—Mais do que prudente… - postou-se ao lado dele – Tem alguém em mente?

—Antes de aplicar o Satã Imperial em Crystal, percebi que não tenho 100% dos filhos de Aquário ao meu lado… Pensei em aproveitar a ausência de Camus para me livrar dos dois que faltam.

A ruiva ergueu o rosto prateado e balançou a cabeça negativamente. Arles tirou a máscara e a encarou com os olhos avermelhados, tentando entender. Ela começou a torcer uma mecha de cabelo nos dedos enquanto falava:

—Analise comigo… Se você acredita que não tem totalmente a confiança de Camus, enviando seus dois asseclas, sendo que um deles é a sua priminha amada, acabaria com qualquer mínimo respeito que ele tenha por ti... Sem contar que, enviar uma amazona "nova" para o campo de batalha é tolice. Poderia botar em cheque sua aceitação pelo resto da confraria... Entretanto – ela virou o rosto mascarado em sua direção. Arles tinha certeza que sorria por baixo da máscara prata, ornamentada com rosas vermelhas – existe outra amazona que precisa provar sua lealdade.

—Shina de Ofiúco?

—Oh, não. A Mestra Shina pode estar dividida entre amor e ódio, razão e emoção, mas é totalmente leal ao santuário. Agora Marin de Águia… Desta eu desconfio até da sombra.

—Houve uma época em que desconfiei da Marin, que ela fornecia informações aos Cavaleiros de Bronze do Japão, mas chegou a meu conhecimento que ela espancou furiosamente Seiya, dias atrás.

—A informação é verdadeira. Seiya lutou contra Shina em um dos limites do Santuário, mas foi Marin que o afastou daqui…

—Não vejo porque você não confia nela.

—Ela deu uma boa surra, mas não o trouxe a julgamento ou o matou, mesmo sabendo que ele era acusado de alta traição contra o Santuário - Ela explicava suas razões, desenhando com os dedos como se escrevesse em um quadro - Ela o deixou ir porque quis!

—Sabia que eu adoro quando você me mostra o que eu não posso enxergar? - ele tomou-lhe uma das mãos e pousou um beijo. A Romanova sentiu o rosto ferver abaixo da máscara, mas manteve a pose – Então mandarei Misty e Marin...

—Perfeito – a voz tinha tom de sorriso – A ideia de ver a Krest'yane se ferrar no campo de batalha em muito me agrada, porém eu não suportaria que desconfiassem de você. Envie Misty e Marin, mas escolha outros dois Cavaleiros de Prata para vigiá-los de perto. O Misty não… Ele cumprirá suas ordens, mas a Marin nos trairá na primeira oportunidade.

—Hm… Farei como você disse – lhe fez um carinho na mão antes de soltá-la de vez – Chame Gigars, por favor.

—Pode deixar… Mas eu ainda não esqueci da minha armadura, ouviu?

Saga, imitando os gestos dela de mais cedo e respondeu gesticulando para cima:

—Minha querida, você sabe que não depende só da minha vontade e da sua… as estrelas determinam o momento certo de cada posse… 

Ela revirou os olhos por trás da máscara e virou de costas, caminhando até a porta, não sabia onde se beneficiaria com todo aquele trabalho com o Mestre, mas não aguentava mais ser uma simples aprendiz:

—Vou mandar o celho caolho fazer as convocações e vou pra casa tá? - Suspirou - Se precisar já sabe

A ruiva ainda viu o Grande Mestre fazer um gesto dramático e deixou a sala. Foi rapidamente, caminhando entre as sobras até a torre onde Gigars costumava ficar, mas encontrou apenas papéis com planos de ataque espalhados pela grande mesa de madeira ocupada pelo Subcomandante que, para variar, estava uma zona. Analisou um ou dois, amassando-os e jogando no lixo em seguida:

—Nada pessoal, caolhinho, mas o Mestre Arles arrancaria seu olho bom se lesse essa porcaria… Ele deve estar nos campos de treinamento… Vou deixar um bilhete aqui – rabiscou em francês “O Mestre Arles quer falar contigo”, já que não fazia ideia de como usar o alfabeto grego – Espero que ele saiba ler, poderia procurar ele, mas não vou fazer isso agora... tenho mais o que fazer. 

 

A ruiva desceu cantarolando até Peixes. A casa estava silenciosa e isso, de certa forma, a incomodava. Afrodite estava fora somente a um dia e ela não sabia quanto tempo ele demoraria e a falta de seu mestre, que sempre arrumava algo para fazerem, fossem treinos, leituras ou só alguma diversão boba para passar o tempo lhe deixava ansiosa. Temia também pela sua integridade, maldita hora que aceitou que Afrodite fosse colocado em risco:

—E se ele ficar fora uma semana, ou pior, um mês? - ela perguntava a seu reflexo no espelho – Eu não vou aguentar tanto tempo. Vou enlouquecer nesse silêncio. - olhou para seus posters e, depois, para as fitas k7 no canto – a não ser que eu acabe com ele

A ruiva colocou o toca fitas a pilha, que trouxe da última viagem, no chão e colocou uma tape do Blondie para tocar. Como estava sozinha em Peixes, colocou uma túnica curta e pôs-se a cantar e dançar no salão principal da casa. Estava tão imersa, que não percebeu que Shura se aproximava e ficou um tempo ali, apenas parado e observando-a cantar e dançar:

In between, what I find is pleasing and I'm feeling fine, love is so confusing there's no peace of mind. If I fear I'm losing you… (No meio de tudo, o que descobri e sinto-me bem. O amor está tão confuso e não há paz na mente. Se eu tenho medo de perdê-lo…)

It's just no good, you teasing like you do… (É assim bem ruim você me provocando) - o capricorniano completou a música, também cantando -  você tem uma voz muito boa… Me pergunto porque não formou uma banda em vez de vir para esse lugar.

Após um pulo assustado, Tatia procurou a máscara, mas percebeu que largou-a no quarto. Deu de ombros e respondeu sorrindo:

—Meu pai não só me tiraria do testamento, como também me excomungaria da família! Fora os problemas com meus poderes descontrolados, né? 

—E o que você vai fazer comigo? - perguntou fazendo um sinal no próprio rosto, referindo-se a máscara dela – sabe da lei né?

—Bobagem... Só comprar a Vogue, que minha cara está lá! - o espanhol sorriu despreocupado, ia falar alguma coisa mas ela o interrompeu - Na verdade, na Vogue não…- Suspirou – Ainda não… mas em tabloides, em um museu de Paris e dois em Londres sim…

—Sério que te colocaram em um museu? - O espanhol pegou o mote – A cópia sua é em tamanho real?

—Não é sobre mim… é um retrato de família…- A ruiva riu envergonhada – Ainda mantemos a tradição, mesmo sem governo… - A ruiva deu de ombros vendo o espanhol rir.

—Você liga?

—Pra quê? De eu ser uma herdeira sem trono ou pra você ter me visto dançando sem máscara?

—Os dois – Shura coçou a cabeça

—Bem… no primeiro caso é meio estranho… que, apesar dos pesares, nunca sabemos se alguém vai tentar fuzilar a família de novo e crescer com isso não é nada saudável… - Ela espertamente se aproximou do espanhol, ficando de cara a cara com ele – Quanto ao meu rosto… eu não vou te matar, nem te obrigar a me amar…

—E o que podemos fazer então, señorita? - Ele passou a mão na cintura dela um pouco pretensioso

—O que está nas nossas mãos, Señor

Ela sorriu e deu um selinho estalado no capricorniano. Shura aproveitando a situação, a respondeu com um delicado beijo, que cessou com os dois sorrindo: 

—Bem, como eu vi o seu rosto, te convido pra ouvir uns vinis mais tarde lá em casa, com um bom jantar. Topa?

—Hmmm... meu mestre está fora de casa - A ruiva respondeu fazendo charme

—Eu venho te buscar e te deixar princesa, que tal? Às oito.

A ruiva respondeu dando outro beijo nele e, para Shura, aquela confirmação bastava. Logo os dois se separaram e ele anunciou:

—Bem, até mais tarde então… - O espanhol desceu acenando e logo sumiu nas escadas

Sammyrah se jogou em um sofá rindo, enquanto pensava em como contaria isso a seu mestre. Isso serviu para que parasse de pensar um pouco em Saga. Precisava estar linda para o encontro de mais tarde, mas, antes disso, tinha um assunto a resolver. Subiu correndo até a torre de Gigars, mas o bilhete continuava no mesmo lugar:

O Coliseu ainda está cheio— pensou, pegando o bilhete que deixou sob a mesa – Certeza que ainda está por lá.

No Coliseu, apenas Piton dava instruções a um grupo de aspirantes. A discípula de Afrodite se irritou:

—Onde está o Gigars?!

—O comandante... Ele...

—Fale logo, Piton! Eu sei que você sabe o paradeiro dele.

—Ele foi... Ele sentiu que a confiança do Mestre Arles nele estava se esvaindo e decidiu recuperar o elmo da armadura de Sagitário por conta própria. Foi para o Japão, junto com o Ennetsu de Fornax, o Cavaleiro de Fogo.

—Ele fez o quê?! - a ruiva agitou os cabelos em clara indignação – os tais cavaleiros traidores derrotaram valiosos e poderosos guerreiros! Ele acha mesmo que um velho manco e caolho, junto de um Zé ninguém de armadura conseguiriam mesmo derrotá-los? Argh!

Jogando os braços para cima, a ruiva saiu pisando duro, rumo a Casa de Peixes. O jantar com Shura seria às oito da noite. Ela teria tempo para agir:

Gigars nos trairá! - pensava, enquanto subia os degraus entre Aquário e Peixes – Ele tem medo de represálias! Vai se unir a Saori Kido e revelar nossos segredos. Preciso localizá-lo e dar um jeito na cabecinha dele.

Em seu quarto, Sammyrah se concentrou o máximo que pôde, até que sentiu a presença do subcomandante em um vilarejo abandonado do outro lado do Santuário:

—O Covarde não sabe o que fazer e nem para onde ir… Mas ele vai ver só.

Ela se moveu o mais rápido que conseguiu. Por sorte, o sol não estava tão quente. Seu poder não a traiu. Ela o viu olhando para os lados e entrando em um pequeno casebre. Era errado bater em um velho, mas ela não usaria os punhos. Abriu a porta em um chute, assustando-o:

—Sammyrah… - o velho caolho falou, respirando aliviado – Que bom, achei que o Mestre Arles tinha…

—Deixe-me adivinhar: percebido que você é um lixo incapaz de cumprir uma ordem simples e que, em uma atitude desesperada, levou um cavaleiro de baixíssimo nível para enfrentar um grupo que já eliminou diversos guerreiros poderosos? Crystal, um cavaleiro de Prata, foi morto na Sibéria e você faz o quê? Chama o Fornax pra lutar com os caras… Francamente, Gigars, eu esperava mais de você.

—Senhorita, por favor, eu lhe imploro: Não diga ao Mestre Arles onde estou… Ele seria capaz de me matar.

—Pode ficar tranquilo, Gigars… - pousou a mão em seu ombro e olhou fundo em seu olho bom – Eu não direi sua localização… Assim como você não dirá a nossa!

Afrodite sempre dissera que a raiva, o medo e o fato dela adorar afrontar as pessoas a ajudavam quando queria usar o poder místico que herdara de seus ancestrais. Sammyrah se concentrou o máximo que conseguiu, extraindo da mente de Gigars toda e qualquer coisa relacionada ao Santuário. Ela pretendia deixá-lo catatônico para que, quando o achassem, a culpa recaísse toda sobre os Cavaleiros de Bronze, mas esqueceu-se do corpo velho e ferido de Gigars. Um grito de dor irrompeu o vilarejo vazio quando ele caiu morto, com sangue escorrendo pelos olhos e pelo nariz. De início, Tatia ficou apavorada, mas jogou os cabelos para trás, recobrou seu semblante de sempre e foi para casa a fim de se arrumar para o jantar de mais tarde.



Inquieto que Gigars não havia comparecido ao Salão ainda, Saga chamou Piton. O rapaz informou que subcomandante estava desaparecido desde que fora ao Japão com Ennetsu de Fornax:

—Ou seja, fez algo sem me comunicar e, provavelmente, está morto agora - Arles resmungou - Pois bem, Piton, você será encarregado de enviar Misty de Lagarto, Asterion de Cães de Caça, Mouses de Baleia e Marin de Águia para o Japão com a missão de eliminar aqueles traidores.

—Quatro cavaleiros de prata?

—Sim, algum problema?

—N-nenhum, senhor. Vou localizá-los.

O puxa-saco de Gigars encontrou os três últimos com facilidade, porém não localizou Misty em lugar nenhum. Fora Ellen quem lhe disse que ele estava conversando com sua antiga discípula em Aquário, levando-o a migrar para lá rapidamente com sua comitiva de soldados:

—Achei que o Mestre Arles tinha sido bem claro sobre a permanência de asseclas nas Doze Casas.

—Eu tenho uma autorização do próprio para estar aqui, Píton e Misty é meu convidado - Kammy respondeu com deboche - Enquanto você não passa de um reles mensageiro.

—Mais respeito, Kammy de Cervo! Eu sou o novo subcomandante.

—Ué?! - Misty indagou - O que aconteceu com o velho lambe-saco do Gigars?

—Foi morto pelos Cavaleiros de Bronze da Guerra Galáctica.

—Gente… Vocês têm certeza que esses caras estão usando a armadura certa? - o francês brincou - já derrotaram meio Santuário.

—Justamente por isso são rebeldes, Lagarto

—Bom, senhor novo subcomandante… - a prima de Camus voltou a tomar a palavra - Na ausência do Senhor Camus, como assecla, sou a responsável pelo 11º Templo e você ainda não disse o que veio fazer aqui…

—Ah claro… Misty… Você irá ao Japão com Mouses, Marin e Asterion eliminar os Cavaleiros de Bronze.

—É o quê??! - a loira se exaltou - Ok, são quatro cavaleiros de bronze que já derrotaram outros Cavaleiros de Bronze, dois cavaleiros de prata e uns terroristas aparentemente sem patente, mas mandar quatro Cavaleiros de Prata assim, numa tacada só, Píton?

—Está questionando as ordens de Arles, Amazona?

—Longe de mim, senhor… Eu só estava demonstrando o quanto estou surpresa, afinal são reles — gesticulou com a mão direita - cavaleiros de bronze.

—Eu vou relevar seu sarcasmo dessa vez, Cervo - Piton falou - Quanto a você, Misty, o comboio parte para o Japão em duas horas. O ponto de encontro é no Coliseu.

—Certo.

Assim que o grego saiu, a loira virou o rosto prateado para o Mestre:

—Estou com um mal pressentimento real.

—Deixa de ser bobinha - ele lhe tocou no ombro - Lembre-se que eu jamais fui ferido em combate. Nem mesmo o Crystal foi capaz de me tocar…

—Sim… E agora ele está morto.

—Pelos deuses, Kammy! Eu não vou morrer - estendeu o dedo mindinho - promessa de dedinho.

—Isso é ridículo… - cruzou os braços 

—Você sabe muito bem que eu não quebro promessas de dedinho. E, se por acaso eu morrer, tenha certeza que voltarei um zumbi maravilhoso, de batom e sombra preta para dançarmos Thriller.

—Vira essa boca pra lá - cruzou o dedinho com o dele, já que conhecia a música graças ao rádio de pilha que tinham na cabana - E você fica péssimo de preto.

—Não, minha cara… Qualquer cor realça minha beleza - riu e deu um beijo no topo da cabeça dela - Eu te amo… E vou voltar.

 

Já de volta a casa de Peixes, Sammyrah pegou o toca-fitas e rumou para o banheiro. Decidiu focar no jantar e esquecer o que havia se passado com Gigars. Certamente, ao perceberem o seu sumiço escolheriam um novo subcomandante e deixariam para lá  o sumiço do velho caolho . Quando colocou o objeto no chão, lembrou do convite de Shura e riu sozinha:

—Ele deve achar que sou uma boba – comentou, enquanto se despia – como que ele vai tocar discos de vinil, se aqui não tem eletricidade? Poderia ser sincero e dizer que só tá a fim de uns amassos - Ela afundou nas espumas da banheira - Eu não acharia ruim.

No rádio, Freddie Mercury cantava, enquanto a ruiva aproveitava os melhores sais de seu mestre naquele maravilhoso banho de banheira. Saiu enrolada numa toalha, ainda carregando seu rádio e cantando. Colocou um vestido reto verde escuro de alças e costas nuas , sandálias baixas trançadas e  jogou os cabelos de lado. Passou uma maquiagem leve e vestiu jóias pequenas, mesmo que fosse usar a máscara temporariamente.

Estava pondo o relógio quando ouviu a voz cantada do cavaleiro de Capricórnio. Xingou baixinho e o encaixou de todo jeito, descendo apressada.

Quando chegou ao salão comunal, teve a impressão que Shura a esperava. Ele vestia calças pretas e uma camisa cinza entreaberta. Estava encostado em uma pilastra com um meio sorriso, admirando a vista do décimo segundo templo. Tatiana o admirou um pouco, mas logo o perfume inconfundível de rosas chamou a atenção do espanhol. 

—Belissíma, Cariño. Valeu a pena esperar os minutos que atrasou… - Ele se desencostou e cruzou os braços

—Mas são oito horas agora… - Ela  mostrou o relógio que se soltou, arrancando um riso dele - Merde...

—Era às oito EM capricórnio, Sammyrah - O cavaleiro segurou em sua mão, alisou e deu um beijo ali - Pero yo sé que não se apressa a perfeição, então…- Ele fechou o encaixe do relógio e sorriu - Vamos?

Os dois desceram rapidamente por um caminho alternativo apontado por Shura, e logo atingiram o décimo templo. O espanhol tomou a frente, mostrando o caminho enquanto caminhavam  pelo salão comunal, até que ele parou, se virou para ela, que estava prestando atenção na estátua que havia no salão comum da casa. Uma bela peça de mármore, na qual a Deusa Athena entregava uma espada a um guerreiro ajoelhado:

—Uma bela peça – indagou, sentindo as mãos do espanhol em seu enquanto admirava a estátua – sabe quem foi o artista?

—Não… - respondeu, tomando liberdade de abraçá-la – dizem que está aqui desde a primeira encarnação da Deusa. É o legado de Capricórnio, a espada sagrada, Excalibur.

—Excalibur? A mesma da lenda do rei Arthur?

Ele balançou a cabeça e riu:

—Mitos podem ser tão reais quanto nossas vidas, princesa. As histórias que nossos pais nos contavam para dormir são mais reais do que a gente pensa.

—Espero sinceramente que os contos da minha avó não sejam reais – riu, virando de frente para ele – Mas nem todos os mitos são reais. Você mesmo, me contou um totalmente irreal mais cedo…

—Eu? - ele a encarou – que mito te contei?

—Que íamos ouvir discos de vinil na sua casa, quando não temos eletricidade no Santuário. Era mais digno ter dito que queria me dar uns amassos no conforto do seu lar.

Shura deu uma estrondosa gargalhada e a pegou pela mão:

—Não que eu não queria te dar uns amassos, mas te chamei para ouvirmos música mesmo.

—Você conduz eletricidade ou o quê?

—Vem comigo que te mostro como toco os meus discos.

Eles saíram da área comum e foram para uma outra área do 10º templo, uma sala repleta de posters, guitarras, violões, um violoncelo no canto, várias almofadas jogadas pelos cantos, inúmeros discos classificados por gênero em diversas estantes.

—Vem cá, teimosinha… - Ele esticou a mão e a trouxe até uma mesa de carvalho com uma caixa em cima. Ele abriu a caixa e se pode ver um vinil, viu a ruiva franzir a testa em tom de desafio, logo, ele logo girou uma manivela algumas vezes e o disco começou a rodar, tocando uma música de Frank Sinatra, fazendo a ruiva sorrir.

Ele deu um passo para trás dançando sozinho e estendendo a mão dela:

Bueno, Cariño, isso se chama Gramofone – Disse a puxando pela mão e a rodando – Eu o consegui por um bom preço em uma casa de penhores numa missão em Sevilha

—Aahh… então essa lenda também era verdade não era? - Sammyrah passou os braços pelo pescoço

—Sim, cariño… - ele começou a dançar com ela de corpo colado ao som suave da música

A noite fora um sucesso, a ruiva adormeceu nos braços do espanhol, acordando cedinho e correndo para Peixes, ao chegar lá encontrou com Afrodite lixando as unhas com um ar de desprezo:

—Posso saber aonde a madame estava?

—Bem… eu estava jantando…

—Até de manhã meu anjo? Vai passar quantos dias de jejum?

—Não né, Dite… - Ela riu e sentou ao lado dele – O Shura me chamou pra jantar ontem… ficamos até tarde juntos e acabei dormindo lá

—Shura? Espera aí... Você não era apaixonada pelo…

—Ah nada mudou! Na verdade mudou um pouco sim: Cansei de ficar sempre me podando pelo outro lá… eu gosto do Shura...

—Já abriu as pernas, minha Rosa?

—Ainda não… mas pode ser que aconteça, ué – A ruiva empurrou a almofada que estava no colo do pisciano e se deitou lá – Ele é tão maravilhoso…

—Eu sei… E você dando corda pro caso da ala de psiquiatria né, Tatiana?! - enrolou o cacho do cabelo dela em seus dedos - Sua mãe vai gostar dele.

 

***

 

Quase três dias e meio se passaram desde que o comboio de Misty partiu para o Japão. Nesse meio tempo, Camus retornou da Sibéria. Estava mais calado que o normal. Encontrou uma Kammy agitada e estressada, tanto que improvisou uma espécie de saco de pancadas com seus travesseiros:

—Cervo – falou com a voz gélida e calma de sempre – Qual o motivo de tanta inquietação?

A loira estranhou a fala, mas, quando virou o rosto, entendeu o motivo. Atrás do primo estava um soldado do Grande Mestre:

—Falta de notícias, senhor Camus – respondeu curvando o corpo – Como o senhor não estava em casa, evitei sair para treinar na arena ou mesmo no dojo que temos aqui, afinal, não queremos o coração do Santuário desguarnecido, não é mesmo?

—Meus cumprimentos a seu mestre por tão boa instrução – meneou a cabeça – Pode ir treinar agora.

—Com sua licença, senhor.

A loira odiava esse teatro todo, mas algo no fundo de seu coração dizia que ele era necessário. Partiu para os campos de treinamento, a princípio, sentando em uma rocha mais alta, apenas observando o movimento da arena. De repente, Ellen surgiu a seu lado, usando o uniforme de treino:

—Mestra Ellen… - a olhou – O que a traz aqui?

—Péssimas notícias… É isso que me traz aqui, Kammy – a voz dela estava embargada, como se tivesse chorado por muito tempo – Misty se foi.

—Como é? - a loira elevou a voz, sentindo o corpo tremer em ódio – Isso foi obra daqueles renegados, não é? Da turminha do Seiya…

—Sim… A maior prova disso é que Marin nos traiu.

—Isso é inadmissível – a loira socou a rocha que estava sentada – Meu mestre… Ele me prometeu! Foi uma promessa de dedinho, Ellen… - respirou fundo, contendo o choro que se formava – Eu não vou permitir. Não vou permitir que nenhum deles viva!

—E o que vai fazer?

—Pedir a Píton que me envie na próxima empreitada. Eu quero trazer a cabeça de cada um deles para o Mestre Arles.

—Eu não duvido de suas habilidades, Kammy, mas…

—Não me leve a mal, Ellen, mas eu entendo de matar traidores… - ficou de pé – Afinal, eliminei um aos cinco anos de idade e creio que você o conhece bem: Zephiros de Cervo Negro.

E saltou rumo a arena. Talvez chutar alguns aprendizes diminuísse sua raiva.

 

A notícia também chegou ao Salão do Grande Mestre, onde um nervoso Arles, ao lado de uma avoada Sammyrah, interrogava o novo subcomandante:

—Onde está a Marin? - o mestre perguntou – A estrela dela não apagou, então presume-se que ainda esteja viva.

—E-ela não regressou ao Santuário…

—Então, imagino que Seiya e os demais Cavaleiros renegados do Japão esteja ardendo no inferno, não é?

—Q-Quanto a isso…

Píton não terminou de falar, pois foi atingido em cheio por uma rajada de energia da mão do Mestre:

—Como você assumiu a muito pouco tempo as funções que eram o Gigars, te darei uma nova oportunidade… Mas acho bom que use toda sua capacidade cerebral para bolar uma estratégia que elimine de vez esses cavaleirinhos… E mantenha uma coisa em mente, Píton: Eu não aceitarei um novo fracasso!

—Obrigado por sua clemência, senhor Arles.

Atordoado, Píton seguiu para a sala anteriormente ocupada por Gigars. Sentou, ficou analisando alguns planos de combate e, quando se deu conta, Shina estava na porta:

—Gigars sempre consultava aquela garota… A tal Sammyrah – o subcomandante falou, ficando de pé e caminhando na direção da Amazona de Ofiúco – Esperei ela aparecer como sempre, mas parece que os boatos são reais e ela tem algo mais importante a fazer… Então será que você pode me ajudar?

—Eu imagino que eles tentarão chegar ao Santuário – respondeu imediatamente – E não se apegue aos boatos, Píton… Podem ser sua ruína.

—Também acredito que eles tentarão invadir… Vou redobrar a guarda nos limites e enviar mais espiões ao Japão.

—Eu tenho um pedido a te fazer – cerrou os punhos – por favor, me deixe enfrentar Seiya… Eu… Eu preciso me vingar dele. Por favor, Píton?

—Está bem. Te darei mais essa chance.

—Mais uma coisa – ela caminhou até a janela – gostaria de contar com um Cavaleiro para ser meu parceiro.

—Quem seria?

—Eu quero escolher… Preciso de alguém forte e confiável.

—Você está me ajudando… O que custa te ajudar também? - suspirou – Vamos a arena.

Quando se preparavam para sair, os sinos soaram em alerta: alguém estava tentando fugir do Santuário.

 

Na parte baixa, Kammy aplicava uma luta-treino com alguns garotos, quando o som dos sinos foi escutado. Vários soldados e Cavaleiros de Bronze começaram a correr em direção aos limites da Terra Santa. Os rapazes pararam o exercício e olharam para a loira:

—O que é esse barulho, Mestra Kammy?

—São os sinos de alerta. Parece que tem alguém tentando escapar – virou para eles – Aproveitando, vou dizer algo que peço que guardem no fundo de suas mentes: A gente só sai do Santuário de dois jeitos: como cavaleiro ou como defunto – a prima de Camus observou a tensão no rosto dos rapazes, enquanto pensava – Aparentemente, você também pode sair se for herdeiro de um império falido, mas isso não vem ao caso.

De repente, os sinos pararam de tocar. Um Cavaleiro de Prata surgiu, carregando o que parecia ser um braço de pedra nas mãos. Jogou-o no chão em meio a arena e bradou:

—É isso que acontece aos desertores! Hoje, três jovens tentaram escapar pelo limite sul… Eu, Algol de Perseu, os transformei em pedra e os deixei lá, para que sirvam de exemplo para todos aqueles que ousarem desafiar o Santuário.

Shina surgiu aplaudindo, acompanhada de Píton:

—Muito Bem, Algol… É isso que esperamos de um Cavaleiro de Prata – o grego falou.

—Estamos prestes a enviar um novo grupo para combater os Cavaleiros renegados – Shina tomou a frente – Gostaria de participar?

—Mas é claro. Terei prazer em transformar aqueles que mataram Misty em pedra.

—Senhor Píton – Kammy se aproximou, empurrando alguns soldados – Senhor… Eu gostaria de participar do próximo ataque.

—Olha Kammy… Eu tenho confiança em seu poder, mas já estamos enviando a Shina e não acho que seria prudente…

—Eu não tô acreditando que você está me barrando por ser mulher!

—Não, longe de mim… É só que… Você ainda é muito…

—Eu já entendi, senhor. Sou muito jovem para participar de uma missão deste calibre.

E saiu andando. Shina olhou para Píton:

—Ela é muito forte… Eu gostaria de levá-la na minha missão. E você prometeu que eu poderia escolher meu parceiro.

—Ela é protegida de Camus. Eu não queria dizer isso na cara dela, mas ele me assusta… Não quero que algo aconteça a ela e eu tenha que enfrentar a fúria do Mago da Água e do Gelo – olhou para a italiana – E eu te prometi um e não dois parceiros.

—Estamos falando de cavaleiros que foram capaz de eliminar Misty.

—Hm, tem razão… Vou deixar mais alguém de sobre aviso para quando nossos espiões alertarem qualquer movimento.

 

Como imaginado por Shina, Seiya, Shun e Shiryu partiram em um jato rumo a Grécia, mas foram interceptados antes de chegarem lá pelo esquadrão liderado pela Amazona de Ofiúco que, além de Algol, contava com Spartan de Pyxis, um poderoso telepata, que foi capaz de atrair o pequeno avião até aquela ilha. Foi uma árdua batalha, que acabou com Shina desacordada, Seiya, Shun e, acidentalmente, Spartan transformados em pedra e Shiryu enfrentando sozinho o Cavaleiro de Perseu. O dragão ainda contou com a ajuda dos misteriosos Cavaleiros de Aço, que já haviam aparecido antes, na luta contra Babel de Centauro, mas não foi o suficiente para derrotar o portador do Escudo da Medusa: o discípulo do Mestre Ancião foi obrigado a se cegar para conseguir vencer e libertar seus amigos. Consequentemente, Spartan também despertou, pegando Shina e sumindo no tempo-espaço com a Amazona, provavelmente, indo de volta ao Santuário.



Arles estava em seu trono quando sentiu uma agitação no céu. Ele sabia que era uma “falsa existência”, quando se tratava de Grande Mestre, pois não conseguia ler com clareza o que as estrelas diziam. Para isso mantinha Marie sempre por perto, pois ela compartilhava desta habilidade com a mãe – e passou tempo suficiente com Shion para entender cada lampejo estelar diferente. Arrastou a morena até Star Hill, jogando-a no chão pedregoso:

—O que quer dizer esse brilho? - o mestre do mal perguntou, apontando para a constelação de Perseu – Eu senti o cosmo de Algol sumir, vi quando a constelação se apagou, mas, de repente, ela emitiu um novo brilho.

—Você vai gostar do que diz aí, seu canalha manipulador… - respondeu, ficando de pé com certa dificuldade. O braço esquerdo sangrava um pouco – Parece que sua pombinha de cabelos de fogo foi finalmente reconhecida como Amazona. Perseu a quer.

—Mas ela…

—Do jeito dela e de Afrodite, eles treinam… Se as estrelas estão pedindo, faça acontecer.

—Não me diga o que fazer!

Mais uma vez, a morena foi arrastada. Não se importava mais. Ela apenas aguardava o dia da justiça que, graças as estrelas, sabia que se aproximava. De volta ao Salão do Grande Mestre, Arles resolveu tomar um banho. Retirou as vestes sagradas e entrou na banheira, sentindo a água quente lhe acalmando os músculos:

—Pela manhã, enviarei um grupo para recuperar a armadura – murmurou – Mas ainda não darei a ela. Isso vai depender do que ela será capaz de me dar para obter o que tanto quer.

E gargalhou enfadonhamente. Longe dali, na Casa de Gêmeos, a face da justiça derramava lágrimas, em um protesto silencioso, talvez questionando o que seu portador havia se tornado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Primeiro, eu matei o meu pai..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.