De pedra e vidro escrita por Beatrice Vitanuova


Capítulo 3
O futuro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/777903/chapter/3

I.

Dois dias depois chegou outro corvo. Tinha sido mandado por Sor Davos. As coisas haviam degringolado. Arya estava sã e salva, alojada no acampamento do Norte. De resto, tudo estava cada vez pior, mais tenso. Jon matara Daenerys Targaryen para detê-la. Bran explicou com a sua voz monocórdia que a rainha dragão não pretendia parar diante da conquista de King’s Landing. Ela pretendia libertar outros povos sob jugo de governantes tirânicos, sem perceber que a  liberdade tal como ela a concebia, era uma nova roupagem da tirania. Sansa estava petrificada. Tudo de ruim que sentira ao conhecer Daenerys parecia fazer sentido. Seus instintos não a haviam desamparado. Ela era cativante, carismática. Enganara Tyrion, dominara Jon. Conduzia aqueles exércitos ao seu bel prazer. Não era uma inimiga qualquer. Era muito mais simples e forte do que Cersei jamais sonharia.

—O que fizeram com Jon?

A única pessoa que tinha a resposta era Bran.

—Nada, ainda. O comandante dos Imaculados agora responde pelas tropas de Daenerys.

O peito de Sansa pareceu pequeno para abrigar seu coração. Ele batia acelerado e sem esperança. Nunca fizera bem aos homens da família a viagem ao Sul. Lembrou da cabeça do pai, na ponta de uma estaca. Se algo acontecesse a Jon, ela não aguentaria.

—Então, eles vão matá-lo?

—A ideia é essa. Vamos partir amanhã para o Sul. Há como evitar.

—Evitar como?-quis saber Brienne.

—Verme Cinzento é movido agora pela vingança. Perdeu a mulher que amava e a rainha a quem servia para uma terra que ele julga bárbara. Ele quer confrontar os poderosos daqui. Quer que as punições para Tyrion e Jon tenham o nosso testemunho.

Sansa não ouvia. Levantou-se, agitada. Brienne foi atrás dela.

—O que quer fazer, Sansa?

—Preciso reunir os homens que puder. Os feridos da batalha dos mortos que não foram para o Sul com Jon. Preciso chamar Tormund e os Homens Livres.

—Se formos esperar Tormund, iremos nos atrasar ainda mais.

Ela parecia encurralada.

—Tem razão. Mas vou pedir a meu primo Robin Arryn que nos ceda uma parte dos homens do Vale. Eles podem se juntar às nossas forças durante o caminho.

II.

Na verdade, a viagem pareceu muito longa. Brienne pensava frequentemente em Jaime e Cersei. Pensava sem ódio. Nunca tivera a vocação para o rancor. Não sabia se tinham recebido um funeral decente, uma vez que Lord Tyrion estava preso. Talvez nem tivessem encontrado os corpos. Em caso positivo, quem teria colocado as pedras  pintadas sobre as pálpebras dos cadáveres? Se é que tinham pálpebras ou mesmo cabeças. Brienne desejava que pudessem descansar em paz para que não precisasse mais pensar neles. Sentia uma enorme fadiga emocional.

Sansa e Bran olhavam para ela constantemente. Sansa via no silêncio da amiga um reflexo de seus próprios temores. Se Cersei e Jaime Lannister tinham morrido soterrados e Arya estava viva, então a irmã não havia chegado até Cersei. Era a única coisa boa no meio daquela tragédia.

No oceano de indiferença em que se movia, Bran estivera prestes a chamar Brienne de Tarth em particular e contar algumas coisas que lhe aliviariam o coração. Mas eram fatos que a deixariam irremediavelmente presa à lembrança de Jaime Lannister. Mais ainda do que ela já se sentia.

Poderia contar que as melhores coisas que Jaime fizera em sua vida, ele as fizera imaginando estar sob os olhos dela. Tentaria lhe explicar que, para Jaime, seria impossível viver com ela por inteiro, pois ele temia não corresponder ao que ela esperava dele. Porque ela esperava dele sempre o melhor. Que ele duvidava até à morte ser capaz de oferecer afeto a outros que não fossem Cersei e Tyrion. E, que ao ser capturado, ele negara toda a responsabilidade que sempre sentira pelo coletivo, pelo indefeso, pelos que sofriam. Ele negara e reafirmara seu egoísmo, pois não conseguia entender a coexistência do bem e do mal dentro de si.

Na última conversa com o irmão, Sor Jaime fizera planos de antemão fadados ao fracasso, mas não tocara uma só vez no nome dela, ainda que ela não saísse de sua cabeça. Relembrava incessantemente  a crueldade de suas palavras, a rudeza de seus gestos. Ele queria que ela o amasse, mas precisava que ela o odiasse para que pudesse partir. Cersei era seu porto seguro, Brienne de Tarth era o seu labirinto.

Apesar de perceber que ela muito sofria, Bran optou em nada dizer. Existiam outros caminhos para trazê-la de volta à sua integridade. Naquele momento, nada melhor que o tempo.

III.

Tyrion Lannister solucionara o impasse. Tomara o controle das mãos do Verme Cinzento. O comandante de Daenerys não era um homem de nuances. Dentro da crueldade e da programação comportamental a que fora submetido, o único impulso individual que o individualizara era o amor pela jovem Missandei. Sua morte aleijara sua alma. Sentia ódio. Ódio e seus desdobramentos .

Jon continuaria vivo, atuando além das ruínas da Muralha. Sansa garantira o Norte. E Bran seria o novo rei de Westeros.

IV.

Bran segurou o braço da irmã. Ela falou, respeitosamente.

— Majestade?

—Sei que quer ajudar Brienne de Tarth. Eu tenho um jeito de fazê-la  melhorar. Mas exigirá um sacrifício seu, Sansa.

Sansa olhou-o fixamente. 

—O que é? Eu devo minha vida a ela. Não teria chegado aqui sem Brienne, e sem Jon. -nesse momento, seus olhos se encheram de lágrimas.

—Preciso que a libere do juramento.

—Por quê?

—Penso que ela seria uma excepcional aqui em Kings Landing. A primeira mulher ordenada pela Cavalaria e  a primeira a chefiar a Guarda Real. Ela faria história.

Sansa aquiesceu.

—Faço o que for melhor para ela. É a minha única amiga. Porém, acima de tudo, quero que ela fique bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "De pedra e vidro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.