V E N U S - Origin escrita por badgalkel


Capítulo 4
1.3 DIVISÃO 107º




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Base militar Americana, Campo 107º; Londres, Inglaterra - RU.

O silêncio da madrugada é brutalmente interrompido com o chiar das rodas do carro moderno deslizando pelo chão barroso. A escuridão assolava a floresta de inúmeras árvores altas e maciças, exceto a quota a qual as luzes dos faróis iluminavam.

O automóvel percorreu por um longo período até chegar em portões de madeira escoltados por soldados americanos armados. O motorista informou-os o motivo da entrada e em pouco tempo a passagem lhes foi liberada.

O campo aberto que se deu em seguida mostrou-se movimentado por diversos indivíduos concentrados em suas diversas tarefas, enfermeiras, soldados, médicos, cozinheiros, prisioneiros, e aspirantes, todos submersos em seu próprio mundo.

Logo que o carro estacionou os três integrantes desceram, dois deles diretamente se dirigiram ao porta-malas para retirar as monstruosas bagagens que ali estavam enquanto um ficara para cumprimentar a figura corpulenta e de face raivosa que se aproximava, seguida por uma menor.

— Tenente Malcon divisão 107º se apresentando. - o maior bateu continência. - Fui notificado sobre a chegada de uma equipe de reforço médico.

— Somos nós mesmos. - a jovem respondeu sorrindo, indicando a si e os outros dois, quais depositavam as bagagens ao chão.

— Imaginei que por ser denominada equipe, fosse constituída por mais... De uma meia dúzia de pessoas. - enunciou desconfiado.

— Garanto ao senhor que somos o suficiente para o trabalho que nos foi passado. - garantiu a mulher.

— E suas patentes são...

— Cirurgiã chefe, Doutora Stark. - indicou o nome bordado ao peito - E estes são os doutores Heicht e Wilson, meus auxiliares.

— Agora compreendo. - declarou o tenente, sorrindo petulante. - A solicitação de uma guarda de segurança para uma simples equipe médica havia me deixado curioso, no entanto, se tratando de um Stark...

— Não solicitei nenhum tratamento especial, tenente. - respondeu dura - Apenas vim cumprir com o meu papel de cidadã americana e ajudar da forma que me foi resignada.

— Então espero que não se importe se não formos hospitaleiros o suficiente para a senhoria, - retrucou o maior - a ultima coisa que meus homens precisam são distrações desnecessárias. Suas tarefas são de demasiada importância para que se preocupem com encargos além da proteção deles mesmos.

— Compreendo perfeitamente, tenente.

— Esta é uma área de guerra senhorita, e se não consegue manter-se viva por si só, sugiro que volte ao mesmo lugar de onde veio.

O tenente estava pronto para dar as costas para os três recém-chegados, contudo a voz adocicada o impediu.

— Se me permite, tenente. Gostaria de lembrá-lo em nome de quem estou aqui presente neste momento. - incitou - O Coronel Philips me alertou de antemão a hesitação do senhor, que de início se negou a colaborar com um projeto de cunho confidencial.

"Porém, como não cabe ao senhor decidir se tal incumbência é necessária ou não, estou aqui a mando do governo americano, que especificamente indica, o nosso sábio presidente pra coletar amostrar de seus homens, quais serão igualmente beneficiados com o projeto."

Harriet sentiu o tenente se encolher minimamente.

— Sargento Barnes - bradou o tenente de repente, assustando os demais.

— Sargento Barnes divisão 107º se apresentando, senhor - manifestou-se o menor, coberto pelas sombras, batendo continência.

— Sua tarefa daqui em diante é acompanhar a senhorita Stark onde quer que vá, 24 horas por dia e assegurar a sua segurança igualmente como a de seu projeto.

— Isso não é necessário...

— Ah, eu faço questão. - o tenente a interrompeu, sorrindo contragosto.

A jovem mordeu a bochecha internamente e assentiu, afinal, havia feito um acordo com Howard e, por mais desnecessário que pensasse ser, sabia que ele teria noção se ela não cumprisse com sua parte do acordo.

— O sargento irá apresentar-lhes seus aposentos. - informou o maior, antes de se retirar - Espero que não seja deveras básico para a senhoria.

— Me acompanhem, por favor. - anunciou o Sargento, antecipando-se em prestar a gentileza de carregar algumas das malas estampadas com o símbolo das Indústrias Stark, antes de virar-se para uma direção oposta à que o Tenente havia ido.

Á medida que caminhavam, Harriet mirava a figura à sua frente, que pouco era iluminada devido aos limitados postes de luz improvisados espalhados pelo campo. Ela tentava mirá-lo, mas este parecia intencionalmente virar o rosto conforme as sombras.

Não demorou muito para chegarem à primeira cabana, feita de lona grossa e grande o suficiente para uma dúzia se acomodar. Os rapazes levaram consigo seus pertences mais os utensílios que usariam para recolher as amostrar e refrigerá-las. E logo os dois restantes continuaram seu caminho.

Chegaram a uma cabana menor. O Sargento educadamente puxou o tecido grosso, abrindo-a, e indicou que a jovem entrasse.

Harriet adentrou o ambiente escuro e assim que seus olhos se acostumaram com a escuridão pôde identificar quão pequeno era o espaço que, para ela, bastava. Era composto por uma cama de solteiro de ferro, um caixote de madeira pequeno e uma mesa de ferro quadrada posta no canto.

O baque evidenciando que a bagagem fora depositada no chão chamou sua atenção. Assim ela se virou para encontrar a face familiar, agora iluminada pelos flashes de luz que vinham da abertura.

Aqueles olhos azuis destoavam qualquer cor. Fitou-o surpresa.

— O tenente costuma amedrontar os recém-chegados, - murmurou ele, hesitante, sem mirá-la diretamente nos olhos - cá entre nós, ele é uma figura bem assustadora. Por isso... - riu pelo nariz - foi engraçado vê-lo se sentir ameaçado por uma garota do seu tamanho.

Harriet arqueou a sobrancelha.

— Suponho que seja normal em seu cotidiano, - continuou Barnes, finalmente permitindo-a contempla-lo diretamente nos olhos - intimidar os que te desafiam.

— Quando se é uma mulher nos tempos em que as pessoas as diminuem inconscientemente, você pode se inferiorizar ou mostrar do que é capaz. - afirmou. - É claro que prefiro a segunda opção.

— Isso é inspirador. - admitiu.

— Não pareceu ser sua opinião no nosso último encontro. - sorriu travessa.

— Assumo que fui um imbecil, - declarou abertamente, escondendo o rosto por entre as sombras - gostaria que soubesse que aqueles dizeres não definem quem realmente sou. Eles foram postos de maneira terrivelmente equívoca. Perdoe-me.

— Não sentencio as pessoas com simples amostras, e sim com a análise delas.

— Me permitirá lhe conceder mais das amostras? - sorriu charmoso. - Afinal nos tornaremos próximos, e garanto que não se decepcionará.

— Por favor, Sargento. – riu debochada - Esta é uma situação a qual eu dificilmente ocorreria e que nem de longe é do meu agrado.

"Não tive outra opção a não ser aceitá-lo ao meu lado. Meu objetivo aqui é único, e garanto ao senhor que não é me relacionar com militares. Portanto espero que saiba que sou imune aos seus encantos. Sinto desesperança-lo, porém garanto que deve haver uma garota de sorte por aí que queira analisar às suas amostras."

Barnes bufou, sem reação.

— A viagem foi longa e o dia amanhã será agitado, se me dá licença... - incitou a mulher.

— Claro, claro - murmurou ainda desconcertado, saindo por entre a fenda.

—x-

—  A-TEN-ÇAO! - gritou o Tenente Malcon, e automaticamente seus homens se posicionaram devidamente. - Está é a Doutora Harriet Stark, ela foi enviada diretamente do nosso país para cuidar da saúde de todos vocês.  - indicou a jovem ao seu lado - É de extrema importância que todos, sem exceção, compareçam ao ponto de atendimento médico para realizar os devidos exames. Sem mais, dispensados. - assim que os soldados se dispersaram, o tenente voltou-se à jovem - Satisfeita, senhorita?

— Por ora. -  declarou com um sorriso zombeteiro enquanto o assistia se afastar carrancudo.

Ela achava engraçado como os homens repudiam seguir ordens de uma mulher.

— Sargento Barnes se apresentando. - pronunciou de supetão às suas costas, pegando-a de surpresa.

— Por Deus, sargento. - soprou com a mão sob o peito. - Não vejo necessidade em bater continência toda vez que nos encontrarmos, portanto...

— É a regra, senhorita. – respondeu sério, acompanhando-a. - Qual o cronograma de hoje?

— Fazer testes. – informou-o. – Preciso de cinco homens para testes intensivos esta manhã para que na manhã seguinte eu possa extrair fluído cerebral e moléculas sanguíneas.

— Para que serve estes testes antes da extração? – indagou, levemente interessado.

— Além de conferir se estão aptos para a funcionalidade, para que após a extração possamos fazer os mesmos testes e nos certificarmos que eles estão tão saudáveis como antes.

— Parece animador. - soltou sarcástico.

— E é. – riu.

Portanto, no primeiro dia foram selecionados aleatoriamente cinco soldados para os testes, que levaram o dia inteiro. Coisa que enfureceu o Tenente. Ele não entendia como tirar a concentração de seus homens poderia ajuda-los na guerra.

Os dias se passaram vagarosamente. Assim como os resultados das coletas. Em cinco dias os médicos conseguiram coletar dez amostras de soldados diferentes. Contudo, estes estavam perfeitamente saudáveis como antes de terem cedido seus fluidos cerebrais. Nenhum fora afetado ou alterado, o que já era uma vitória.

Quando dada a data de retorno para a visitação solicitada por seu irmão, Harriet permitiu-se suspirar aliviada. Era preciso muita concentração para se coletar os fluidos, fazer os testes, se proteger de ataques surpresas, correr com seus materiais de um local ao outro e, ainda, manter resfriadas as amostras já coletadas.

  Apesar do número baixo, comparada à quantidade de soldados da divisão, Harriet estava otimista. Contudo, Howard não era tão positivo quanto à irmã.

— Demorou uma semana para retirar dez amostras? – vociferou.

— Howard. Apenas estou sendo o mais cautelosa possível. – explicou – Preciso ser, caso contrário posso ter uma fração de resultados errados e ao menos notar. O que acarreta ao fracasso do projeto. Portanto, tenha paciência. A pressa é inimiga da perfeição.

— Existe a possibilidade de um reforço de médicos? – sugeriu Howard. – Talvez em maior quantidade de pessoas...

— Teríamos que fazer uma seleção restrita, o projeto é secreto e já foi difícil liberar os doutores Heicht e Wilson para a coleta. – lembrou o coronel Philips.

— Uma ajuda seria bem vinda. – admitiu Harriet. – De profissionais altamente capacitados, claro.

— Tentarei providenciar para a senhorita, Harriet. – disse Erskine. – Enquanto isso leve o tempo que precisar, estaremos aguardando ansiosamente.

No primeiro dia da segunda semana, os soldados foram resignados a saírem da base móvel e auxiliarem outros em campo aberto. Assim Harriet não conseguira fazer testes em nenhum dos soldados. O que era decepcionante, ao seu ponto de vista.

O prazo era apertado e cada minuto perdido era um prejuízo contabilizado à nação.

Tal reação não fugiu do radar do observador sargento.

— Triste, doutora? - perguntou Barnes.

— Frustrada. Mais do que imaginei que estaria. - respondeu enquanto observava os frascos de amostras vazios.

— Sabe, a situação por aqui nem sempre é tão calma quanto a senhorita esta presenciando - informou. – Temos tido sorte em pegar pontos privilegiados e não darmos de cara com algum nazista. Os encontros são sempre muito sangrentos e mais do que simplesmente frustrantes. Agradeça por estar sentindo apenas frustração no momento.

Barnes não somava sua ignorância e grosseria antes de falar o que pensa. Ainda mais com uma "mimadinha de berço de ouro" feito Stark.

Ele tentou no início, afinal, a mulher estava ali a mando de superiores e não tinha que abrir os dentes para todos ao seu redor. Dado ás circunstancias, mulheres eram mal vistas quando ocupavam cargos de patentes altas, e ela sabia se impor muito bem ao fato. Ele não anularia esta conduta.

Entretanto a sua extrema falta de tato deixou-o farto e irritado. Por um longo período ele calculava suas atitudes só para ser bem visto por ela. Sua relação não melhorou. Assim, permitiu-se ser tão bruto quanto.

Todavia, desta vez, ela encolheu os ombros.

Pensou naqueles com quem estavam convivendo ultimamente, quais descobriu por serem atenciosos e completamente zelosos por sua segurança.

Por mais que seu Tenente não tenha resignado outros além do estúpido Sargento para isso, os outros contribuíam até mais que ele.

Havia conhecido homens de diferentes culturas e histórias. Pais de família grande, solteirões arrogantes, irmãos cuidadosos, viúvos angustiados e jovens corajosos. Todos com um pouco de conhecimento e experiência para passar e alertar.

Assisti-los morrer lhe partiria o coração. Tanto quanto saber que outros homens com outras histórias estavam tendo o triste fim pelo mundo afora.

Afinal, isto era guerra.

— Apesar de já ter presenciado as consequências de encontros com nazistas, eu nunca presenciei o momento em questão. – declarou – Não me nomeio covarde por não querer presencia-lo também, e sim de sensata.

"Procuro ver o lado positivo das coisas, Sargento. Essa divisão tem muito potencial, como eu imagino que as outras tenham. E eu adoraria fortalece-los com o que estou prestes a desenvolver. Cada pausa no processo deste projeto aumenta o tempo de seus homens em campo aberto se arriscando, morrendo. Por isso me frustra."

Ela engoliu em seco antes de finalizar: - Mortes que podem ser evitadas. Não estou decepcionada porque sou uma garotinha mimada que não sabe lidar quando as coisas não acontecem de acordo com os planos.

Barnes viu-se sem reação. Mais uma vez.

—x-

Aquela semana fora de total agitação no campo, o que atrasava ainda mais o projeto. No final dela os médicos haviam extraído apenas mais duas amostras de homens diferentes.

— Isso é inaceitável! – esbravejou Howard. – Do que adianta por sua vida em risco quando ao menos consegue as amostras que precisa?

— Estaria me arriscando em qualquer lugar que estivesse, - retrucou – ao menos que estivesse na bolha protetora a qual você quer me enfiar a qualquer custo.

— Harrie, minha querida – disse com a voz engasgada, enquanto alisava a lateral de seu rosto – Eu só não quero te perder.

— Eu sei Howee, - disse sorrindo acalentadora – mas o seu medo só esta me atrasando. O tempo que gasto para vir até aqui, para você se certificar que estou bem, é o tempo que poderia estar colhendo ainda mais amostras. Diminuindo meu tempo em campo aberto.

Howard respirou fundo e olhou fixamente nos olhos castanhos da irmã mais nova. Sua hesitação era tamanha, mas ele não podia negar. Ela tinha razão.

— Tudo bem, - soprou derrotado – mande-me noticias a cada três dias.

— A cada cinco. – negociou.

Howard sorriu, acariciando a bochecha da irmã.

— Teimosa.

— Tenho a quem puxar.

— Aqueles médicos os quais havíamos comentado, Doutor Erskine... – Howard incitou.

— Acredito que gostarão das noticias quanto a este assunto.

Assim, tornou-se oficial a decisão de completo foco na função de coleta de amostras cerebral e sanguínea. Mais oito médicos foram enviados para auxiliar a equipe e assim, terminar a missão em menos tempo possível.

As duas semanas que se seguiram foi um completo sucesso. Separados por equipes de testes, coleta e testes pós-coleta. Conseguiram arrecadar mais de trinta amostras de diferentes soldados e sem causar nenhum dano aos mesmos.

O Tenente estava menos carrancudo pela eficiência e rapidez, o Sargento já não alfinetava Harriet de forma maldosa e Howard se mostrava cada vez mais satisfeito pela decisão tomada.

Até acontecer o que mais temiam.


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Notas finais do capítulo

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