Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 23
De volta para a casa




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Maidaguri – Nigéria 2019.

O coração de Samuel batia acelerado diante da expectativa de reencontrar sua família. Há sete anos ele tinha deixado seu país, na bagagem levava apenas a esperança de reconstruir sua vida. Anos depois ele estava de volta. Agora, era outro homem. Apesar de ter deixado tudo para trás, ainda levava consigo sonhos de jovem.

Ele olhou para Fernanda que estava com Antônia que tinha dormido metade da viagem. Ainda agora a pequena dormia com a cabeça apoiada no ombro da mãe. A cena era a mais terna que ele já tinha visto.

Ele ajeitou o cabelo que Fernanda que havia bagunçado por causa do vento. Ela o olhou e lhe sorriu ternamente.

— Obrigada.

Em poucas horas eles chegaram até a cidade onde ele morou boa parte de sua vida. Logo na chegada avistou alguns conhecidos e sentiu a expectativa.

Fernanda também estava ansiosa e nervosa de como seria conhecer a família de Samuel. Ela olhou para o anel em seu dedo e sorriu. Estava feliz, mas ao mesmo tempo apreensiva. "E se de repente a mãe de Samuel não gostasse dela?" Essa inquietação não saia da mente de sua mente.

Samuel conhecia Fernanda e percebeu a sua angústia.

— Não fique assim, minha mãe está ansiosa para conhecê-la. Tenho certeza que vocês se darão muito bem.

O reencontro entre mãe e filho foi lindo demais. Por um momento eles mantiveram-se abraçados apenas removendo as barreiras que os tinham separado durante todos aqueles anos.

Ana tocou a face do filho com as duas mãos transmitindo carinho. Logo em seguida ela olhou para Fernanda que assistia a cena de longe. A mulher sorriu e se aproximou dela.

— Essa é a mulher que meu filho não para de elogiar? — Ela disse em inglês. Depois olhou para a Antônia e seu olhar iluminou. — Ela é linda! Tenho a neta mais linda!

Fernanda conseguiu manter a calma diante do nervosismo. Minutos depois ela descobriu que não deveria, pois estava diante de uma família amigável e divertida. Todos a trataram com extremo carinho, tentando fazer com que ela se sentisse o mais à vontade possível.

O vilarejo era bem simples e as pessoas que moravam nos arredores pareciam pessoas humildes, mas em nenhum momento Fernanda sentiu-se incomodada com isso. Muito pelo contrário. Depois de estar com pessoas ricas que não sabiam apreciar as coisas simples, ela descobriu que se sentia mais à vontade ao lado de pessoas humildes.

As crianças estavam à vontade com a avó paterna. Ana apesar da idade era uma senhora muito comunicativa e tinha trato com as crianças. Eram resultado de uma vida dedicada aqueles pequenos.

— E as crianças do abrigo? — Samuel perguntou percebendo que sentia vontade de revê-los. Nunca tinha parado de pensar neles.

Ana levantou o olhar na direção dele. Samuel percebeu a tristeza. Era a resposta que ele não queria ouvir.

Fernanda percebeu que aquela era uma conversa particular e logo levou as crianças para comerem alguma coisa na cozinha. A agitação na casa com a presença de visitantes era perceptível. Todos queriam reencontrar com Samuel e conhecer sua nova família, e também rever o pequeno Emir , que agora já era uma rapaz.

Samuel percebeu que Fernanda tinha saído. Ele não gostava de esconder nada dela, mas aquela era uma conversa que teriam em outro momento. Ele olhou para a mãe e ela sentou perto dele. Rapidamente começou a relatar a vida deles ali desde o ataque do grupo extremista. Não tinha sido fácil suportar as ameaças a vida de todos, principalmente das crianças.

— Eles podem atacar a qualquer momento, você sabe disso.

Samuel na suportava a ideia de perder a mãe. Conhecia o sonho dela e o amor dedicado a tudo aquilo.

— Você sabe que pode ir para o Brasil a hora que quiser... Lá eu sempre a receberia com maior prazer.

Ana sorriu amável.

— Eu sei disso querido. Mas não poderia abandonar minhas crianças... Elas são a minha vida. Claro, que você também meu filho. Você tem a Fernanda e também seus filhos. Não iria atrapalhar vocês...

— Você jamais faria isso...

Ana gesticulou demonstrando que não queria mais falar disso . Samuel entendeu que aquele era um tema encerrado. Ana já havia decidido e não iria mudar de ideia. Ele resolveu aceitar e apoiar o sonho da mãe, que em parte era o seu, mas agora era um homem que tinha uma família. Tentaria realizar seus sonhos de outro modo.

— Agora deixe esse rosto tristonho e vamos lá com os demais. Não quero perder um minuto ao lado dos meus netos.

Ele assentiu concordando e seguiu com a mãe em direção à cozinha.

***

Fernanda e Samuel saíram para conhecer a cidade. Ela pediu para conhecer o local onde ele trabalhava. O local ao qual ele sempre relatava com bastante nostalgia.

Samuel sentiu ansiedade enquanto chegou perto do local. Automaticamente vieram as cenas em sua memória. Aquele dia em que tudo havia se perdido. Quando não existiam mais sonhos e tudo acabou. Fernanda olhou para ele e percebeu sua inquietação. Ela segurou a mão de Samuel e as pressionou junto as suas. Aquele gesto teve o poder de trazê-lo de volta a realidade.

— Esse lugar me trouxe boas lembranças... E também lembranças tristes.

Dava tristeza  ver que não existia mais o hospital, a escola das crianças. Que tudo tinha se perdido. Tudo por causa de pessoas que tinham ódio no coração. Que não aceitavam o diferente. Mas ainda existiam ali no vilarejo, as pessoas que ele tinha atendido muitas vezes. Algumas o reconheceram e lhe desejaram boas dádivas.

— As pessoas aqui são amáveis! — Fernanda comentou enquanto eles caminhavam de retorno para casa.

Samuel virou para ela e assentiu concordando.

— Queria que você tivesse visto antes. Tenho certeza que iria amar.

Ela também pensava assim. Olhando as imagens à sua frente , eram de cortar o coração. Só o que existia era as ruínas do que antes tinha sido um sonho. Nunca pensou que um dia pudesse estar diante de um cenário como esse. Tinha lido sobre os grupos terroristas que atacavam , mas jamais poderia imaginar aquilo. Agora tinha ainda mais admiração por aquele homem ao seu lado.

— E sua mãe, o que ela disse de ir viver conosco no Brasil?

— Mamãe gosta demais desse lugar. Ela dedicou parte da vida dela a tudo isso. Eu já tentei, mas é impossível. Tenho apenas que aceitar.

— Sua mãe é uma mulher incrível!

Ele sorriu e a abraçou mantendo-a em seus braços.

— Ela achou o mesmo de você.

Fernanda virou para ele demonstrando sua alegria ao ouvi-lo dizer aquilo.

— Ela disse que não deveria deixar você. Que se eu fizesse isso, seria um homem burro.

— Eu amei ainda mais sua mãe! — Ela comentou graciosa. 

Samuel gargalhou gesticulando em negativa. Definitivamente, ele não poderia jamais deixá-la. Já estava preso àquelas mulheres em sua vida.

Samuel esteve com Emir no cemitério onde estava enterrada sua mãe. O menino ficou em silêncio enquanto depositava uma flor no local onde Kenya descansava.

— E eu sinto saudade dela.. — Sussurrou o garoto enquanto sentia os olhos lacrimejantes. Samuel abraçou o filho confortando-o. Ele também por muito tempo sentiu falta de Kenya, mas tinha certeza que ela ficaria feliz com sua escolha. E ficaria feliz em ver o grande homem que estava se tornando seu filho. Fez questão de sempre ter a memória dela presente. De trazer os valores que ela havia ensinado. Os sonhos dela. Tinha certeza que Emir jamais se esqueceria da grande mulher que foi sua mãe.

— Sua mãe ficaria orgulhosa de você, meu amor.

O menino sorriu feliz. Emir gostava muito do pai e também gostava muito da Fernanda e deu sua nova irmã.

— Papai, eu estou feliz em ter a Fernanda como minha mãe. Quero que a gente seja uma família.

Samuel sorriu feliz. Muito feliz!

Eles estiveram na cidade durante uma semana. Depois disso eles retornaram ao Brasil. Foram dias muito felizes, dias que eles jamais se esqueceriam.

 


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