V E N U S - Origin escrita por badgalkel


Capítulo 8
1.7 Oxford




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Universidade de Oxford; Oxford, Inglaterra - RU.

Assim que Harriet pôs os pés para fora do avião, respirou o ar gélido e refrescante da Inglaterra. Aprendera a apreciar a diferença, havia algo de cordial nos ares de lá.

Tudo tinha um conceito mais clássico e luxuoso, mesmo os pontos de ônibus e bordeis espalhados pelo centro da cidade. A cores vermelho, azul e branco caíam de forma charmosa sob a cidade. Induzia-nos acreditar que todos os ingleses fossem igualmente cordiais e charmosos.

Harriet estava na companhia de um agente, que foi instruído a deixá-la especificamente na porta da Universidade de Oxford para que não houvesse contratempos e divergências de informações. Além de cuidar da sua proteção, uma exigência do próprio Coronel Philips.

Assim que chegaram a porta do carro foi aberta e ela saltou para fora, quase engasgando-se com a própria saliva quando reconheceu quem abrira a porta para ela.

— James? - Soltou surpresa.

— É um prazer revê-la, Srta. Stark. - Disse sorrindo gentilmente, vestido com o uniforme americano que o vira pela primeira vez, e beijando-lhe as costas da mão.

— Mas... - olhava para os lados, procurando uma explicação plausível para tal acontecimento. - O que está fazendo em Oxford?

— Um dos superiores requisitou exclusivamente a minha pessoa para... - ele riu anasalado - garantir a sua segurança, novamente.

Ela franziu o cenho e assim que Peggy veio à sua mente, ela sorriu incrédula, mordendo o lábio inferior.

— Pensei que havia se dado por farta de mim. - Ele caçoou.

— Oh, - fez-se de surpresa - pensa que eu quem pedi exclusivamente a sua pessoa para a minha segurança?

— Seria ultrajante? - Incitou.

— Deveras, sargento. – Disse ao sorrir abertamente. - Eu suponho que, na realidade, o senhor soube que eu estava a caminho e se ofereceu para me proteger. Deve ter ficado muito entediado depois da minha partida.

— Não posso negar. - Revelou verdadeiramente – Os dias ficaram definitivamente mais sombrios.

Percebendo a tensão crescente no assunto, ela decide-se por perguntar: - Como está?

— Bem, e você? – Respondeu puxando-a para um rápido abraço. Os braços envoltos a cintura dela e sua cabeça encostada em seu peito.

— Existindo por enquanto. - Murmurou quase sem voz.

A buzina do carro, o qual ainda estava parado com a porta aberta, assustou-os, fazendo-os se afastar automaticamente.

— Srta. Stark, não quero interromper - o agente ao volante disse - mas preciso chegar ao hotel antes das onze, lá irei me encontrar com chefe de segurança do hotel. Já que está na companhia do Sargento Barnes, se não se importa...

— Ah, claro. - Disse corada, recolhendo sua bolsa de mão e fechando a porta do carro que num instante partiu.

Os dois assistiram o carro desaparecer por entre os outros até Barnes pronunciar indicando a universidade com a cabeça: - Então, vamos?

— Ah, sim! - Soltou - Precisamente.

— Então... - instigou o sargento enquanto caminhavam oferecendo o braço direito à dama, que não hesitou em laça-lo - como tem ido a pesquisa?

— Está me perguntando sobre um assunto confidencial? – Retrucou sorrindo marota. O sargento fora abrir a boca para se explicar quando ela riu. - Tem ido bem, em partes. Teve que dar uma pausa, mas acredito que logo estará finalizada.

— Fico feliz em ouvir. - Revelou.

— Senhorita Stark! - Uma voz exaltada chamou-os a atenção.

Harriet sorriu sem graça na direção do senhor que parecia emocionado demais. Ele avançou na direção da mulher, pegando sua mão livre e depositou diversos beijos ali.

Ela olhou para Barnes, que fez uma careta, e delicadamente puxou a mão dos lábios do homem de cabelos grisalhos revoltados, suéter xadrez, calças amarrotadas e óculos tortos.

— Perdoe-me a excitação. - Ele disse - Não é sempre que vemos uma das mais brilhantes físicas desta geração.

— Obrigada. - Harriet sorriu educada.

— Devo dizer que é uma grande honra conhecê-la, senhorita.

— Digo o mesmo, professor. - Ela retribuiu.

— Suponho que este seja seu companheiro. - O professor disse, erguendo a mão para Barnes.

— Sargento Barnes, professor. – O rapaz apertou-lhe a mão educadamente. – É um prazer conhece-lo.

— Bom, - o professor encarou Barnes por um instante fixamente antes de, num piscar de olhos, voltar à sua animação - Seguimos ao que realmente interessa, certo? Sigam-me, por favor.

Barnes riu sem compreender as reações inesperadas do homem, fazendo-a rir também, e o seguiram pelo caminho de pedras por entre o bem cuidado gramado da Universidade.

Eles percorreram um longo caminho entre corredores repletos de mármores até chegarem a uma porta de madeira rústica, a qual o professor abriu e indicou que entrassem.

Os dois avançaram e se depararam com uma sala repleta de carteiras estudantis, quadros negros, livros, papéis, réguas e espátulas. No final desta sala, havia outra porta.

Esta menor.

O professor retirou do bolso da calça amarrotada um conjunto com diversas chaves e com uma, abriu a porta. Esta sala, menor que a anterior, encontrava-se repleta de prateleiras com frascos de conteúdos estranhos.

O homem seguiu para um corredor específico e de lá puxou uma caixa de madeira, semelhante a um baú. Voltou-se para os dois e, com outra chave do molho de diversas chaves, abriu o baú, revelando seu conteúdo.

Harriet desatrelou o seu braço do sargento para segurar o baú com suas próprias mãos. Vendo de perto, pôde reconhecer que aquele era o tal nióbio qual Howard tanto procurava.

— Ele é cem por cento puro, retirado das profundezas da floresta Amazônia, no Brasil.

— Impressionante. - A mulher murmurou. - Quanto quer por ele?

— Imagine, - disso o homem recusando com as mãos gorduchas - pode levá-lo, precisarão muito mais que nós.

— O senhor vai me dar mais de um quilo de nióbio de graça? – Indagou estupefata. - Por favor, eu insisto...

— Não, querida. – Recusou imediatamente.

Barnes, treinado em se atentar a atitudes suspeitas, reparou no suor escorrendo na lateral do rosto do homenzinho e suas mãos trêmulas. Contudo, nada disse, deixou que a conversa fluísse sem interrupções.

— Eu não tenho como agradecê-lo, professor. - Harriet sorriu - O senhor está ajudando o futuro das nossas nações.

— Fico feliz em poder ajudar. - O homem soprou sorrindo amarelo. - Principalmente para algo que revolucionará o mundo. Vejo muito potencial na senhorita.

— Obrigada, professor. - Ela sorriu doce - Não decepcionarei.

Assim que deixaram a sala, um jovem solicitou a ajuda do senhor para um cálculo que não compreendera e o homem deixou-os sem hesitar. Barnes o acompanhou com os olhos até que desaparecesse pelo corredor.

— Isso foi mais fácil que eu pensei que seria. - Admitiu Harriet.

— Fácil até demais. – Murmurou entre dentes. – Tem certeza que é isso o que realmente procura?

Harriet franziu o cenho e abriu a caixa novamente, avaliando o conteúdo de cor metálica posto em seu interior.

— Acredito que sim. – Ela respondeu ao fechar a caixa. – Por quê?

— Esqueça. – Deu de ombros e ofereceu-lhe o braço, qual ela novamente aceitou. - Quanto, exatamente, vale isto aí? Parece ser muito precioso para você e o gorducho.

— Agora, por conta da guerra, um quilo custa por volta de vinte e seis mil e quinhentos dólares - calculou rapidamente fazendo aquela ruga distinta surtir por entre suas sobrancelhas.

— Por Deus, - soprou surpreso e indicou o pequeno baú nas mãos da jovem ao aconselhar: - Segure isso bem.

Harriet riu enquanto eles voltavam pelo mesmo corredor o qual haviam passado anteriormente. Pelas grandes aberturas laterais podiam-se observar diversos estudantes vagando pelo vasto campus verde e bem cuidado.

Alguns deles repousavam sobre a grama, alguns liam sentados ao pé de árvores, outros andavam apressadamente e parte deles apenas jogavam conversa fora.

Barnes mirou a cena melancolicamente e engoliu em seco, gesto que não foi despercebido pela mulher ao seu lado.

— Está tudo bem?

— Sim, - ele sorriu acanhado - é só que... Fico pensando como seria minha vida agora caso não tivesse ingressado no exército tão jovem.

As velocidades dos passos foram diminuindo até cessarem, quando ambos se viraram para fitar o cenário.

— Teria frequentado um lugar como este, - ele deduziu - provavelmente já teria terminado o curso. Arquitetura, acho.

— Arquitetura? – Ela repetiu ao sorrir - É uma área extremamente interessante.

— É, - soprou retribuindo o sorriso - eu teria um belo emprego. Teria uma bela casa e um belo carro. Talvez já teria uma família, esposa e filhos.

Harriet engoliu em seco, imaginando-o chegar em uma casa comum com uma mulher de estereotipo recatada e responsável pelo lar, crianças que herdaram seus enigmáticos olhos azuis correndo ao redor da mesa de jantar enquanto ele está sentado aguardando o preparo da refeição.

Se encolheu.

Ela não se encaixava nesta cena. Nunca seria o tipo de mulher que fica em casa para servir seu marido e filhos e não tem uma carreira própria.

— E isso seria extremamente entediante. - Ele completou, fazendo-a franzir o cenho em confusão. - Eu não consigo me imaginar nesta vida padronizada.

Harriet riu nasalada, levemente aliviada.

— Talvez eu teria aceitado isso antes, apenas seguir o rumo certo de uma vida padrão e satisfatória. - Ele fez uma careta – Mas você me fez enxergar coisas eu nunca havia reparado.

— Como o que? – Indagou curiosa. – Por exemplo.

— Não tenho que ter uma vida inteira dedicada ao militarismo só porque meus descendentes tiveram essa mesma carreira. – Deu de ombros. – Não preciso, necessariamente, viver para trabalhar para sustentar uma família de cinco pessoas.

— Exato!

— Eu tenho capacidade de me aprofundar nos estudos e crescer profissionalmente tanto quanto qualquer pessoa.

— Você pode revolucionar o mundo, se quiser. – Incentivou-o o encarando face a face. – Basta acreditar ser possível e lutar para que isso aconteça.

— É, eu sei. – Suspirou encarando aqueles enigmáticos olhos castanhos quais sentiu tanta falta. - Você me mudou, Harriet. Abriu os meus olhos.

— Não, - ela sorriu. – Você mesmo fez isso. Acreditando no seu potencial.

— Mas você me motivou e, por isso, serei eternamente grato.

Ela sorriu ainda mais, desviando os olhos dos azuis hipnotizantes.

— Admito que, - ele disse desconsertadamente enquanto coçava a nuca – foi sentida a sua partida. Apesar de saber que estaria mais segura longe daquele lugar.

Harriet voltou sua atenção ao sargento.

— Depois que você foi embora, - ele deu de ombros - foi como se toda a cor que havia colocado no mundo se fora junto com você. Eu... – ele passou a mão pelos cabelos em sinal de nervosismo, procurava se distrair com pequenos atos quando se sentia assim. - Realmente pensei que nunca mais a veria novamente. Nunca havia me sentido tão melancólico, nem por falta de casa, ou da minha família ou de qualquer outra coisa.

Harriet pousou sua mão sob a bochecha de Barnes, depositando um leve carinho no local. Sem desviar seus olhos dos dele fez com que ele perdesse completamente o rumo de seus pensamentos. Quais havia ensaiado frente ao espelho durante horas antes do encontro.

Nunca havia ficado sem jeito de falar com as mulheres, afinal, era um galanteador. Mas com Harriet tudo era diferente.

Era novo.

Era excitante.

E encantador.

Presos em uma conexão tão intensa que os demais ao seu redor pareceram evaporar. Nenhum ruído, nem mesmo de suas respirações foram percebidos.

No entanto, quando estavam a ponto de tocarem os lábios um do outro, o rapaz sente-se observado e, pior, ameaçado.

Ele desvia do rosto da jovem, que de início não compreende sua atitude, e, antes que pudessem ao menos falar, ele a empurra para longe.

O sonido abafado de um tiro rompe o silêncio e o momento.


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