Amor Perfeito XIII - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 30
Ser outra pessoa


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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Kevin Narrando

Sai da cama do Murilo antes dele acordar, dormi mais um pouco em minha cama e levantei poucas horas depois, tomei um banho e fui tomar café atrasado.

— Murilo está faltando as aulas por passar mal e você? Qual a desculpa? – meu pai questionou me olhando assim que me encontrou no corredor.

— Hoje é sábado. Acho que não tem aula. – respondi com ironia.

— Você faltou semana passada quase toda.

— As aulas aqui são um porre, não sou obrigado. – tentei sair.

— Você está andando demais com o seu priminho, não acha? – gelei, mas eu não podia demonstrar nenhuma emoção.

— Acho que você está com falta de serviço.

— Por que você decidiu ser o mocinho Kevin? Você não é assim. Você iludiu uma garota com problema só para atingir seu irmão. Você é o próprio demônio e não pode ser bom, sabe disso. – tentei novamente seguir em frente. – Você sabe que eu tenho uma carta na manga e jurei que só a usaria se me sentisse muito ameaçado. Sabe que se eu revelar esse segredo acabará com a família margarina.

— Minha mudança te ameaça tanto assim? Eu já não estou do seu lado novamente?

— Você descobriu da Lis. Sei o quanto isso pode mexer com você. Agora você quer me atingir. Chega Kevin. Você não tá preocupado com essas fotos e eu já vi como é não ter você ao meu lado. Não vai adiantar te pedir perdão, mas pensa em sua mãe.

— Você está beirando o ridículo. Sua sorte é que estou de muito bom humor. Agora tchau. – dessa vez consegui completar meu caminho. Sentei no refeitório e o pessoal estava por lá batendo papo. Peguei meu café na cozinha e me sentei com eles.

— Cadê o Murilo? – perguntei ao notar que ele não estava ali.

— Jogando bola. – Alice respondeu e me olhou. – Ele nem tomou café, tá todo estranho. – inferno!  Sabia que isso aconteceria.

— Ah não! – Rafael chegou e se sentou. – As pessoas geralmente transam e ficam de bom humor, o seu irmão é contrário. Ele tá o cão. Não estou conseguindo ficar perto dele. – ele reclamou olhando para Arthur.

— A menina não deve ter sido boa. – Giovana comentou e riu. Arthur mudou de lugar e veio se sentar ao meu lado.

— Você o viu depois? – ele perguntou de forma quase inaudível e sem mexer a boca. Olhei para ele tentando demonstrar o que rolou. – Agora faz todo sentido!

— Ele parecia tão de boa. Cheguei a pensar que ele não surtaria.

— Era de se esperar né? – concordei gestualmente. – A cabeça dele deve estar um caos.

— Acho que ele deve estar tentando gastar o máximo de energia possível. Faço isso quando estou estressado também.

— Caralho Kevin, vocês deviam ter segurado a onda.

— Acho que qualquer hora que fosse isso aconteceria.

— Dá um tempo. Deixe-o tentar aceitar. Sei que vai ser foda, mas não tem outro jeito.

— Bom dia assassina da sanidade. – Rafael disse ao ver Fabiana chegar e se sentar.

— Aí. – ela tampou o rosto.

— Ressaca? – Arthur perguntou e riu.

— Muita. E ressaca moral também, ainda maior. Cadê ele? Preciso pedir desculpas.

— Não vai agora não. Ele não está com o melhor dos humores.

— Falando no demônio. – ele chegou e se escorou a mesa. Estava ofegante.

— Por que veio correndo? – a mãe dele que estava sentada perto da gente escrevendo alguma coisa que parecia ser a lista de mantimentos que faltava, questionou sem olhar para ele.

— Ele não veio correndo. – Alice afirmou o que todos que o viram chegar já sabiam.

— E nem jogando porque o jogo acabou aquela hora que cheguei. – Rafael o olhou. – Estava aprontando o que vagabundo? – ele se sentou e respirou fundo.

— Estou bambo. Calma. Preciso de tempo.

— Estava batendo punheta caralho? – ele perguntou se estressando.

— Preciso? – ele o olhou com arrogância.

— DESGRAÇADO! Voltou para o game mesmo. Quem era?

— Sei não. Mas que mina louca, insano.

— Já estava de putaria logo cedo Murilo? – a mãe dele perguntou brava. – E nem sabe quem é a garota! Você por acaso está se cuidando?

— Satisfeita? – ele pegou uma camisinha pela ponta deixando cair as outras três penduradas a ela.

— Huum... Extra fina de morango. Gostei. – Sofia comentou e riu. Ele as guardou no bolso e olhou para a mãe.

— Oh mãe, pega alguma coisa pra eu comer, to mortão de fome.

— Vai pedir a garota que você estava com ela. E onde você faz isso Murilo? Pelo amor do pai, estamos em um abrigo! Se as pessoas pegam imagina como eu e seu pai ficaremos mortos de vergonha!

— Aí mãe todo mundo sabe que o Murilo é tarado.

— Engraçado... Sou o tarado mais sentimental que existe. E você está ferindo os meus sentimentos. – aquilo era um recado. Mas eu não conseguia entender.

— Por que te chamei de tarado?

— Sim. E por isso vai buscar algo para eu comer. – ela nem se moveu. – Alice! – ele fez com que o rosto dele parecesse ainda mais de neném.

— O que você quer peste? – ela se levantou e depois que ele falou ela foi pra cozinha.

— Olá Kevin, dormiu bem? – imaginei que ele continuaria sem olhar para mim e nem falaria comigo, mas me surpreendi. Olhei em seus olhos sem entender a pergunta.

— Sim e você? – respondi friamente. Estava sendo compreensivo com suas reações, mas agora ele me deixou na defensiva com essas indiretas.

— Tranquilo. – ele respondeu e Alice chegou e então ele começou a comer.

— Kevin a festa de ontem gerou muita bagunça. É o seu dever. – Gustavo chegou e me avisou.

— Agora. – me levantei e fui. Juntei os lixos, coloquei as coisas no lugar e quando eu estava subindo uma cadeira senti uma mão me ajudar. Olhei e ele estava atrás de mim. Fiquei em silêncio. Não tinha muito que dizer.

— Vim pegar o que eu tenho que entregar e saber para quem, quando e que horas. – suspirei.

— Você não vai. – continuei fazendo meu trabalho. – Não posso te envolver nisso.

— Sei que tenho que deixar meus sentimentos de lado e é isso que estou fazendo.

— Eu sei. Mesmo assim. Não é o certo. Você tem que lidar com muita coisa agora, precisa de tempo para você.

— Lidar com muita coisa? – concordei.

— Não estou surtando Kevin. – fiquei o olhando sem entender. – Estou puto!

— Como assim? Do que você tá falando?

— Você que tanto imaginou que eu surtaria quis correr de perto de mim caso isso acontecesse né? Não te ver de manhã ao meu lado... Foi péssimo.

— Mas eu nunca fico até de manhã. Só no primeiro dia e deu no que deu, seus pais chegaram e encheram o saco.

— Só que ontem foi especial. Pelo menos pensei que tivesse sido. Foi só mais uma noite pra você e ver isso foi muito ruim. – ele ia sair, mas eu o segurei.

— Se eu sou tão romântico quanto meu irmão, você é tão sensível quanto a sua irmã. Para de drama Murilo. Desculpa. Não sabia que isso ia te atingir dessa forma.

— Estou sendo dramático? Acho que são as garotas que gostam de um drama, devo procura-las. – ele tentou tirar o braço dele e eu deixei, mas o abracei. – Acabei de ficar com alguém, não vai dizer que tá com nojo?

— Tenho que me acostumar, é assim que eu posso te ter. – ele me separou dele e me olhou. Seu sorrisinho me fez duvidar que um dia ele podia entender o que eu sentia.

— Era tudo mentira. Inventei aquilo para que minha mãe reclamasse com meu pai e tudo ficasse normal. – sorri.

— Como vou saber se é verdade?

— Não confia em mim? – seu sorriso ficou ainda maior. – Ainda estou cheirando a sabonete... Se quiser conferir. – arregalei os olhos.

— Você me deixa sem palavras.

— Por que falei do meu... – o interrompi.

— Para. Tente não ser tão escroto.

— Vai ser uma tarefa bem difícil. – ele coçou a cabeça. – E... Você fica bolado, vou sempre ser só para te irritar.

— Só queria saber de onde você está tirando toda essa naturalidade. – fiquei sério e cruzei os braços. – Não sou o primeiro?

— Você fica fofo pra caralho ciumento.

— Gostar de você é o meu castigo. Você é sensível demais, escroto demais e não leva nada sério. – acho que peguei pesado porque ele ficou em silêncio enquanto eu acabava de arrumar as coisas. Achei que ele iria entrar, mas ele continuou ali. Quando acabei o olhei.

— Vem. Vamos conversar. Vou me abrir pra você. – ele foi andando em direção às arquibancadas e eu o segui. Nos sentamos no último degrau e eu esperei ele começar a falar. – Quando você descobriu que era gay?

— Já te contei. No ensino fundamental. Por que?

— Porque isso nunca aconteceu comigo. Eu nunca descobri nada porque eu não sou. Não sou como você. Não sinto atração por homens e não me imagino com eles. Não sei o que você fez comigo. Você está se perguntando como eu estou lidando tão bem sem fazer drama ou surtar.... É bem simples. Eu sei o que eu sinto aqui dentro e o que eu estou sentindo por você é forte demais. Eu acredito que além de atração física todo ser humano goste de pessoas independente de gênero, vai da história de cada um se vai aparecer alguém do mesmo sexo que o toque de forma tão surpreendente ou não. Eu não tenho escolha. Eu não poderia ir contra isso. E mesmo sem essa atração de aproximação, eu sinto desejo por você e vontade de explorar cada centímetro do seu corpo. Acho que você poderia ter duas cabeças e seis braços que eu ficaria com você e defenderia sua espécie.

— Queria muito poder te beijar agora. – nos olhamos.

— Na verdade você pode. – dei uma pequena risada.

— Você gosta de arriscar, mas eu não. Pode aparecer alguém. Tudo o que menos quero é um escândalo agora.

— Vem. – ele desceu os degraus de forma rápida e então fui atrás dele, ele pegou em minha mão  e entrou na dispensa pela porta de saída, vi que não havia ninguém, o que ele já sabia que não havia, já que ajudava na cozinha e conhecia toda movimentação. Beijar Murilo mudava tudo em mim. Não era só bom, era uma sintonia que fazia com que nossas almas saíssem dos nossos corpos. Causava sensações fortes demais que conseguiam reafirmar esse sentimento dentro de mim e não importava o que acontecesse, eu faria de tudo para ficar com ele. Depois do longo beijo ele me afastou.

— Você é mesmo o diabo. – sua respiração estava pesada e ele custou a se acalmar.

— E você é um anjo. – ele me olhou e não sei, mas de repente ele ficou sério.

— Não me leva para as trevas com você Kevin.

— Você acha... Acha que isso entre a gente faz parte de alguma armação?

— Não, isso é impossível. Só tenho a certeza que você é meu primeiro amor. E eu não quero que você use isso contra mim. Você ainda é o Kevin. Não pode ser outra pessoa porque me quer.

— Não fala que eu te quero como se fosse uma opção de uma noite. – ele ficou em silêncio me olhando. – É... Não dá para apagar meu passado Murilo nem tudo de ruim que eu já fiz e eu não consigo te provar que não vou voltar a fazer aquelas coisas.

— Sabemos que você vai. Você mesmo disse que é viciado nisso, joguinhos mentais, articulações, confundir pessoas, armar coisas... Você tem que estar na ativa, pensando, tramando...

— Por que isso agora? Foi ele não foi?

— Não. Olha pra mim Kevin, olha o quanto estou vulnerável e entregue a você. Eu to apavorado. – foi então que entendi tudo. Eu o abracei com todo meu carinho. A porta que entramos se abriu e nossa reação foi nos separarmos imediatamente. Respirei aliviado quando vi que era Arthur.

— Vocês estavam tão bonitinhos. – ele disse e sorriu. Ele não estava sendo irônico. – É real mesmo! Kevin e Murilo. Vou precisar de quantos anos para assimilar isso?

— O que você quer Arthur? – perguntei com mau humor.

— Mas tá grosso hein? – ele reclamou me olhando. – Seu digníssimo pai está te procurando por todo canto. Resolvi te achar antes que ele acionasse o tio Gu ou o tio Vini.  – sai rápido. Não me despedi de Murilo porque não precisava, a gente iria se ver em instantes, eu pretendia não deixa-lo sem mim por nenhum minuto até ele ter certeza que podia confiar em mim.


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