Corações e almas escrita por Barb B


Capítulo 1
Uma garota comum




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O dia amanheceu com um calor abafado. Não havia vento, nem uma leve brisa sequer.

As copas das arvores não se moviam como de costume. As folhas pareciam uma pintura, tal era a falta de movimento.

O sol despontava no horizonte pontualmente. Os pássaros saiam para seus voos matinais e se misturavam em cores, tipos e sons.

— Como é lindo! – Pensava naquele instante.

Todos os dias Jenny se sentava na varanda para assistir esta cena, acompanhada de uma bela xicara de café e um cigarro.

Todos os dias há três anos!

Ela havia prometido a si mesma que não fumaria mais, e quase conseguiu.

Não fosse por esse único baforar das manhãs ela teria abandonado o vício de vez.

A verdade é que, o cigarro era seu companheiro único naquele momento tão especial e, existem coisas na vida que não estamos prontos para abrir mão. Algumas delas nunca estaremos!

Sempre o mesmo ritual. Sim era sagrado! Pelo menos para ela. Como uma forma de agradecer, todas as manhãs, por ter uma chance de estar ali. E todos os dias ela admirava a beleza e a calma daquele lugar. Sentia como se nunca houvesse tido uma vida antes daquela.

E foi assim que Jenny conseguiu recomeçar. Reconstruir sua vida e sua alma.

No início parecia impossível, até para a própria Jenny. Mas com o tempo, e a ajuda das pessoas que conheceu, ela conseguiu!

Mas Jenny nunca pensava nisto, não mais. As lembranças ficaram no passado. Pertenciam a outra vida, a outra Jenny.

Esta nova Jenny era renascida. E pudera depois de tudo que ela passou.

De tudo que viveu e enfrentou, neste mundo e no inferno!

Jenny se levantou, pois, o ritual havia acabado. Era hora de ir para o trabalho. Ela apagou o cigarro, tomou o ultimo gole de café ainda quente, deu uma última olhada para o sol nascendo e entrou em casa. Cinco minutos depois ela saiu levando a bolsa e o casaco, entrou no carro e partiu em direção a cidade.

A cidade ficava a apenas dez quilômetros, mas a distância era suficiente para mantê-la afastada e, garantir sua privacidade. Afinal ela aprendeu a viver sozinha.

Na verdade, não totalmente sozinha, por que por quatorze anos, antes de chegar ali, ela esteve acompanhada sempre por John, Sam e Dean, mas isso também não era um benefício já que socializar com outras pessoas não era uma qualidade dos Winchesters!

O relógio da velha igreja marcava quase sete da manhã, quando a caminhonete laranja Ford F-100 de Jenny acessou a rua principal. Havre era uma pequena cidade do condado de Hill, no estado de Montana.

Jenny estacionou sua caminhonete na frente do restaurante, o único da cidade.

A fachada havia sido limpa no dia anterior, um belo trabalho feito pelo Sr. Jeremy, o faz tudo da cidade. As janelas estavam impecáveis. Dessa forma as cortinas em xadrez vermelho ficavam ainda mais bonitas.

Jenny trabalhava ali desde que teve alta do hospital. Fazia de tudo, servia, limpava e cozinhava se fosse necessário.

E foi assim que ela conseguiu a confiança da Senhora Elizabeth Wolf, dona do lugar. Nos últimos dois anos era Jenny quem abria e fechava, cuidava das compras e tudo mais.

Cassidy´s, era um pequeno e pitoresco restaurante. O nome era uma homenagem a um filme antigo protagonizado por Paul Newman e Robert Redford famoso nos anos 60. A Sra. Wolf devia ter um pouco mais de 50 anos, e ainda suspirava quando falava nos “homens mais lindos que meus olhos já viram”.

Eram sete horas quando os outros funcionários começaram a chegar, uma equipe de 5 pessoas contando com a Jenny.

Os primeiros clientes também começaram a entrar.

Assim como o Cassidy’s, Havre era também pitoresca. Cidade pequena, com um pouco mais de dez mil habitantes, incrustrada em meio as montanhas. Vivia basicamente das minas de carvão e da agropecuária. Parecia um pequeno conto de fadas, ainda mais para Jenny, que vivera a vida inteira de cidade em cidade, dormindo em motéis baratos e comendo comida pronta. Agora ela tinha um lugar para chamar de lar.

— Bom dia! – Disse Mary com seu jeito moleca.

— Bom dia. – Jenny respondeu enquanto arrumava os trocados no caixa.

Mary era garçonete do Cassidy´s. Seu jeito maroto combinava com sua idade, dezessete anos. Ela era a alegria do lugar. Sempre divertida, sua ingenuidade e sonhos eram os motivos de vários momentos cômicos e, Jenny gostava dela como uma irmã mais nova. Estava sempre vestida com algum vestido florido que de preferência valorizasse suas belas e jovens curvas. Os homens adoravam, as outras garotas nem tanto, mas Mary era querida por todos. Filha de mineradores ela trabalhava lá depois da aula para ajudar sua família que contava com mais 5 irmãos. Hoje era sábado, por isso ela vinha cedo, mais por gostar do que por obrigação. Mas as pessoas geralmente se enganavam achando que Mary era uma garota frágil. Havia naquela pequena menina uma força inacreditável e Jenny soube disso assim que a conheceu. Se tornaram grandes amigas independente da diferença de idade.

— Jenny você não se esqueceu, não é? – Disse a pequena garota de 1,65, cabelos loiros longos e olhos azuis, se debruçando sobre o balcão.

— Do que?

— Engraçadinha! Do meu aniversário, claro! É sábado que vem e você, é minha convidada de honra!

— Puxa, Mary! Não sei se poderei ir, tenho tantos convites, tantas festas e eventos, mas vou pensar com carinho. – Jenny fez cara de deboche.

— Então você vai né?! _ Mary riu.

— Mas é claro que vou! Não perderia essa festança por nada no mundo.

— Ótimo! - Mary desencostou do balcão e empinou o corpo – Afinal só se faz dezoito anos uma vez na vida!

— E todos os outros anos também, Mary – A Sra. Wolf entrava no restaurante e, todos riram.

Mary foi para trás do balcão para pegar seu avental e enquanto vestia começou a tagarelar novamente.

— Jenny, você vai sozinha ou acompanhada? – Mary lançou um olhar malicioso para a Sra. Wolf que respondeu com um sinal negativo da cabeça

— Não entendi a pergunta.

— Quis dizer se você vai levar o Scott? Afinal, vocês estão namorando, não é?!

— Estamos? - Jenny fechou a caixa registradora e foi arrumar as mesas.

— Ai Meu Deus! Você bem que podia contar mais coisas para gente. Não é mesmo Sra. Wolf?!

— Não me inclua nesta sua cruzada, mocinha!

— Olha Jenny – Mary se encostou no balcão novamente – Eu não sei você, mas ele está apaixonado. Dá para ver na cara dele. – Ela suspirou – Se eu tivesse um homem assim apaixonado por mim eu grudaria nele e não largava nunca mais.

Jenny soltou um sorriso e continuou arrumando as mesas e recolhendo alguns copos sobre o balcão.

— Isso é um conselho? - Respondeu Jenny debochada.

— Não! Claro que não! Até porque em matéria de amor você deve ter mais experiência do que eu.

— Nem tanto!

— Mas quer saber?! Para mim o amor é a coisa mais linda deste mundo. A força mais poderosa do universo! Amar e ser amada de forma enlouquecedora, a ponto de sei lá... dar sua vida por esse amor. Você já amou assim Jenny?

A pergunta pegou Jenny de surpresa. Uma lembrança ameaçou surgir e ela sentiu uma pontada no coração. Balançou de leve a cabeça como quem afasta um inseto e riu.

— Talvez em outra vida!  Agora vamos trabalhar que essas mesas não vão se servir sozinhas!

— Pois se um dia eu encontrar um amor assim, eu vou segurar com toda a minha força.

Era enfim mais um dia tranquilo na pequena Havre! Um dia igual a todos os outros que Jenny viveu nos últimos três anos! E para ela estava bom!

Mal sabia ela, que em poucas horas, o seu passado estaria a caminho.


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