O Senador Rebelde escrita por André Tornado


Capítulo 25
Os clãs




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Os bothans eram uma espécie galáctica de mamíferos antropoides que tinham diversas aparências, consoante o seu local de origem. Tanto podiam ter feições caninas, como felinas ou equinas. O corpo era coberto de pelos que ondulava consoante o seu estado emocional – ou seja, conseguiam absorver emoções, um pouco à semelhança dos gotal, embora essa capacidade não lhes interferisse no organismo, como acontecia com esses últimos. Eram baixos, mas bem proporcionados, com barbas bem cuidadas a ornamentar-lhes os rostos, sendo mais delicados nas fêmeas do que nos machos.

Eram políticos magistrais e tinham criado uma rede formidável de espionagem que serviu durante séculos a Antiga República e a Ordem Jedi. Após a ascensão do Império Galáctico declinaram a representação no Senado e assinaram um acordo vantajoso que lhes conferia a neutralidade necessária para manterem as suas habilidades enquanto espiões. Palpatine chegou a usar os seus serviços e Vader empregava vários bothans nas suas fileiras, para perseguir, encontrar e eliminar os seus inimigos.

Organizavam-se em clãs, compostos por vários indivíduos de uma ou mais famílias, a unidade mais importante da sociedade bothan. A sua cultura era guiada por fortes princípios filosóficos que lhes conferiam um modo de vida bastante despegado e voltado para o grupo, em vez de para o indivíduo. A ambição pessoal era sempre relegada para segundo plano em prol do sucesso económico e financeiro do seu clã, por exemplo. Mas quando se tratava de escolher entre a sociedade bothan e a galáxia, nesse quesito a espécie era egoísta e intransigente – não aceitavam colocar em causa os privilégios dos bothan em troca de um bem maior. Tinham como principal defeito serem paranoicos. Os seus clãs guerreavam bastantes vezes entre si, por uma questão de supremacia moral e havia muitas traições entre membros de clãs diferentes, pelo que levou à reputação de que nunca se podia confiar num bothan.

Em tempos de crise, os clãs bothan juntavam-se num estado de sobrevivência conhecido com o ar’krai, quando julgavam que a sua espécie poderia ser aniquilada e todos os bothan se voluntariavam para se autodefenderem. Declaravam guerra a qualquer força, por mais poderosa que fosse, e lutavam até ao último bothan.

Eram oriundos de Bothawui, um planeta cosmopolita do sistema de Both, na Orla Média, situado na interseção de quatro rotas principais da galáxia, que registavam grande tráfego e alguns congestionamentos. Esse planeta era também o grande centro da rede de espionagem bothan e era comumente sabido que o maior produto comercializado aí era informação. Qualquer conhecimento reunido, negociado, comprado ou vendido pelos bothan alcançava um estatuto precioso, de veracidade e importância, pois todos os povos galácticos, incluindo o Império Galáctico, confiavam naquela rede. Havia sempre a garantia de qualidade, que ninguém regateava ou duvidava.

Bothawui era um mundo terrestre orbitado por três luas. Experimentava várias idades do gelo, normalmente em ciclos de sete em sete anos-padrão, mas no geral apresentava um clima temperado, com gravidade normal e atmosfera respirável. Os seus continentes dividiam-se entre zonas intensamente urbanizadas, ricas florestas equatoriais, enormes calotas polares, cordilheiras montanhosas e vastas savanas de erva situadas junto aos campos de glaciares. Os desfiladeiros entre as montanhas eram separados por largos vales, habitados por vida selvagem especialmente perigosa.

Heskey tinha estudado bastante sobre os bothan, por mera curiosidade académica, quando estivera no Senado Imperial e podia afirmar-se como bastante versado nessa espécie galáctica. O seu estudo, porém, tivera uma razão bastante prosaica – a queda em desgraça de um senador devido a uma calúnia que se espalhou como uma epidemia por Coruscant e que tivera origem em informações sensíveis reunidas pela rede de espionagem de Bothawui, serviços secretos que estavam muito mais avançados do que aqueles geridos por Vader. Ele quis saber se correspondia à verdade e foi assim que travou conhecimento com os bothans.

Nunca imaginou que um dia iria depender de uma dessas criaturas peludas para salvar a sua vida de uma agente de Darth Vader.

O bothan que estava com ele chamava-se Glynn-Seti e era oriundo do clã dos Seti. Os nomes bothan incluíam, quando eram compostos, o do clã como apelido. À primeira vista eram todos iguais, réplicas uns dos outros, como gémeos infindos, observou Heskey desanimado assim que entrou na caverna que lhes servia de abrigo, no asteroide para o qual viajaram depois de saírem do asteroide 777. Os bothans espalhavam-se pelo espaço amplo da caverna e para onde quer que ele olhasse só via rostos idênticos, peludos e curiosos. Alguns bothans avivavam uma fogueira para dar calor ao espaço e para cozinhar pedaços de carne que haviam trazido nos seus sacos. Outros, mais perto da luz do fogo, reuniam-se em grupos silenciosos, que desempenhavam diversas tarefas práticas, como preparar o local onde iria ser servida a refeição, intercetar clandestinamente comunicações com a ajuda de uma consola portátil, varrer o chão, que era quase inútil de se fazer dada a quantidade absurda de areia, aferir da estabilidade da cova experimentando a solidez do teto e das paredes, observar o convidado antecipando qualquer movimento brusco e ameaçador. Para além da luz, estavam as sombras de mais bothans a fazer qualquer coisa também – não havia ninguém parado – pois não era da sua natureza estarem inativos, nem mesmo a debater um complicado tema filosófico. O clã era composto por cerca de sessenta a oitenta indivíduos e Heskey sentiu-se em evidente inferioridade numérica.

Passou as mãos pelo cabelo desgrenhado, percebendo a subtil animosidade que existia contra si. Fora salvo por eles e pelo seu engenho, mas não eram amigos, nem nada que se parecesse. Ligavam-se por uma mera conveniência. Tentou não se separar de Glynn-Seti que era o único em quem confiava no meio daquela multidão de bothans desconhecidos, apesar de não ter tido qualquer sinal inequívoco de que esse bothan seria diferente dos membros do seu clã. Todos malditas cópias, a partilhar a mesma frequência psicológica, a mesma fisionomia, o mesmo anonimato. Era exatamente como ele tinha estudado. Um povo e uma cultura coletiva que abolia o individualismo.

Sentou-se num lugar que Glynn-Seti indicou com o braço, junto à fogueira. O jantar iria ser servido em breve, anunciou o bothan. Ele não tinha fome, depois de toda a agitação da sua breve estadia no asteroide 777. Tinha o estômago embrulhado e a sua preocupação pelo seu assistente aumentava a sua falta de apetite, mas não queria desaproveitar a hospitalidade que lhe estava a ser oferecida. Os bothans ofendiam-se muito facilmente e conseguiam ser violentos. E eram oitenta criaturas que ali estavam, que o despedaçariam num abrir e fechar de olhos, se ele se mostrasse caprichoso.

Pela lógica, aquele clã era amigo e tinha simpatias para com os rebeldes, pois tinha evitado que ele fosse capturado por uma espia imperial. Como ele bem sabia, todavia, os bothans eram leais apenas a si próprios e abraçavam causas diferentes se conseguissem benefícios económicos. Portanto, alguém estaria a pagar-lhes para salvá-lo do Império. E essa conclusão destruía toda a lógica que ele se esforçava por criar para definir aquela situação.

Decidiu-se por fazer a pergunta e obter o devido esclarecimento:

— Vais contar-me o que se passou? Onde está o meu assistente pessoal?

Glynn-Seti sentou-se ao seu lado. Contemplou as chamas da fogueira por algum tempo. O cheiro da carne a assar desprendia-se suavemente dos nacos enfileirados em grandes espetos, apoiados em suportes metálicos. Ele continuava sem fome e a ficar ligeiramente enjoado com o odor da comida. O bothan não desfitou o fogo e disse:

— Sou uma fêmea, para tua informação.

Heskey estremeceu com a surpresa. Recompôs-se, de seguida. Pigarreou e forçou um sorriso.

— Oh… Muito obrigado pelo esclarecimento. Creio que não faça diferença alguma no presente caso.

O bothan encarou-o. Tinha um olhar implacável, zangado, duro.

— Faz toda a diferença. Duas fêmeas a disputar o senador Heskey e eu venci.

— Duas fêmeas… Pois, claro. A Kiiara. A espia imperial é também uma mulher. És competitiva.

— Os bothans são competitivos naturalmente.

— Claro.

— Não te posso ajudar com o teu assistente pessoal. A minha missão foi definida para sabotar a intervenção da espia imperial e reunir mais informações para perceber o que está a acontecer neste setor. Estamos em perigo, conseguimos senti-lo… mas estamos preparados para o sacrifício. O Império Galáctico está perto, a procurar por rebeldes. É Darth Vader que está ao comando da operação. No asteroide 777 compreendi que o alvo de Kiiara eras tu e tive de te trazer comigo. A espia imperial perdeu, logo vai cometer um erro ao dar um passo inesperado para te recuperar.

— Por que motivo disseste que estão preparados para o sacrifício?

— O Império vai descobrir esta gruta, mais cedo ou mais tarde.

— Bem, o melhor será irmo-nos embora daqui, então… – sugeriu Heskey desorientado.

— Ainda não chegou o momento. Precisamos que o Império se aproxime mais, que revele o seu jogo.

Ele espreitou o grupo de bothans que se reunia em redor da consola portátil. Dois deles usavam auscultadores, três digitavam furiosamente um teclado. Estavam a transcrever comunicações que tinham intercetado de forma irregular e clandestina. Reuniam dados, informação preciosa que seria mais tarde vendida aos inimigos do Império, ou que seria readquirida por Palpatine para evitar brechas nas suas atividades militares secretas. Era apenas um negócio.

— Estão a usar-me como engodo da armadilha que irá atrair o Império.

— Nós também somos engodo.

— Eu serei o principal. Não estava uma agente de Vader à minha espera, para me capturar? – Abanou a cabeça, suspirou. – O que querem de mim, se não represento qualquer ameaça para Coruscant?

— Tu és um senador rebelde.

— Nunca! – indignou-se num grito. Repetiu, baixando a voz. – Nunca. Tenho levado uma vida pacata na minha casa, em Corulag. Dou festas, espalho charme, exibo requinte e bom-gosto, mantenho-me discreto quando estou em privado. Não dei entrevistas, nem fiz qualquer discurso público que indicasse as minhas simpatias contrárias ao Império.

— Estiveste em Hoth e antes ajudaste a traficar planos militares importantes, que irão criar um desequilíbrio na guerra civil. Por definição, estás envolvido com os inimigos do Império. Essa é a tua declaração contra o governo oficial da galáxia.

— Posso justificar as minhas ações.

— O magistrado que te capturou e vendeu como inimigo do Estado pode argumentar facilmente contra as tuas justificações. Nesse debate, tu vais perder, senador Heskey.

— Emile Omonda – resmungou, irritado. – Emile Omonda vai pagar por aquilo que me fez. Não descansarei enquanto não o ver punido pelo atentado que efetuou contra o meu bom nome e a minha pessoa. Disseste-o muito bem, Glynn-Seti. Omonda capturou-me e vendeu-me! Não sou um reles escravo para que possam decidir sobre a minha condição e destino à revelia da minha vontade. Sou um senador do Império, com imunidade diplomática, com um nome de família importante.

— Ao atuares contra o juiz, darás razão às suspeitas que ele pôs a circular sobre ti. Cuidado com o que fizeres, a partir do momento que tens Vader a vigiar-te. A tua liberdade será, desde este dia no asteroide 777, em que fintaste a magnífica Kiiara, uma condição aleatória, que pode terminar pela simples vontade do Lorde Negro.

Lembrou-se desse detalhe e rosnou, frustrado, na sua melhor imitação de um wookie zangado. Esfregou os cabelos vigorosamente. Apoiou os cotovelos nas pernas e deixou a cabeça entre as mãos. Respirou fundo, enquanto tentava pensar naquela questão de um ângulo mais favorável, mais racional e menos emotivo.

— Isso continua a não explicar onde se enfiou o meu assistente pessoal.

— Não te posso responder a essa pergunta, senador.

— E por que motivo o plano de me apanhar aqui, no asteroide 777, falhou.

— Foi Vader.

— Vader, Vader… Um homem mecanizado que infunde tanto terror.

— E tu, não temes Darth Vader, senador Heskey? – perguntou Glynn-Seti num misto de ironia e de espanto.

— Nunca tive motivos para o temer. – Endireitou o pescoço e ergueu o queixo. – Continuo a não ter. O que conta são as minhas atitudes, as minhas… dissimulações. Sempre soube mascarar muito bem a verdade, com pequenas inverdades, que nunca foram mentiras, contornando aquelas convicções mais prejudiciais. Sempre lidei com inimigos, Glynn-Seti. O Senado Imperial era um ninho de serpentes que era necessário gerir, controlar, seduzir, enganar e esmagar. 

— Vader não é uma simples serpente. É um monstro feroz e insaciável. E quando ele coloca uma ideia na sua cabeça, não se detém até ter apanhado o que cobiça.

— Estarei preparado. Vocês, bothans, sabem que estive em Hoth. O Império sabe-lo?

— Por enquanto, não o sabe. Mas essa informação poderá ser útil, em troca de um compromisso que favoreça os bothans e algum almirante imperial poderá ficar a saber. Que, por sua vez, vai necessitar de usar algum trunfo secreto para cair nas boas graças de Vader e esse dado, aparentemente inútil, vai significar bastante para o Lorde Negro. E tu estarás em sarilhos.

— A não ser?

— A não ser que aceites definitivamente o amparo da rebelião. Que tens recusado, apesar de todos os sinais que demonstram que nesta guerra civil o teu lado é apenas um. Desde que te tornaste amigo de Bail Organa que a Aliança se interliga com o teu percurso pessoal, senador.

— Recua até à minha amizade com o Organa, de Alderaan. Seria a base da declaração que me acusaria do crime de traição ao Estado. Também conseguiria desmontar, ponto por ponto, essa acusação.

— Os teus dotes de advogado seriam testados. Poderias vencer uma primeira batalha. Mas o castigo haveria de ser a sentença capital. O Império não perdoa os traidores. Os culpados… e os inocentes.

— Glynn-Seti, já explicaste a razão do meu salvamento. Poderei ir-me embora e nada irá acontecer nesta caverna. Não quero ser o responsável pelo ataque do Império ao teu clã.

— Ainda não temos toda a informação que precisamos. Estamos prontos para o sacrifício.

— Mas eu não estou pronto para o vosso sacrifício.

— Os bothans são livres, senador. Assim como tu és livre. E a nossa escolha está feita. Vamos pagar o preço pela informação, seremos louvados postumamente.

— Estão a considerar… o derradeiro sacrifício – observou ele, chocado.

Glynn-Seti assentiu. Heskey respirou fundo, crispado e apiedado, sensações opostas, como frio e calor, a se chocarem dentro do seu espírito.

— Se eu me for embora… – sugeriu, escolhendo as palavras com cuidado, para não agravar a perturbação que vibrava no ambiente tépido da caverna, em volta deles. – O vosso clã terá uma nave de transporte com a qual chegaram aqui, com pequenas cápsulas individuais, iguais àquela que usaste para viajarmos do asteroide 777 para esta rocha. Podem sair todos do asteroide nesse transportador, deixavam apenas algumas cápsulas para trás. Davam-me uma, em piloto automático, rota para Iskarish, o sistema de onde devo seguir para Corulag. Talvez o meu assistente pessoal ainda lá esteja. Descobriu provavelmente que Vader estaria por aqui e não quis comprometer o plano de me levar de volta a Corulag. Espera por mim. Tenta contactar algum aliado que lhe possa dar a indicação de que estou são e salvo. Vocês poderão deixar essa indicação. Assim, ninguém ficaria ferido, ou algo pior. Vamos todos embora do asteroide, vestígios de que o clã Seti aqui esteve todos apagados.

— O clã Seti é unido, senador Heskey.

— Até ao fim?

— A nossa união só termina com o sacrifício.

— Vale a pena, Glynn-Seti? – indagou compungido. – Vale a pena dar a vida por… informação?

O bothan disse, depois de uma pausa ínfima em que o ar, estranhamente, serenou:

— Algo de grande se prepara. Esse grande é feito de muitos pequenos. Estamos apenas no início. Mais tarde se compreenderá a dimensão total da engrenagem, da qual somos uma minúscula peça. No futuro, o sacrifício dos bothans vai ser louvado. De todos os clãs. Dos que morreram antes, dos que morrem agora. Dos que irão morrer a seguir. Serão os bothans que vão ajudar a Aliança a vencer a guerra. Assim foi declarado.

— Por quem?

Não houve mais conversa.

A refeição ficou pronta. Ele não tinha fome, mas aceitou o seu pedaço de carne, recebendo com ambas as mãos a malga em formato de cubo que lhe estenderam. O naco grelhado estava polvilhado com especiarias e tinha uma folha esguia pousada de lado, que era amarga e cortava o sabor adocicado da carne. Todos os bothans do clã receberam o seu pedaço, em idênticas tigelas cúbicas e, para aquele momento solene e imprescindível em que se alimentavam, deixaram os seus afazeres e reuniram-se perto da fogueira, formando vários círculos. Comeram numa comunhão quase religiosa, cabisbaixos, mudos, mastigando a comida devagar. Ele também comeu nessa contemplação que lhe era tanto estranha, quanto repulsiva, mas não quis estragar o momento. O que fora dito estava concluído e seguia-se o que faltava fazer.

No fim, descansaram e obrigaram-no a se deitar, como eles, no chão de pedra da caverna. O vento soprava forte no asteroide, assobiava e fazia vibrar as antenas que estavam montadas no exterior, que possibilitavam o funcionamento da consola portátil.

Heskey achou que nunca tinha chegado a dormir. Mas acordou sobressaltado com o ruído da explosão e com o chão a tremer, devido às ondas de choque. Uma barreira de fogo ininterrupta irrompeu pela caverna e ele julgou que iria tombar, junto aos bothans, naquela pedra sem nome, numa morte anónima, sem ninguém que o lembrasse e que o chorasse. Os tiros laser eram uma chuva de fogo perigosa e mortal que derrubava tudo o que encontrava pela frente.

Atrás dos disparos estavam espingardas laser E-11 e atrás dessas armas de grande calibre estava um pelotão furioso e imparável de stormtroopers imperiais, assustadores nas suas armaduras brancas de plastoid. Ele rebolou e rastejou, movido pelo seu instinto de sobrevivência que lhe gritava que devia manter-se de cabeça baixa, o corpo a reagir ainda que o espírito estivesse estupefacto e inerte ante tamanha violência despropositada.

Alguns bothans responderam ao ataque com as pistolas laser que carregavam nos seus cinturões. Só alguns estavam armados, entre estes Glynn-Seti. Os seus tiros tinham pouco alcance, fraco poder de fogo, eram pequenos e quase inofensivos, nem sequer penetravam nas densas armaduras do inimigo. Funcionaram mais como uma afirmação inútil de que não iriam cair sem luta. No fundo, a sua resposta não obteve qualquer resultado prático e um por um, cada bothan que ousava enfrentar o invasor daquele espaço foram sendo eliminados – como num pérfido jogo de simulação de guerra.

Os soldados sabiam ao que vinham e por isso foram cruelmente eficientes. Massacraram os bothans e pouparam-no. Heskey gemia num canto, furioso e encurralado, braços a proteger a cabeça, o corpo todo encolhido numa bola quando se sentiu a ser içado por mãos fortes, que o agarraram pelos cotovelos. Puxaram-no do seu esconderijo, arrastaram-no e trouxeram-no para fora da caverna onde fazia mais frio e onde cheirava menos a queimado. O vento continuava agreste.

Levantaram-lhe o queixo e ele, através do seu olhar turvo, em descrédito e em choque, reconheceu o fardamento de um capitão do Império. O homem analisou-o, comprovou a sua identidade através de um básico reconhecimento facial e com um gesto seco ordenou que o levassem dali. Heskey acabava de ser feito prisioneiro pelo Império Galáctico e esse facto não o incomodou.

Foi pelo seu próprio pé. Tinha as pernas dormentes e estava prestes a desfalecer de horror e de espanto a qualquer instante, mas conseguiu andar, nem soube bem como, com alguma firmeza. Ladeavam-no quatro stormtroopers, espingardas laser fumegantes cingidas ao peito, as mesmas espingardas que tinham acabado de matar dezenas de bothans. Atrás de si, dentro daquela cova, num asteroide árido, jazia um clã inteiro chacinado.

Era a esse sacrifício que Glynn-Seti se referia quando tinham conversado horas-padrão antes e aquele era o tipo de estupidez que ele abominava. Heskey tentava conciliar a sua respiração superficial, procurando manter-se desperto, todo ele num turbilhão, a ponto de ceder à onda avassaladora de emoções que o torciam e despedaçavam. Não daria aos seus captores, contudo, a alegria de sentirem piedade dele, de o apelidarem de fraco, velho e doente.

Entrou numa nave negra, escura como a sua alma enlutada. Um transportador militar anfíbio, usado em operações relâmpago do Império. Uma vez, no Senado, houvera um debate bastante inútil sobre o orçamento para a aquisição desses veículos aos estaleiros de Kuat. Era inútil, pois qualquer que fosse o resultado da votação, Palpatine haveria de assinar o contrato de fornecimento e qualquer moção de censura dos senadores ao negócio seria ignorada. Ele votara a favor desse orçamento, alegando que os veículos eram necessários para controlar bolsas de opositores ao regime… E então sentiu-se estúpido. Naquele asteroide acabava de comprovar o conceito total do que eram bolsas de opositores ao regime.

Sentou-se numa cadeira retrátil desconfortável e manteve as costas direitas, o olhar fixo em nenhures, sempre de cabeça levantada. Invicto.

Não sabia o que o esperava. Ou talvez soubesse demasiado bem.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Entrevista.



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