Uma Era de Krakens e Lobos escrita por L R Griwich


Capítulo 2
Bran




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Quando Sor Hern Stokeworth entrou no aposento, o cintilar da espada na sua armadura ressoou por toda sala. Bran mal conseguia abrir os olhos, e apenas escutava, sem prestar muita atenção.

— Nenhuma notícia de Rosby – disse o Sor.

— Talvez já esteja marchando para Pentos – respondeu Meistre Balman.

Até certo tempo atrás, o Grande Meistre de Porto Real era Samwell, mas foi desligado da cidadela após meistres descobrirem seu filho com uma selvagem, foi obrigado a voltar para Monte Chifre e ser Lorde da Campina. Balman era um grande conhecedor da história dos Sete, agora seis, reinos. Passava noites e noites dividindo conhecimento com as paredes, e entendia sobre a guerra. Era articulador, e não apenas conselheiro. Já Sor Hern Stokeworth era membro da Guarda Real, nomeado anos atrás por Sor Roger Hogg. Além deles, a Mão do Rei, Lorde Sainter, estava presente.

Quando Bran suavemente abriu os olhos, todos se endireitaram e cumprimentaram o Rei.

— Vossa Graça – iniciou Sainter – como está a dor?

— O leite de papoula ajuda um pouco – respondeu Bran, com uma voz tão pálida e fraca quanto seu rosto. Estava branco, parecia um cadáver.

Bran, O Quebrado, era Rei há 40 anos, um período surpreendente comparado aos outros governantes de Westeros. Seu reinado fora marcado pela aparente paz entre os Lordes, e comparações com Jaehaerys I, O Conciliador, não faltavam. Porém, havia críticas por parte da população, de que o rei não governava, e sim a sua Mão. Desde sua nomeação, Bran pouco interferia nos conselhos, e tudo o que dizia era “sim” ou “não”. Não poderia decidir muita coisa. Talvez por isso tenha recebido o pejorativo título de Bran, O Quieto, por parte do povo. Apesar disso, ficou marcado como “o rei que reconstruiu o reino”, muito embora as ordens para a execução da reconstrução da fortaleza e da cidade tenham sido de Tyrion Lannister. Tyrion morrera há pouco tempo, por conta de um naufrágio no Mar do Verão, diziam as histórias. Fora substituído por Lorde Kork Sainter, da Casa Sainter das Terras Fluviais. Localizado no Cabo das Águias, a Casa Sainter nunca foi uma importante casa, quando em 336 AC, ocorreu o Torneio de Guardamar, financiado por Lorde Sainter, onde exibira o poderio e a fortuna de sua casa para os seis cantos do reino. Após isso, virou Mestre da Moeda e ganhou um assento no Pequeno Conselho. Sainter era um homem alto, já perto dos 50 anos, trajava um gibão cor ciano, com dois remos cruzados em cima, símbolo de sua casa. Virou Mão após a morte do Anão, e todas as decisões passavam por ele.

Após uma longa pausa, Bran virou-se para o meistre.

— Meistre Balman, leve-me para bosque sagrado.

— Ás suas ordens, Vossa Graça – disse o meistre, desajeitado.

Balman colocara Bran na sua cadeira, e seguiram para o bosque. Enquanto passavam pelo pátio, Bran observava cavaleiros digladiando-se entre as passarelas, soldados e mais soldados com cotas de malha andavam por cima das muralhas, e o represeiro mais perto a casa passada de Meistre Balman.

— Precisamos conversar, Balman.

Ficaram a sós por um bom tempo.

Na Sala do Trono, Lorde Sainter e o Mestre da Guerra, Hoster Blackwood, deslumbravam o trono e conversavam sobre o rei. Antes as mil espadas dos inimigos de Aegon, O Conquistador, o trono agora era uma escultura em pedra vermelha, da cor da fortaleza, e mais alto do que o anterior. Talvez fosse menos imponente, mas com certeza era mais confortável.

— O Rei está mal, Lorde Sainter – disse Blackwood – não deve ter mais que meia dúzia de noites.

— O Rei está mal, de fato, espero que tenha bem mais do que meia dúzia de noites, Lorde Blackwood. Todos os dias me pergunto: o que terá feito o rei despedaçar-se dessa maneira?

— Velhice, talvez, só os deuses sabem.

— Os deuses e o Rei – respondeu Sainter – não se esqueça de que Vossa Graça vê o que aconteceu, o que acontece, e o que acontecerá. Isso me apavora, às vezes, sabe? Como alguém pode saber de tudo, e ao mesmo tempo não saber de nada?

— Se tiver um culpado, acha mesmo que Vossa Graça não sabe quem foi? Por que acha que está nesse momento a sós no bosque com o meistre?

— Que seja, talvez esteja vendo nossa conversa agora, Lorde Blackwood. Isso não te apavora?

Hoster Blackwood deu uma longa pausa, e respondeu:

— O que me apavora mais do que isso é a ideia de não termos rei durante algum tempo.

— Simples – Sainter respondeu rapidamente – o povo não pode saber. O Conselho já deve ser chamado imediatamente após sua morte. Apenas lordes das Terras da Coroa e das Terras Fluviais devem ser convocados.

— Concordo – disse Sor Hern Stokeworth ao fundo, com passadas largas em direção aos dois – imaginem a cara de Procopion Greyjoy e de Elio Martell quando souberem. Estão famintos por rebelião.

— O Rei ainda não está morto – disse Blackwood, relutante.

— Isso deve ser encaminhado imediatamente ao rei – respondeu Sainter – pedirei a Meistre Balman para deixar registrado.

A noite passou, e com ela, Bran e Meistre Balman voltaram do bosque sagrado. Quando Bran já se posicionava em sua cama, Lorde Sainter, Lorde Blackwood e Sor Hern Stokeworth entraram no aposento. Meistre Balman também estava presente.

— Sainter – chamou Bran – não passarei desta noite.

— Vossa Graça, é algo que consegue ver? – indagou Blackwood.

Eu não vejo mais nada. Pensou Bran.

— Quero que reúnam o Pequeno Conselho, apenas homens que eu nomeei, nada de lordes, vassalos, nem cavaleiros juramentados. Apenas o Pequeno Conselho.

— Mas, Vossa Graça – Sainter deu um passo à frente – todos os vassalos devem ser chamados. Essa é a nova roda que você criou.

— O Pequeno Conselho vai escolher o novo rei – disse Bran, cada vez mais enfraquecido – a atual conjuntura não nos permite tamanho erro. As Ilhas de Ferro se ajoelham de frente, mas se levantam pelas costas. O mesmo acontece com Dorne.

— Claro, concordo plenamente – afirmou Sainter.

— Agora saiam – dessa vez, Bran aumentou o tom.

Quando todos haviam saído, Bran fechou os olhos. Sua vida passara pela sua cabeça. Talvez essa seja a coisa certa, a menos sangrenta, talvez só assim a roda seja realmente quebrada.

Com os olhos fechados, lembrou-se de Catelyn, de Jon, de Sansa, de Tyrion e até mesmo da Rainha dos Dragões. Via a torre de Winterfell, via Sor Jaime Lannister. As coisas que faço por amor. Via o chão aproximar-se cada vez mais. Via o corvo, com seus três olhos. Via a si mesmo. E então, não via mais nada. Fechara os olhos pela última vez.


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