Amor Perfeito XIII escrita por Lola


Capítulo 23
Beijo Roubado


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/777828/chapter/23

A despedida com Arthur foi tão difícil, eu não queria sair dos braços dele e o meu irmão já estava ficando irritado, assim como todo o resto.

— Alice se você não vier vamos perder o caralho do ônibus! – ouvi sua ordem pela décima vez.

— Anda. – Tuh me afastou dele quase a força. Nos olhamos e todo medo dele fazer as coisas horríveis que o transformavam em um Arthur perdido e desconhecido vieram a tona. E no fundo eu sabia que iria ser assim. Sai rapidamente antes que eu começasse a chorar. O caminho de volta pareceu ainda mais longo.

Assim que chegamos à rodoviária nossos pais estavam lá nos esperando. Tia Luna foi logo perguntando como Arthur estava.

— Ele parece bem mãe. Um pouco mais magro, com algumas olheiras... Mas bem. Não estava bêbado e muito menos drogado. O mesmo Arthur de sempre.

— Mas aquele amigo dele é meio perturbado das ideias.

— Só está dizendo isso porque está com ciúme. – Otávia respondeu olhando para Ryan.

— Nunca. Sou muito mais apegado a Murilo que ao Arthur, tá louca?

— Vamos embora? Está muito tarde, vocês devem estar cansados e amanhã acordam cedo para irem estudar. – minha mãe encerrou aquela conversa.

“Chegou?” Mensagem de Arthur ás 23:49.

“Já sei que vocês chegaram, por que não está me respondendo?” 23:54

Alice, você não dormiu, tem apenas vinte minutos que chegaram. Se eu pudesse adivinhar diria que deixou o celular largado, mas mesmo assim ainda quero falar com você.” 23:55

“Quase meia noite e você não me responde.” 23:56

“Já estou deitado para dormir e a sua falta de respostas vai me dar insônia.” 23:58

Peguei meu celular após sair do banho e ainda enrolada na toalha comecei a digitar a resposta que ele tanto esperava.

“Para quem não me mandava mensagens...” 00:00

“Você sabe que eu estava te evitando porque queria te esquecer. Por que demorou tanto a me responder?” 00:00

“Estava tomando banho.” 00:01

Coloquei meu pijama e deixei meu celular na cama. Deixei tudo pronto para amanhã cedo e fui dar boa noite aos meus pais.

— Vem aqui. – me mãe chamou assim que apareci na porta do quarto deles.

— Cadê o papai? – perguntei olhando em volta.

— Lá embaixo fazendo um lanche. Alice, você voltou diferente... O que aconteceu lá?

— Nada. – evitei olhar para ela. – Para dona Raíssa! – pedi ao ver que ela não havia desistido de me encarar.

— Prometemos te dar mais liberdade e estamos te dando e o que eu te pedi em troca?

— É tudo tão novo e complicado... Eu ainda estou tentando lidar com isso e não sei me expressar... – ela me olhou parecendo confusa.

— São sentimentos? – sua testa franzida demonstrava o quanto ela não sabia sobre nada que eu passava.

— Não é nada de mais. Tenho que dormir você já viu a hora? – tentei sair daquilo.

— Vá. Antes desça e dê um beijo em seu pai, caso contrário ele ficará bem triste. – ela deu uma leve risada e sorriu. Quando subi novamente para o meu quarto meu celular já estava cheio de mensagens de Arthur. Expliquei que estava dando boa noite aos meus pais e ficamos mais alguns minutos conversando, até ambos decidirmos que devíamos dormir porque acordaríamos cedo.

— Cadê o Yuri? – perguntei ao sair no intervalo das aulas. Ele era o único que não estava ali ainda.

— Com alguma gata da sala dele. – meu irmão respondeu como se fosse normal.

— De manhã? – o olhei surpresa.

— Qualquer hora é hora. – ele piscou e riu.

— Será que a gente poderia conversar? – Kevin se levantou e se posicionou em minha frente. Ergui os meus olhos para encara-lo.

— Claro. – ele pegou minhas mãos e olhou para o meu irmão.

— Vamos sumir do alcance da sua visão, mas não se preocupe, só iremos conversar.

— Você não é suicida. – eles se encararam com olhares mortais. Sai andando ao lado de Kevin, sem saber para onde ele iria. Atravessamos o pátio e fomos para o ginásio. Estava vazio. Apenas alguns alunos tentavam fazer cesta na quadra. Iria sentar na arquibancada quando ele puxou meu corpo para si e me abraçou, me apertando.

— Perdão. – ele encostou seu queixo em meu ombro e me apertou mais ainda. – Errei. Fui grosso contigo. Evitei você. Tive que me afastar para entender que qualquer coisa que você me dê é melhor que nada. – relaxei meu corpo e deixei que ele continuasse me apertando. Senti meu celular vibrar rápido no bolso, era uma mensagem, devia ser de Arthur, ele já havia mandando uma de bom dia e ele deve ter se atentado ao horário do meu intervalo, isso era fofo, essa atenção toda que ele estava me dando era fofa. – Alice? – olhei para frente e vi que Kevin me encarava.

— Não sei o que dizer... Esse seu jeito explosivo... Você não tem paciência comigo. A nossa amizade não dá certo Kevin. – sem avisar e nem pedir ele segurou meu rosto e me beijou rapidamente. Tentei desviar no início, mas talvez por costume acabei aceitando.

— Isso não é só amizade. – ele falou me olhando.

— Não faz mais isso. – pedi e me afastei um pouco.

— Ele que te pediu? – seu tom sarcástico e a risadinha ao final me fez tremer. Eu odiava essa guerra entre Kevin e Arthur.

— Não. Não acho que devemos ficar nos beijando. Temos que nos entender Kevin, você tem que aprender a lidar com o meu jeito.

— Sou apenas eu que tenho que lidar com o seu jeito?

— Consigo lidar bem com você quando não está sendo o escroto que apela porque eu disse que não sinto nada por você.

— Eu me arrependi. – nos olhamos. – Só aconteceu porque você disse aquilo ao meu pai... – ele parecia tão sincero, sua voz agora parecia ter dor e aquilo partiu meu coração. Sem pensar muito o abracei.

— Eu te perdoo. – falei ainda abraçada a ele.

— Não vou mais fazer nada do tipo, prometo. E se por acaso eu falhar e fizer, me abrace assim... Vai me fazer parar de ser idiota.

— Sou a solução dos seus problemas. – brinquei depois de me afastar.

— E acho que o Arthur é a solução dos seus.

— Estou apaixonada por ele. – resolvi abrir o jogo de uma vez. – E é por isso que eu quero que não me beije mais.

— Por isso que você queria que eu te ensinasse sobre paixão? Para concluir que estava apaixonada por ele?

— Você sabia que eu sentia algo diferente... E não foi por isso. Eu realmente queria entender as coisas sob o seu ponto de vista. Já ouvi da minha médica, minha mãe e de outras pessoas.

— Você se importa com o que eu penso?

— Você é importante para mim Kevin. Nossa aproximação fez com que fosse ainda mais. Não coloque o seu irmão no meio da gente. Nossa amizade não tem nada a ver com ele. Ou tem?

— Para de acreditar nas conspirações de todos que vivo a vida em função de prejudicar Arthur. – o sinal de final do intervalo bateu e me preparei para voltar. – Alice... Eu não o colocarei no meio da gente... Mas e ele?

— Arthur é a pessoa mais compreensível do mundo. Isso nunca vai ser um problema. – sorri acenei para ele que foi para o lado oposto ao meu, já que nossas salas eram diferentes.

— Você não vai fazer o meu irmão de bobo. – levei um susto com a voz de Otávia assim que sai do ginásio. – Vi tudo. Vi o beijo. E não vem com papinho de que não tem nada com Arthur, ele está COMPLETAMENTE iludido achando que vocês dois podem ficar juntos, eu e ele somos melhores amigos Alice, ele me conta tudo e apesar de não ter me dito nada do que conversaram, sei que você disse coisas terríveis para ele se iludir a esse ponto. Qual é a sua? Não basta realmente tê-lo afastado de Torres?

— Você me culpa tanto por isso Otávia! Não pedi para ter uma deficiência e não conseguir correspondê-lo e por isso ele decidir ficar longe para tentar me esquecer. Para de me culpar.

— Ele vai saber que você beijou Kevin.

— Sim, ele vai, porque eu vou contar. – tentei ir para a sala, mas ela puxou o meu braço.

— O que você disse a ele?

— Pra que você quer saber? Para ir criando um argumento oposto e convencê-lo de que eu sou uma mentirosa?

— Eu e Arthur não somos apenas irmãos como você e Murilo, temos uma ligação muito mais forte... Ele é o herói de todo mundo, imagina de mim. E eu me preocupo onde isso tudo pode leva-lo. Ele já sofreu demais tentando te superar.

— Mocinhas para a sala de aula! Agora! – a vice diretora passou com uma expressão nada boa. Obedecemos e nossa conversa acabou ali e eu esperava sinceramente que ela não continuasse em outra hora. Ao irmos embora Yuri contou das suas safadezas no intervalo para os meninos, o que me fez ter um pouco de ânsia de vômito.

“Precisamos conversar, você pode me ligar depois do almoço?” 12:03

Mandei uma mensagem para Arthur assim que cheguei em casa, ele demorou um pouco para responder, o que me fez estranhar.

“Otávia já me contou. Não fique brava com ela, ela se preocupa comigo.” 12:18

“O que você disse a ela?” 12:18

“Antes de ela contar do beijo ou depois?” 12:25

“Antes. E dá para demorar menos a me responder?” 12:25

“Você nunca me responde na hora. Por que isso agora? Estou almoçando.” 12:32

“Era o que eu deveria estar fazendo se não estivesse tão preocupada com o que você está pensando de mim.” 12:33

“Não se preocupe com isso. Se alimente Alice. Agora.” 12:35

“O que você disse a ela?” 12:35

“Que eu achava que tinha uma chance contigo. Só isso. Não entrei em detalhes. Otávia costuma fazer conclusões sozinha. Ela já deve estar pensando que você se declarou para mim e te julgado de todas as formas. Desculpa por qualquer coisa que ela tenha dito. Vou chamar a atenção dela sobre isso.” 12:40

“Você conhece bem a sua irmã.” 12:41

“Sim, conheço. Alice, já está almoçando?” 12:42

“Não, estou sem fome. Queria muito conversar sobre esse beijo contigo por ligação, não foi como você está pensando.” 12:42

“Você estava em um lugar afastado com ele e acha que ele não tentaria te beijar? Sua inocência está beirando o ridículo.” 12:43

“Você tem razão. Como sempre.” 12:44

“O que me dói é que você quis beija-lo e a gente sabe disso.” 12:45

“Não foi por vontade necessariamente, foi por uma espécie de costume... Mas já pedi para ele não fazer mais isso.” 12:45

“Tá. Cheguei ao alojamento, vou dormir um pouco antes das aulas que tenho a tarde, depois nos falamos.” 12:47

Fiquei um tempo lendo aquela mensagem meio sem reação, por mais que ele estivesse sendo educado, paciente e até preocupado com a forma como a irmã me tratou, Arthur estava de certa forma me evitando. E isso era bem compreensível.

“Será que mais tarde podemos nos falar por vídeo? Quero te explicar isso tudo olhando em seus olhos.” 12:50

“Sim, claro. A gente se fala.” 12:50

Joguei meu celular na cama e desci para comer alguma coisa. Encontrei Murilo dando risada de alguma coisa sentado na bancada, me servi e sentei ao seu lado.

— Cadê o papai e a mamãe? – perguntei enquanto comia desanimadamente.

— Ele já voltou para a academia e a mãe teve uma reunião de última hora com um cliente. – ele me olhou por um tempo. – O que tá pegando?

— Kevin me beijou, Otávia viu contou para Arthur e ele está magoado. – contei rapidamente. Murilo voltou a encarar seu telefone. – Pra que pergunta se não vai opinar sobre o assunto?

— O Arthur já devia estar acostumado. Não é a primeira vez que ele fica sabendo que você beijou Kevin.

— Mas agora é diferente... – suspirei. – Gosto dele mais que das outras pessoas... Estou apaixonada. E contei a ele. – sorri envergonhada. Murilo me olhou quase rindo. – E mesmo que eu não possa ama-lo, sei que vou gostar dele dessa forma por tempo suficiente para sermos felizes juntos.

— Você diz isso a ele em um dia e beija Kevin no outro?

— AI QUE ÓDIO! – bati os pés com raiva. Sabia que estava errada.

— Cuidado Alice. Arthur é o cara mais pacifico que conheço, mas caras assim quando decidem não se importar mais dificilmente voltam atrás.

— Não quero mais pensar nisso, me traz sensações e sentimentos ruins, gostava de quando eu não sentia absolutamente nada... – ele me olhou assustado. – Tá bom, falei demais. – suspirei novamente. – E você, como anda sua vida amorosa?

— Ah qual é. – ele deu uma risada que ecoou. – Não amo ninguém, logo, não tenho vida amorosa alguma.

— Até onde eu sei você ficou com Lari e Soph ao mesmo tempo e ainda estava com a Aline ex do Arthur né? – o olhei.

— Você será incapaz de fazer a lista. 

— Acha isso legal Murilo? – ele revirou os olhos e parecia começar a ficar impaciente.

— Agora não Alice! – resolvi nem insistir. O dia passou de forma comum, quando chegamos em casa a noite, meu pai ainda estava na academia, mas minha mãe já havia chegado da tal reunião. Conversei algumas amenidades com ela e subi para tomar banho. Depois de jantar, mandei uma segunda mensagem para Arthur, a primeira já havia mandado no caminho da academia para a casa e agora eu queria ligar para ele, mas não obtive nenhuma resposta. Fiz as lições da escola e tentei até estudar um pouco. Um bom tempo se passou e resolvi ir até o quarto de Murilo, talvez ele tivesse notícias de Arthur.

— O que você está fazendo? – deitei em seu lado em sua cama.

— Conversando no celular, o que mais eu faria? – isso era o Muh sendo delicado.

— Não vai descer? – perguntei tentando não olhar para o seu celular, pois sei que só iria ver conversas obscenas.

— Para a pracinha? – fiz sinal positivo. – Não, estou com sono. E você, não foi dormir ainda por quê?

— Arthur sumiu. Ele não me responde. Sabe dele?

— Ele ficou meses sem te responder... Desde que foi para a universidade. Qual a novidade nisso?

— Tenho que lembrar mais uma vez que agora é diferente?

— Talvez seja diferente só para você e não para ele.

— Não. Que saco Murilo. E aquele papo de hoje de que ele era o cara mais pacifico que você conhecia e que eu tinha que tomar cuidado e não sei o que mais...

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. – ele me olhou como se eu fosse louca. – Eu te aconselhar a tomar cuidado não quer dizer que ele se importe.

— Mas ele se importa, eu sei que se importa.

— Estamos falando do Arthur, é claro que sim. Só que isso não muda o fato de que agora a rotina dele é outra e talvez ele não tenha tempo para te responder.

— Acha que ele está com alguém?

— Pode ser. Aquele amigo dele é bem desesperado. Acaba influenciando.

— Vou dormir. Quanto mais eu pensar nisso pior vai ser. – me levantei.

— Boa ideia. – ele me apoiou e eu dei boa noite, passando no quarto dos meus pais em seguida e indo dormir. Chequei meu celular algumas vezes antes de pegar no sono e nada. No outro dia ao chegarmos a escola todos estavam chegando também.

— Por que Yuri e Otávia não vieram? – Alê perguntou notando a falta dos dois.

— Pelas ligações para meu pai de madrugada e a saída dele, Arthur aprontou alguma coisa.

— Por que o Arthur? O Yuri pode ter feito algo, ele também é seu irmão por parte de pai. – Giovanna o corrigiu.

— É o Arthur. Meu pai não faria tanto barulho e sairia tão desesperado se não fosse ele.

— Meu pai, tu tem muita síndrome de inferioridade em relação ao seu irmão. – Lari falou fingindo susto.

— Sua vida é melhor que a dele, você tem uma mãe só pra você, ele divide a dele com mais dois... Pense pelos lados bons. – Gio disse com inocência típica dela.

— Uma mãe que não para em casa. – ele revirou os olhos. – O sinal já tocou. – ele saiu andando na frente. Acabamos indo para a sala também. Nada de Otávia ou Yuri. O intervalo foi chato, angustiante. Queria saber o que aconteceu.

— Eles não entram na internet. Nem Arthur. – reclamei pela terceira vez fuçando meu celular.

— Eles devem estar dormindo e Arthur... Também, sei lá. – meu irmão comentou e deu de ombros.

— Pergunte ao Kevin se ele não sabe de nada Murilo, você é o único além de Alice que consegue lidar com aquele demônio.

— Não tô afim não.

Voltamos para os últimos horários e eu não conseguia me concentrar, claro. Assim que ouvi o barulho que indicava que estávamos dispensados sai quase correndo.

— Alice! – Murilo me chamou, mas ignorei, passei a frente de todos e fui voando para a casa dos meus avós.

— O que aconteceu? – perguntei assim que entrei. Caleb estava na sala com Luna.

— Ei, calma, respira. – tia Luna chegou perto de mim e eu recuperei meu fôlego. - Esse desespero é só por Yuri e Otávia faltarem a aula? – ela perguntou assustada.

— Kevin contou que Caleb saiu de madrugada, juntamos um fato ao outro. Aconteceu algo com Arthur? – ele pareceu não gostar da minha fala.

— Ela é só uma garota de quinze anos Luna, não precisa saber de tudo. – ele concluiu com aquele jeito sério e por vezes inexpressivo. Caleb parecia não gostar mesmo de mim. E eu nem sabia o motivo.

— Seu pai deve estar chegando para levar vocês para casa, cadê Murilo?

— Aqui. – meu irmão apareceu.  Olhei para a escada e vi Yuri descendo com uma expressão sonolenta.

— O que aconteceu? – corri até ele.

— Meu irmão foi parar no hospital porque pegou uma mina comprometida e o namorado dela bateu nele. Ligaram quatro da manhã eu acho... Minha mãe ficou desesperada e acordou todo mundo, até chamou o meu pai. Mas ele já fez chamada de vídeo hoje cedo e tá bem, arrebentado, com um braço quebrado e uns pontos no rosto, mas bem.

— Não era para contar desse jeito! – tia Luna o repreendeu enquanto eu continuava sem reação.

— Queria que eu contasse como? – ele perguntou e vi Otávia descer.

— Acho que Alice está precisando de um copo de água. – ela saiu me arrastando para a cozinha, Yuri veio junto.

— Queremos te pedir uma coisa. – ela disse em nome dos dois.  - Peça Arthur para voltar para Torres!

— Enlouqueceram? – arregalei os olhos.

— Não está vendo que ele está se afundando naquele lugar?

— Yu, você não concorda com isso né? – perguntei na esperança de ouvir algo diferente daquela loucura.

— Só você conseguiria isso dele Alice e realmente... Meu irmão não está indo para um bom caminho.

— Olha... Talvez ele tenha saído porque contei do beijo com Kevin, mas de qualquer forma, se ele não estivesse se acostumando a ser assim ele iria ficar quieto na dele. Nada justifica sabe? Ele foi parar em um hospital Alice! Entende a gravidade?

— Entendo Otávia. Mas eu não posso pedir isso a ele. Não consigo. E se ele está sendo assim, ele vai agir errado em qualquer lugar do mundo, não faz sentido.

— Aqui tem a família dele, tem os amigos, tem você... Você tem noção do quanto ele te ama? Acho que não.

— Se ele me amasse não iria sair por ai agarrando garotas comprometidas.

— Você beijou o irmão dele.

— Ei. – meu pai apareceu na cozinha. – Vamos? – fui com ele e Murilo para casa e fiquei em silêncio durante o almoço.

— Esperava isso de qualquer um dos meninos, menos de Arthur. – meu pai comentou enquanto eles repercutiam o acontecimento do momento. Acabei de comer e fui para o meu quarto, eu ainda tinha um longo dia pela frente, cheio de coisas para fazer e tentaria não pensar nisso. Foi o que tentei o dia inteiro e claro, não consegui. Arthur não me mandou nenhuma mensagem, talvez fosse melhor assim.

— Será que a gente podia conversar? – minha mãe entrou em meu quarto quando eu já estava quase dormindo.

— Sim. – ela se deitou ao meu lado e começou a fazer carinho em meu cabelo.

— Já tive a sua idade, sabia? – ela perguntou e riu levemente. – Sei que está me escondendo alguma coisa. Agora quero saber se envolve Kevin ou Arthur.

— A última consulta a doutora disse que cheguei ao máximo da minha evolução... Antes desse diagnóstico eu já havia reparado em algumas coisas... Penso demais em  Arthur, o admiro muito, sinto vontade da presença dele, fico bem perto dele... Gosto dele. Mas gosto dele mais que das outras pessoas. Gosto do Arthur mãe. Como Kevin gosta de mim. Acho que estou apaixonada. E eu disse isso a ele. – ela me olhou surpresa. – E aí o Kevin me beijou, Otávia contou a ele e aconteceu aquilo.

— Filha. – ela pegou minha mão e olhou em meus olhos. – As pessoas elas passam por fases na vida. A essência do Arthur nunca será mudada. Mas agora ele está vivendo em outro contexto, está experimentando da liberdade, não tem os pais por perto, nem irmãos, nem amigos... Ele não deve satisfações a ninguém. E parece estar gostando disso. A gente sempre soube do sentimento dele por você, como eu já te disse, mas a gente nunca cogitou a ideia de você corresponde-lo mesmo que minimamente, como está acontecendo. Isso é tão irreal e incrível. Talvez ele não saiba lidar com isso. E ainda mais estando nessa fase.

— O que eu devo fazer mãe? – perguntei um pouco angustiada.

— O que você quer fazer Alice? – pensei durante um instante.

— Quero tirar ele daquele lugar. Quero tê-lo perto como era antes. As garotas, elas o olham como se ele fosse um objeto de desejo delas e isso me traz uma dor no peito muito grande e ele tem amigas, uma em especial eu não senti algo bom.

— Aqui também vai ter quem o olhe assim Alice, o Arthur é um garoto bonito que chama a atenção. O foco não é esse, não focalize nessa dor que você sente, isso se chama ciúme e só faz mal a você. Pensa no que você quer em relação a ele e apenas isso.

— Quero isso, tirar ele de lá. Otávia e Yuri até falaram para eu pedir para ele voltar pra cá, mas eu não tenho coragem.

— Ainda bem que não tem, porque isso seria um erro. – meu celular vibrou na escrivaninha ao lado de minha cama, pedi que minha mãe pegasse e li a mensagem de Arthur em voz alta.

“Se você quer o Kevin, vou deixar o caminho livre para vocês dois.” 22:58

Uma lágrima escorreu em meus olhos sem que eu percebesse. Suspirei pesado. Não queria que doesse tanto.

— Ninguém em sã consciência quer aquele garoto! – minha mãe exclamou revoltada. Enxuguei meu rosto e a olhei.

— Não entendo essa aversão que vocês têm por ele.

— Somos adultos Alice, sabemos muito mais que vocês adolescentes. Agora vá dormir. Fique calma. Arthur só está nervoso e magoado. Você beijar o irmão dele após dizer a ele que sentia algo para ele foi como uma traição e é compreensível, vocês iriam lutar para ficar juntos. Agora... Não se culpe e saiba também o que você quer, e se for o garoto demoníaco, nunca terá a aprovação da sua família. Boa noite, durma bem. 

A noite passou conturbada, entre pesadelos e pensamentos, queria entender porque Kevin era tão odiado assim. O que ele fez de ruim. Ele dizia que era o gênio forte dele e a mania que ele tinha de dizer verdades que os adultos insistiam em camuflar, talvez seja mesmo. A quarta começou cinza, além do tempo nublado fazia frio. Dessa vez todos estavam na escola, não havia faltado ninguém.

— Para de fumar isso, você vai morrer ainda! – Otávia chamou a atenção de Ryan para variar.

— Vou fazer dezesseis anos e não preciso de babá. – ele respondeu com seu típico mau humor.

— Falando nisso, esse final de semana é o aniversário de dezesseis anos das gêmeas, o que estão pensando em fazer?

— Uma social entre a gente mesmo. - elas responderam e explicaram que depois do aniversário de quinze anos da Otávia no final do passado e do meu esse ano, que elas não queriam mais festas e já haviam passado da idade para isso, os meninos riram e começaram a ridicularizar as duas até o sinal bater.

Não respondi a mensagem ontem de Arthur e nem responderia. Peguei meu aparelho algumas vezes durante a manhã na ânsia de alguma novidade e nada. O dia estava sendo como qualquer dia normal.

— Alice! – olhei quem me chamava quando eu sai da academia para esperar meu irmão. Era Maísa, mãe de Ryan.

— Ei May. – nos abraçamos. Costumava chama-la de tia, mas como tia Luna ficava com ciúme decidi evitar até perder o hábito. Maísa era muito, muito, muito legal. Uma das mães mais legais dos nossos amigos. - Veio malhar?

— Não. Estou a trabalho. – reparei em sua roupa branca, mas não entendi muito, acho que minha expressão denunciou isso. – Está havendo um surto de uma doença em Alela e tememos que chegue a Torres, então estamos espalhando cartazes com avisos. Não era para uma médica fazer isso, mas eu estou por contra própria. Quem deveria fazer acha que é exagero medicinal temer um surto. – ela suspirou. Questionei quais eram as precauções e se havia algo que eu podia fazer para ajuda-la.

— Olá tia May. – Murilo apareceu e beijou o rosto dela. – Cadê aquele idiota do Ryan? Devia trazê-lo para a academia e fazê-lo parar de fu... – apertei meu irmão. Os pais não sabiam que Ryan fumava.

— Eu sei que ele fuma Alice. – ela disse e sorriu tristemente. – Não sei mais o que fazer, talvez queima-lo inteiro adiante. – demos uma risada. – Bom, vou indo.  – nos despedimos dela e fomos embora. Antes meu irmão trocou olhares com Aline... Não sei se eu estava enganada, mas algo me dizia que essa garota era diferente para ele. Vai saber também, do Murilo não podia esperar muita coisa.

“Você está com ele?” 19:30

Li a mensagem de Arthur assim que sai do banho. Uma risada amarga e um sentimento ruim tomou conta de mim. Ele me conhecia, devia saber que não.  Ignorei mais uma vez. Fui dormir, amanhã era outro dia.

Achei que a quinta feira iria ser tranquila mas ela trouxe uma novidade surpreendente que ninguém conseguia acreditar.

— Sim gente, estamos mesmo namorando! – Alê repetia pela quarta vez.

— Por que vocês não acreditam hein? Acham que ninguém é capaz de me amar? – Gio questionou parecendo magoada.

— Gente, vocês dois não tem nada a ver e não demonstraram nada. – Soph explicou ainda perplexa.

— Os dois são quietos, faz todo sentido do mundo. Queria que eles ficassem na frente de todo mundo? – Kevin perguntou com o olhar frio. – Já havia percebido os olhares, vocês que são sonsos mesmo ou egoístas a ponto de só observarem o próprio umbigo. – ele saiu andando para a sua sala.

— Como é macabro esse garoto, cruzes. – Lari fez sinal da cruz.

— A Gio lerdona e o Alê engraçadão, mano que loucura! Não estou acreditando e nem vou. – meu irmão afirmou de boca aberta.

— Não fala assim dela.

— AI QUE FOFO! – gritei e apertei a bochecha dele.

— Não podem dizer que ele não está apaixonado. – Soph afirmou e deu de ombros.

O resto do dia o assunto foi apenas esse e na sexta também. Arthur não mandou mais mensagens. Era sábado de manhã e eu estava chegando a casa dos meus avós com meus pais e meu irmão como era costume todos os sábados. Mas hoje foi diferente. Assim que o meu pai parou eu gelei. Vi estacionado dois carros iguais. Caleb e Arthur. Ele estava aqui. Dessa vez não tinha como não ser ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor Perfeito XIII" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.