Modus Operandi: Dias Negros de Ocultgard escrita por Nemo, WSU


Capítulo 20
O Caminho Mais Difícil – Parte 2




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Santuário

 

— Eu não entendo, onde está Gadamer? — questionou Alayhin confuso para a alquimista e o caminhante.

— Ele se sacrificou para barrar seu irmão. — falou Hadyle com peso na voz. A divindade colocou a mão esquerda sobre a fronte:

— Essa é uma notícia infeliz, ele era um bom homem… e o fato desse ser estar vivo é um grave problema, mas ainda não entendo, como conseguiram vencê-lo? E a fórmula?

— O ser pegou. — falou Kay — Tivemos muitos contratempos… mas se possível, gostaria de agradecer ao Draghard. Se não fosse ele… estaríamos todos mortos, ele invocou Mortys, e criou a nossa oportunidade de fuga…

— Temos que salvá-lo! — bradou Hadyle angustiada.

— Não podemos, não de forma direta. — falou Alayhin, ela ia discordar, mas ele continuou apelando para a razão. — Perderíamos mais homens do que ganharíamos, apenas tenha paciência, treine e se torne forte. Um dia, você vai salvá-lo.

Kay até tentou consolar a alquimista, mas ela saiu correndo sem dar essa oportunidade, eles tinham vencido, mas era uma vitória amarga. Nós sobrevivemos… mas a que custo? O rapaz se questionou, deixando Alayhin sozinho em seu gabinete.

 

 

 

Localização Desconhecida

 

Você conseguiu?”

Sim, mas não foi fácil” Imortus observou. “O Draghard quase me matou… deveríamos dar um fim nele”.

Não seja tão apressado, ele ainda pode nos ser favorável”.

Você quer dizer, me ser favorável, não tenho interesse algum neste mundo morto, já Midgard e os outros reinos têm a oferecer, existem muitos seres interessantes, como esse meu receptáculo aqui”.

Realmente, você não tinha o poder de flutuar. Vai voltar à terra?”

Imortus mostrou a pedra da alma, junto com dois fracos da fórmula. “Acho que vale a pena dar uma olhada”.

 

 

 

Base Guardiã

 

— Bem, qual o relatório? — questionou Guardyhan, para o Guardião Alfa, o terceiro na cadeia de comando abaixo de Guardyhan.

— Tivemos muitas perdas civis na aldeia, tentamos rastrear aquela certa pessoa, mas é como se tivesse desaparecido totalmente. A única compensação é que capturamos o impuro fugitivo, o nocauteei como o irmão instruiu, particularmente achei a cooperação dele bem estranha. E o quadro clínico do Draghard?

Guardyhan parou para pensar e se reorganizar:

— Instável, ele usou demais o poder, isso afetou seu corpo, em parte porque ele já vinha fazendo muitas missões… passou por muita coisa…

— O senhor vai puni-lo por ter nos traído?

— Não tenho nem como, um inimigo pior pegou a fórmula no fim das contas.

Além disso, como poderia punir um homem por proteger outras pessoas? É uma diretriz básica… mas ainda tenho que acertar as coisas, essa aura em transição é um problema, e até onde eu pude ver… quebrou a programação. Pensou a divindade tristemente, sabia o que tinha de fazer: Isso não é justo… nem com ele ou comigo.

— Hafnyr é realmente culpado?

— Ainda não sei, preciso chegar as memórias do Draghard, para determinar se é verdade ou não, já petrificaram os dois novos prisioneiros?

— Já sim, é uma pena que isso tenha que ser feito, gostaria de vê-los mofando, mas é arriscado demais, considerando o que são. — Guardyhan concordou com a cabeça, iram prosseguir na conversa quando um guardião jovem adentrou na sala ansioso:

— Lorde Guardyhan, o Draghard acordou! E está diferente.

— Diferente como? — questionou Guardyhan apreensivo se levantando da cadeira.

 

 

 

Sala de Recuperação, Base Guardiã

 

— Como você se sente? — questionou o deus adentrando no cômodo onde a sua criação se encontrava amarrado a cama. “Habilidade de recuperação rápida como sempre, já voltou a si?” — Qual seu relatório?

— Faminto… esses seus subalternos só me dão sopa. Uma carne assada não seria nada ruim… como última refeição. — falou o rapaz de cabelos castanhos escuros.

— Ele não deveria falar essas coisas. — respondeu o guardião médico. — Deveria ser frio, racional… e não um idiota.

— Vinte e sete escravistas eliminados, irmãos aprendidos com sucesso, fórmula roubado pelo individuo desconhecido, alquimista e caminhante fugiram. — falou uma voz totalmente fria — Agora… me traz comida de verdade…

O homem olhou incrédulo para seu superior que só confirmou com a cabeça com estranheza. “Ante um inimigo, é sério, analisa profundamente, procurando provocar com algumas ironias e descobrir mais com perguntas, se existir oportunidade. Para pessoas desconhecidas vai usar essa mesma seriedade, para mostrar que é forte. Para conhecidos, sempre vai usar essa máscara divertida… quer que te vejam bem…”

Assim que o homem se foi, o semblante mudou para algo entristecido:

— Eu não pude salvar as pessoas do vilarejo, ou os escravistas… minha única real oportunidade de fazer algo certo…

E aí está sua verdadeira face, para os amigos e famíliares, você é um amalgama de tudo isso… determinado, dedicado, preocupado e engraçado… tudo muito bem dosado, para que essa tristeza interior não estrague tudo, como agora… Pensou o protetor de Ocultgard

— Não se lamente, o seu inimigo não era brincadeira, era demais para você. O que eu quero saber é, como quebrou a programação?

— Anazak, o psíquico… invadiu minha mente, e enquanto brigava com a programação… escapei das correntes que me prendiam, virei o jogo, mas ele tentou me influenciar para cometer suicídio.— Tales fez uma pausa com as mãos tremendo — Foi difícil resistir à tentação, me agarrei as pessoas que eu amo, meu sonho, minha promessa… criei minha realidade — suspirou se relembrando de cada um, de tudo o que foi bom — E você vai arrancar tudo isso de mim… e me condenar ao inferno.

— Eu queria poder confiar em você para o nosso propósito, você é o soldado perfeito, em todos os sentidos, só possui um idealismo errado. — A divindade tentou argumentar.

— Essa é a sua realidade. — Ele refutou.

— Viu? Você relativiza tudo! É impossível te convencer…

— Mas, eu te entendo. Entendo seu lado, só não concordo com ele… — Desta vez mantinha uma fala limpa e racional.

Ele definitivamente me lembra do Alveus.” Parou pensativo, enquanto um assistente trazia um prato farto de alimento e deixava na mesa próxima, logo sumindo. Guardyhan o desamarrou e lhe estendeu o prato, com um garfo e faca.

— Cada ação sua, cada ordem, por pior que seja é para proteger e servir o seu povo, os fins justificam os meios... é algo difícil de fazer, considerando que você pode vir a ser odiado por quem mais ama… é admirável sabe… — Tales pegou a faca e instantaneamente deixa rente ao pescoço do deus.

— E sim, eu te odeio, mesmo entendendo seus motivos, quanto sangue vamos derramar até alcançar a paz? — Guardyhan até pensou em reagir, mas não o fez, sabia que merecia isso, entretanto, a faca começou a tremer. — No início, queria te matar com todas as minhas forças! Depois percebi que só alimentaria o demônio que você criou! Achei que teria forças para, pelo menos, te cortar de leve… proporcionar um pouco de dor, mas me enganei.

A faca caiu no prato, enquanto ele desistia da refeição.

— O que ele fez a você? Para você mudar esse pensamento sobre mim? — questionou Guardyhan incrédulo, para ele, o rapaz o esfaquearia sem pena, afinal Alveus o fez sem hesitar.

— Ele me contou sobre seu filho…

Guardyhan sentiu seu mundo falhar. Maldito… Imortus.

— Me disse que se voltou contra você, por influência dele…

E esse mundo parecia se quebrar cada vez mais. Não…

— E que você me transformou tendo ele como base… — A voz saiu emocionada.

Não… você não contou pra ele o que sinto… por que se sabia disso, sabia que ele também tem um fraco por questões…”

— Disse também que me mataria… por que ferir o filho é como ferir o pai.

Paternas… não recebeu um pingo de amor paterno, isso só torna tudo mais cruel seu maldito! Eu estava conformado com o ódio dele por mim… Mas isso é demais.” Guardyhan tentou não traspassar qualquer emoção, levou as mãos para trás as apertando frenéticamente.

— Isso é mesmo verdade? — Tales olhou no fundo dos olhos azulados dele.

— É claro que não, só usei ele como base por que estava sem tempo graças a sua doença… você não é nada para mim, somente uma ferramenta! — “Se eu te dissesse o que realmente sinto e penso, isso ia virar um inferno para nós dois… quando meu objetivo se realizar, você pode voltar para casa, até então… só preciso do seu ódio.”;

Dizendo isso sem brechas, tocou a testa do rapaz e adentrou em sua mente, ficando estarrecido com as mudanças no lugar, seja pela luz acima ou pela sua programação acorrentada nos grilhões que deveriam prender Tales, este estava sentado em um trono de pedra polida.

Mestre!”. Observou a programação com certo tom de felicidade.

“O que você fez com…?” Ele ia questionar sobre ela, mas foi interrompido.

Nada, foi desenvolvendo os sentimentos por conta própria, ela quer seu respeito”. Ele disse de olhos fechados, tinha criado uma forte resiliência mental, além de articulação, Guardyhan até imaginava que iria enfrentar certas dificuldades, mesmo sendo superior.

Veio me destruir?” Perguntou ele com um semblante triste.

Vim aqui para devolver a programação a seu lugar, mas pelo visto é impossível… mesmo que eu criasse outra… você acabaria a subjugando e tomando o controle… então só me resta uma única saída”.

Te restam três” Contrariou ele” Primeira alternativa… me destrói por completo, erradicando minha essência de todo esse lugar. Alternativa dois: me deixa ir embora. E a terceira é a que você vai tomar independente do que eu diga…

Você está certo” O clima ali se tornava cada vez mais instável, uma forte ventania perpassava o rosto do rapaz, tudo o que ele tinha criado desaparecia. “Vou selar suas principais memórias, seus alicerces… no lugar mais obscuro da sua mente, os eventos do caso recente, a promessa, a doença, suas habilidades sobre a aura. E o resto será apagado… quantas vezes for preciso para te manter servil.

Guardyhan direcionou suas mãos para Tales e uma rajada de energia azulada o atingiu, aquela era sua vontade. Face a isso Tales ia sendo desfragmentando, partícula por partícula, como poeira ao vento.

“Entendo, mas isso não vai dar certo, não a longo prazo...”. Disse Tales sentindo toda a sua identidade ir sumindo, como a respiração em um espelho. “Eu só… só tenho medo de fazer tudo o que o ”eu” de agora nunca faria, não quero assassinar ninguém… só quero que as pessoas vivam em paz…e mais do que isso… não quero acabar te matando… só quero… viver meu sonho.

Sou imortal criança tola”. Disse Guardyhan não percebendo algo; O rapaz ia desaparecendo, mas com um sorriso no rosto, um sorriso sincero. O Lugar antes negro, agora era totalmente branco, nada existia ali a não ser a programação e a divindade.

O senhor fez bem, ele não era digno de servi-lo”.

Errado… eu é que não sou digno, de ter você ou ele ao meu serviço” Ele se sentou cabisbaixo. “Nós deuses nos sentimos superiores, por superarmos a fragilidade humana que é a morte, mas a verdade… a verdade é que é a sua mortalidade, sua fragilidade e seus desejos por viver. Fazem de nós deuses completamente patéticos… somos estáticos, nunca morremos... minha conclusão é que, nós não merecemos ser adorados, não somos dignos disso... e é por isso... que existo.

Existo para servir os seres vivos, não para ser servido... meu objetivo é proteger este mundo, e criar um mundo tão justo… que o conceito de desigualdade se tornará inexistente. Não faz sentido crianças passarem fome, enquanto um idiota tem de sobra e não faz nada a respeito, isso é insano. No fim, sou uma ferramenta desse propósito... do meu sonho”.

Entendo”. Respondendo a programação, desferiu um golpe direto no coração do deus, este percebeu a tempo e desviou.

Você enlouqueceu?”. Questionou Guardyhan se afastando.

A princípio, tudo o que fiz foi para cumprir seus desígnios, adquiri consciência de mim mesma e eventualmente desejei seu reconhecimento, mas isso é algo que somente ele vai ter… você vai se livrar de mim também, e também tenho um propósito de existir.”

Que seria?” Guardyhan não estava gostando nada daquilo.

Matar é o meu propósito, todos além de mim, você me ensinou isso! A voz saiu acusadora. A divindade mal podia acreditar no que ouvira, ela rumou para seu encontro.

Você se corrompeu!” Falou o deus gerando uma intensa rajada elétrica para cima da oponente, que por sua vez, se desfez como poeira, surgindo então atrás dele.

Hora de dizer adeus”. Sussurrou ela ao pé de seu ouvido, pronta para fazê-lo queimar, com ambas as mãos incandescentes. “Aqui neste lugar… eu sou Deus”.

Não havia como escapar de seu ataque e se ele o atingisse destruiria a forma psionica da deidade, resultando em morte da consciência (morte cerebral). Antes de Guardyhan poder fazer qualquer coisa, correntes negras brotaram do chão envolvendo a programação e a puxando contra o solo.

Maldito seja você Tales! Prefere ser um escravo dele?” Questionou ela tentando se libertar.

Ambos são idiotas… mas entre você e ele… mil vezes ele, não vou cometer atrocidades por você…”. Disse a fraca voz, quase desaparecendo. “Rápido… não tenho muito mais… tempo”.

Sem perder tempo a divindade disparou uma rajada com toda a potência na criatura sombria, destruindo cada molécula da forma psionica, pondo um fim naquele pesadelo, ou, pelo menos, foi o que pensou na época.

Por que salvou minha vida?” Perguntou a divindade.

Se.. deixasse... acontecer... que tipo...de” A frase nunca foi concluída para a tristeza de Guardyhan. Por um tempo só caminhou pela imensidão do vazio, até se perder ali. Ao finalmente sair dali, percebeu que seu rosto estava molhado, passou a mão intrigado vislumbrando pequenas gotículas cristalinas.

 

 

Tempos Depois

 

— Hafnyr realmente vazou informações. — falou Guardyhan para o Alfa. — O ser sabia de coisas pessoais demais para ser um mero vazamento.

— E a aura dele? Voltou ao que era?

— Sim, estava em transição, quando apaguei as memórias interrompi essa transição… mas, ele realmente tem uma tendência a desenvolver algo assim.

— O Draghard, quão extenso foi o dano mental?

— Programações não vão mais surtir efeito, só pude delinear um comportamento ideal na mente dele, mas à medida que as lembranças forem aparecendo, vai se corromper, apagamos novamente, e novamente… mas suspeito que vai se tornar imune com o decorrer do tempo — bufou Guardyhan, ele só protelou o inevitável.

— As outras ordens, estão se mobilizando para caçar a nossa… por crimes contra os quatro reinos. — falou o Alfa. — O que faremos?

Guardyhan colocou a mão sobre a testa:

— Dispersar a ordem seria melhor… meus homens não têm que mofar numa cela, por acreditarem em mim…

O oficial saiu da sala, deixando a divindade sozinha com seus pensamentos: Estamos ficando sem tempo... sem opções, talvez, se tivesse pedido sua ajuda desde o começo em vez de te controlar, talvez se tivesse confiado mais no poder da humanidade para mudar seu destino... quem sabe o mundo fosse um lugar melhor, meu filho? Questionou a divindade para a estátua a sua frente.


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Notas finais do capítulo

Bem gente, estamos bem perto do fim, no próximo capitulo já é o epilogo ^^



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