Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 20
Verdades ocultas.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/777310/chapter/20

Sentado no corredor do hospital, Samuel levou as duas mãos a cabeça e suspirou fundo. Ele pensou nas coisas que haviam acontecido. Sentiu medo de que algo tivesse acontecido com Fernanda. Quando viu Lorenzo machucando-a, não pensou duas vezes. Odiava imaginar que ela estivesse sofrendo durante todo aquele tempo.

O tempo passava e ansiedade aumentava. Como médico, ele deveria estar acostumado a esse tipo de situação. Mas não conseguia manter a calma naquele momento.

— Samuel!

Uma voz conhecida soou próxima a ele. Samuel virou e deparou-se com Sandra que tinha a feição de preocupação.

— O que houve? Onde está a Fernanda?

— Calma Sandra, ela está na mesa de cirurgia. A bala se alojou numa parte complicada e foi necessária a remoção.

A senhora pressionou as duas mãos demonstrando nervosismo. Ele pegou a mão de Sandra a fim de tranquilizá-la.

— Não se preocupe, esse tipo de cirurgia é sem grandes riscos.

Sandra procurou a poltrona e sentou. Ela chorava e tinha as mãos trêmulas. Ele ficou inquieto ao vê-lo e sentou ao seu lado.

— Quem fez isso? — ela perguntou.

Samuel suspeitava que Sandra soubesse, mas precisava de uma confirmação. Ele relatou a situação ocorrida na tarde daquele dia. A incredulidade da senhora era a confirmação que ele precisava

— Como ele pôde? Ele sempre ameaçou, mas nunca pensei que pudesse fazer algo assim! — Ela sussurrou baixinho, mas Samuel ouviu e perguntou:

— Ele sempre foi agressivo com ela? Quando a vi com aqueles machucados... Juro que tive vontade de matar aquele homem!

Sandra olhou para ele e sussurrou:

— Ela passou por muito mais do que você imagina!

Samuel levantou. Estava indignado com o que ouviu. Não entendia porque Fernanda passava por tudo aquilo e continuava ao lado de Lorenzo. Mesmo quando estava disposto a ajudá-la, ainda assim ela fez essa escolha.

— Eu não entendo... Por quê? — ele confessou.

— Por causa da família dela... E também por sua causa.

Ele não entendeu o que Sandra estava falando.

— Porque você diz isso? Não entendo...

Sandra estava disposta a falar tudo. Pedia que Fernanda a entendesse, mas estava cansada de vê-la sofrendo por causa daquele casamento infeliz. Ela levantou e parou em frente a Samuel. O olhar dele demonstrava seu ceticismo.

— Porque você acha que ela desistiu de você?

Samuel não respondeu nada. Sandra não esperava que ele o fizesse, então ela continuou:

— A Fernanda te amava! Mas desistiu de você quando o Sr. Lorenzo ameaçou destruir tua vida. Ameaçou destruir com os bens da família dela.

Samuel ficou sem reação ao ouvi-la. Como aquilo podia ter acontecido? Indagou-se sem acreditar de fato que tudo fosse real. Como aquele homem podia ter chegado tão baixo? No dia em que Fernanda se afastou, ele decidiu que faria de tudo para esquecê-la.

As palavras dela ainda ecoavam em sua mente.

"(...) Eu me diverti muito ao seu lado, mas é hora de retornarmos à nossa realidade. (...) Por favor, você acha mesmo que isso daria certo? Olhe para você e olhe para mim!"

Foi doloroso demais ouvir tudo aquilo. Aquele belo sentimento despedaçou-se diante de seus olhos. O romântico Samuel morreu naquela ocasião. Mas ele conseguiu se reerguer depois de tudo aquilo.

Jamais poderia imaginar que o real motivo para que aquilo estivesse acontecendo fossem as ameaças de Lorenzo.

— Isso é surreal demais! — Ele sussurrou ainda incrédulo.

— Existem muitas coisas que você não sabe Samuel... Muitas coisas!

Naquele momento o médico veio em busca dos familiares de Fernanda. Ele queria informar que a cirurgia tinha ocorrido sem problemas e que logo ela seria transferida e para um quarto particular.

— Que alívio! — disse Sandra sentindo-se mais tranquila.

Após a ida do médico ela recordou de Maria Antonia. Com toda a confusão, tinha esquecido que ela não poderia ficar sozinha. Ao mesmo tempo teria que pensar numa solução. Quem poderia ajudá-la naquele momento? Indagou-se em aflição.

Ela se aproximou de Samuel e disse:

— Eu preciso buscar algumas coisas... Alguém vai precisar ficar acompanhando a Fernanda.

Ele assentiu concordando e logo se prontificou a ajudá-la. Sandra nem pensou em questionar, afinal precisava de ajuda.

Durante o trajeto, Samuel pegou o caminho que estava acostumado a fazer, mas foi informado por Sandra o novo endereço. A notícia o surpreendeu, assim como saber que Fernanda e o marido haviam se separado. Porque ela não disse nada? Aquela pergunta ecoava em sua mente.

Sandra estava tensa. Não queria imaginar quando Samuel visse Antonia. Seria inevitável que mais verdades fossem reveladas. Talvez fosse necessário. Afinal de contas, muitas pessoas tinham sofrido por causa de mentiras.

O carro estacionou em frente à modesta casa. Nem de longe lembrava a suntuosa mansão onde Fernanda tinha morado. Mas nem por isso deixava de ser uma bela casa aconchegante.

Samuel entrou na residência e foi observando ao entorno. Tinha um balanço e alguns brinquedos espalhados. Então ele recordou-se que Fernanda tinha uma filha. Como havia esquecido a criança? Ele indagou-se.

Minutos depois, uma garotinha de aproximadamente três anos entrou na sala. Ela trazia consigo um urso de pelúcia e colocava o polegar na boca. Com seu jeitinho infantil olhou para Samuel.

— Vovó Sandra — disse ela correndo em direção a senhora, que rapidamente a pegou no colo.

Samuel olhava para a menina e ficou encantado. Logo percebeu nela os traços que lembravam a ele. Os cabelos da menina eram como os dele, mas foram os olhos cor de âmbar que realmente o deixaram sem ação. Estava diante de uma cópia sua. Céus, aquela menina poderia ser sua filha?

— Sandra?

A senhora sabia o que Samuel iria perguntar. Antes que ele o fizesse, ela se adiantou e respondeu:

— Eu sei o que você vai perguntar... A resposta é sim!

— Como? — Samuel estava sem ação. Nunca imaginou que estaria diante de sua filha. Uma filha que ele nunca soube que existia.

— Lembra quando eu falei que existiam muitas coisas que você não sabia? Pois então Samuel, a Antônia faz parte disso.

Maria Antônia apoiou a cabeça no colo de Sandra e olhou para ele. Samuel estava assustado, mas também se sentia encantado com ela. Lentamente ele aproximou e segurou de leve na pontinha dos dedos da pequena. A menina não entendia o que estava acontecendo, mas sorriu para ele.

— Onde está a mamãe?

— Mamãe não poderá voltar para casa hoje, mas logo você a verá.

Antônia esfregou os olhos e bocejou. Em seguida fechou os olhos e abraçou a senhora.

— Ela é linda. — disse Samuel sentindo-se encantado em conhecer a filha. — Nunca pensei...

— A Antônia gosta muito da mãe. Vai sentir muita falta dela. Preciso de alguém para cuidar dela enquanto fico com a Fernanda.

— Se não tiver problema... Eu posso ficar com ela. Tenho certeza, que o Emir vai adorar conhecê-la.

Ela assentiu concordando.

— Vou ajeitar algumas roupas dela...

Sandra sumiu no corredor e minutos depois voltou trazendo uma sacola com as coisas de Antônia. Ela as entregou para Samuel e juntos eles seguiram de volta ao veículo.

Ele deixou Sandra no hospital e retornou para casa. Na mente de Samuel ecoavam as palavras da senhora.

"Talvez ela estranhe um pouco, mas logo vai se acostumar com vocês. Tenho certeza que ela vai amar conhecer o pai e o irmão."

Ele entrou em casa e percebeu que tudo estava silencioso. Certamente Emir já dormia. Ele carregou Antônia até o quarto e lentamente a colocou sobre a cama. Ajeitou o cobertor sobre ela. A menina pareceu reconhecer o aconchego da cama e dormiu tranquila. Por alguns minutos ele ficou olhando a filha dormir. A cena foi muito terna. Como podia imaginar que tinha uma filha? Ele indagou-se ao mesmo tempo em que sentia alegria por tê-la conhecido.

Emir acordou ao ouvir os passos do pai. Ele esfregou os olhos e ficou assustado ao ver a menina que estava dormindo na cama ao lado da sua.

— Papai, quem é essa garota?

Samuel fez sinal de silêncio para que Antônia não acordasse. Como houve pouco tempo para organizar as coisas, ela dormiria no quarto de Emir. Tinha medo que ela acordasse pela noite e estranhasse que estivesse sozinha.

Ele acendeu o abajur e saiu deixando a porta aberta, em caso de alguma emergência.

Emir estava intrigado e observava a cena atentamente. Como era um garoto obediente, não falou nada acerca dela estar em seu quarto, mas bastou Samuel olhar para o filho para perceber sua inquietação.

— Eu sei! — disparou ele ao chegar na sala.

— Quem é essa garota papai?

— Você sempre desejou uma irmã.

— Um irmão. — disparou o menino discordando do pai. Por vezes ele sentia falta de um amigo para brincar. Olhava para os outros garotos que tinham uma família completa e desejava ter uma mãe e irmãos.

—Ela é sua irmã.

— Como?

Era difícil para ele que era adulto, imagine como não seria para uma criança de sete anos?

Samuel rapidamente o colocou a par de toda a situação. Emir era um garoto muito inteligente. Apesar de sua pouca idade, ele foi capaz de entender. Não esperava que ele fizesse uma festa naquele momento, mas ao longo do tempo pretendia recuperar esse tempo perdido.

No dia seguinte era feriado, ele aproveitou o momento para ficar em casa ao lado dos filhos. Antônia acordou e ficou assustada por estar numa casa diferente. A primeira coisa que ela queria era ver a mãe. Como dizer para a pequena que Fernanda estava no hospital? Ele indagou-se se sentindo temeroso e assustado. Durante muito tempo trabalhou com crianças, mas pela primeira vez não sabia o que fazer.

— A sua mamãe logo estará novamente com você, meu anjo.

A garota fez beicinho e sinalizou que estava pronta para chorar, mas Samuel se aproximou e abaixou para ficar na sua altura. Eles se olharam por alguns minutos e a menina demonstrou curiosidade.

Ela apontou na direção dos olhos de Samuel. Ele ficou confuso sobre o que ela queria dizer.

— Não entendo.

— Os olhos... — Quando ela tocou os próprios olhos, ele finalmente compreendeu o que Antônia queria dizer. Ele sorriu concordando. Sim, aquela era uma marca forte na família dele. Sua mãe havia sido a responsável por aquela genética.

— Sim, o meu e o dele. — Ele apontou na direção de Emir. Rapidamente ele a apresentou ao garoto. Apesar do jeito tímido, logo eles começaram a se entender. Talvez fosse a linguagem genética entre eles. Antônia ficou a vontade ao lado do irmão.

— Vamos tomar café?

Os dois sentaram um ao lado do outro. Emir ajudava a garota a fatiar o pedaço de pão. A menina olhava atentamente a tudo que ele fazia. Aquela cena não poderia ser mais agradável aos olhos dele. Pela primeira vez sentiu-se incapaz de se expressar algo com palavras. Ele simplesmente estava encantado com aquele pequeno pedaço de si.

— Limpa a boca. — disse Emir ajudando a irmã a limpar a boca que tinha ficado suja de leite.

Depois da refeição eles foram brincar no playground com as outras crianças, mas antes Samuel incumbiu Emir de cuidar da irmã. O menino assentiu concordando. Em resposta o pai sentiu-se orgulhoso do filho e beijou em ambos no rosto.

Samuel ajeitou algumas coisas e por alguns minutos olhou pela janela em direção ao playground. Ele sorriu terno ao ver aquela cena. Emir ajudava Antônia a embalar no balanço. O sorriso no rosto dela era contagiante. Não resistindo a tentação ele foi até o lugar e ficou com as crianças. 

Há tempos tinha dedicado toda sua vida para o cuidado de crianças. Nunca tinha imaginado que um dia iria precisar daquelas habilidades.

Ele estava distraído e não percebeu a aproximação de Luana. Ela chegou por trás e tapou seus olhos. Samuel tateou as mãos e sentiu a pele delicada. Logo em seguida o som do sorriso contido foi o suficiente para ele responder.

— Luana.Ela aproximou os lábios dos dele e o beijou com carinho. Em seguida revelou-se para ele.

— Que bom saber que você me reconhece.

— E como eu não faria isso? — o sorriso gentil de Samuel era acolhedor. Era uma das coisas que Luana gostava dele. Com carinho ela toucou em sua face e sentou-se ao seu lado.

— Diga-me, qual o motivo dessa surpresa?

— Vim buscar os dois rapazes do meu coração para um passeio.

Samuel olhou para Antônia e em seguida viro para Luana. Ela percebeu a presença da criança e o encarou surpresa. A menina era muito parecida com ele, bastava olhar para perceber a semelhança.

— Samuel?

Ele sabia que não seria uma conversa simples, mas na poderia ocultar aquele ponto de sua vida.— Creio que precisamos conversar.

O olhar de Luana revelava sua curiosidade. Algo lhe dizia que aquela conversa estava relacionada com aquela bela gatinha de olhos âmbar e lindos cachos.

— Conversar? Por acaso essa conversa esta relacionada com aquela criança?

— Maria Antônia. — A voz dele soou suave. Ficou evidente seu carinho para com a filha que recém tinha conhecido. — Sim. 

Luana pressentiu que seria algo que a abalaria. Ela o seguiu quando ele pediu que ela o acompanhasse. 

— Eu já estou aqui. Pode falar...

Samuel contou tudo para Luana. Não queria esconder nada dela, já que estavam dispostos a iniciar uma relação, era preciso que ambos tivessem confiança. Quando ele terminou de contar olhou para Luana. Ela estava impactada com tudo o que tinha ouvido. Era claro que o choque foi grande.

— Você ainda ama essa mulher?

Ele suspirou fundo. Essa era uma pergunta que ainda ecoava na mente dele. A resposta estava lá, apesar dele tentar se esquivar da realidade. Depois de todos esses anos, ainda existia aquele sentimento. Samuel não queria machucar Luana. Essa era a ultima coisa que ele queria, mas ele sabia que se ocultasse aquela verdade, seria pior.

— Você ainda a ama, não é? — Certas coisas eram difíceis de ocultar, pensou Luana enquanto olhava fixamente para Samuel. O fato de ele demorar a responder, só deixava ainda mais evidente seus sentimentos. — Você ainda a ama.

Samuel não tinha como ocultar. Ele assentiu a cabeça e sussurrando respondeu:

— Eu pensei que a tivesse esquecido, mas quando eu a encontrei naquela festa... Eu descobri que ainda tinha sentimentos por ela. 

Lágrimas se formaram nos olhos de Luana, mas ela rapidamente se recompôs limpando o rosto. Samuel sentia-se culpado por aquilo estar acontecendo. Ele se aproximou e tocou-a em ambas as faces e beijou-a na testa. 

— Eu não queria machucar você Luana. Você é muito especial para mim, mas do que você pode imaginar.

— Especial, mas não a que você ama. Eu amo você Samuel. Amo demais, mas não quero você pela metade. Eu quero você completo.

Luana se afastou e pegou a bolsa que havia deixado sobre a mesa.

— Acho que hoje não é um bom dia para passeio. Falo com você depois... — Ela estava saindo, mas retornou e disse: — Ela é linda... E muito parecida com você.Samuel não respondeu nada, apenas a viu partir. 

O telefone dele soou. Vendo que se tratava de Sandra, ele atendeu. Do outro lado da linha, ela informou sobre o estado de saúde de Fernanda. Avisando-o que ela estava bem. O quadro estava evoluindo perfeitamente. Dentro de poucos dias ela voltaria para casa.

Samuel não se importava de ficar com Antônia , mas o que lhe preocupava, era o fato da menina sentir falta da mãe.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jornada para o amor." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.