Primeiro, eu matei o meu pai... escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel


Capítulo 10
Capítulo IX


Notas iniciais do capítulo

Novidades e polêmicas! A História começa a se desenhar mais agora!

A arte que ilustra este capítulo pertence ao Rossdraws. Todos os direitos reservados



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Sammyrah tinha acabado de regressar da casa dos pais,  quase um ano após seu acidente no Coliseu e encontrou o santuário em polvorosa. O Grande Mestre  Shion havia falecido de causas naturais e toda cavalaria estava devastada com sua perda, o sentimento geral era de tristeza e de estranhamento, pois o sucessor de Shion, seria Arles, seu subcomandante. Um homem misterioso, que trazia muitos questionamentos nas linhas da deusa. Quem era aquele homem de verdade? A ruiva não simpatizava muito com ele, sabia que ele escondia algo, já que ele era o único Cavaleiro de Prata que ela não conseguia descobrir nada, um cavaleiro de “cosmo fechado”, como dizia Afrodite. 

 

Estava pensativa enquanto subia o zodíaco dourado até em casa. Tudo que ela mais queria era livrar-se do jeans, tomar um banho, colocar uma túnica mais leve e deitar em sua macia cama na casa de peixes. Foi recebida com muito carinho por Dione e seu Mestre, mas sabia que havia algo de errado. Afrodite parecia medir as palavras com ela. Ele a convidou para tomarem um lanche e conversarem um pouco sobre as novidades, então, assim que saiu do banho e se vestiu, se sentou com o mestre numa mesinha que existia em uma das sacadas da Casa de Peixes. Não tinha dado nem o primeiro gole no chá quando Afrodite revelou o que o perturbava: O novo patriarca restringiu a apenas os cavaleiros de ouro e seus servos a permanência no zodíaco dourado, quaisquer asseclas ou aprendizes deveriam voltar a viver nas vilas de Cavaleiros e Amazonas na parte baixa do Santuário. Afrodite parecia deveras revoltado, chegou até a comentar que outros Cavaleiros de Ouro também estavam inconformados com aquela decisão, pois muitos haviam treinado os seus asseclas e normalmente era uma honra para estes viver ao lado de seus mestres e líderes, além de todo o vínculo afetivo que se criava entre Mestre e Aprendiz. A maioria também acreditava que com a convivência próxima, o crescimento e aprendizado era muito maior. 

—Isso é injusto, Dite! - argumentou Tatiana, cruzando as pernas na cadeira de palha – Ao menos me deram uma cabana exclusiva?

—Não… - Afrodite respirou fundo e encostou o rosto na mão – Eu tentei bastante Tatia, mas… A partir de hoje você viverá na Casa das Amazonas.

—NÃO, DITE! Por Cher, Kate Bush, Abba e qualquer outra coisa que você aprecie: qualquer lugar! Divido quarto até com a filha da Dione, a Hypathia, mas, por favor, não me mande para aquele lugar!

—Sabe que, se dependesse de mim, isso não aconteceria… Mas é uma ordem direta do novo Grande Mestre.

—Eu sempre disse que esse Arles não presta! - A ruiva cruzou os braços balançando a cabeça - Nunca gostei dele… Aff…

—Relaxe… Eu ainda sou seu mestre… Agora vá, por favor. Dione te guiará até o acampamento das Amazonas...

—Isso é pior que ouvir Hot Space… Sim, PIOR, porque Under Pressure 

consegue salvar o disco, mas não existe nada de bom em eu ir para a Casa da das Amazonas… - Ela abraçou o mestre que estava com um muxoxo imenso - Eu te amo, Dite… Até amanhã na arena.

 

Como imaginava, a vida de Sammyrah na Casa das Amazonas não seria fácil. Ao chegar lá, recebeu mais outra notícia devastadora: Kammy havia conquistado a Armadura de Cervo e, graças às ordens de Arles, teve que deixar a cabana onde vivia com  Misty no bosque para também viver na Casa das Amazonas. Como Maggie e Astrid haviam conquistado suas armaduras durante sua ausência e partido para treinarem jovens em outros lugares do mundo ela estava sozinha, já que todas as amazonas a odiavam – inclusive Shina, que acabou banida de Peixes por Afrodite após o incidente no treinamento que a machucou e a deixou ausente todo esse tempo.  Após uma recepção nada calorosa, com olhares estranhos e fofocas por todo lado, a ruiva que estava sentada em sua cama, ainda buscando cair em si na situação que estava, não se fez de rogada e perguntou:

—O que os servos prepararam para o jantar?

—Servos? Você acha que nós temos S-E-R-V-O-S? - Debochou Ellen de Lebre  se aproximando dela– Aqui não é seu super apartamento em Paris, princesa! Se quer comer coisa boa, cace seu jantar e prepare-o!

—Caçar meu próprio jantar? Mas vocês são completamente loucas mesmo...

—A louca e audaciosa aqui é você garota – outra amazona falou também a cercando – que já quis chegar botando banca.

 

—Acalmem-se… - Shina interveio afastando as demais – Bem, Grã-duquesa… Não temos as regalias das 12 casas aqui, mas como você acabou de chegar, serei boazinha. Vamos fazer um trato: se você  me trouxer um coelho, eu faço um belo ensopado com os legumes da minha horta.

A ruiva a olhou incrédula de braços cruzados, mas percebendo que a italiana falava sério, resolveu responder a altura:

—Claro… Vou até o bosque “caçar” meu jantar como boas amazonas fazem… - A ruiva se levantou da cama, arrumando os cabelos - Ainda bem que sei que você, mestra Shina, é muito entendida quando o assunto é “coelho” huhuhu…

Shina, ainda  sem entender o comentário da discípula de Afrodite, a viu abrir caminho entre Ellen e outras amazonas, sair e seguir rumo ao bosque. Por mais que discordasse com aqueles métodos precisava provar seu poder e também se alimentar. Achava aquilo insuportável, desnecessário e completamente antiquado, pois  se os Cavaleiros de Ouro tinham um tratamento diferenciado, ela achava que a elite das Amazonas também deveriam ser tratadas com igual conforto, poré, elas pareciam mais interessadas em puxar o tapete uma das outras, brigar entre si do que se unir para terem uma vida melhor:

Vou trazer uma caixa com os livros de Simone de Beauvoir para essas garotas, a vida delas não melhora porque elas não se portam nem crescem como as amazonas que são… patético— Pensou a ruivinha, incomodada com o machismo impregnado naquele Santuário que, ironicamente, pertencia a uma mulher.

 

Apesar de tudo, acreditava que conseguiria pegar um coelho com facilidade,  para calar aquelas insuportáveis, graças a seus poderes mentais e os treinamentos com seu Mestre Afrodite. A ruiva caminhava pelo bosque, quando  de repente, o mato se agitou e um pequeno coelhinho cinza saiu de um arbusto e ficou observando-a confuso:

—Olá, amiguinho – Ela olhou para o lado e viu pequenas frutas silvestres. Agarrou um ramo – que tal uma frutinha, hm?

Sammyrah se abaixou e ofereceu a fruta ao pequenino,em outros tempos, adotaria o coelhinho como bicho de estimação, mas a conjuntura atual a fazia o encarar como refeição. Ela balançou a cabeça e amaldiçoou mentalmente Arles. O coelhinho avançou dois passos em sua direção, cheirou curioso o raminho que ela oferecia e, quando ela pensou que seria presa fácil, ele saiu correndo:

—Filho da mãe!

Ela largou o ramo e correu atrás do seu suposto jantar. O problema todo estava nas árvores, arbustos, galhos caídos no caminho e no coelho que estava claramente fazendo pouco-caso dela. Ela se abaixava e esquivava das árvores e galhos no caminho, mas não passava por eles incólume. Tropeçou num galho e viu o bichinho parar e a encarar ao longe, como se a instigasse a continuar. Levantou-se num supetão e aumentou a velocidade  correndo atrás do coelho de cabeça baixa, até que quando estava bem longe da casa das Amazonas, esbarrou forte em alguém, caindo sentada no chão:

—Ai que droga! Por que não olh-… - A ruiva passava a mão na testa de olhos fechados, quando os abriu, visualizou a toga azul do Grande Mestre e, em um susto, arrumou a pose que estava, ficando apoiada em um só joelho – Mil perdões, senhor Arles, quer dizer, Grande Mestre. Eu estava atrás de um coelho para um jantar e não vi… - inconscientemente, Sammyrah ergueu o rosto e foi o momento mais apavorante de sua vida. Enfiado naquelas vestes estava Saga – O… Se… Nhor… Saga… Eu sabia que você estav-…

—Uma pena – Ele  a interrompeu com um sorriso maléfico  – Você estava indo tão bem… Eu lhe dei uma chance, garota… Mas, infelizmente, terei que tirar sua vida.

Naquele instante, ela sentiu o sangue gelar, entretanto, como uma peça pregada pelo destino, por uma fração de segundos ele baixou a guarda. Não por tempo suficiente para um ataque físico, mas para uma investida psíquica. Ele deixou sua mente aberta e a aprendiz pode ver parcialmente seus planos. Confiando em seus instintos, ela arriscou:

—Domínio, poder… Justiça? - Ela suspirou com o último sem entender -  É isso que você quer, não é? Foi por isso que matou o senhor Arles e tomou o lugar dele. Você não aceitou perder o cargo de Grande Mestre… - Ela ficou de pé e começou a caminhar em torno do cavaleiro - E se deixou dominar pelo mal… Típico .

—Se essas suposições de sua cabecinha mimada foram uma forma de implorar por sua vida, não está adiantando - Saga segurou a garota pelo braço, forçando-a a parar - Pelo contrário, sua situação está pior agora, Sammyrah.

 

—Não… Não é nenhuma suposição - Ela riu, talvez numa forma de fingir calma - Eu vi... Não tudo, mas um bom resumo do que você pensa... uma parte sua não sabe como isso aconteceu - Ela balançou o braço e se desvencilhou dele, cruzando os braços logo depois - Você apenas saiu para beber e se lamentar por tudo que perdeu, não foi? Ou simplesmente o que acreditava ter perdido… Kiss and Say Good Bye é uma música muito triste mesmo… Mas é o suficiente para despertar o mal?

—C-como você…? - Saga deu um passo para trás, passando uma das mãos nervosas na cabeça e fechando os olhos

—Ah claro… - Ela tornou a caminhar, dessa vez, indo em direção a ele - Foi o velho cabeça de Alface que leu meu destino nas estrelas. Você , como uma falsa existência, não é capaz de tal…  - A Jovem descruzou os braços - Eu sou descendente das bruxas Nganasans,  o dom da visão é passado de geração em geração nas mulheres da família - Ela sorriu - E como tenho uma energia cósmica em expansão, esse poder foi elevado. Ou seja, eu sei coisa sobre o presente, passado e, algumas vezes, do futuro. Além do mais, Grande Mestre – ousou dar mais um passo, encarando-o bem fundo nos olhos avermelhados – eu sou uma Romanov. O trono da Rússia deveria ser meu, mas o destino assim não quis... Eu tenho uns 10 golpes de estado planejados na minha mente. Quiçá, um dia, eu não conclua um? Mas, até lá, acho que meu dom e meus conhecimentos podem  te ajudar… Claro, se quiser uma aliada como eu…

—Você sabe vender seu peixe, garota… - Saga virou-se de lado, com as mãos na testa, como se sentisse dor - Está salva por hora. Eu quero você a meu lado.

—Ótimo - Ela suspirou ainda curiosa sobre a mente daquele homem - Porque eu tenho uma exigência.

—Que seria? - Ele disse em tom de cansaço

—Devolva-me para a Casa de Peixes. As Amazonas me odeiam e aquele lugar não me cabe... E eu  não vou dar a elas o gostinho de me verem como se eu fosse uma igual!

—Tudo bem… tudo bem…Você voltará para lá - Ele sacudiu a mão direita ainda segurando a testa - Mas, primeiro, volte para  a Casa das Amazonas. No máximo em uma hora, enviarei um comunicado através de uma serva.

—Eternamente grata, Grande Mestre Arles.

Fez uma leve reverência e o aguardou sair. Deu um meio sorriso e voltou para a casa das amazonas cantarolando. As outras estranharam seu estado animado, mas não deixaram de provocar:

—Ué, princesa? O que foi? - questionou Ellen – Achou um sapo falante na floresta e o beijou?

—Não, não… Eu pesquei um peixe enorme, que usei para me alimentar. - Ela se esticou - Até parece que vou viver com vocês jogando na minha cara que cozinharam para mim - A ruivinha se sentou em cima de um dos seus baús, cruzando as pernas - A propósito, Ellen… Seus sentimentos pelo Misty não vão dar em nada…

—E-eu não sei do que você tá falando, garota! - A amazona se encolheu desviando o olhar

—Não se faz de sonsa! Você ama o francesinho desde que eram crianças, até ficou com ciúmes quando a krest'yanek ali... – apontou rapidamente para Kammy, que estava lendo um livro no canto, alheia a tudo – ...começou a crescerMas não se preocupe. Ele também não a ama. Ele não ama ninguém além de si mesmo.

—Acho que você tá precisando tomar uns sopapos para ficar esperta garota!  – Shina chegou apertando os punhos

—Melhor nem chegar perto, Mestra Shina… Ou eu posso explicar porque a senhorita gosta tanto de coelhos… E, de bônus, ainda explico o que significa esse trapinho velho que você usa amarrado no punho.

—Você é uma lambisgoia! - vociferou Cali de Esquilo.

 

—Disse a “ratinha do lago”. Sabia que os cavaleiros e soldados que se enroscam contigo lá te chamam assim? Sinceramente, já entendi porque a Mestra Marin construiu sozinha uma cabana própria. Vocês são tóxicas! - Sentou, tirou a máscara e acendeu um cigarro – tóxicas e maníacas. Um bando de sem noção. Sério… Deviam rever esse negócio de colocar todas as mulheres juntas. Acho que vou falar pessoalmente com Athena. Talvez peça a serva que está vindo me buscar para que me leve lá.

—Seja lá o que ela comeu na floresta, afetou o cérebro – Shina falou – Melhor controlarmos isso.

—3, 2, 1…

—Com licença, Amazonas…

—MARIE?! - todas exclamaram, enquanto a ruiva apenas deu uma tragada intensa em seu cigarro.

—Prefiro não perguntar o porquê de tanto espanto em me ver aqui… - deu de ombros e suspirou - Enfim... Sammyrah, discípula de Afrodite está aqui?

—EU MESMA – a ruiva respondeu desaforada, após soltar a fumaça.

—Tenho ordens do Mestre Arles para conduzir-te de volta a Casa de Peixes - a voz dela tinha um tom amargo, como se carregasse uma enorme mágoa - O mesmo afirmou que este antro de loucas não é lugar para alguém de sua categoria.

—Ótimo! - ficou de pé e colocou novamente a máscara – e minha bagagem?

—Tem um grupo de soldados vindo buscá-la. Sugiro a todas que fiquem de máscara.

—Maravilha… Bem, queridinhas, foi um prazer o tempo que passamos juntas, mas ouviram a garota, né? O Mestre Arles disse que esse lugar não é para mim.

Com um aceno cínico, seguiu a jovem. As amazonas e aspirantes ficaram fazendo várias especulações, até que Kammy, que estava tentando ler, fechou o livro e ficou de pé:

—Ai credo! Parecem um bando de gralhas, fazendo um monte de teorias sem sentido! A Sammyrah é capaz de ler mentes. Ela não roubou o diário de ninguém, não seguiu ninguém e nem ficou espiando. Aquela cobra tem coisas bem melhores para fazer e uma delas é ficar espiando as nossas cabecinhas, tá certo? - respirou fundo colocando seu livro debaixo do braço– agora que vocês já sabem, dá pra calarem a boca? Estava tentando ler, coisa que recomendo a muitas de vocês!

Quando terminou de falar, ela passou a mão no topo da cabeça, arrumando alguns fios que se desgrenharam do rabo de cavalo  e saiu com a postura altiva carregando o seu livro, abrindo a porta para que alguns soldados entrassem e recolhessem as malas da aspirante ruiva, deixando todas outras as jovens indignadas.

—E como a loira azeda sabia disso tudo e não nos contou? - resmungou Shina.

 

—Deve estar mancomunada com a princesa sem-terra… - Disse Ellen, ressentida se sentando em sua cama - Aquelas duas se acham melhores que todo mundo por terem ligação com os Cavaleiros de Ouro 

—A Sammyrah, como pudemos ver, tem certeza que é, agora a Kammy só vai a Aquário pegar livros – Resmungou Cali de Esquilo vendo uma aprendiz rir dela – do que você está rindo garota?

—Nada… só que 3 dos 5 soldados que entraram aqui já te viram sem roupa!

Outras amazonas e aprendizes começaram a rir junto com a garota que revelou a fofoca e logo, uma grande confusão se iniciou dentro do local pois Cali desejava agredir sua difamadora a qualquer custo. Kammy, que observava tudo sentada em um galho de uma árvore, apenas balançou a cabeça,suspirou e  abriu o livro e se aconchegando por ali mesmo.

 

***

 

Afrodite estava lixando as unhas na área comum de Peixes, encostado em uma pilastra, cantarolando uma música que ouvia graças a um walkman esquecido por Sammyrah no 12º templo. Não tinha nem três horas que ela saíra de Peixes e ele já sentia sua falta:

Ela está comigo há quase 10 anos… – pensou o sueco olhando para os lados – Eu me apeguei aquela maldita feiticeira… Temo pelo que podem fazer com ela, agora que ela está longe de mim.

De repente, uma presença foi sentida. O sueco tirou os fones rapidamente, colocando-os junto com a lixa atrás de uma pilastra e assumiu posição de defesa. Não era possível um ataque sem que os sinos soassem em alerta:

—Se bem que o invasor pode ser alguém de dentro… – murmurou – Nunca se sabe.

Os claques dos sapatos a denunciaram. Não era nenhum invasor ou cavaleiro pedindo passagem, mas a própria ruiva, em seu uniforme, mas usando meios saltos Chanel, pois jamais se renderia as sandálias gregas ou botas de treino:

The winner takes it all, the loser standing small. Beside the victory, that's a destiny— entrou saltitando e cantarolando, Quando se aproximou o suficiente, abraçou o mestre – Desculpa, essa música estava na sua cabeça desde Capricórnio.

—Sua…!! - Ele apertou o abraço e a rodopiou no ar. Quando a colocou no chão, deu um tapa na parte de trás de sua cabeça - PESTE!

—AI!!! - resmungou – Por que fez isso, Dite?!

—Porque você me deu um susto! E o que diabos está fazendo aqui? O Mestre Arles não baniu todos os aspirantes, asseclas e até alguns servos das dependências das doze casas?

—Pois é, amado mestrinho… Mas Tatiana Romanova, Sammyrah, a discípula de Afrodite não é qualquer uma… Um soldado vem aí, trazendo minha bagagem – caminhou até a pilastra e pegou o Walkman— a propósito, isso me pertence – colocou os fones e, antes de dar o play, falou – Se precisar de mim, estarei me purificando do tempo que permaneci naquele antro.

Antes que Sammyrah deixasse o recinto, uma outra presença foi sentida, fazendo com que ela parasse no meio do caminho encarando a mesma direção que seu mestre.

—Com licença, senhor Afrodite – um soldado apareceu, mas veio do outro lado da casa, ou seja, viera do Templo de Athena – O senhor Arles deseja ver sua discípula.

—O senhor Arles quer ver a Sammyrah? - o pisciano virou, encarando a ruiva – O que diabos você andou aprontando, criatura?

—Nada! Nada mesmo, Mestre.

—Mas me engana que eu gosto! A senhorita pisou nesse Santuário e foi movida para a casa das amazonas. Em menos de três horas foi trazida de volta para Peixes com escolta e tudo e, agora, o Mestre Arles te chama para conversar? Ah, nesse mato tem coelho, Tatiana! Mas vá – acenou com a mão – você não quer deixar nosso novo Grande Mestre esperando.

Sammyrah apenas meneou com a cabeça, devolveu ao mestre seu Walkman, e disse:

—Quando eu voltar, quero um banho de rosas purificador, tá?-Ela piscou 

—Vou pensar no seu caso, sua peste!

A ruiva fez uma espécie de reverência para o Mestre  antes de sair, que riu e revirou os olhos a vendo partir. Aquela cena era, no mínimo, estranha. Sabendo de quem e do que se tratava, Afrodite tentou não se preocupar, mas era impossível.



Tatiana subia as escadas tranquilamente vendo as rosas abrirem caminho para si, percebendo que elas abriam caminho de outro lado também, se perguntou quem também estava descendo, até que ouviu uma reclamação:

Dios, achei que já estava alucinando no meio desse roseiral dos infernos!

Era Shura, o cavaleiro de Capricórnio. Ela também o conheceu no dia que chegou ao Santuário. Lembrava dele como o jovem descolado tocando AC/DC em um rádio imenso. Após isso, o viu algumas vezes passando por peixes, a cumprimentava, mas só. A ruiva sempre achou o jovem espanhol charmoso. Sabia do grande apreço de seu mestre por ele, então era o tipo de coisa que preferia não comentar:

—Eu já sou bem-acostumada com ele… E ele comigo. - Sammy abriu seu melhor sorriso, mas lembrou da máscara e colocou uma das mãos na cintura, ajeitando um pouco mais a postura – Achei que os Cavaleiros de Ouro eram imunes ao veneno do Jardim de Rosas Diabólicas…

—Nós somos imunes ao veneno, mas esse vermelhão todo cansa a vista. Daí te vi se aproximando e achei que era uma miragem… - O espanhol respondeu divertido – E vocês aprendizes não tinham sido enxotados pelo grande mestre?

—Tínhamos, mas eu tenho um bom poder de persuasão e consegui voltar.

—Ah… os privilégios do sangue azul... – Shura deu um passo para o lado abrindo o caminho – Pode seguir seu caminho, señorita. Nos esbarramos por aí.

Por supuesto, señor— Sammyrah agitou os cabelos, seguindo seu caminho até o 13º Templo, não sem antes olhar para trás e observar o capricorniano sumir entre as roseiras até peixes –ay, que hombre!

Quando chegou ao 13º templo, foi recepcionada por uma serva de nome Iris, antiga serva de Peixes, que Afrodite dispensou por exigência da ruiva:

—O que diabos faz aqui, sua maldita? - A serva disse entre dentes

—Fui convocada pelo Mestre Arles, ué – respondeu olhando as unhas – Por que mais você acha que eu estaria aqui?

—Ah tá… Você espera mesmo que eu acredite…-A mulher dizia em tom de deboche quando foi interrompida

—É verdade, Iris. Eu a chamei.

Arles surgiu por trás da ruiva que, assim como a serva, virou e curvou o corpo em forma de reverência. Sammyrah aproveitou a máscara para erguer o olhar e admirá-lo. Pensava em como não tinha reparado antes no porte de Arles. Os ombros largos e as mãos eram as mesmas daquele rapaz  que a recepcionou anos atrás no dia que chegou ao Santuário:

—Podem se levantar – o patriarca falou com voz autoritária – Iris, informe aos demais que estou em reunião e não quero ser incomodado.

—R-reunião com a Sammyrah?

—Sim… Tenho assuntos a tratar com ela.

—Sim senhor – respondeu, curvando o corpo.

O patriarca cruzou as portas com a aspirante e as fechou. Iris pode ouvir o som da tranca, que foi passada duas vezes. Encarando os talhos da porta, começou a pensar:

O que ele poderia querer com a Sammyrah? Ela não passa de uma aspirante e… Ah não! Não pode ser isso — assumiu uma feição enojada – o Mestre Arles é um guerreiro que sobreviveu a guerra santa anterior! Ele deve ter, no mínimo, uns 260 anos…— passou a mão pelos cabelos e falou em voz alta – Isso é deveras grotesco!

—O que é grotesco, Iris?

Após um grito assustado, a serva virou e se deparou com Afrodite e Máscara da Morte, ambos em suas armaduras. Reparou que o cavaleiro de peixes estava sem sua habitual maquiagem, mas achou melhor não comentar sobre isso:

—Um torneio entre cavaleiros! - respondeu rapidamente, ainda com a mão sobre o peito, tentando recuperar o fôlego após o susto – Dizem que é isso que tá rolando no Japão, não é?

 

—Sim – o cavaleiro de Câncer respondeu impaciente – Está rolando e é grotesco. Justamente sobre isso que viemos falar com o Grande Mestre. Ele está?

—Está, mas… Ele está em uma reunião… Com vossa discípula, senhor Afrodite.

—O que o Grande Mestre ia querer com a sua… - Máscara da Morte começou, mas se interrompeu com um sorriso sacana – Ah, claro… Bom, Iris… Fala pra chefia que o aguardamos no salão dourado.

—Pode… deixar…

Os dois cavaleiros de Ouro saíram e a serva permaneceu sem entender nada. Por fim, pegou seu esfregão e voltou a seus afazeres.



A ruiva viu o mestre trancar a porta duas vezes e franziu a testa por trás da máscara, aquilo era deveras estranho. Observou-o tirar a máscara a atirá-la numa mesa, sentando impaciente no trono:

—Odeio essa maldita coisa – ele estendeu uma mão apontando para uma cadeira à sua direita enquanto com a outra apertava a testa

—Eu também… Inclusive senhor, se quiser, posso mostrar-te meu rosto… assim ficamos quites no nosso segredo…

Sammyrah fez menção em retirar sua máscara, mas rapidamente o mestre ergueu sua mão em riste:

—Não há necessidade – Resmungou Saga – Se eu quisesse ver seu rosto, bastava comprar qualquer tablóide de fofoca na rua ou simplesmente passar despercebido por Peixes! Estou mais interessado nesse seu poder de ler mentes. Você disse que descende de bruxas?

—Ah! Isso mesmo – A ruiva revirou os olhos se culpando pela investida errada – Minha mãe é descendente de uma antiga tribo xamânica nórdica, composta exclusivamente por mulheres. Segundo as escrituras, as mesmas eram poderosíssimas, tinham o poder de ler a mente e faziam feitiços

—Então, não foi uma forma de pedir clemência? - Ele falou espantado - Não sabia que tínhamos aprendizes mulheres desse sangue…

—Pode-se dizer que sim – A ruiva irritada com o deboche rebateu – Reza a lenda que as mulheres da tribo costumavam transformar homens em cachorros para ensiná-los a serem amáveis e gentis…

—Vai me transformar num Husky?- O grande mestre mantinha o tom de deboche e curiosidade

—Infelizmente esse feitiço se perdeu no tempo… - A ruiva encostou a cabeça na mão e, com um tom irritado na voz, continuou  – Mas pode ter certeza que, se eu soubesse… Teríamos mais cachorros que homens nas ruas

—Bem... Primeiro, não quero mais que entre mais na minha mente, Sammyrah. O que importa agora é que quero que comece a provar seu valor… Vamos lá – Saga se encostou na cadeira um pouco irritado – Além da sua descendência bruxa, o que mais você pode me oferecer?

—Eu sei como agir em períodos de crise, como realmente implementar golpes de estado e controlar quem está a minha volta.

—Com feitiços?

—Não! Com ciência política – A ruiva se levantou, assumindo uma postura quase tão altiva quanto a da mãe – Dominação e controle, com uma boa política de analisar os erros das gestões anteriores. No caso da minha família, os erros, podem se resumir em fanatismo religioso e uma nobreza extremamente apegada a seus privilégios além do clássico machismo russo.

—Está bem… - Suspirou Saga - Mas em que isso me beneficiaria? 

—Ao analisar os erros dos seus antepassados, você não os repete. Ao conhecer os que te rondam, você pode manipular as peças certas para cada momento…

—E os contrários ou que não se encaixam?

—Eventualmente se moldam ou caem, Grande Mestre. Antes de começar qualquer coisa, quero que leia as biografias de Alexandre o Grande, Napoleão Bonaparte e de Adolf Hitler

—Garota… o que três simples humanos sem poderes podem me ensinar? - Riu debochado – Eu sou o cavaleiro de ouro mais poderoso de toda a geração, quiçá de todos os tempos!

—Eles tinham o mesmo objetivo que o seu: dominar o mundo – A ruiva caminhava em volta do mestre – Mas foram engolidos por seus egos e vontades megalomaníacas. Para a real dominação, o seu poder de persuasão deve ser maior que o poder bélico ou de dominação, pois, eventualmente, um deles se perde, mas a conquista por convencimento… - Disse ela se encostando no trono dele e cruzando os braços – A confiança em você deve ser maior que sua força bruta...

O grande mestre se levantou com a testa franzida, encarando de perto a jovem, que por mais que tivesse um porte altivo, ficava pequena perto daquele homem imenso.

—Está bem, garotinha - Saga deu um meio sorriso e fechou os olhos - Seguirei seu conselho… espero que não esteja me enrolando com todo esse misencene.

—Não é cena: é o mais puro conhecimento! Posso não ter nem metade do seu cosmo, Grande Mestre… mas você não tem metade do meu conhecimento… Você não durará nada sem mim – A ruiva disse pretensiosa, sentindo um arrepio na espinha, da última vez que estivera assim tão perto dele, foi no dia em que se apaixonou perdidamente por aquele rapaz tão doce, que sequer transparecia no homem.

—É parece um bom acordo de casamento– O mestre pegou a mão da jovem, a alisou com os dedos e deu um beijo em sua mão – Agora vá embora antes que desconfiem… A propósito: você tem uma desculpa em mente, caso perguntem o que veio fazer aqui?

A ruiva se abobalhou com a atitude dele, mas rapidamente respondeu sem pensar muito:

—Que o senhor me convocou para pedir perdão pela má prática com a minha pessoa e que, em forma de remissão, toda minha correspondência será enviada ao Décimo terceiro templo, culminando assim, em constantes visitas minhas.

—Um bom argumento – Saga franziu a testa e alisou a mão dela novamente – Afrodite te treina mesmo ou só ficam de fofoca? A sua mão é macia demais para uma aprendiz…

—Imperatrizes não tem mãos grossas, Mestre Arles – Ela respondeu após ele a soltar

—Pois bem… Pode partir senhorita, serei mais discreto da próxima vez…

Sammyrah saiu do salão meio desnorteada, mas agitando os cabelos em sinal de felicidade. Até acenou para Iris, mas sem sarcasmo desta vez. Arles veio até a porta, onde a serva ainda olhava descrente, apoiada em seu esfregão:

—Alguém apareceu, Iris? - o patriarca a tirou do transe.

—Ah sim! Os senhores Máscara da Morte e Afrodite o esperam no salão dourado. Parecem que têm notícias sobre o circo que aqueles cavaleiros de bronze armaram no Japão.

—Já disse que aquilo é uma bobagem – arfou – mas verei o que eles querem.

O Grande Mestre caminhou rapidamente até a área destinada às reuniões dos cavaleiros de ouro. O local, que estava em desuso desde a “traição” de Aiolos, agora era constantemente usado por Saga para se reunir com seus aliados, já que ninguém tinha autorização para acessá-lo:

—Eu espero que vocês tenham um bom motivo para virem falar de um assunto que eu já dei por encerrado.

—Não, Grande Mestre – Afrodite falou – quem o deu por encerrado, teoricamente, foi o falecido...

—Você apenas disse que tinha coisas mais importantes a fazer – Máscara da Morte interrompeu – Imaginei que tinha a ver com domínio, mas percebi que você só quer comer aspira, né Saga? Deixou a gente esperando aqui uma cacetada de tempo, enquanto tirava proveito da ninfetinha que o sueco aqui treina.

Afrodite o olhou com ódio. Não admitia que ninguém falasse daquele jeito sobre a ruiva, nem mesmo seu melhor amigo. Já se preparava para atacar, quando Saga pegou o italiano pelo pescoço:

—Primeiro: eu não te autorizei a me chamar pelo nome. Sou o Grande Mestre ou Mestre Arles! Segundo: quem eu como ou deixo de comer não lhe diz respeito, Máscara da Morte! Agora, mais do que nunca, eu espero que o que vieram me falar valha a pena, senão “o mestre do Yomotsu” virará seu imperador permanentemente.

—O prêmio da tal Guerra Galáctica é uma armadura de ouro – Afrodite falou rápido – A armadura de Ouro de Sagitário!

—Sagi... Tário? - Saga questionou, soltando o pescoço do canceriano, que caiu desengonçado no chão, arfando um pouco  – explique como soube disso.

—Fui até Rodorio comprar umas coisas para meu jardim. Quando cheguei a mercearia do Seu Salvador, havia uma TV ligada em um telejornal. Foi onde vi a notícia – respirou – A Guerra Galáctica foi interrompida pois o prêmio, a armadura de ouro de Sagitário, foi roubada por um dos participantes do torneio, Ikki de Fênix, que treinou na Ilha da Rainha da Morte.

—Fênix?!

—Sim, Grande Mestre. Saori Kido, a responsável pelo tal torneio disse isso em uma coletiva de imprensa. Parece que Fênix se uniu aos cavaleiros negros e roubou partes da armadura de ouro.

O patriarca ficou mudo por uns instantes. Depois, colocou a máscara e saiu, sem dizer nada. Afrodite olhou para Máscara da Morte e lhe deu um soco na face esquerda:

—EI! Tá maluco Afrodite?-Disse segurando o maxilar-Catzo! 

—É melhor nem pensar em revidar, Francesco!

—Por que diabos você…?

—Você mereceu por falar absurdos sobre a Sammyrah-Afrodite resmungou-Ela não é como as outras aspirantes bobas que tem por aí… e só eu posso ofender aquela garota!

—Mas, na real: o que tá havendo entre ela e o fulano aí?-Máscara se aproximou do sueco-Eu achei no mínimo estranho… 

—Se eu soubesse, não teria subido contigo com tanta pressa.-Afrodite colocou as mãos nos quadris indignado- Você acha mesmo que, em condições normais, eu sairia de casa de cara limpa? Você me conhece o suficiente pra saber que não, Mask.

—Tá certo… Me perdoa.-O italiano viu Afrodite revirar os olhos- Vamos pra minha casa. Vinho de desculpas.

—Agora você falou minha língua.-Afrodite finalmente sorriu-Isso que é um pedido de desculpas decente...




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Notas finais do capítulo

TCHAN TCHAN TCHAN TCHANNNNN

Por essa nem vocês, minhas meninas esperavam não é mesmo? Aguardo os comentários de vocês



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