Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 7
I Won't Be The One


Notas iniciais do capítulo

Pra quem achou que a história tinha sido abandonada: HA!
Pra quem ficou esperando: desculpa >—



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Ela corre para se juntar a ele assim que as portas da Sala do Trono se abrem. Ela ignora o eunuco que tenta impedi-la e se esforça para acompanhar o ritmo do seu passo. Suas saias e suas pernas mais curtas fazem com que ela tenha que praticamente correr ao lado de seus passos longos e firmes.

Depois de alguns segundos esperando que ele falasse com ela, Hae Soo decide falar primeiro.

— Eu preciso conversar com você.

— Não, você precisa descansar, — ele não olha para ela, nem mesmo diminui o ritmo, — O médico foi bastante claro que você precisa de repouso.

Ela anda mais rápido, sentindo a tentativa dele de pôr um fim ao assunto, e faz seu pedido de uma vez.

— Por favor, poupe a vida do 8º Príncipe.

Nesse momento as portas do seu quarto se abrem e ele entra, suspirando quando ela o segue e as portas se fecham atrás deles.

— Isso de novo não... — ele murmura sob a respiração e ela tenta outra estratégia.

— Ele é inocente! — Ela implora, tentando apelar para seu senso de justiça, — Eu tenho certeza disso. Pyeha, por favor!

Ele finalmente para, e ela se sente um pouco melhor quando ele então se vira e olha para ela. No entanto, a faísca nos seus olhos não ajuda a diminuir sua ansiedade.

— Ele é um traidor, — ele diz num tom gélido, deixando a visão que ela tivera dele ainda mais vívida na sua mente, — E ele merece a pior pena que eu puder lhe impor... — ele começa a falar e a erguer a voz, mas ela diz outra coisa rapidamente.

— Foi você, — ela cerra os punhos no pano de sua saia, sem querer acusar ele de ter feito uma coisa dessas, e ainda assim incapaz de encontrar outra explicação, — Você matou o falcão e agora quer puni-lo.

Há uma pausa extensa então. Ele fica em silêncio, observando-a com olhos que não revelam nada. Ela quer que ele negue. Ela teme que ela esteja errada e que ele perca a confiança nela novamente. Mas depois de alguns segundos ele inclina a cabeça e sorri.

— O quê? Isso é errado? Ele é uma ameaça que precisa ser eliminada. — As palavras dele fazem o medo se agitar novamente dentro dela, e crescer quando uma risada sádica começa a se formar e a retumbar de dentro de seu peito, — Eu só queria poder  matá-lo com minhas próprias mãos.

Há um relance do garoto que ela conhecera há muito tempo atrás, que mandou um assassino matá-la. Há um olhar de frieza e indiferença que ela não via nele há anos. Há também aquela raiva crua que o fazia parecer um animal selvagem e frenético, que não via problema algum em seguir seus instintos e capturar sua presa.

Há uma semelhança maior ainda com o Gwangjong do futuro, conhecido como um rei sanguinário e um tirano impiedoso, que seria capaz de matar seus próprios irmãos.

Ela mais uma vez amaldiçoa o palácio por ser tão duro com ele, por pressioná-lo a ir a extremos, por forçá-lo a se tornar mais do governador sanguinário impiedoso que ela temia que ele se tornasse.

Ele ainda está rindo quando seu soco acerta o ombro dele, e então ele franze o cenho em confusão quando o segundo atinge seu peito. Quando o terceiro vem ele é rápido para segurar a mão dela com firmeza.

— Pensei que isso só era para ser feito em situações extremas, — ele soa incomodado e levemente irritado, o que a deixa levemente irritada também.

— Você começa a rir depois de dizer que queria matar seu irmão e não quer que eu fique com medo?! — Ela tenta bater nele com o braço livre, mas ele também o segura, — Você disse que a gente ia conversar sobre essas coisas, mas ainda assim me ignorou o dia inteiro. Você está sendo tão cruel agora que eu me pergunto quem você é.

Ele puxa seus punhos, trazendo-a para mais perto de seus olhos, e ela resiste à impulso de afastá-lo quando ele se inclina para encará-la diretamente. Ele não a machuca, mas sua voz a perturba.

— A gente ia falar sobre os assuntos da corte, não era mesmo? Eu não fiz isso?

— Quando você planejava me contar sobre o 8º Príncipe? — Ela tenta imitar seu tom de voz, embora ela já esteja sendo dura o bastante, — Depois de seu veredito? Depois da execução? Que nem foi com Chae Ryung?

— Essa situação está num nível completamente diferente do que aconteceu com Chae Ryung. Ele mesmo sabe que não tem como escapar.

— Ele prometeu que ia parar de almejar pelo trono! — Ela apela desesperada, — Mesmo que todos pensem que ele não tem mais saída, você é o Rei! Com certeza você pode...

— Por que você o defende? — Ele a interrompe, frustração emanando dele, — Por que fica do lado dele?

— Não existe lado...

— Sim, existe! E se eu não o destruir agora, ele vai vir atrás de mim depois, e ele não vai hesitar antes de me matar. É isso o que você quer?

— Não foi isso o que eu quis dizer...

— Ele é um assassino! Um mentiroso e um bastardo manipulador! — As palavras saem com ainda mais firmeza de sua boca, e ela só pode continuar a ouvir em choque, — Ele é a causa de nós não termos conseguido nos casar e todos os ministros terem te rejeitado. Ele se aliou ao nosso terceiro irmão, querendo pegar o trono para si. Ele inclusive o ajudou a capturar e matar Eun-ah. Ainda por cima, foi ele quem planejou o envenenamento do rei, e até mesmo colocou Chae Ryung para levar a culpa. Você não disse que queria justiça para ela?

Ela não consegue se mover. Ela não consegue pensar. Ela não consegue fazer as palavras dele entrarem na sua mente e encontrar sentido nelas. Ela não consegue entender todas as acusações que ele faz, mesmo embora uma parte dela consiga, e já esteja se afogando num tipo diferente de horror.

Ela está congelada, sua mente paralisada. Mas ela só consegue pensar naquele fragmento que se lembra do quarto governante de Goryeo, e do quão desesperada ela está para prevenir que ele aconteça.

— Mas... mas ainda assim... você não pode matá-lo!

— Por que você ainda quer ajudá-lo? Por quê se dá ao trabalho de salvar a vida dele?

Sim, por quê? Se tentar salvá-lo só vai fazer a gente se afastar ainda mais? Por que eu o estou defendendo, se ele não tem mais salvação? Por que não posso abandoná-lo, que nem ele fez comigo?

Eu sou tão fria assim?

Soo não quer se mover, mas seu corpo começa a tremer tanto que ela precisa agarrar nas roupas dele. Ela não pisca, mas a lágrima que ela estava segurando acaba caindo. Ela não abre a boca, mas o soluço escapa assim mesmo, e ecoa na curta distância entre eles.

Ela sente o silêncio dele se envolver ao redor dela, ela sente a confusão dele e ela queria não desabar, não agora, não nunca, mas ela desaba assim mesmo.

As mãos do rei são delicadas e cálidas em seus ombros, apesar dele ter sido frio e brutal alguns momentos antes. Mesmo que eles estejam tendo uma discussão, ele não consegue aguentar vê-la chorando, ele está desesperado para saber porquê ela se derramou em lágrimas do nada, e ela sabe que não pode mais guardar segredo.

Ela se prepara para a reação dele, porque ela sabe que depois de sua resposta e de sua confissão, as coisas vão ficar difíceis para eles novamente.

— Porque a culpa é minha, — ela sussurra, mas sabe que ele pode ouvi-la, — Eu o arruinei.

— Nada que você pudesse fazer poderia torná-lo no que ele é hoje.

— Nada, exceto uma coisa. — Soo não ousa erguer o olhar para os olhos de So, então ela continua com a cabeça baixa, o aperto dela ficando mais forte, e deixa as lágrimas correrem, tentando fazer as palavras saírem de dentro dela, apesar dos soluços, — Ele me disse as ações dele... Ele me disse que tudo o que ele faria... Ele queria o poder porque ele achava que ia me ganhar de volta e casar comigo. Eu disse a ele que não ia, ele nunca foi... Não depois que ele... Não depois de Sanggung... A culpa foi toda minha! Se eu não tivesse... Se a gente não tivesse... Ele não estaria envolvido nessa guerra se não fosse por mim! Se alguma coisa acontecer com ele agora, seria por minha causa! Eu não, não consigo! Eu não vou conseguir desse jeito...

Ela deixa os soluços tomarem controle sobre ela, e ela não consegue mais falar. Ela só consegue sentir o jeito que o toque dele muda, o aperto firme cheio de ansiedade lentamente relaxa, quase sem tocá-la, à medida que a fala desconexa dela começa a fazer sentido dentro da mente dele.

— Você disse que ficaria marcada para sempre, — ele fala lentamente, como se em um transe, e ela teme a calma na sua voz, sentindo a fenda entre eles se abrindo mais uma vez, — Naquele dia, você me pediu para não matá-lo, que você ficaria marcada para sempre, e eu pensei que era por causa da sua prima, mas esse tempo todo era porque...

— Ele não significa mais nada pra mim, — ela tenta puxá-lo para mais perto, com medo que ele entenda tudo errado e a afaste mais uma vez, — Ele não significava nada daquela vez, e não significa nada agora. Isso é por mim. Eu não posso continuar vivendo sabendo que causei a morte de alguém, então eu vou pedir mais uma vez, — ela enterra o rosto no seu peito imóvel e deixa suas lágrimas molharem o robe dele, — Por favor, poupe a vida do 8º Príncipe.

Há uma eternidade de silêncio dentro do quarto. Ele não tira as mãos dos ombros dela, mas não se move de forma alguma. Ela não a traz para mais perto, nem a afasta de si. Ele continua imóvel, e se não fosse pelo jeito que seu coração bate contra o rosto dela, ela pensaria que ele nem sequer ali estava.

Ele então a solta, e fala num tom tão diferente de antes que ela se sente vazia e fria.

— Vou fazer isso por você. Para que a morte dele não pese sobre você. Ele viverá, mas estará para sempre confinado aos limites de sua própria casa. Ele ficará trancado dentro daquelas paredes até morrer. Ele pode apodrecer naquele lugar, se depender de mim. Essa será a sentença dele.

 

 

— Veio dar uma última olhada?

O 8º Príncipe não olha para ela, nem se vira na sua direção. O único sinal de que ele notou sua presença é a sua pergunta, carregada de amargura e desespero.

Esse é um homem que atingiu o fundo do poço. Uma pessoa que só tenta sobreviver, só quer viver, disposta a pagar qualquer preço para isso. É uma imagem de dar pena, ver alguém que caminhava no topo do mundo tendo que ficar de joelhos por sua vida. Um homem cheio de poder tendo que implorar para se salvar.

Se fosse antes ela teria sentado ao lado dele até ele se sentir melhor, mas agora Hae Soo não pode lhe oferecer outro consolo além de suas palavras.

— Você sabe muito bem que eu nunca quis que nada disso acontecesse.

— Mas é assim que as coisas são, — ele sorri, embora não haja qualquer humor nele, — O rei destinado ascendeu, e esse é o fim para o príncipe desprovido de uma estrela.

A cabeça dele cai em resignação, e mais uma vez Soo se pergunta se esse fim poderia ser evitado de alguma forma ou se ele estava destinado a se corromper desde o princípio.

Foram as estrelas ou foi a minha presença? Foi o seu destino ou foi minha interferência?

Foi minha culpa?

Isso importa?

Ela já está cansada de ficar pensando nessas coisas e duvidar de si mesma. Ela está cansada de viver nesse lugar e nessa era. Ela está cansada de lutar por todo mundo. Mas ainda assim, há um lado teimoso da antiga Hae Soo, aquela que se parece bastante com Go Hajin, que se recusa a morrer no corpo frio da Hae Soo atual.

Ela não pode confortá-lo, mas pode lhe trazer um pouco de alívio.

— Pyeha decidiu poupar sua vida.

O 8º Príncipe está claramente surpreso, o alívio fazendo a tensão deixar seus ombros, mas ele ainda não se move e continua curvado diante do trono.

— A que eu devo essa sentença tão leniente? — Ele consegue falar num tom distante.

— A nada. Ele não fez isso por conta de seus laços de sangue, nem por ser misericordioso com você, — ela responde friamente, garantindo que uma distância seja firmada entre eles, — Isso é pela minha paz de espírito.

— Então foi implorar a ele por minha vida novamente? — Os olhos dele se afastam do chão e se voltam para ela, — Por quê? Se você não sente mais nada por mim?

Ela mais sente o olhar dele do que vê, já que ela continua olhando para um ponto entre ele e as escadas para o trono.

— Porque é isso que eu faço. Eu impeço que vocês irmãos se matem.

— Sim, você foi assim desde o princípio. Mas agora é tarde demais.

Os olhos de Hae Soo se desviam para o assento maldito diante do 8º Príncipe. O símbolo da posição que desmantelou uma família inteira, a representação do poder que homens matariam para conseguir. A fonte de todo o mal na vida dela.

— No passado, — ela fala com nostalgia, — Eu sempre esperava que as coisas voltassem a ser como eram. Eu pensava que meu lugar era na sua casa. Eu desejava que aquelas tardes que seus irmãos vinham visitar pudessem voltar a acontecer. Mesmo quando aquele lugar deixou de ser meu lugar, quando aquela casa deixou de ser meu lar, eu queria ver todos vocês juntos de novo. Que nem vocês estavam no casamento do 10º Príncipe. Só por um momento. Se vocês tivessem parado de brigar só por um momento para ver o quão tolas eram aquelas batalhas, talvez elas tivessem voltado. — Ela não tem mais lágrima alguma para ele, então quando se vira para encará-lo, não há expressão alguma nos seus olhos, — No entanto, quando você corta um laço, ele continuará cortado pela eternidade. E eu estou cansada de tentar consertá-lo.

Ele ainda não olha para ela, então ela olha para o chão também. No entanto, quando ela está prestes a sair, ele fala numa voz baixa e grave.

— Uma vez, — ele diz lentamente, — Você disse que ia se casar comigo e que nós iríamos para minha terra natal, se eu desistisse do trono.

Hae Soo suspira, relembrando de um tempo que mais parecia com um sonho, de quando ela chegou em Goryeo e tomou a mão dele, quando ela pensou que seria a mais feliz do mundo se ficasse ao lado dele. A benção da ignorância.

— Isso já é uma coisa do passado.

— Talvez nós tivéssemos sido felizes, se eu tivesse aceitado?

Há uma pequena e discreta esperança na voz dele. Uma fome de felicidade que ela sabe que ele vem nutrindo há um tempo. Ele nunca realmente desistiu dela, e mesmo que ela não goste de causar sofrimento a ninguém, ela se apressa a apagar essa vela.

— Isso é algo que jamais saberemos. — Ela pensa no seu Rei, e em como ele sempre esteve ao lado dela quando ela precisou, mesmo que ela não o quisesse lá, e ela não consegue imaginar uma realidade em que suas vidas jamais se encontrassem, — Desde o começo, Wangjanim, nós fizemos as coisas na ordem errada. Nos apaixonamos antes que nos conhecêssemos, nos separamos antes de ficarmos juntos, você me abandonou antes que eu fosse sua, e eu desisti de você antes que você se tornasse meu. Agora, vamos fazer uma coisa direito. Vamos dizer adeus e nunca nos vermos de novo. Eu vou parar de pensar nos dias que jamais voltarão, então você deve fazer o mesmo. — Ela respira fundo e olha para ele, descobrindo que agora ele está fitando-a diretamente, — Pare com essa luta sem sentido. Esqueça o trono e me esqueça, para que não sofra mais. Por você, eu só posso fazer isso.

— Muito bem, então. — Ele curva a cabeça e ela anda para a saída, — Nossos destinos se separam aqui.

 

 

O novo baú dela só tem cartas. Cuidadosamente escritas e lindamente embaladas. Algumas delas são apenas palavras sobre o que ela sente, outras são poemas que o 13º Príncipe lhe ensinou. Algumas delas também são pedidos e confissões, mas continuam lacradas, continuam não entregues. E conforme os dias passam ela adiciona mais outras a elas.

Talvez agora seja a hora.

Eu estou pronta agora?

Os envelopes são lindos, e carregam pensamentos vívidos. O conteúdo deles é bem formulado, e cada pincelada de tinta tem um propósito. Ela não tinha o hábito de escrever cartas quando vivia no Século XXI. A sua rotina frenética demandava tempo demais para ela se sentar para uma tarefa tão lenta, e os recursos tecnológicos faziam o esforço se tornar desnecessário. Mas agora, em um lugar tão calmo e parado, suas cartas são sua única forma de escape.

Ela acabou de fechar o baú quando ele entra, silencioso e sem expressão alguma. Ela olha para ele e pisca, incerta sobre o que fazer, e ele olha de volta para ela, em silêncio por um segundo, e depois fala num tom neutro.

— Eu achei que você estaria jantando uma hora dessas.

— Não estou com fome. Mandei que levassem a comida embora. — Ela olha em volta desorientada, tentando agir o mais casual o possível ao mesmo tempo em que tenta entender o que ele está fazendo nos aposentos dela.

A expressão dele se inflama num instante, indignação enchendo seus olhos e ele começa a gritar numa voz de choque.

— Mas o médico disse...! — Ele se interrompe no meio da frase e suspira exasperado. Então ele se vira e abre as portas, então ordena às damas da corte ainda do lado de fora, — Tragam algo para nós. Vamos comer agora.

Ele se volta para ela, chegando mais perto, e ela teme que eles estejam prestes a ter outra discussão.

— Pyeha, você não precisa.

— Sim, eu não preciso. Mas você precisa. — Ele se senta ao lado dela no chão, e fala de maneira severa, — Você desmaiou e não acordou por dois dias. E agora está dizendo que não vai comer porque não está com fome?!

Ela baixa o olhar culpada, já que ele não imaginou que seria pega quebrando as ordens do médico; mas ao tempo aliviada que ele tenha vindo jantar com ela, apesar do clima entre eles quando ela implorou pela vida do 8º Príncipe.

Eles comem em silêncio, tensão emanando dos dois, irritação ainda visível no cenho franzido dele.

— Você foi falar com ele, — ele finalmente fala, ainda sem olhar para ela.

— Disse a ele que você seria leniente, — ela responde, mesmo que não ele não tenha feito uma pergunta e espera que ele não esteja com raiva, — Me perdoe pela minha intromissão.

— Hmpf, — ele grunhe ainda olhando para sua tigela, — Eu queria olhar para a cara amedrontada dele uma última vez antes de declarar sua pena. Seria uma boa compensação depois de tanto tempo aturando sua atitude arrogante.

— Não creio que ele vá desprezá-lo novamente. Ele esperava ganhar uma posição segura quando lhe deu o falcão e ficar fora de perigo.

Ele grunhe novamente, e o silêncio que se segue a deixa um pouco nervosa.

— Não está com raiva? Por eu não ter contado antes?

Ele suspira e para de comer, abaixando sua colher. Ele parece pensativo por um momento, enquanto aparenta pensar na sua resposta, até que finalmente olha para ela.

— Na verdade, — ele diz com uma voz mais gentil, — Eu estou surpreso que eu não tenha percebido antes. Vocês não eram lá tão discretos. — Ele pausa e levanta o olhar em contemplação mais uma vez, e dessa vez ela sabe que ele está se lembrando de os momentos do passado que indicaram o seu antigo relacionamento com o 8º Príncipe, — Tenho certeza que muitos outros sabem.

— Sim, — ela responde rapidamente e se arrepende na hora, — Desculpa. Mas obrigada por não me evitar ou me ignorar.

Ele bufa e pega a colher novamente, aversão cobrindo seu rosto.

— Como se eu fosse deixar Wook estragar tudo.

Ela sorri um pouquinho quando ouve o tom teimoso dele, que o faz se parecer mais com uma criança do que qualquer outra coisa. A tensão deixa seus ombros e eles continuam a comer em silêncio.

Leva um tempo até que ele fale novamente, dessa vez de forma quieta e cautelosa.

— O que você sente por ele agora? — Ele parece magoado e ela quer ir até ele e aliviar seu medo de rejeição, mas continua sentada diante dele. A pequena mesa entre eles parece mais com uma muralha espessa, mas ela sabe que só vai conseguir quebrá-la se eles tiverem uma conversa adequada e aberta.

Ela quer responder “nada” para ele. Ela quer dizer que o 8º Príncipe nem sequer passa pela sua cabeça, mas ela precisa ser honesta com ele e consigo.

— Pena. — Ela baixa o olhar, timidamente, entrelaçando suas mãos em cima da madeira, — Culpa.

— Culpa?

— Eu coloquei muita pressão nele, — ela confessa numa voz baixa, — Por minha causa ele começou a almejar o trono.

Ele ri sem humor, o que faz com que ela olhe para ele.

— Isso não faz sentido. Você é incapaz de destruir coisa alguma, Soo-yah. — Ele se aproxima um pouco e coloca uma mão sobre as dela, — Você cura. Você conforta. Eu aposto que você até tentou ajudá-lo. Aposto que você mostrou um outro caminho para ele, mas ele não quis ouvir

Ela suspira, se lembrando de suas tentativas de prevenir que uma guerra acontecesse dentro do palácio, de impedir que um irmão matasse o outro, de fazer a história mudar seu curso, mas falhando miseravelmente e tendo que assistir tudo se desmoronar.

— Não tanto quanto eu poderia.

Eu poderia tê-lo impedido se não tivesse sequer aparecido na vida dele para começar. Então as coisas teriam sido diferentes.

Se eu o tivesse impedido, o falecido rei Hyejong poderia ainda estar vivo.

O 10º Príncipe e sua esposa poderiam ainda estar vivos.

Chae Ryung poderia ainda estar viva.

Você poderia estar livre.

Por que eu não percebi?

Ela não nota que está perdida nos seus próprios pensamentos até que ele limpa a garganta e começa a falar novamente, chamando a atenção dela de volta a ele, e ela percebe que ele recolheu sua mão.

— Você realmente o amava?

Ela dá de ombros se sentindo miserável, desejando poder voltar para o dia em que ela chegou em Goryeo e impedir a si mesma de aceitar a mão oferecida por um estranho que lhe encheu de inspiração. Mas assim como o restante da sua pilha de arrependimentos, ela vai ter que carregar esse para sempre.

— Amava. Foi fácil me apaixonar por ele. — Ela se lembra do quão suave e discretamente ele entrou no seu coração, — Ele estava lá quando eu perdi minhas memórias e não tinha um lar no mundo. Ele me dava atenção e dizia doces palavras. Ele me deu confiança de novo depois que eu tinha perdido tudo.

Ele acena quietamente, absorvendo suas palavras em silêncio, antes de falar novamente.

— Sabe, quando... — ele começa devagar, escolhendo suas palavras cautelosamente, e ele se inclina para mais perto, — Quando uma pessoa nos ajuda, ela se torna importante para nós. Esse tipo de pessoa se chama amigo.

Ela pisca em confusão, as palavras dele lhe soando familiares. Então o ultraje toma conta e ela franze o cenho, afrontada, quando entende o que ele está fazendo.

— Ei! Não use minhas falas para zombar de mim!

— Não estou zombando, — ele diz com um rosto completamente sério, o que apenas confirma que ele definitivamente está zombando, — É sério, não estou. Só acho que você se confundiu com a diferença, e estou preocupado.

Ela resiste à tentação de jogar uma tigela na cabeça dele e se levanta de vez para ir embora.

— Divirta-se jantando sozinho.

Ela anda em direção à porta, mas ele é mais rápido que ela e agarra sua mão, rindo numa crise histérica que ela acharia encantadora em qualquer outro momento, mas a provocação está chegando a um limite. Ela luta para se libertar, mas acaba de volta no chão, sentada no colo dele e cativa nos seus braços.

— Me solta, — os protestos dela são fracos diante de sua força de aço, mesmo embora ele esteja sorrindo como um garotinho.

— Eu só estou surpreso que você tentou me dar um conselho que servia para você mesma.

— Eu amava ele, tá bom? — Ela replica irritada, mas se arrepende no instante que a risada dele diminui e seus olhos ficam um pouco mais sérios.

— Você ainda o ama?

— Não. E há muito tempo. — Ela decide que não pode ficar realmente com raiva ou irritada com ele, e se vira para abraçá-lo, reclinando a cabeça dela sobre seu ombro, suas mãos acariciando seu cabelo preso, — Você acha mesmo que eu ficaria com você enquanto ainda amasse outra pessoa?

— Foi por isso que você demorou tanto?

— Claro que não, — ela dá um tapa de leve na testa dele quando ele a provoca de novo, mas não retira sua mão, — Eu precisava de tempo, já te disse.

— É, você disse!

Ela sente que ele sorri, que seus braços se envolvem ao redor dela, mas há uma vulnerabilidade, e também uma hesitação dentro dele, que se não fosse por ela reconhecer a sensação – e ele – muito bem, ela não teria notado. Mas ela está cansada de evitar coisas que vão acabar vindo à tona da pior forma possível, então ela o afasta um pouco, só o bastante para olhar no rosto dele sem quebrar contato.

— Quer perguntar mais alguma coisa?

Ele parece mais aliviado do que surpreso quando ela lê seu humor e seus pensamentos, como se ele só estivesse esperando pela permissão dela.

— Se não fosse por mim, — ela fala baixinho, sem olhá-la diretamente nos olhos, — Se eu não tivesse voltado para Songak, se eu não tivesse te derrubado do meu cavalo ou se você não tivesse visto minha cicatriz no banho... Se nós nunca tivéssemos nos conhecido, você acha que estaria com ele agora?

Ele é o governante de uma terra, o homem mais poderoso do país. Mil anos no futuro ele será lembrado e estudado como o maior rei de uma grande nação. Ele é isso tudo, mas ele olha para ela com uma expressão tão tímida, um sorriso hesitante e um pouco inseguro, que faz ela se lembrar do príncipe que ela beijou pela primeira vez às margens de um lago.

Ela não consegue deixar de sorrir.

— Quem sabe? Talvez... Talvez não, — ela dá de ombros, desinteressada, — Mas o que eu realmente acho é que, se não fosse por ele, se ele não fosse o marido da minha prima, se eu nunca tivesse morado na casa dele, então eu teria ficado com você bem antes.

O rosto dele se iluminando não tem preço, e ela queria poder ver isso acontecer de novo e de novo.

— Você me ama tanto assim? — Ele reclina a sua testa na dela, e dessa vez ela não consegue evitar sorrir com a provocação.

— Sim, eu te amo tanto assim, então não esqueça nunca disso. — Ela envolve os braços no pescoço dele e fecha os olhos, — É só você, Pyeha.

Ele ri em voz alta, vibrante, e ela o acompanha.

Naquela noite ela não precisa escrever carta alguma.


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Notas finais do capítulo

Já tava com saudade de atualizar...

Título do capítulo, como sempre, é de música, e dessa vez o artista é Flyleaf
link para os curiosos musicais -> https://youtu.be/F0jkGAHmiaw

Opiniões são bem vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

:)



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