Choices escrita por Caqui Cullen


Capítulo 1
Choices - Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Uma história fresquinha para vocês meus babys. Espero de coração que gostem!
Não sejam leitores fantasmas!



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Como nunca antes em sua vida, Afonso encontrava-se inconformado, enquanto marretava repetidamente o mesmo local naquele inferno chamado de pedreira em que fora colocado, a raiva tomando conta de si, aumentando a intensidade de seus golpes, fazendo seu corpo começar e ameaçar chegar ao limite.

O sentimento atingia níveis extremos cada vez que ele se recordava de quem o havia enviado para aquele lugar, para cumprimento de uma sentença descabida de prisão perpétua, seja por velhice ou até o dia em que seu corpo sucumbiria.

Além da raiva, a mágoa também se fazia presente em suas emoções a cada vez que sua mente o fazia recordar dos olhares raivosos que o povo de Montemor, até mesmo Amália, lhe lançaram durante o estapafúrdio julgamento em praça pública que fora obrigado a ser exposto ao ridículo por uma das pessoas que ele mais amava em vida, sem reconhecer naquele momento, seu irmão Rodolfo.

Pensar em seu irmão fazia seu peito arder e o coração apertar, se de raiva ou mágoa, não saberia dizer e seus olhos perderem o foco graças as lágrimas que Afonso se recusaria a derramar, uma vez que suas ações o feriram bem mais efetivamente do que se o irmão houvesse atravessado uma espada afiada diretamente em seu coração.

Também estava presente a revolta pela forma que fora tratado pelo irmão ao tentar fazê-lo voltar a razão, tentar convencê-lo a escutar as necessidades do povo e da terra, sendo um rei melhor, se tornar uma pessoa melhor.

Afonso já não fazia mais questão em retornar ao trono, nem mesmo viver na corte, apenas queria expor-lhe e lhe transmitir o que fora passado por sua amada avó, para que então rei com o passar do tempo se tornasse digno de estar sentado naquele trono e comandando a poderosa nação que Montemor sempre fora, pelo menos até aquele momento.

Porém, ao contrário do que ele imaginara, Rodolfo o rechaçara da pior forma possível, de forma violenta, nem mesmo lhe dando a chance de pronunciar uma mísera palavra além de seu nome, ordenando imediatamente sua prisão por conspiração contra o rei e em seguida, seu julgamento e sua sentença, sem nenhuma possibilidade de defesa.

Afonso, com toda a sinceridade que lhe doía acumular, admitia que os olhares raivosos que os cidadãos lhe lançaram durante a exposição eram mais do que merecidos, uma vez que ele possuía a consciência de que sua abdicação fora em um momento inoportuno, uma decisão que fora tomada no calor do momento de uma paixão, sem pesar as consequências que seu ato acarretaria para aqueles que estavam ao seu redor, dependendo de si e suas decisões, a qual sentiram profundamente, em todos os aspectos.

A única coisa que Afonso não conseguira compreender completamente era que no meio daqueles tão magoados consigo, estava Amália espelhando o mesmo olhar dos demais, com um toque de acusação.

Pausando por um pequeno instante os movimentos repetitivos, fazendo seus músculos protestarem e agradecerem, apoiou-se no cabo da marreta e se pôs pela primeira vez a analisar os acontecimentos secundários daquele fatídico dia, não mais que dois meses atrás.

Afonso tinha consciência que, mesmo antes de tentar trazer a razão de volta ao seu irmão e sem querer admitir, seu relacionamento com Amália vinha enfrentando uma séria crise, com discussões diárias e acaloradas que os dois travavam exatamente por este motivo: Montemor e a incapacidade do mesmo de se desligar completamente de sua antiga vida como nobre, mesmo que ele tentasse arduamente, todos os dias desde a abdicação.

O que Amália parecia não querer entender era que, mesmo não estando no comando de um dos mais poderosos reinos da Cália, ele não conseguia ficar de braços cruzados tocando sua vida frente aos desmandos e atrocidades oriundas do governo de Rodolfo, como ela parecia fazer com perfeição, sem se incomodar com as injustiças que assolavam os dois reinos, já que seu irmão fizera a tolice de voltar o poderio militar de Montemor contra o reino de Artena, em uma guerra infundada, causando destruição quase total no reino das águas, o tomando para si, afundando-o em uma ruína ainda pior, já que o mesmo mantinha em uma espécie de prisão luxuosa e prisioneira troféu a única herdeira do trono, filha de rei Augusto, Catarina de Lurton.

Voltando a realizar os mesmos movimentos de antes, Afonso inevitavelmente se deixara vagar por seus pensamentos ao recordar-se de Catarina, a belíssima e misteriosa princesa, única herdeira de Artena, agora destruída pela ganância até então desconhecida de seu irmão

O ex-rei possuía algo em seu interior lhe dizendo que aquela guerra sem um argumento válido fora em grande parte graças ao interesse de Rodolfo por Catarina desde o último baile em que eles compareceram, com Afonso ainda sendo príncipe herdeiro.

Ele recordava-se que neste baile, a princesa fugira de seu irmão como um diabo foge de água benta, graças a inconveniência do mesmo, tendo-o a salvado inúmeras vezes das baboseiras ditas por seu irmão graças aos inadequados cálices a mais de vinho.

Pensando nisto, Afonso possuía uma certeza assustadora de que tudo não passara de um capricho e uma forma de tentar forçar a princesa a aceitar algum tipo de acordo, ele sabendo bem a qual seu irmão recorreria, para que ela pudesse reaver, comandar e reconstruir as terras que lhe eram de direito.

Ainda absorto em pensamentos e realizando sua função de modo automático, Afonso deixara-se vagar pelo dia que fora escoltado, com as mãos amarradas como se fosse o mais perigoso dos animais, para a parte frontal do castelo para a carroça que o aguardava para encaminha-lo ao inferno na terra, conhecido como Pedreira de Angór, para cumprir o seu destino até então traçado pelos cidadãos de seu reino natal.

Ainda estavam atravessando o extenso corredor, mantendo a cabeça erguida com a dignidade advinda do sangue dos Monferrato que corria por suas veias, quando percebeu um movimento nas sombras de uma das pilastras de sustentação, reconhecendo quase imediatamente a figura que o observava e agora encaminhava-se para a luz, afim de se fazer reconhecida.

Acompanhada de outra figura que ele não pôde reconhecer por esta ainda estar entre as sombras, Catarina de Lurton encontrava-se agora parada a sua frente, com uma expressão de neutralidade adornando o belíssimo rosto banhado pelos fracos raios solares que conseguiam invadir o local, trajando um belo vestido com as cores terrosas do reino de Montemor.

No entanto, além do fato de os guardas simplesmente terem interrompido o trajeto ao se darem conta da presença da princesa sem que ela nem mesmo pronunciasse uma palavra para isto e que ela definitivamente combinava com o vermelho profundo marcante de seu reino, não fora isto que prendera a atenção do ex-rei na bela mulher a sua frente, esta que ele conhecia desde quando eram crianças correndo pelo labirinto de Artena.

Não, o que prendera o olha de Afonso na princesa foram os seus olhos.

Os belos olhos cor de ônix que em um dia quente de verão em Artena, próximos ao limite de um dos precipícios que lhes davam a visão vasta do oceano, ele os considerava como as águas diante dos dois: misteriosos e traiçoeiros, de incontestável beleza, sem tempo determinado para admira-los e para tentar desvenda-los, revelando seus mais íntimos segredos e abrir seu coração para aquele que encontrasse o caminho.

Mas, naquele momento, estes mesmos olhos se encontravam opacos, sem o característico brilho de determinação e malícia que sempre estavam presente quando se encontravam e travavam algum tipo de discussão enluvada, que os dois gostavam demasiadamente, mesmo que não percebessem.

Quando se dera conta que a falta que sentira da vivacidade que encontrava no olhar da morena a sua frente era graças a sua atual situação e ao seu irmão, diferente do que pensara que sentiria, Afonso sentira-se indignado.

Rodolfo tornara-se tirano a ponto de não perceber o mal que estava causando a aquela mulher e a todas as outras pessoas, vítimas das atrocidades dele contra seu próprio reino e ao dela, tentando claramente induzi-la a aceitar qualquer ridículo acordo matrimonial apenas por um capricho que logo passará e que ele não admitirá ter falhado em conseguir, como um verdadeiro príncipe mimado que ele era e se mostrara aos demais.

Surpreendendo-o, Catarina se aproximou, enroscou os braços em seu pescoço sem nem mesmo arrancar qualquer reação dos guardas e descansou seu delicado rosto em seu pescoço.

Percebeu que ela ficara na ponta dos pés para fazer com que sua boca colasse em seu ouvido, causando um arrepio inconsciente na extensão do corpo do ex-rei, e mais uma vez o pegando de surpresa, ela simplesmente sussurrou:

— Me aguarde, Afonso. Logo arranjarei uma forma de tira-lo daquele inferno chamado Pedreira de Angór. Peço apenas que tenha paciência, meus recursos no momento são limitados. Mas, uma coisa lhe garanto: você sentará novamente no trono de Montemor, seu lugar de direito, sendo o rei que eu sei que você está destinado a ser, nem que para isso eu tenha que abrir mão de minha vida e de meu reino. Confio em você a minha vida.

Atordoado, ele não percebera quando ela lhe soltara e sumira por entre a escuridão do corredor, sendo acompanhada pela sombra que ele não conseguira identificar. Ele nem se quer conseguira perceber ou lembrar do momento em que os guardas o colocaram em movimento novamente.

Afonso sabia que os dias na pedreira não seriam fáceis e nem saberia se sobreviveria, ele somente sabia que graças a aquelas palavras de Catarina, algo dentro de si acendia-se de uma forma que a muito ele não sentia: esperança.

Sim, Afonso tinha certeza de que Catarina cumpriria com o que lhe prometera, ele só esperava que ela não se ferisse ao tentar ajuda-lo, pois ele a queria viva e ao seu lado para vê-lo assentar-se no trono que ele não deveria ter virado as costas, mas que se preciso fosse, daria todos os dias de sua vida para a rendição de seus erros para com os cidadãos de Montemor e os de seu irmão para com Artena, Augusto e Catarina.


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Notas finais do capítulo

Me deem um feedback, please babies!



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