Modus Operandi: Dias Negros de Ocultgard escrita por Nemo, WSU


Capítulo 8
Bem-vindos a Jarnyan


Notas iniciais do capítulo

Vamos mudar o foco só um pouco ^^

Ps: Desculpem o atraso, foi um fim de semana tenso.



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Alguns sacrifícios não valem a pena – Kay Dawa”.

 

“— Um dia nós vamos nos orgulhar de ter vivido isso.

Será que vamos irmã?”

Kay acordou em um sobressalto, o suor em suas vestes indicava mais um pesadelo, arfou por tempo, colocando a mão direita sobre a testa e procurou se acalmar olhando ao seu redor. As brasas da fogueira iluminavam seus companheiros, Ashak e Hadack, dormiam juntos na carroça, enquanto Gadamer em uma rede, e ele no chão, já que a guarda era sua.

Esfregou os olhos mais uma vez e se recostou na árvore, ainda era de madrugada, a floresta estava cheia de barulhos, a natureza noturna encontrava seu ápice, grilos, corujas e outros pássaros emitiam solitários sons. A grande lua branca figurava no céu, junto com uma imensidão de estrelas, mas nada disso fazia diferença ao rapaz, talvez quando fosse mais novo.

Agora, seus amigos eram seu mundo, a realidade era centrada neles, em meio as brumas da noite. Se perguntava o que faria caso algo ocorresse nessa missão, ou mais à frente e concluiu que não sabia, abaixando a cabeça.

Viver neste mundo sempre foi perigoso, ainda mais viver essa vida, sem recompensas, sem casa ou família. Somente com o desejo de fazer o bem, uma maldita utopia, mas uma que vale a pena…

Embora a maioria das pessoas nos olhe torto e ria de nós, enquanto fazemos nossa parte…

A quem estou enganando? No fim estou rodeado de uma multidão sem compaixão, que em meu primeiro erro, vai me apedrejar.

 

 

 

Pela manhã

 

 

O grupo seguia viagem novamente, dessa vez o único a dormir era o próprio Kay, enquanto Hadack conduzia a carroça com calma, Gadamer e Ashak dividiam seu dejejum, um pão seco para cada um e chá frio, nada apetitoso ou excepcional, mas driblava a fome.

De todas as ordens essa era a mais “fraca” e pobre, diferentemente dos Inter-Reinos, que recebiam certa taxa dos impostos dos quatro reinos, por serem uma força propagadora de segurança, ou dos guardiões que atuavam por várias vezes como mercenários e guarda-costas. Os caminhantes viviam de donativos, e do que produziam de alimentos em suas parcas propriedades, daí todo o desprezo.

Nesse contexto, eles no princípio, crianças de rua, encontraram um lar na ordem, e agora desejavam fazer o melhor pelos outros em suas condições. Gadamer, era o mais velho praticamente criou os três, mais do que um grupo, eram família.

Essa responsabilidade, me deixa desconfortável. Pensou Gadamer. O peso da falha é descomunal… e acho que os Guardiões e seus Valkgards, são um dos nossos diversos problemas. Se a informação circular, criminosos, nobres e até pessoas comuns estarão atrás da fórmula.

— Parece preocupado Gad. — falou Hadack.

— Só estou pensando em algumas possibilidades. Para ser preciso, nossa rota de fuga, quanto a extração começar. Vocês não esperam que sigamos pela cidade, não é?

— Eu sugiro que partamos para a estrada que vai à cidade de Zeldhar, atravessemos a selva a pé, entremos no rio e saíamos dele mais abaixo, sem deixar rastros. — Ashak, falou calma como sempre.

— Mas existe a chance de sermos apanhados no caminho. Poderíamos pegar um barco no porto Atrus e seguir tranquilamente até uma base. — revidou Hadack.

— No entanto, quem garante que chegaremos a Atrus? E o mais importante, existe a disponibilidade de um barco? Um que possamos pagar? — questionou Gadamer — São muitas dúvidas para algo que exige solidez, o plano de Ashak cumpre esse requisito.

Todos manearam com a cabeça e o silêncio voltou a se instaurar. Ashak observava Kay com curiosidade: O que será que está sonhando?

Estava com um semblante pacífico, mas aos poucos essa expressão foi mudando, aquilo não era um sonho, tão pouco um pesadelo, era uma memória.

 

 

 

Três anos atrás

 

Dois jovens corriam desesperados pela tortuosa mata de Jarnyan, em seu encalço sete Escravistas e dois cães de caça. Os irmãos Dewa tinham se tornado uma pedra em seus sapatos, se intrometendo em seus negócios, ora pessoalmente, ora os denunciando para Inter-Reinos. Os dois atuais líderes do império criminoso decretaram sua sentença: Morte.

Valk e Kay, a muito fugiam deles e sempre eram bem-sucedidos, mas a sorte acaba para todos, inclusive para os dois, vestidos em farrapos no meio da chuva torrencial, o clima fechado e escorregadio os deixava sem opções.

Kay, em sua corrida acabou tropeçando e derrapando na lama, sendo em seguida erguido por sua irmã, eles continuaram a correr, Valk, se prenunciou:

— Nós temos que chegar ao rio, lá podemos despistá-los e chegar a Zheldar.

Ele concordou com a cabeça, enquanto retomavam a fuga, ouvindo o som de vozes exaltadas, gritos raivosos e latidos, atrás de si. Flechas zuniam entre os dois, se cravando no solo ou nas árvores próximas. Valk apanhou uma delas em sua corrida, e cheirou a ponta. Veneno.

Infelizmente chegaram na beira de um barraco alto, onde o destino levava para uma queda nem um pouco macia. Tentativas de descer pelo mesmo, zeradas graças à umidade da chuva, não haviam muitas esperanças, embora, o rio pudesse ser visto dali.

Os dois olharam um para o outro, deram as mãos e saltaram, um gesto de fé, a queda foi desastrosa, mas aceitável deixando ambos com arranhões e machucados principalmente nos joelhos e mãos, mas continuaram, ainda que cambaleando.

As flechas os acompanharam à medida que adentraram novamente na mata, com Valk por trás de Kay, no meio da corrida a mão dela tocou seu ombro, ele se virou não compreendendo o motivo dela ter parado. Mas ao olhar em seus olhos, seu semblante entendeu:

Ela parecia desvanecer a cada segundo, suas pernas tremiam e sua sustentação ameaçava ceder, mas teimava viver, enquanto o veneno das setas em suas costas se espalhava mais e mais, havia protegido o irmão até o fim, visto que ele jamais poderia desviar de todas elas a tempo.

— Vai cumprir aquilo que me prometeu, não é? — questionou ela com uma expressão de dor, começando a se contorcer.

— Vou! Mas nós vamos viver irmã… — disse ele tentando a tranquilizar, contudo mergulhando cada vez mais no desespero.

— Você vai viver por nós dois daqui em diante… — respondeu ela arfante, buscando apoio na árvore próxima. Sua mão começou a deslizar por ali, enquanto a chuva começava a parar — Seja forte como nosso pai e mãe foram…

Ela começou a engasgar e a se esvair, mas a última coisa que o rapaz teve certeza de ouvir foi:

— Viva…

 

 

 

Dias atuais

 

 

Kay acordou novamente em sobressalto diante de seus amigos, que puderam acalmá-lo, diante de sua angustia e amargor. Era por volta das onze horas quando seus olhos contemplaram a imensa cidade de Jarnyan. Era justamente por causa dela que o reino tinha esse nome, afinal a expansão ocorreu a partir dali, da mesma forma com os outros reinos.

A cidade não tinha muita diferença em termos estruturais, havia uma imensa muralha a protegendo (exceto que em termos de largura e altura abarcava quase o dobro da muralha Karnadiana), e os militares espalhados como formigas também eram um grande aditivo.

Ao pararem no portão, a carroça foi checada, junto das as identidades f (papéis com nome, idade, local de origem, carimbadas pelo selo do reino e cidade), cartas de recomendação (caso não houvesse identidade), e perguntas foram feitas sobre o motivo de estarem ali:

— Viemos pegar uma aliada, visitar uma amiga e comprar mantimentos. — falou Gadamer.

— Certo, só tomem cuidado com os subúrbios eles estão bem perigosos ultimamente. — comentou o guarda.

— O que está acontecendo? — indagou Ashak, curiosa a respeito de sua terra natal.

— Desordeiros estão arrumando confusão em estabelecimentos, mas vai ficar sobre controle. — disse ele indo atender o próximo.

Á carroça passou pelos enormes portões de ferro, começou a adentrar em uma cidade bem diferente: às ruas eram movimentadas sim, mas não por negociantes, agricultores, pastores e vendedores, estes eram minoria, a maioria era composta de soldados, mercenários, ferreiros e guerreiros.

O reino de Jarnyan, era a elite armamentista da época, às melhores armas e guerreiros se faziam ali, a resposta da humanidade para o desconhecido. Por todo esse poder, eles chamaram algo para si, ainda que agora fosse um período distante da era de ouro.

Os caminhantes passaram pelas ruas de terra socada e moradias humildes em sua maioria, chegando ao seu refúgio, uma residência de madeira desgastada e esvaecida.

— Os pássaros estão agitados nesta tarda. — falou um velho, sentado em um banco na varanda.

— Talvez seja pela tempestade vindo do sul. — respondeu Gadamer, aquilo era uma contrassenha.

— Você envelheceu bem, meu amigo. — comentou o velho sorrindo, e retirando seu chapéu de palha, como cortesia.

— Você também não está nada mal Hank. — Ele também sorriu, e ambos se cumprimentaram. Os outros saiam da carroça e carregavam algumas roupas para a doação. Kay foi o último a entrar, amarrou os cavalos, deu água e ração, afinal a jornada tinha sido longa, deveriam ser bem tratados e mereciam.

O rapaz acariciou por um tempo o rosto de Sleyp, e depois de Skady, enquanto cada um comia em seu cocho. Eu só lamento não poder criá-los como meus, mas quem sabe um dia as coisas melhorem. Sem perceber colocou a mão direita na face de Skady, ela refugou imediatamente, se afastando, Kay só pode se lamentar.

Após um tempo adentrou na casa, seus amigos discutiam a mesa, era sobre a extração, quem demandava essa conversa era Rayfla, a representante da ordem e coordenadora em Jarnyan.

— O plano de vocês é bom, mas o seu possível inimigo é muito perigoso nesse ambiente, vocês sabiam que a alguns dias o conde Marcus de Karnadyan foi assassinado? E atrás dele foi o conde Nard, anteontem, junto com um grupo de escolta e uma Inter-Reinos, Mediadora.

— Certo, vocês têm mais informação sobre ele?

— Sim, mas é melhor que ela lhes conte. Agora, recusar a missão não é uma desonra… — Rayfla disse passando um tom desanimado. — Hadyle?

A alquimista surgiu de seu quarto, passando pelo véu desbotado que lhe concedia privacidade, analisou cada um dos presentes, parando um pouco em Kay. O silêncio se fez e ela se apresentou:

— Meu nome é Hadyle Selat, era uma alquimista guardiã, há pouco tempo deixei a ordem. — Ela trajava agora roupas mais civis, sem qualquer referência a qualquer ordem, ou que denotassem uma posição social elevada.

Se sentou em uma cadeira disposta a mesa redonda de madeira, e continuou cabisbaixa, com uma pontinha de emoção no fundo da voz:

— A última experiência é o motivo; nela deveríamos criar Valkgards, pessoas com atributos aprimorados. Nós usamos componentes de diversas propriedades, inclusive testamos em ratos, o resultado tinha sido positivo neles.

— Mas algo deu errado. — emendou Ashak.

A garota sorriu, um sorriso de desgosto:

— Você nem tem ideia…

 

 

 

Em outra parte da cidade

 

— Sua história é interessante, Caminhante. — falou uma voz nas profundezas do velho casarão, arruinado pelo tempo e pelos antigos depravadores.

— Você disse que pouparia minha família, se eu lhe desse uma informação de valor. — respondeu o rapaz trêmulo.

— Eu sou um homem de palavra — rebateu a voz quase espectral. — No entanto...

— Mate-se, e talvez isso te reúna com sua fraca família. — ordenou o homem, jogando uma faca para o rapaz agora desesperado.

— Você sempre foi tão fraco e inútil... ninguém vai sentir sua falta. — disse um homem descendo as escadas do casarão, passando a mão pelo apoio de madeira lisa.

Enquanto o pobre caminhante se mutilava, fincando a faca diversas vezes em si mesmo, a insanidade o havia tomado, tudo por conta da influência da peculiar figura, padecendo logo em seguida.

— Isso foi desnecessário — questionou o homem dentro de uma armadura completa e uma imensa espada em mãos.

— Traidores não merecem segundas chances, se teve coragem de trair os caminhantes, nos trairia também. Além de que ele sabia demais. Você está ficando mole?

— Não, só acho que...

— Não, não acha nada, agora vamos, temos trabalho a fazer — Anazak, continuou a caminhar, com um sorriso obstinado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado

I see you later ^^



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