V E N U S - Origin escrita por badgalkel


Capítulo 17
1.16 Reencontro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/777547/chapter/17

— Sinais vitais em perfeito estado, senhor. - A voz de Jarvis anunciou.

— Alguma anomalia interna?

— Pelo resultado do exame sobre a estrutura corporal, não há elementos divergentes. Tudo em perfeito estado. Os órgãos estão trabalhando em sintonia, nenhuma ruptura, tipo de fratura, deslocamento ou bactéria incomum.

— O resultado da amostra de sangue que tiramos já saiu?

— Sem identificações de doenças, glóbulos incomuns ou elétrons de energia.

— Quando aprendeu fazer exames laboratoriais? – Indagou Harriet retirando rudemente os fios conectados a seu corpo.

— Enquanto você se recuperava eu li algumas coisas. – Howard respondeu encarando os próprios pés.

— Foi lá que aprendeu a mentir também? – Ela alfinetou. – Jarvis, pode nos dar licença, por favor?

— Como queira, senhorita. – Dito isso o mordomo saiu por entre a abertura da tenda.

— Como pôde fazer isso comigo? – Ela indagou engasgada.

— Pergunto o mesmo a você. – Retrucou.

— Minha mente estava uma completa confusão. – Esbravejou. – Desde que voltei a mim tento descobrir a razão de isto ter acontecido.

— Eu poderia ter ajudado se tivesse me contado.

— Já passou pela sua cabeça que se você tivesse me falado sobre o estado carbonizado em que eu estava e tive a recuperação completa em menos de 46 dias eu não teria a abertura que precisava para te falar sobre isso? – Cuspiu as palavras numa só lufada de ar. – Da mesma forma que pensou que estava me poupando eu estava poupando a você.

Howard a encarou por longos minutos antes de cair na risada. Em alto em bom som o rapaz não conseguira controlar as gargalhadas que escapavam de sua garganta.

— A insanidade resolveu dar um "oi"? – Harriet indagou observando o irmão limpar lágrimas que escapava dos olhos e respirando fundo para parar de rir.

Depois de algum tempo ele finalmente conseguiu se recuperar.

— Me desculpe, - disse sorrindo sadicamente. – Mas não vê o quão desastroso isso pode ser?

— E você acha engraçado porque...

— Porque estou apavorado! – Vociferou, desta vez, sério. – Apavorado, Harriet.

A jovem engoliu em seco.

— Não sabemos os efeitos do soro junto de raios-vita com radiação mutada em conjunto. – Esclareceu. – Você pode viver eternamente como pode também cair morta amanhã.

— Já calculei as possibilidades...

— Os exames não concretizam informação alguma. Nenhum cálculo é verídico! – Relembrou. – Teríamos que ter uma tecnologia moderna. Como a que a HIDRA parece ter.

— Nossa meta para que isso aconteça é vencendo esta guerra. – Ela disse. – O exército tomando as bases onde fabricam as armas, o maquinário e relatórios serão todos nossos. Adquirindo esse tipo de tecnologia podemos, até mesmo, – E finalizou soltando faíscas pelos dedos –  consertar isto.

— O que sugere? – Questionou levemente interessado.

— Sugiro tornarmos essa informação confidencial até que consigamos a tecnologia adequada. – Revelou. – Em nada o governo facilitará se souber que estou intoxicada e arriscando a vida de todos ao meu redor.

— Mas não está...

— Não se sabe concretamente, como eles também não saberão. – Informou. – Eles têm medo do que não compreendem. Vão me resguardar e eu provavelmente viverei como cobaia para pesquisas.

— Eles não têm esse direito.

— Podem fazê-lo existir, e você sabe muito bem.

— Tudo bem. – Howard massageou as têmporas. – Tudo bem, tudo bem... Não temos outra alternativa além de guardar isso em segredo.

— Não, não temos. – Concluiu com pesar.

A atenção de ambos foi voltada pela entrada repentina de Peggy.

— O que foi? – Howard indagou. – Alguma notícia do Rogers?

— Vocês precisam ver isso! – Dito isso saiu pela abertura da tenda agitada e os irmãos a seguiu imediatamente.

Ao lado de fora estava Coronel Philips, conversando com Steve, junto de numerosas fileiras de homens em suas costas. Assim como tanques e veículos com símbolo da HIDRA estampados em sua superfície.

Os três se aproximaram e só então Harriet pôde notar o homem ao lado de Steve. Este estava coberto de fuligem, com os olhos cansados e marcas espalhadas pelo corpo. Ainda assim abriu o seu melhor sorriso quando seu olhar encontrou com o dela.

As pernas de Harriet se movimentaram sem que ela ao menos pudesse perceber. Ela correu e se jogou nos braços abertos do Sargento Barnes.

Este abraçou-a com sua maior força, certificando-se de que não era algum tipo de ilusão. Passou a mão pelo seu rosto, braços e cintura. Respirou fundo próximo ao seu cabelo, reconhecendo aquele perfume que não saíra da sua cabeça desde que havia partido. Por fim, beijou por entre seus cabelos, agradecendo sua mente por guardar cada detalhe com tamanha exatidão.

Harriet entrelaçou seus braços ao redor do pescoço do homem e olhou fixamente para aqueles olhos quais tanto sentia saudade. Acariciou sua bochecha e beijou-lhe na boca sem nenhuma pressa.

— Nunca mais faça isso comigo. – Murmurou com os lábios ainda colados aos dele. – Pensei que tivesse te perdido.

— O que? – Ele se afastou com uma sobrancelha erguida. – Pensei que já soubesse que não vai se livrar de mim tão cedo.

Harriet sorriu e tornou a abraça-lo vigorosamente. Ele aproveitou para girá-la, tamanha era sua alegria, beijando cada parte de Harriet que conseguisse alcançar.

Quando posta ao chão, ela notou o amigo loiro comemorando ao lado e se afastou delicadamente do companheiro para chegar até ele.

— Seu filho da mãe. – Abraçou-o sorrindo. – Sabia que ia conseguir.

— Não teria feito nada se não tivesse a sua ajuda. – Admitiu beijando-lhe o topo da cabeça, dada as diferenças de altura.

—x-

— Ouvi boatos de que Steve está reunindo homens para atacar as bases da HIDRA que ele localizou em mapas.

— Também ouvi. – Disse ele dando de ombros enquanto afagava as costas nuas da parceira.

Harriet virou-se para James ajeitando o lençol, única peça que cobria seus corpos nus sobre a cama, e encarou-o diretamente nos olhos. Ela aprendera a descodifica-los mesmo quando ele mentia ou fingia não dar importância a um assunto, seus olhos sempre permaneceriam verdadeiros.

— Gostaria que a resposta fosse outra. – Revelou – Mas sei que, independente do quanto você tente me poupar da verdade, vai acabar voltando aos campos de batalha ao lado dele. E eu preciso saber a verdade de você. – Ela engoliu em seco. – Você vai, não vai?

Barnes puxou-a pela cintura, fazendo-a se acomodar sobre seu peito.

— Não posso deixa-lo ir sem mim. – Explicou cuidadosamente. – Sempre fomos eu e ele contra o mundo. E por mais que eu queira ficar aqui e nos poupar de mais sofrimentos o fato de estarmos juntos agora não altera a minha relação com ele. Steve é como um irmão para mim.

— Eu compreendo isto. – Sorriu penosa. – Só queria que tivéssemos mais tempo juntos. Você mal voltou e já vai partir novamente.

— Só quero que não se esqueça, nunca, que eu sempre vou estar voltando para você. – Pronunciou acariciando o rosto da jovem vagarosamente. – Independente das estatísticas ou probabilidades.

— Eu sei que é isso o que quer, - apoiou-se nos braços para erguer-se e aproximar seus rostos. – Contudo sabemos que as coisas não acontecem conforme os nossos desejos.

— Já ouviu falar da lenda AKAI ITO*? – Ele indagou divertidamente.

— Lendas chinesas? – Ela franziu a testa sorrindo. – Aonde você as escutou?

— Há um soldado na divisão que é descendente de chineses que migraram para os Estados Unidos. Seu nome é Hío. – Ele explicou. - Quando estávamos presos nas celas na base da Hidra a única coisa a qual me dava esperanças de sair daquele lugar asqueroso era saber que você estaria aqui. Me esperando.

Harriet apertou-se ainda mais no abraço do companheiro, sentindo-se tão importante quanto ele é para ela.

— Hío notou que todas as noites eu tirava a foto que tenho de você do bolso e a observava por alguns minutos, para garantir que não iria me esquecer de seu rosto, e me perguntou quem era. Contei a ele toda nossa história e o que já passamos e então ele me disse que você era a minha AKAI ITO e eu ri. Não sabia o que queria dizer. Então ele começou a me contar.

"AKAI ITO quer dizer – o fio vermelho – em chinês. É uma lenda que conta que no momento do nascimento, os deuses amarram uma corda vermelha invisível nos tornozelos dos homens e mulheres que estão predestinados a serem almas gêmeas. Deste modo, aconteça o que acontecer, passe o tempo que passar as duas pessoas que estiverem interligadas, fatalmente irão se encontrar! "

Harriet sorriu ao refletir enquanto Barnes continuava a contar: - Eles dizem "Um fio invisível conecta os que estão destinados a se conhecer e independentemente do tempo, lugar ou circunstância, o fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir. "

— É uma lenda muito bonita. – Ela admitiu acariciando-o o rosto. – E muito romântica.

— É basicamente o que eu sinto que têm entre a gente. – Revelou. – O destino nos uniu. Digo, qual a probabilidade, de todas as outras divisões você ser direcionada logo na minha? – Indagou sorrindo. – E, depois de tudo o que passamos, ainda estarmos aqui juntos... eu realmente acredito nisso. E farei o meu melhor, mesmo que passe algum tempo distante, para que o fio fique a menos de 10 metros de você. Sempre.

Uma Harriet com olhos marejados selou seus lábios em um beijo quente e calmo. Seus peitos desciam e subiam em respirações controladas e o contato entre suas peles instigava-os a sempre mais.

Dado um momento, qual a jovem já estava por baixo do soldado e com as mãos entrelaçadas com as dele, ela se afastou minimamente.

— Eu... – começou sem saber realmente como montar uma colocação adequada aos seus sentimentos no momento. Barnes fixou completa atenção sobre ela. – Eu acredito que não exista mais motivos que impeça você de conversar com o Howard.

Barnes franziu o cenho no início para então compreender o significado daquela frase.

— Não têm porquê esperarmos. – Ela deu de ombros ao continuar: - Creio que não exista outra pessoa que aqueça meu coração tanto quanto você. – Barnes sorriu incrédulo. – E não importa que talvez amanhã ou depois eu não te tenha mais por perto. O que importa é o agora e o que representa estarmos juntos. – Ela deu uma pausa, limpando uma lágrima solitária antes que ela escorresse pelo rosto. – Tudo o que eu quero é você, e te tenho aqui. Esse é o nosso compromisso: nos esforçar a sempre estar voltando um para o outro.

Barnes beijou-a novamente, desta vez com mais intensidade.

Quando se afastaram ofegantes o rapaz lhe ofereceu o dedo mindinho, qual ela selou com o próprio imediatamente.

Fora selada ali a promessa do compromisso.

 

GLOSSÁRIO   

Akai Ito: significa "Fio Vermelho", e é o nome de uma lenda que teve origem na China, durante o Período Hokuso. Foi ainda a partir desta lenda que surgiu o Yubikiri Genman. O Yubikiri Genman é um ritual de juramento japonês, muito simples, no qual as duas pessoas que estão a fazer uma promessa unem os dedos mindinhos para concretizá-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se você gostou deste capítulo, considere deixar seu voto.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "V E N U S - Origin" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.