Ele a observava com fascinação, nunca imaginou que conseguiria amar uma pessoa que não fosse Cersei.

Não era um amor carnal e sujo, era puro e foi sendo construído aos poucos sem que os dois percebessem.

Jaime desejara mais do que nunca ficar ao lado dela, porém ele era um Lannister e os Lannisters sempre pagam suas dividas por menores, ou maiores que fossem.

Acompanharia Daenerys para a guerra contra sua irmã, e Brienne ficaria ao lado de Sansa para sua coroação, ele faria de tudo para voltar para ela, seria capaz de matar a irmã com as próprias mãos para ficar com ela, mesmo que o preço fosse voltar a ser chamado de Regicida.

—Ainda acordado? – a voz dela soou e Jaime percebeu que Brienne o encarava com seus grandes olhos azuis, pelos quais se apaixonou.

—Pensando. – confidenciou e tomou uma de suas mãos para perto dele. –Você esperaria por mim?

—Voltaria para mim? – ela respondeu de volta fazendo um sorriso crescer no rosto do Lannister.

—Se assim minha lady desejar. – os olhos dela brilharam. –Voltarei para seus braços, mesmo que seja a última coisa que eu faça, eu prometo.

Brienne sorriu fracamente e o puxou para seu lado.

Queria aproveitar os últimos momentos que teria com ele.

Ela nunca foi uma pessoa religiosa, porém orava em silêncio pedindo para que ele realmente cumprisse sua promessa.

۞

Ele não sentia emoção alguma, talvez no seu interior ele pudesse sentir uma curiosidade, nada, além disso.

A tumba de Lyanna estava em sua frente, junto com todos seus segredos.

Prometa-me, Ned.

Dor estava por trás dessa promessa e mais do que nunca ele sentiu a curiosidade em conhecer o que realmente aconteceu com Lyanna Stark.

“-Minha lady.

Lyanna tomou um susto ao ver nas janelas, o príncipe.

Seu sorriso brilhava como a noite cheia de estrelas e sua aura melancólica lhe dava certo charme.

—Meu príncipe. – murmurou assustada enquanto Rhaegar descia de cima das pedras. –O que faz aqui?

Ele se aproximou silenciosamente da moça, que sentia seu interior gritando para se afastar, porém suas pernas a impediam.

—És uma bela moça Lyanna Stark, descobri isso no momento em que pus meus olhos em você pela primeira vez. – a voz dele era como uma doce melodia que acalmaria até o mais agitado animal. –Seu modo selvagem me afeiçoou ainda mais, sua coragem e tudo em você me fez perceber que estou apaixonado por você.

Lyanna estava surpresa, afinal era o príncipe herdeiro na sua frente se declarando para ela, e o pior, ele ainda era casado com a princesa Elia Martell com quem tinha duas belas crianças, seria uma tola se dissesse que não sentia nada por Rhaegar Targaryen, um amor cego se construiu em sua frente e ela nem percebeu.

—Fuja comigo, iremos para longe para podermos desfrutar desse amor. Venha comigo, lhe farei a moça mais feliz de todo esse reino, lhe farei canções, lhe amarei, lhe darei tudo que for possível e o impossível se vier comigo.

Era uma tola, uma criança, mas já se via completamente apaixonada.

Esse foi seu maior erro.

—Sim.

۞

As promessas sumiram junto com o vento, se transformando em fumaça e indo para longe.

Há primeira semana ao lado de Rhaegar tinha sido perfeita, ele a amara, foi cuidadoso consigo, quando faziam amor, era algo maravilhoso, nunca imaginou que isso poderia ser possível se casasse com Robert, que apenas a usaria e depois iria atrás de outra mulher para se satisfazer.

Na segunda semana tudo se tornou um pesadelo, ela comunicou que sentia falta de sua família e queria escrever uma carta para o pai ou um dos irmãos, ele inventou mil desculpas para não fazer isso, e ela acreditou.

Lyanna tentou sair da casa onde estavam para conhecer a vila, porém ele a trancou no quarto dizendo mil mentiras que ela acreditou facilmente.

Tola menina apaixonada, se percebesse que estava apenas sendo usada para trazer ao mundo a terceira cabeça do dragão.

Quando ela deu por si não podia andar por nenhum aposento da casa sem que Rhaegar estivesse ao seu lado.

Foi então que as brigas começaram, ela queria sair, queria ficar com sua família, foi ingênua de achar que ele poderia ser diferente de Robert, eles eram iguais, ela não passava de um premio para ambos usarem e abusarem.

Ela o negou em sua cama, e foi ai que os abusos começaram, cada noite era um pesadelo, uma tortura, jamais imaginou que o príncipe melancólico fosse um monstro.

Quando sua lua de sangue não veio, o medo tomou conta de si, temia estar doente, porém ela preferia a morte a continuar vivendo daquele jeito, presa como um animal.

Em seus sonhos ela conversava com Ned e ele lhe contava tudo que acontecia, Brandon, seu irmão mais velho estava morto, assassinado pelo Rei Louco, Rickard, seu pai, igualmente assassinado. Ela tinha os perdido para sempre.

E era tudo sua culpa, se tivesse dito não ao príncipe, ou gritado por alguém naquela noite, tudo poderia ser diferente.

Ela sofreu sozinha, Rhaegar a deixava sempre sozinha, só vinha quando o sol se punha para possuí-la.

O local onde estavam era quente, um calor quase insuportável - estavam no Sul, isso era claro, porém não sabia em qual Reino.

Tudo continuava um pesadelo, até aquela noite, em que brigava com Rhaegar, em um momento estava gritando com ele, no momento seguinte tudo se tornou escuro.

Quando acordou ainda estava no quarto e recebeu a noticia que poderia ser uma das melhores de sua vida, porém naquele momento se tornou o ápice do seu pesadelo.

Estava grávida.

Rhaegar lhe falou que nunca mais a tocaria, que levaria ela para outro lugar para ser cuidada durante a gravidez de sua filha, a terceira cabeça do dragão.

E tudo se juntou como uma peça de tabuleiro.

Ela não passava de um objeto que foi usado para que Rhaegar finalmente tivesse sua terceira cabeça do dragão.

Lyanna odiou Rhaegar mais do que nunca naquele momento, estava convicto que seria uma menina, já tinha seu Aegon, sua Rhaenys, agora teria sua Visenya.

Não queria isso, pedia aos Deuses para que eles lhe matassem durante a gravidez junto com seu bebê, e se isso não fosse possível, que ela concebesse um menino para acabar com os sonhos que Rhaegar tinha.

۞

A levaram para uma torre, mas não conhecia o lugar onde estava, sabia que era quente e como uma nortenha, ela sofria todos os dias com saudades do frio.

Os meses se passaram e sua barriga só crescia, as mulheres que cuidavam da mesma não lhe diziam nada, faziam seu trabalho em silêncio e isso estava a enlouquecendo.

Sonhava que Ned vinha em seu resgate e matava Rhaegar no processo, a levaria para o Norte, para casa.

Sentia saudades de todos.

Sentia saudades de casa.

Sofria em silêncio pelas perdas que teve.

Agradecia pelo dom de ser uma troca-peles e conseguia enxergar o que acontecia no mundo lá fora, e só uma palavra poderia definir tudo.

Guerra.

Robert iniciou uma guerra em seu nome, para vingar seu pai e seu irmão, porém principalmente para resgatá-la.

Ela assistiu, com certa felicidade, Robert matando Rhaegar no Tridente, ela viu Elia e suas crianças sendo mortas, ela viu sangue sendo derramado, tanto inocente quanto culpado.

Porém ela soube que sua hora se aproximava quando sentiu as primeiras dores em seu ventre, estava na hora.

Lyanna finalmente estaria livre de Rhaegar, poderia ter seu bebê em paz e voltar para casa.

Mas seus sonhos foram se despedaçando quando durante o parto, a febre começou a atingi-la e sangue escorria de suas pernas.

Ela não podia morrer agora, justo agora que estaria livre.

Seu bebê ficaria sozinho no mundo, orava pedindo para que alguém cuidasse dele.

A dor vinha e ia, porém nada de seu bebê nascer.

Era um castigo.

Quanto tempo passou? Uma hora? Três horas?

Não se lembrava, o barulho de espadas se chocando lá fora chamou sua atenção, ela quis chamar o nome de Ned, porém um grito saiu de seus lábios, e finalmente seu bebê nasceu.

—É uma menina. – anunciou à parteira.

Maldito seja Rhaegar, conseguiu uma menina, porém não estava vivo para toma-la dela, talvez os Deuses fossem bons.

Ela sentia a vida escapando pelos dedos, não podia morrer agora, tinha que ver sua filha, Ned, Benjen, tinha que vê-los antes de morrer.

A parteira colocou delicadamente sua filha em seu colo, ela era todo o Norte, não tinha nada do sangue da Valíria, os poucos cabelos eram escuros como os seus e os olhos tão pretos quanto de sua mãe tinha sido um dia.

—Minha Lyarra. – sussurrou sentindo a dor começar a tomar conta de si novamente.

Não, por favor, precisava ver quem tinha lutado lá fora, e pedia aos Deuses que fosse seu irmão.

—Lya.

Ela sorriu, quis rir, quis chorar, mas estava fraca demais para isso.

—Meu irmão, como é bom te ver. – sussurrou sentindo a mão de Ned tocar a sua e entrelaçar seus dedos.

—Eu estou aqui. – falou a Lyanna. –Agora eu estou aqui, podemos voltar para casa.

Ela negou.

—Meu tempo está acabando. – confiou a ele. –Pelo menos pude vê-lo uma última vez meu irmão.

Ele chorava quando a parteira trouxe a criança para perto deixando Ned surpreso.

—O nome dela é Lyarra. – sussurrou para que apenas o irmão escutasse. –Prometa-me Ned, prometa-me que vai leva-la para casa, que não deixará Robert mata-la, prometa-me.

Em lagrimas seu irmão assentiu.

—Leve meu corpo para casa, quero repousar ao lado de nosso irmão e o senhor nosso pai, prometa-me Ned. – implorou sentindo as lágrimas descerem lentamente pelo rosto.

—Prometo.

E com a promessa cumprida, Lyanna se foi deixando Ned com a bebê que chorava em seus braços.

—Eu prometo.

Ele chorava desesperadamente.

—Senhor, senhor. – uma voz o chamava, porém ele ignorou tudo ao redor.

Não percebeu quando a criança foi tirada de seus braços.

Não percebeu quando as servas tentavam reanimar o bebê que morria lentamente em seus em seus colos.

Não percebeu quando Lyarra morreu alguns minutos após a mãe.

Os Deuses tinham cumprido um dos pedidos de Lyanna, tiraram sua vida e de sua filha, elas finalmente estavam livres.

Howland que o tirou de seu transe e ele percebeu o que tinha acontecido.

Sua irmã e sobrinha estavam mortas, e ele prometeu leva-las para casa e era isso que faria.

Porém antes disso, precisava para em Tombastela, devolver a espada de Arthur Dayne para sua casa.”

Bran encarava a tumba de sua tia e sabia que lá dentro, não apenas os ossos dela repousavam, como os ossos de sua filha que mal teve tempo de viver.

Se tudo fosse diferente, talvez se fosse outro tempo às coisas poderiam dar certo, porém não naquele.