O Nascer da Primavera escrita por Saturn san


Capítulo 3
Capítulo 2 - A nova guardiã


Notas iniciais do capítulo

Não sei se dei este aviso no último capítulo, mas chamo a Primrose de Prim as vezes, como um apelido e jeito de encurtar o nome dela. Bom, espero que estejam gostando da história e deem muito amor a ela.



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 Na fábrica de brinquedos de Norte, os pequenos duendes e yetis caminhavam pelos corredores, levando apressados brinquedos de um lado para o outro. Os pequenos duendes fazendo burrices e deixando tudo cair, machucando a si próprios e achando que criavam os brinquedos que as crianças felizes receberiam no fim do ano.

 Norte passou por uma mesa de madeira, onde alguns yetis pintavas robôs com tinta e outros colocavam vestidos floridos em bonecas.

— Hmm..  – Norte observou, julgando com o olhar e coçando sua barba. – Não gostei, coloquem vestidos de laços.

 Um dos yesti grunhiu cansado, mas logo retornou ao trabalho quando notou o olhar rigoroso de Norte sobre os ombros, como se perguntasse sobre mais alguma outra objeção. Voltando a caminhar, o homem grande e forte passava calmamente um por um. O Natal estava longe, mas era necessário se apressar o quanto antes quando se tratava das crianças do mundo inteiro. Ser um guardião não era uma tarefa fácil e o trabalho parecia nunca acabar. Suas mãos grandes passaram por uma estátua de gelo, sendo esculpida por um yeti que deus dois passos para trás, para que seu chefe pudesse olhar melhor para o brinquedo.

 A estátua em si não estava pronta, mas podia-se notar um esboço se formar ali. Uma estrutura corporal pequena e delicada, com um rosto fino bochechas formosas, além de profundos olhos esculpidos pela metade. No topo, podia-se notar um tipo de chapéu inacabado, ou boina, com um rio de cabelos longos cindo sobre os ombros. O vestido era a parte que o yeti esculpia quando Norte se aproximou. Norte olhou a escultura de cima para baixo repetidamente, rindo feliz.

 - Está muito bom. – Riu, batendo levemente as mãos sobre o ombro do Yeti. – Continue assim, Bjorn.

 O yeti esboçou um sorriso e voltou alegre até sua obra prima. Desde que derrotaram o Bicho Papão, os guardiões viveram mais pacificamente entre si e as crianças. Agora podiam trabalhar e se privar em momentos de alegria, esquecendo que o medo uma vez sequer existiu. Mas para Norte não era tão fácil, ultimamente ele tem sentido algo ruim por perto, como uma preocupação que fica em nossa cabeça até não desistir e nos fazer enlouquecer. Poucos notavam, porque ele sempre escondia tudo com seu bom humor e carinho, mas assim como uma vez ele contou a Jack Frost, exibindo aquele tipo de boneca russa. Norte tinha muitos lados como os viam... intimidador, “bolachão”, misterioso, destemido, protetor e em seu cerne, o bebê com repleto de encantos.

 A angústia o cercava, ele tinha um incômodo o rodeando, algo em sua fábrica não era normal, ele sabia isso, a conhecia como a palma da mão, era sua casa, ele sabia e sentia quando algo não ia bem. Foi quando Norte atravessou uma das portas, que alguns degraus de sua escada caíram e colidiram com o chão abaixo, quase acertando os duendes que correram e se esconderam embaixo da mesa. Norte olhou aquilo surpreso, exibindo sua preocupação e não entendendo. As paredes também começaram a tremer levemente, se balançando como se acontecesse um terremoto.

 Em um súbito momento, ele pulou de onde estava e aterrissou com força no chão, correndo até o lugar onde ficava o enorme globo com o número de crianças do mundo que acreditavam nos guardiões, identificadas com pontinhos brilhantes.

 Norte se deparou com um céu marrom e vermelho, em um misto que causava horror, arrepios e medo. Juntamente com trovões e raios. Os pontos piscaram e voltaram alguma vezes no globo, como acontecerá um ano atrás quando o Bicho Papão invadiu sua oficina. Sem paciência com aquilo, Norte rangeu seus dentes e gritou.

 - Mas o que é que está acontecendo – A voz grossa disse, quase em sussurro.

 Tudo que ouviu em resposta foi uma risada maléfica e sombria, junto a um vento forte que soprou dentro da oficina e fez os gnomos se segurarem uns nos outros ou na calça de Norte, evitando que voassem longe. Junto com o vento o frio e uma sensação de arrepio, todos podiam sentir uma camada esmagadora sobre seus corpos, uma tensão de pânico e intimidação, um gosto de morte no centro da língua.

 Em um piscar de olhos, tudo havia retornado ao normal, a tempestade foi embora mais misteriosamente de como apareceu. Norte se calou e pensou, nada fazia sentido em sua cabeça para aquilo acontecer, aquela sensação era bem diferente da que Breu, o bicho papão, provocava. Era algo mais rancoroso, vingativo.

 Imediatamente, ele deu um salto, ao mesmo tempo que um arrepio percorreu toda sua espinha.

 - Não pode ser... – Murmurou, tão baixo que quase ele mesmo não ouviu. Caminhou até sua alavanca e girou para o lado.

 Luzes da aurora boreal irradiaram ao redor da fábrica, afastando-se e espalhando-se pelo mundo. Do oriente até o ocidente, entrando em tocas, percorrendo os céus, chegando em lugares inalcançáveis para a capacidade humana. Era o recado de Norte para os outros guardiões que algo não ia bem. Jack foi o último a receber o recado, estava sentado no alto de um prédio em Moscou quando recebeu percebeu o brilho boreal irradiar pelo céu acima da cidade, imediatamente suspeitou que algo estava fora dos trilhos e sem hesitar percorreu os céus sendo levado pelo vento, indo até o Polo Norte o mais rápido que podia.

 Quando chegou, os outros guardiões já se encontravam reunidos, todos com feições preocupadas.

 O Coelho olhou para Norte com uma expressão séria, antes de abrir a boca.

— Novamente me chamando antes da Páscoa. – Disse, segurando em uma das mãos um pincel e na outra, dois ovos ainda brancos.

 - É uma emergência! – Norte disse.

— Breu outra vez? – A fada do dente se aproximou, enquanto dizia lugares para que suas fadinhas voassem para pegar os dentes das crianças.

— Não...é muito, muito pior que isso. – Norte olhou para baixo, passando a mão pela cabeça calva e suspirando profundamente. – É o meu irmão.

 Os guardiões arregalaram os olhos, surpresos com o que acabaram de ouvir. No entanto, os duendes e yetis não pareciam nem um pouco chocados, ou melhor, não prestavam muita atenção. Tentavam concertar algumas partes quebradas da escada, junto com quadros caídos das paredes.

 - Krampus e eu sempre trabalhamos juntos, mas com uma grande rivalidade. – Disse, sentando-se em uma cadeira. – Enquanto eu presenteava as crianças, ele punia as mais rebeldes. Nunca me escutava, sempre as assustando. Até que um dia eu me zanguei de verdade e o expulsei daqui...para sempre.

— Deixa eu ver se entendi. – O coelho passou os dedos sobre as pálpebras, tentando ao máximo se manter calmo. – Você nos chama aqui, um mês antes da Páscoa, por causa de problemas com seu irmão?

— Não é qualquer problemão, Coelhão. Krampus alimentou por muitos anos rancor contra mim, ele seria capaz de tudo para me derrotar e atingir meu ponto mais fraco, as crianças.

 Norte fez uma pausa, pensando em algo, antes de continuar.

 - Krampus veio ter sua vingança. – Ele disse, com os lábios trêmulos e todos pelos do braço arrepiados.

— Por que acha que ele iria querer se vingar agora, depois de tantos anos? – Jack Frost finalmente se pronunciou, levantando uma das sobrancelhas.

— Breu atacou-nos um ano atrás, muitas crianças ficaram prejudicas e com crença fraca. – Norte respondeu. – É o momento perfeito para ataca-las, sugar tudo delas e a castiga-las.

— Mas o que podemos fazer para impedi-lo? – A Fada do dente perguntou, desviando sua atenção das fadinhas.

— É isso que vamos perguntar para ele. – Respondeu, apontando para a Lua prata que se elevava no céu, iluminando sobre um pequeno espaço aberto no telhado da fábrica. O homem da Lua parecia ter algo a dizer, mas até agora não se pronunciara.

 Suas luzes irradiaram sobre o símbolo no chão. Assim como um ano atrás, um cristal se elevou ali, azul e brilhante. Os guardiões se reuniram em torno dele, observando.

— Um novo guardião...? – Norte murmurou. Todos olharam impressionados.

 Pontos de exclamação dourados se formaram no topo da cabeça de Sandman, enquanto as fadinhas voavam impressionadas e murmurando coisas incompreensíveis.

 - Outro guardião? – O Coelho repetiu. – Mas recebemos ele ano passado.

 Apontou para Jack Frost.

— Não temos escolha. Eu conheço Krampus e sei que precisaremos de toda ajuda o possível se quisermos derrota-lo. – Respondeu o Noel, agora olhando seriamente para o Cristal que se formava.

— Marmota não, por favor, marmota não... – O coelho fechou os olhos e cruzou os dedos, esperançoso.

— Talvez seja uma fada? – A fada dos dentes perguntou, logo Sandman imaginando se seria alguém que teria poderes dos sonhos como ele.

 Jack Frost não se pronunciou, ele não estava tão tenso quanto Norte, mas sim curioso com o que acontecia. Inclinou-se para a imagem que o cristal começava a formar, cerrando seus olhos azuis.

 O cristal mudou de cor, indo para rosa pastel e formando uma figura, tracejando levemente.

 Pequenos e delicados pés se formaram, logo subindo para um vestido e então o corpo inteiro. A imagem era de uma garota de quinze ou dezesseis anos, com longos cabelos, olhos com um certo brilho. Além do rosto que parece ter sido esculpido e silhueta ampulheta. Seus seios, ombros, quadril e cintura tinham proporções magnificas e perfeitas. A única pequena e quase não notável falha era uma mecha de cabelo que caia na frente de seu rosto, na lateral da testa. Em sua mão direita, segurava o seu cajado florido, com uma rosa no topo e flores de camomila percorrendo o cabo.

 As pequenas fadinhas rodearam a imagem, a contemplando como se fosse uma bela estátua de uma deusa antiga ou pintura de uma rainha que marcou a história. No entanto, embora admirados, os guardiões não entenderam.

— Mas quem é ela? – Norte perguntou.

— Não faço a mínima ideia. – A fada do dente disse, olhando confusa e admirada para a imagem.

 Sandman também não entendeu, enquanto pontos de interrogação formaram em sua cabeça, com a boca torta.

 Norte ficou em silêncio, até que se pronunciou. De repente, olhou para a Lua surpreso.

— Ela...é a primavera? – Norte murmurou, olhando fixo para a Lua e repetindo as palavras que o Homem da Lua disse em seu ouvido. – Mas eu nunca a vi na vida.

 Novamente ficou em silêncio.

— Não se acha especial. Ah que bom, você nos coloca como guardiã alguém que não conhecemos.

— O Homem da Lua não deve tê-la escolhido sem motivos. – A fada disse. – Precisamos ir atrás dela.

— Mas como? – O coelho perguntou.

 Norte em resposta, caminhou até dois yetis e os trouxe para perto. Entregando-lhes uma sacola com seus globos.

— Aquela garota. – Ele apontou para a figura, com um ar mais calmo. – Preciso que a encontrem e tragam para cá. Ela agora é uma de nós.

 Os yetis se entreolharam e assentiram. Um deles colocou a mão dentro do saco e puxou um dos globos, logo o jogando no chão e formando um portal. Os dois yetis entraram e o portal se desfez.

 Enquanto os outros discutiram entre si sobre a nova integrante, Jack ainda olhava a imagem, sem dizer ou fazer nada. Aquela figura, aquela garota era familiar para ele de alguma forma, sentia que já tinha a visto antes e não fazia muito tempo. Pensou e repensou, mas nada vinha em sua cabeça. A primavera vem após o inverno, ele já deve ter visto ela uma vez, portanto é claro que ela lhe era familiar. Mas mesmo sabendo disso, mesmo com toda sensação de déjà vu, nada vinha em sua mente.

 - Vamos. – Jack se levantou. – Temos que ir todos atrás dela.

— Mas, o meus yetis...

— Jack tem razão. Se formos todos nós, teremos mais chances de encontrá-la mais rápido. – A fada disse, exibindo um largo sorriso.

 Norte deu um suspiro, mas sorriu assentindo. Ele desceu no seu elevado até chega no trenó, onde mais yetis e duendes preparavam seu transporte. O Coelho já havia partido em sua toca, a fada já voava com suas fadinhas para longe. Jack Frost, Sandman e Norte entraram no trenó, quando um yeti assentiu e partiram a toda velocidade.

 Norte mandou que dez yetis ficassem em volta do globo e o restante protegesse a fábrica, não sabiam qual seria o próximo ataque de Krampus, mas o essencial era encontrar a nova guardiã, a responsável pela Primavera e pedir por sua ajuda.

 Todos partiram, espalhando-se pelos continentes, países, cidades. Procurando por cada casa, cada prédio, cada beco, floresta ou buraco. Ela tinha que estar em algum lugar, escondida. Mas iriam encontrá-la, precisavam de uma nova guardiã mais do que nunca, mesmo que alguns não admitissem isso.

 Sem que Jack Frost e Sadman notassem, o grande Papai Noel olhou por cima do ombro o céu. Já não estava mais marrom e vermelho como antes, o azul retornava. Mas ele sabia que era por pouco tempo.


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Notas finais do capítulo

A tradução de Primrose no inglês é Prímula, antes que alguns perguntem.



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