Amor Perfeito XIII - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 40
Assumidos


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Kevin Narrando

Aquela com certeza foi uma das piores noites que passei naquele abrigo. Sabia que abrir quem meu pai era para Murilo não seria nada fácil, mas vê-lo reagir daquela forma só me fez ver o quanto ele precisava encarar uma jornada de autoconhecimento antes de conhecer verdadeiramente as outras pessoas.

Acontece que quando você não consegue enxergar as motivações de alguém e pensa apenas no pior, isso reflete o que está mal resolvido dentro de você. De qualquer forma, eu estou disposto a estar ao lado dele nessa jornada, se assim ele quiser.

— Você parece triste. – Alice falou e se sentou ao meu lado. Peguei a bandeja de café e nem toquei em nada. Parecia que eu estava com uma pedra no estômago.

— Eu estou. – suspirei e a olhei.

— Imagino que o meu irmão ter dado uma crise também tem a ver com isso.

— Crise? – questionei rapidamente.

— Ele quis sair daqui de qualquer jeito... Minha mãe disse que foi ansiedade com pânico. Não sei bem. Ele não aguenta mais ficar nesse lugar. Murilo nunca gostou de se sentir preso, ele tem algo com isso. – lembrei-me do caso dele ter ficado preso no porão do avô. – Sempre foi muito solto. Ele até aguentou muito tempo.

— E como ele está?

— Praticamente sedado. Maísa o medicou. Ela disse que ele deve dormir até de tarde.

— Espero que ele acorde melhor.

— Por que vocês brigaram? – parei de olha-la e olhei para frente.

— Contei algo que desencadeou uma série de reações e pensamentos ruins nele. Fui totalmente inocente em pensar que com o perfil dele seria algo possível de ser dito.

— Qual é o perfil dele?

— De quem ainda está se conhecendo. Quem não tem amadurecimento para encarar os erros dos outros.

— Você quer dizer que esse amadurecimento faz com que a gente encare melhor os erros dos outros?

— Sim. Não que aceite, jamais. Mas que entenda que a gente não deve esperar nada do outro, pois só controlamos a nós mesmos. Isso quando conseguimos nos controlar. – ela deu uma risadinha fofa.

— Eu amo conversar com você. Sua mente é algo magnífico.

— Obrigado. – sorri genuinamente. - E você me traz paz. – sorrimos juntos. – Seriamos uma ótima dupla de cunhados.

— Não gostei desse seriamos.

— Eu me refiro a você e Arthur. Não vou deixar Murilo terminar comigo e me dói muito por não estar ao lado dele ontem. Ele não precisava passar por isso sozinho.

— Posso te fazer uma pergunta? – concordei. – Você sempre vai estar lá por ele? – ficamos nos olhando. - Ele está sempre se metendo em problemas. Fugindo dele mesmo. – dei um sorriso concordando totalmente. – Murilo é tão esperto e sensato com as análises sobre a minha vida e a vida de quase qualquer pessoa, mas ele é tão perdido quanto a ele mesmo. Tenho tanto medo do que ele pode ser capaz de fazer... – seus olhos se encheram de água.

— Ei. Para com isso. Murilo é a pessoa mais alto astral que eu conheço. Ele não iria fazer nada desse tipo.

— Os sorrisos dele escondem alguma dor, eu sei que sim.

— Você está me deixando preocupado Alice! Primeiro que eu nem sabia que ele tinha ataque de pânico ou crises de ansiedade e agora você diz isso. Ontem eu o confrontei de uma forma que não se deve confrontar alguém que tem esse tipo de problema. Eu devia saber.

— Calma. Desde criança que ele não tem nada. Não é culpa sua, você sabe disso.

— Onde ele tá? Sei que ele ainda deve estar dormindo, mas quero ir vê-lo.

— Na minha cama. Quis que ele dormisse comigo caso acordasse de madrugada.

— Vou lá. Você vai ficar bem?

— Sim. – ela sorriu de forma doce.

— Pode ficar tranquila, eu sempre estarei lá por ele. – seu sorriso ganhou forma. Levantei e me despedi dela indo rapidamente até seu dormitório.

Ele estava dormindo. Ele não parecia tão complicado enquanto dormia. Fiquei um tempo o observando e sai de lá. Precisava enfrentar meu pai.

— O que foi? – ele me olhou por cima.

— Nada. Vim ver se você precisa de alguma coisa. – ele me analisou minunciosamente.

— Já tá sabendo da última? – ergui a sobrancelha. – Seu namoradinho ficou bem surtado ontem.

— Agora é namoradinho? – o encarei de frente.

— Não vai perguntar o que aconteceu com ele?

— Se me interessasse eu já teria perguntado.

— Eu conto assim mesmo. Gosto de te torturar. – ele deu uma risada diabólica. - Ele quis sair do abrigo e o pai dele não conseguia segura-lo. Você tem noção do que é o Vinicius não conseguir segurar alguém? O garoto estava completamente surtado. Transtornado. Doido das ideias. Já parou pra pensar que ele pode ser adotado? – comecei a morder meu dedo perto da minha unha para conter qualquer reação inesperada que eu tivesse. – Se bem que eu vi Raíssa grávida dele, mas pode sei lá, ter sido trocado na maternidade... Ou não. A garota também é tãn tãn da cabeça. Deve ter relação com o transtorno do Vinicius. Eles não têm sorte com filhos.

— Você tem né? – fiquei olhando pra ele.

— Ah, tirando aquele esquisito dentuço sim. Mas você... – ele suspirou. – Você é a minha mina de ouro.

— O seu jogo era me colocar contra Arthur. Isso acabou. Agora é me superestimar para eu me sentir valorizado e não te abandonar?

— CARALHO! É isso que eu estou falando. Você é rápido demais. Amo seu raciocínio. A Kira sempre foi bem espertinha, mas eu jamais imaginaria que o gene dela com o meu daria essa perfeição.

— Tá confundindo. Perfeito é o Arthur. Estou satisfeito com meu lugar de esquisito.

— E eu tenho vontade de te machucar inteiro quando lembro que a sua esquisitice maior foi ter se envolvido com o seu priminho surtado.

— Pode me bater. Eu aguento. Sou a pessoa mais forte do mundo, eu criei resistência à dor. Mas se algum dia eu conseguir alguma forma de me vingar de você, reza muito, porque eu não vou parar enquanto eu não te destruir.

— Vamos fazer um acordo? – não podia vim coisa boa. – Nunca mais faço nada contigo se você nunca mais ficar com nenhuma pessoa do mesmo sexo.

— Que tal outro acordo? – olhei em seus olhos. – Eu nunca mais lembro que você existe e você vai se foder e ir para o inferno. – fui saindo da sala. Ele deu uma risada. – Você não fica satisfeito enquanto não me tira do sério.

— É a minha diversão. – antes de sair olhei para ele.

— Vou ficar com o pessoal hoje a noite. Se o surtado tiver lá, não vem me encher achando que estou com ele.

— Por que você vai ficar com eles? Você não se encaixa nesse grupinho.

— Por incrível que pareça eu me encaixo sim e eles até estão fazendo muito bem para o meu ego. Se você me acha esperto, imaginem eles. – pisquei e ele se deu por vencido.

— Vai lá espertão da molecada. – ele riu mais ainda. – Perde mesmo mais tempo Kevin, que tá pouco. – o deixei falando sozinho e sai andando.

Quando chegou a noite notei que o semblante do Murilo ainda era de sono. Pelo visto encheram ele de medicamento.

— Que ótimo que você chegou. – Arthur falou quase gritando. Olhei sem entender. – Precisamos de sua habilidade.

— Precisamos é quem no caso?

— Ah! – ele apertou minha bochecha. Que estranho que ele estava.  – É desse seu jeitinho que eu estou falando.

— Eu estou começando a ficar com medo e um pouquinho irritado. Se você não quer que eu saia daqui explica essa merda. E para de agir igual retardado, você não é assim. – falei de forma séria e ele arregalou os olhos.

— Isso é um pouquinho irritado?

— Levemente. Arthur eu estou esperando.

— A mina que casar contigo vai pro céu. Você é impaciente e chato demais. – Sofia resmungou e eu a olhei.

— Vai ser bem difícil uma mina se casar comigo. – respondi e ela riu.

— Claro, você é insuportável.

— Eu falei errado. O difícil mesmo é eu casar com alguma mina.

— Você erra? – Murilo perguntou me fazendo estranhar. – Achei que fosse perfeito.

— Eu nunca disse isso. Ser inteligente não é ser perfeito. - voltei a olhar meu irmão.  - Sigo na espera.

— Tá. – ele sorriu antes de falar. – A gente quer bolar um plano para aproximar Rafael e Alícia. Eles se gostam, mas não conseguem se entender. Ajuda a gente. – fiquei um tempo olhando para ele. – Eu sei. Parece um caso perdido, mas não é. Eu vejo sentimento neles.

— Eu vejo uma guerra.

— O melhor jeito de se preparar para uma guerra é arrumando um canhão e Kevin você é o maior canhão que eu conheço.

— O que significa eu ser um canhão?

— Que você vai saber o que tem que ser feito.

— Não quero perder meu tempo. O engraçado é que você sabe muito bem que no momento eu não tenho nem energia pra pensar nisso.

— Ah Kevin... – antes de continuar vi Alice vindo com Alícia, Fabiana e Rafael.

— Cala a boca, o alvo um está vindo ao lado do alvo dois. – falei dando um sorriso irônico e ele riu. Sentei ao lado de Murilo que não parecia nada com o Murilo que eu estava acostumado.

— Queria perguntar como você tá, mas eu não consigo, sei que você não tá bem. – ele não disse nada e nem me olhou. – Sua irmã me contou sobre ontem. Desculpa ter de alguma forma causado tudo isso em você. Nunca foi minha intenção. E eu devia estar lá ao seu lado. – ele permaneceu em silêncio. – Você tá querendo distância de mim né?

— Não sei nem o que eu estou fazendo aqui Kevin. Queria ficar sozinho, mas não deixam. Ou eu ficava aqui ou ficava com os meus pais.

— Mas não é a melhor hora para você ficar sozinho.

— Só não aguento mais ficar aqui. A sanidade mental tem limite.

— Você já estava preso aqui. Você ficou ansioso porque soube o tipo de pessoa que está preso junto a você ou por eu ter te feito questões profundas te levando a uma autoanalise?

— Quer saber mesmo a verdade? É uma mistura disso tudo. Mas o que me fez querer sumir daqui e sei lá... Foi saber que eu tenho que ficar sozinho. Você esta certo Kevin, eu preciso me encontrar.

— Você não tem que ficar sozinho. Você pode fazer isso ao meu lado. – peguei sua mão e entrelacei a minha. – Eu não disse que amo você por dizer, isso é a coisa mais difícil do mundo pra mim. Olha pra mim. – peguei seu rosto e selei nossos lábios. Todos nos olharam. – Meu presente de um mês de namoro. Agora todos os seus amigos sabem como você sempre quis.

— Um dia ele dá ataque de pânico e no outro beija o Kevin. Tá, o que é isso? O Murilo não está nada bem.

— A gente namora. – ele falou e encostou a cabeça em meu ombro. – Mas, por favor, não espalhem, o pai dele não aceita e o meu não sabe.

— Você acha mesmo que eu não sabia? – Ryan perguntou de forma soberba. – Para mim era óbvio.

— Tão óbvio que você fez aquilo que fez aquele dia né? – Otávia reclamou. – Junto com o ridículo do meu irmão.

— Você nunca vai esquecer isso? Eu estava tentando te defender!

— Eu não preciso que me defenda. – ela nos olhou. – Felicidades ao casal! Tenham muita paciência, resiliência e amor nessa nova jornada.

— Até parece que eles estão se casando, que exagero.

— Mas o namoro é um passo para o casamento. – Arthur falou de forma séria. – Não se namora para passar o tempo e sim pensando em futuramente construir uma família.

— Ele tem razão. – Otávia concordou com o irmão.

— Ele sempre tem. É entediante. – falei e eles riram.

— Só eu estou chocado? – Alê perguntou boquiaberto. – É o Murilo. E ele está com O KEVIN. O nível de putaria dele tá além do limite.

— Qual a parte do “ELES ESTÃO NAMORANDO” você não entendeu? Não é putaria.

— Com certeza começou porque ele queria putaria.

— Entendo ele pensar assim. Tem a ver com tudo que eu sempre fui. Mas você está enganado Alexandre. Não nos envolvemos por isso, realmente passamos a sentir algo muito forte um pelo outro.

— Aproveitando que estamos todos chocados e em momento de revelações, eu queria contar que eu não sou gay. – Arthur falou deixando a maioria mais assustado do que com o nosso namoro. – Fiz isso para que vocês parassem de falar em mim e Alice, porque somos apenas primos e amigos. Eu sempre vou cuidar dela, mas não a amo da forma que diziam. – vi Alice ficar incomodada e sua expressão mudar.

— Isso já estava na cara também. Prefiro voltar ao assunto de como o Murilo consegue namorar alguém tão nervoso, egoísta e rude. – Alícia disse certamente ainda com sequelas das últimas coisas que Murilo jogou na cara dela e resolveu nos infernizar.

— Da mesma forma que Rafael não consegue nem olhar para alguém tão mesquinha, intragável e autoritária. – respondi com o tom de voz completamente suave e sorri.

— Eu te amo Kevin. – o loiro falou e mandou beijo. – Com todo respeito Murilo.

— Ele sabe que eu só tenho olhos pra ele. – falei e ele riu.

— Se eu soubesse que você seria ainda mais romântico e faria demonstrações públicas de afeto eu teria insistido mais para contar pra tod mundo. – ele falou me olhando e sorriu. – Aliás, por que resolveu fazer isso?

— Quem não devia saber já sabe. Foda-se os seus amigos.

— Somos seus amigos também não filhote do demônio? – Ryan perguntou e revirou os olhos. – E pare de demonstrar sentimentos, você nunca fez isso, nos deixa muito assustados.

— Ow, ow, ow. – Arthur chamou nossa atenção e vi que a mãe de Murilo estava vindo. Tirei minha mão da dele e balancei meu ombro para ele se levantar. Esperava muito que ela não tivesse visto nada de longe. Contava com isso.


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