Corações e almas escrita por Barb B


Capítulo 2
Entre a cruz e a espada




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O relógio do quarto tocava desesperadamente marcando dez da manhã, e continuou tocando até que Sam entrou porta adentro com algumas sacolas e o café que tinha saído para buscar.

— Poxa, Dean! Pensei que estivesse morto, com o relógio tocando deste jeito. – Sam puxou o lençol que cobria a cabeça do irmão.

— Falei para programar na rádio. – Dean se virou e cobriu novamente a cabeça.

— Eu trouxe café. Levanta, já é tarde!

— Trouxe torta?  - Perguntou enquanto bocejava.

— Esqueci!

— Ah, fala sério! Então não vou levantar. Inclusive hoje é sábado. Porque a pressa?

— Falei com o Bobby agora cedo, parece que ele achou algo para nós. Vai levanta! – Sam arrancou por completo o lençol e atirou em cima da outra cama.

— E depois o que tem a ver ser sábado? Por acaso seguimos alguma rotina de trabalho que nos dá opção de descanso aos fins de semana?

Dean se levantou e caminhou até o banheiro.

— Idiota! – Disse batendo a porta.

— Idiota é você! – Sam balançou a cabeça negativamente com um leve sorriso voltando novamente os olhos para o jornal.

Quando saiu do banheiro, já vestido, Dean se sentou na pequena mesa em frente à janela. Enquanto Sam comia um bolinho, ele bebeu o café que a esta altura já estava morno.

 – Mais um dia! Mais um motel barato! – Ele pensou.

Olhou ao redor do quarto e era tudo sempre tão igual. Embora eles tivessem como regra nunca irem duas vezes à mesma cidade e, portanto, eram sempre motéis diferentes, no fim eram sempre iguais, e meu Deus foram tantos! Ele se voltou novamente para a paisagem além da vidraça e avistou uma garota passando com um cão, um belo labrador de cor caramelo, ela sorria conversando com um rapaz. – Ela sempre quis um cão! – Ele piscou rápido, sentindo-se traindo pelo próprio pensamento e sacudiu a cabeça surpreso com o próprio pensamento, olhou para o Sam e disse repentinamente - Acho que devíamos ir ao Arizona!

Sam tirou os olhos do jornal e olhou fixamente para o irmão. Dean parecia especialmente irritado naquela manhã. Bom, ele não estava bem já fazia um tempo, mas neste dia parecia ainda pior. Sam sabia onde Dean queria chegar com aquela conversa, mas fingiu não saber e perguntou.

— Arizona? E posso saber o que vamos fazer no Arizona?

— Nós deveríamos cremá-la!

— Ah... Dean... pensei que já tínhamos resolvido isso. – As palavras saíram relutantes, afinal se a morte da Jenny fora difícil para Sam foi ainda pior para o Dean. Ele se culpara, se culpara tanto que isso destruiu de vez a sua relação com a Lisa e o transformou. Ele se tornou só raiva e tristeza.

— O que nós resolvemos, Sam? Me diga! O que fizemos? Só a enterramos lá e fomos embora!

— Fizemos como você queria. – Sam apontou o dedo para Dean. - Nós não a cremamos, nós a enterramos como você decidiu que seria!

— Nós não a cremamos, Sam, porque ela precisaria do corpo quando achássemos um modo de trazê-la de volta, mas...não achamos! – As duas últimas palavras quase não saíram.

Os olhos de Dean se enchiam nestes momentos. Sam já estava cansado. Tiveram essa mesma conversa diversas vezes nos últimos quatro anos e toda vez Dean ficava ainda mais arrasado.

— Olha Dean... nós tentamos! Procuramos nos livros, falamos com videntes, bruxos, caçadores e demônios... com vários demônios na verdade e todos disseram a mesma coisa: não era possível! Você até chegou a oferecer sua alma, o que foi uma estupidez, e nem assim!

— Mas nós desistimos! – Dean falou baixando a cabeça. – Nós paramos de buscar uma maneira.

— Já se passaram quatro anos, se houvesse algo já teríamos encontrado.

— Mas foi minha culpa, Sam! – Ele gritou quase sem conseguir controlar a raiva que lhe explodia no peito

— Não, não foi. Ela fez uma escolha. Foi um sacrifício eu sei, mas Jenny era assim, quando metia algo na cabeça ninguém tirava. – Dean esboçou um sorriso torto e Sam continuou – A atitude dela salvou todos nós e ela era assim!

— Bobagem!

— Não Dean. Ela fez o que achava certo. Nós procuramos por todos os cantos uma forma de reverter, mas não achamos e ponto final, seguimos em frente!

— Não Sam, não tem ponto final... ainda. Não até eu encontrar o Crowley e destruí-lo, porque se eu não posso trazê-la de volta ele terá que pagar. Ai neste dia – Dean inclinou seu corpo sobre a mesa, sua voz saiu cheia de ódio – Será o ponto final! Depois vamos voltar ao Arizona e dar a ela o enterro digno de uma caçadora!! – Dean se voltou mais uma vez para a janela e permaneceu imóvel perdido em seus pensamentos.

Sam o observou por alguns instantes. Sabia que não havia como mudar o que houve, e nem como arrancar a dor que Dean carregava, por isso a única maneira era encontrar o Crowley e mata-lo de vez, e é o que eles têm procurado há quatro anos, mas Crowley havia sumido depois daquela trágica noite no Arizona e desde então nunca mais tiveram notícias, mas Bobby parecia ter encontrado uma pista. Ele abriu o laptop, resolveu buscar algumas informações com base no que Bobby disse, talvez isso animasse o Dean.

— Bom dia meninos! – Disse Castiel já no meio do quarto.

No susto Dean derrubou o café.

— Porra, Castiel, viu o que você fez?! Acabei de tomar banho, minha camisa estava limpinha. Você não sabe avisar? Sei lá, tipo um tremor, um vento... ou até um telefonema!

— Não acho necessário avisos, mas se quiser posso providenciar algo. – Enquanto falava Castiel analisava o quarto. Ele sempre fazia isso. Parecia uma mania que Sam nunca entendeu.

— O Sam falou com o Bobby agora cedo e parece que ele achou algo.

— Isso é bom! Tudo anda muito calmo ultimamente, digo nenhuma movimentação grande! – Castiel puxou uma cadeira e se sentou!

— Tirando uns casos aqui e ali, tivemos apenas dois demônios em Jersey, mas eram do segundo escalão. – Sam falava enquanto revirava alguns papeis. – Nenhuma notícia do Crowley, nem sinais, nem presságios, nada! – Enquanto digitava no laptop ele continuou – Até que há dois dias o Bobby rastreou sinais estranhos na região do condado de Hill em Montana, todos próximos a uma cidadezinha chamada Havre!

— Havre? - Castiel não conseguiu disfarçar a surpresa, não que ele fosse bom em mentir ou disfarçar já que era um anjo, mas até os anjos tem seus segredos e eles não são necessariamente mentiras. Pelo menos era assim que Castiel pensava.

Os dois irmãos ficaram olhando para o surpreso Castiel esperando que ele dissesse algo, mas ele não disse.

— Porque a surpresa Cas? – Sam perguntou.

— Surpresa? Desculpe, eu me distraí um pouco! Você dizia que os sinais que o Bobby encontrou são em uma cidade chamada Havre, em Montana, que sinais?

Dean olhou para o Sam e deu de ombros. Castiel tinha dessas coisas, num minuto estava aqui e no outro não estava, e muitas vezes literalmente.

— Bom, Bobby disse que cruzou alguns dados e há sinais de tempestades elétricas na região, morte de gado, nada demais, mas é a única coisa diferente em meses. O engraçado é que ele analisou as manifestações e percebeu que elas ocorreram num desenho geográfico exatamente em torno desta cidade, Havre!

— É a melhor pista que temos. Na verdade, a única. – Disse Dean se levantando – Então vamos embora, levantar acampamento e cair na estrada.

— Mas nós estamos na Georgia! Vamos atravessar o país por causa de alguns sinais que nem sabemos o que é?

Dean parou no meio do quarto e se voltou para o Castiel com aquela expressão irritada, enquanto Sam olhava surpreso para o anjo. Este não era o estilo do Castiel, ele não se opunha desta maneira, tudo bem podia não ser muita coisa, mas era a única coisa que eles tinham, então valia a pena tentar.

— Não entendi sua preocupação com deslocamento já que você se tele transporta em segundos. – O tom de Dean foi sarcástico.

— Por isso mesmo. Eu poderia ir até lá, verificar o que está havendo, isso se tiver algo, e voltar. Assim não faríamos uma viagem à toa.

— Sammy, quantos vezes fizemos viagens à toa? – Dean perguntou mas continuou olhando sarcasticamente para Castiel.

— Hã... nenhuma... acho!

— Viu só! Não há viagens perdidas!! Além do mais já andamos muito mais que isso por muito menos! E eu não estou te entendo Cas. – Dean falou já com impaciência – Até parece que você não quer ir pra Havre. Você sabe de algo que nós não sabemos?

Ele sabia! Já havia ido longe demais tentando disfarçar, era melhor deixar para lá e resolver o assunto quando chegasse a hora.

— Não! - Ele foi enfático já que era contrário a mentir, mas aquela não era a hora de contar a verdade.

— Então já que esclarecemos tudo, vamos cair fora daqui! Montana ai vamos nós! – Dean entrou novamente no banheiro. – Vou trocar a camisa!

Sam foi recolher as coisas enquanto Castiel ficou parado no mesmo lugar, absorto, olhando através da janela, só com seus pensamentos. Se havia sinais de algo acontecendo em Havre era de extrema importância ir de qualquer modo, mas isso colocaria em risco seu segredo. E quando os meninos descobrissem uma verdade que ele guardara há três anos? E se não fosse coincidência estes eventos logo em volta de Havre? Isso significava que ela corria perigo! Eles precisavam ir, era um fato! Mas e depois? Castiel baixou a cabeça e resolveu: trataria cada coisa a seu tempo!


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