V E N U S - Origin escrita por badgalkel


Capítulo 7
1.6 O Nióbio




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As ruas de Nova York costumavam ser agitadas até mesmo em altas horas da noite. Era rotineiro se deparar com jovens entrando e saindo de bares, casais passeando à luz das estrelas e até mesmo crianças brincando.

Depois que foi dada a largada na guerra armamentista nem mesmo em horários de grande movimentação não se vê um indivíduo circulando aleatoriamente por aqueles lados. O medo faz as pessoas se recolherem e se sentirem inseguras até mesmo dentro de suas casas.

O Brooklyn era um dos bairros mais afetados com a ausência de seus moradores, uma vez que a maioria fora convocada a participar da guerra e o que lhe restou vive em hibernação desde a evolução das ameaças.

Por ser considerado um bairro discreto o Brooklyn abriga o laboratório de investigação da superintendência estrategista, qual estava a todo vapor com a análise de suas amostras.

— Classificação de tipos sanguíneos, por favor. - Harriet solicitou, ajeitando os óculos protetores aos olhos, e prancheta para anotações em mãos.

— Grupo A positivo, 57 pessoas; Grupo A negativo, 45 pessoas; Grupo B positivo, 17 pessoas; Grupo B negativo, 21 pessoas. – Alex informou, observando as amostrar à sua frente.

— Total de 140 indivíduos dos primeiros grupos. - Richard declarou.

— Próximo. - a mulher pediu. - AB positivo e negativo.

— Positivo são 14 pessoas e negativo, 9. - Richard informou.

— A contagem do grupo O são de 160 pessoas.

— 150 amostras foram comprometidas, portanto são inacessíveis.

A jovem socou o balcão de alumínio com força, irritada, assustando seus colegas no laboratório.

— Fluídos cerebrais desperdiçados. - Negou com a cabeça. - Como isso foi acontecer? A refrigeração não foi suficiente?

— O equipamento do Dr. Erskine recusou as 150 amostras.

Harriet estranhou, franzindo o cenho.

— 323 aceitos e 150 recusados - refletiu, sentando-se em uma grande e branca poltrona giratória.

A mulher lambeu os lábios lentamente enquanto girava-se vagarosamente na poltrona, observando atentamente o local que passava diante de seus olhos. De repente, parou.

— Durante as verificações, as recusas foram aleatórias ou existe um tipo de padrão?

Os doutores se entreolharam.

Antes mesmo de responderem Harriet se apressou até os relatórios. Não precisou correr os olhos mais que uma vez pela folha para constatar o erro.

— A cada quatro amostras e meio aceitas, uma era recusada. - A mulher se virou para o equipamento e inclinou a cabeça, para ter uma perspectiva diferente.

— Harriet...

— Só um minuto, - interrompeu o colega - eu preciso... - e deitou-se no chão, em frente ao equipamento.

— Descansar? - Richard arqueou uma sobrancelha - Tem toda razão, estamos aqui já tem mais de 48 horas seguidas e você...

— Calado. - interrompeu-o novamente, acomodando-se no chão frio.

O silêncio prolongou-se por um curto período, até que ela saltou do chão num segundo.

— É o chão, - andou de uma ponta do laboratório à outra. - Ele tem um decline de 4,2 graus.

Alex e Richard miraram o piso debaixo de seus pés.

— Impressionante... - murmurou Alex.

— Como... - Richard encontrava-se confuso.

— Não é nítido, mas percebe-se de um ângulo específico. - Explicou anotando sua descoberta nos papéis.

— Tem um decline... - refletiu Alex - então temos... Que colocar um calço na máquina?

Harriet riu.

— Gostaria que fosse mais simples.

— Poderíamos levar o equipamento para um piso que seja alinhado. - Sugeriu Richard.

— Olha o tamanho desta máquina, acha mesmo que ela passa pela porta? - Contrapôs Alex.

— Vamos precisar montar um transfusor inclinado para a direita 4,2 graus. - Declarou Harriet. - Chamem o Howard.

—x-

— É, tem razão. - Confirmou o mais velho, bocejando - Precisamos montar um transfusor inclinado 4,2 graus para a direita.

— Então, já pode começar. - A jovem determinou agitada.

— O que? - Howard indagou, conferindo seu relógio de pulso. - Harrie, são 03h40min da madrugada!

Harriet mirou o irmão, ainda com seu calção de dormir, olhos inchados e cansados de quem nada descansou.

— Me mostre como e eu faço, assim pode voltar a dormir. - Disse indicando as ferramentas do irmão.

Howard continuou encarando-a.

— Não estou cansada. - Ela justificou.

— Não está cansada? - intrigou-se - Você está exausta! Está neste laboratório desde que chegou, trabalhando por contínuas horas sem parar.

— Tudo bem, eu o faço sozinha. Se não se importar vou pegar alguns de seus livros emprestado. Me dá uma carona? - Perguntou retirando o jaleco branco de seu corpo e vestindo seu casaco de lã vermelho.

— Harriet, por mais que aprenda a montá-lo hoje, não tem como. A matéria prima está escassa, o nióbio com que montei era o único que tinha. - Explicou - Como terá que ser montado inclinado, precisaremos do material ainda mais concentrado, puro.

Harriet parou por um instante e suspirou.

— Droga! - Murmurou esfregando as têmporas.

— O que está acontecendo? - Howard indagou, estranhando a irmã. - Por que essa obsessão com este projeto?

— Não estou obcecada. - Respondeu imediatamente.

— Ah, não? - Howard encarou-a intensamente, fazendo-a desviar-se em menos de cinco segundos. - Quando me referi para investir sua mente em algo, não pensei que fosse exagerar.

—  Só quero entregá-lo logo.

— Não é só isso. - Discordou - Está... Diferente. Quer falar sobre isso?

Harriet engoliu em seco.

— Eu só quero terminá-lo logo para que esta guerra cesse logo.

— Não minta para mim, - riu nasalado - eu sei quando você mente.

Harriet suspirou, contrariada.

— Tudo bem, - ele murmurou - não precisa me contar. Eu entendo que é muito cedo para falar sobre aquilo. - Harriet encarou-o inquieta - Amanhã pego um voo até a Austrália para ver se consigo mais do ferro para você. Só... - fechou os olhos, cansado - por favor, vá descansar.

Harriet sorriu e assentiu, seguindo o irmão para fora do laboratório.

À tarde, naquele mesmo dia, Howard embarcou em um voo em direção a outro continente, solicitando que Harriet repousasse e só retornasse ao trabalho quando ele estivesse de volta, para seu próprio bem.

Mas ela sentia-se inválida estando parada, sem colaborar com algum progresso em qualquer coisa que fosse, portanto dirigiu até a base militar em Wheaton.

A jovem foi recebida pelo Coronel Philips assim que chegou.

— Srta. Stark, - cumprimentou - que surpresa vê-la por aqui hoje.

— É um completo desperdício de criatividade ficar em casa em um momento como este.

— Tem toda razão. Contudo, - frisou - toda a equipe técnica e estratégica foi para a Austrália com o Sr. Stark, presumo que seus trabalhos não são necessários no momento.

Ela suspirou frustrada.

— Poderia analisar os padrões subalternos de seus homens...

— Eu ao menos sei o que isso quer dizer. - O homem admitiu.

— Na verdade é uma desculpa, coronel - outra voz feminina adiantou-se em explicar - para que ela fique e encontre quaisquer outras tarefas que a entretenha. Estou errada?

Harriet suspirou e virou-se para encarar a dona da voz. Em um uniforme extremamente limpo e com uma leve maquiagem no rosto, Peggy Carter a encarava de maneira acusatória.

— Coronel Philips... - um soldado chamou-o, tomando sua atenção. - O senhor tem um recado, pediram-me para requisitá-lo com urgência.

— Senhoritas, de me deem licença. - Requisitou pouco antes de se afastar e seguir o soldado.

Harriet aproveitou a deixa para aproximar-se da agente, que ainda a encarava.

— Agente Carter. - disse estendendo-lhe a mão, séria.

— Senhorita Stark. - A outra retribuiu, apertando-lhe a mão e puxando-a para um abraço.

Ambas riram.

— Me dedurando na cara dura, - disse a mais jovem logo após se separarem - pensei que fosse minha amiga.

— E sou, - respondeu ela - e por isso me preocupo com você.

— Vai começar... - murmurou entediada.

— Howard me contou sobre o ataque, os pesadelos, - Harriet se encolheu minimamente - e que você apareceria aqui hoje.

O sangue, os corpos, os ferimentos... Estavam presente todas as vezes que ela fechava os olhos. Por isso não dormia. Por isso ficava constantemente concentrada em algo.

As imagens a amedrontariam para o resto da vida.

— Típico dele. - Revirou os olhos teatralmente.

— Sabe que ele tem razão, não é? - Incitou-a. – Não acha que deveria procurar um profissional que lhe ajudasse...

— Howard está certo em noventa por cento das situações, - assentiu, cortando-a. - mas eu estou completamente renovada depois que dormi. – Mentiu. – Portanto...

— Não vou te contestar. Sabe o que é melhor para a sua saúde porque, afinal, a médica aqui é você.

— Obrigada. - Sorriu.

Elas começaram a caminhar pelo campo, que aquele horário se encontrava vazio.

— Os homens saíram para um treino externo, - explicou a agente - Grand os levou para verificar todas as suas condições possíveis.

— Certamente. - A outra concordou.

— Apesar de tudo, - disse cuidadosamente – como foi à experiência em Londres? - Indagou-a educadamente.

— Reflexiva, - respondeu simplificadamente, acrescentando em seguida: - me fez pensar em muito. Ainda assim a maioria dos soldados colaborou e assim conseguimos amostras da maioria... - engoliu em seco – dos soldados da base.

— Excelente! - Parabenizou-a.

— É... - A jovem sorriu fraco, mantendo em mente apenas os momentos bons, e excluindo aqueles que tanto a atormentavam.

— Suponho que o olhar apaixonado não seja referente à somente isso. – Declarou observadora.

— Não sei do que está falando. - Desconversou, evitando os olhos da amiga.

— Tudo bem, - a mulher sorriu - sinto que ficarei sabendo sobre isso em algum momento.

Seguiram caminhando em silêncio, com o sol cálido sob suas cabeças. Chegando à sombra de uma árvore, sentaram-se confortavelmente.

— O nome dele é Barnes, James Barnes. - Harriet manifestou-se, dada por vencida.

Peggy sorriu, incentivando-a continuar.

— Ele foi quem o tenente pôs para cuidar da minha segurança caso alguma eventualidade acontecesse. A pedido do Howard, claro. - Explicou calma.

— Então, o que houve? - A agente perguntou instigando a amiga.

— Nada demais, - deu de ombros, suspirando - nós conversamos. Muito, aliás.

— Sobre algo em específico?

— Sobre tudo, - expôs - nossos pontos de vista sobre as coisas, pessoas e o mundo.

— E descobriu que são semelhantes. - Concluiu sorrindo.

— Não, - negou imediatamente - completamente ao contrário. Somos absolutamente diferentes. - Peggy franziu o cenho - Mas isso foi bom. Foi o que nos instigou. São como conceitos vistos de ângulos diferentes, mas com o mesmo significado. Entende?

— Compreendo.

— Eu nunca conheci ninguém igual. - Admitiu - Uma boa pessoa com as melhores intenções.

Harriet olhou o horizonte, com uma pontada de tristeza em seu olhar.

—  Ele foi o primeiro homem, exceto o Howard, que me respeitou por quem eu sou e não por ser uma Stark. - Relevou - Ele me admira pelo o que posso fazer e não se entedia ouvindo-me falar sobre as minhas teorias. Além do mais, - hesitou dramaticamente – ele afugentava os pesadelos. De alguma forma, conseguia dormir tranquila depois de conversar com ele.

Peggy sorriu abertamente.

— Mas nada importa agora, - revelou, pegando a agente de surpresa.

— E por qual razão?

— Ele está na guerra, Peggy - disse - Sabe-se quando irá acabar, se vai realmente acabar, se ele sobreviverá ou, sequer, iremos nos encontrar novamente.

— Não seja tão desesperançosa, - aconselhou-a - podemos ser surpreendidos pelo destino. Não temos ideia do que pode acontecer.

— Não gosto de probabilidades incertas, - garantiu - trabalho apenas com certezas e exatidão. Eu vi o que a guerra pode causar, e ela não é piedosa.

— Não desista. - Pediu - É saudável se relacionar com as pessoas, ainda mais aquelas que nos fazem bem.

— Me senti viva. - Admitiu - Como se pudesse respirar novamente, sem a pressão... disso aqui. - Indicou o espaço ao seu redor. - Não quero ser ingrata, sou eternamente agradecida por todo o suporte e proteção que Howard me propôs - pôs a mão sob o peito - mas sinto como se não pudesse viver da maneira que eu quero, com minhas próprias decisões, sempre tendo que pensar em quem sou e o que esperam de mim.

— Imagino o quão seja difícil. - Confortou-a tocando-lhe o ombro.

— Enfim, - desconversou, mudando completamente de assunto - você havia comentado que ia se mudar daquele apartamento minúsculo, conseguiu?

—x-

Três dias haviam se passado e Harriet recebeu a notícia de que seu irmão nada encontrara, mas que, contudo, continuaria procurando por algo que pudesse substituir a matéria prima.

Harriet já estava a ponto de explodir de tanta agonia. Nada podia fazer sem o novo transfusor, nenhuma análise, nenhum teste... Nenhum progresso.

Todos os dias ela se direcionava para a base, contribuindo com algo que pudesse auxiliar o Coronel Philips e cessar as suas fortes dores de cabeça. Os pesadelos não cessavam e ela tratava com cafeína a sua falta de descanso.

No final do quinto dia Harriet, o coronel e a agente Carter receberam um recado interessante: - O professor Braun, da universidade de Oxford, comunicou que pode ter até um quilo do tipo da matéria que estão procurando. Ele usa para experimentos com os alunos e pode doá-lo ao governo, se estiverem interessados.

— Ele especificou qual é a matéria? - Harriet indagou.

— Não, apenas disse que é um tipo de ferro. - O garoto respondeu.

— Como ele ficou sabendo que estamos procurando uma matéria? - Carter indagou desconfiada.

— Emitimos um comunicado. - Revelou o coronel - Depois do terceiro dia a procura, estamos ficando um pouco desesperados.

— Como saberemos se este é realmente o tipo de ferro específico que vocês precisam? - Indagou Carter.

— Podemos emitir outra mensagem. - Sugeriu o garoto.

— Não, nestes tempos é muito arriscado. - Vetou o coronel - já nos arriscamos demais emitindo o primeiro, se os alemães souberem que estamos à procura deste material em específico fará de tudo para que não consigamos.

— Então terei que ir até lá. - Harriet se maifestou. - Não tem ninguém disponível aqui para ir fazer o reconhecimento, a não ser eu.

— Howard não vai gostar de saber que vai para a Inglaterra novamente. - Peggy disse.

— Ele não tem que gostar, - disse a jovem - quando estiver com o ferro nas mãos ele ao menos se importará quais meios foram usados para consegui-lo.

— Ela tem razão, não podemos perder mais tempo algum. - O coronel concordou - Prepare-se Srta. Stark, pois vai retornar à Inglaterra.


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Notas finais do capítulo

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