Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 6
Tell Them Something Is Coming


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam gostando da tensão



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As coisas vão mal na corte, e não pela primeira vez, Hae Soo deseja que pudesse fazer mais por ele do que simplesmente lhe manter companhia.

Ele sorri para ela sempre que eles se encontram, ele diz que tudo está bem, que tudo está sob controle, e que ela não deveria ficar se preocupando já que ainda está se recuperando. Então ela sorri de volta e concorda, o faz prometer de novo que ele vai contar para ela quando as coisas ficarem complicadas, e volta a fazer o que quer que eles estivessem fazendo no momento.

(Ela o abraça e saboreia a sensação dele respirando no seu pescoço, o jeito que o cabelo dele se enrola nos seus dedos, o sorriso dele perto da sua pele, e se permite fingir que o mundo lá fora não existe, só eles dois.) 

O que ele não sabe, no entanto, é que ela recebe informações das damas da corte sobre os acontecimentos na luta pelo poder, sempre em constante mudança, e que ela já está ciente do quão ruins as coisas estão. Ela está tendo cada vez mais dificuldade em fingir que não está morta de preocupação por ele à medida que os dias passam.

Mas ela não pode fazer muita coisa com as fofocas das meninas, nem com seu próprio poder. Saber é uma coisa, ser capaz de mudar a situação é outra coisa completamente diferente, e ela culpa seu próprio desejo de se afastar das políticas do palácio no passado, de atar as próprias mãos sem perceber, e agora ela só pode assistir o desenrolar de longe. 

Ele me chamou de sua Rainha, mas para o resto deles eu sou só um peão.

Ela é só uma espectadora, só uma testemunha dos eventos, sem qualquer papel de importância. Sem importância para ninguém, exceto para ele. Isso a deixa frustrada, vem deixando desde que ela chegou naquele lugar. Mas, com medo de fazer mais mal do que bem, ela continua discreta e se esconde no Damiwon durante o dia, buscando evitar que suas ações possam ser usadas contra ele e abalar sua posição frágil.

— Eu acho que é porque os últimos dois reis morreram logo, — Min Kyung diz a ela, sua cabeça curvada como sempre, mesmo embora Hae Soo não seja mais Sanggung, — Todos estão tentando conseguir mais do que os outros, caso Pyeha venha a falecer subitamente, — ela pausa e respira, então percebe o que ela disse e se curva ainda mais, — Perdoe minhas palavras, senhora!

— Eu já disse para falar à vontade comigo, — Soo sorri e tranquiliza a garota, — Não tenha medo de suas palavras, você só está falando a verdade.

— Sim, senhora.

Min Kyung é quieta e tímida, mas ela tem bons ouvidos e passa despercebida pelos poderosos ministros com facilidade; e também tem um grande senso de lealdade para com Hae Soo, desde o tempo em que ela mandava no Damiwon. Jang Mi, por outro lado – que conhecia Hae Soo desde que ela se tornou uma dama da corte e que a acompanhava por causa da falecida Oh Sanggung – era menos insegura, e por isso costumava oferecer mais que sussurros e rumores do palácio.

— Quem teria a melhor reivindicação se Pyeha falecesse subitamente? — Soo não pode deixar de perguntar, a insinuação de Min Kyung fazendo seus pensamentos sombrios revolverem na sua mente mais uma vez. Não que ela tema que ele possa morrer em breve. De acordo com a história, ele ainda tem décadas à frente, muito mais anos de vida do que ela. Mas ela se sentiria mais tranquila se não houvesse uma sombra pesando sobre a corte, e uma luta por poder que possa um dia levá-lo ao ponto de tomar decisões mais radicais.

— Pelas conversas, eu diria que o 8º Príncipe, — as palavras de Jang Mi fazem o estômago dela afundar, mesmo embora ela já soubesse que essa seria sua resposta, — Aparentemente ele tem mais poder no momento.

Ela tenta visualizar o antigo 8º Príncipe, gentil e protetor, mas sua mente está repleta do homem frio e distante que ela continua encontrando no palácio.

No entanto, ela não tem certeza se o homem frio é um assassino ou um apoio para o seu Rei.

— O poder dele está sendo usado para proteger o Rei?

— É difícil dizer, ele está sendo discreto.

Soo se lembra de todas as vezes que ela se encontrou com Wang Wook durante o reinado de Hyejong e Jeonjong. Ele nunca disse uma palavra, nunca falou nada quando seus caminhos se cruzaram. Ele só olhou para ela com olhos e vazios e continuou seu caminho. A única vez que eles chegaram a conversar foi do lado de fora da sala do trono, quando ela lhe perguntou se ele planejara o assassinato do falecido Rei Hyejong.

Ele disse que não fez nada de errado. E ele não teria se envolvido com o 9º Príncipe no caso de envenenamento só para ajudar seu terceiro irmão a subir ao trono, teria? 

Ele ainda cobiça o trono? Ele mataria seus próprios irmãos por ele?

Foi por minha causa?

— Eu acho que o clã Hwangbo se acalmou, — Min Kyung comenta nervosamente, preocupada com a expressão pensativa de Soo, — Depois dos clãs Yoo e Kang, eles são os que tem o maior interesse em proteger Pyeha, — ela sorri, tentando soar otimista.

— Mesmo que Pyeha estando no trono favoreça seus dois clãs, não é segredo que ele não tem laços firmes com nenhum deles, — os ombros de Min Kyung caem, seu sorriso se tornando em incredulidade conforme Jang Mi continua suas palavras analíticas, — Eles maltrataram o Rei antes, então já falharam em conseguir sua lealdade. Agora eles não têm garantia que ele não irá se voltar contra eles.

— O casamento dele não resolveu isso? O clã Hwangbo não está satisfeito com a Rainha?

A inocência de Min Kyung a lembra da sua própria inocência, e Soo se sente um pouquinho mal por ela, incapaz de esmagar suas esperanças. Tal simpatia parece não existir em Jang Mi.

— Uma rainha lhes dá poder, mas Huanghu tem pouca influência nas ações de Pyeha. Um herdeiro estabilizaria os laços, mas ela continua sem filhos, — a mulher pausa e olha diretamente para Hae Soo, — Se uma oportunidade se apresentar, o clã Hwangbo vai preferir ter um rei do que uma rainha.

O peito dela se aperta e ela se encolhe. Ela não devia estar tendo esse tipo de conversa, nem mesmo esse tipo de pensamentos. O coração dela já está se desfalecendo, e não precisa de mais um incentivo para começar a parar com antecedência. Mas não saber é tão ruim quanto saber, tão estressante e dolorido quanto, então não é como se ela tivesse uma escolha.

Os problemas na corte não vão parar e esperar só porque ela não consegue lidar com o estresse, então ela respira fundo e pensa, imagina, reflete e tenta acreditar num final feliz.

— Eles estão todos o observando, esperando por um momento de fraqueza.

Eles querem derrubá-lo, mas não vão conseguir.

Esse é o começo do banho de sangue no palácio? Essa é a instabilidade e a conspiração secreta que irá forçá-lo a matar muitos de seus ministros e fará com que ele seja para sempre lembrado como um rei sanguinário?

Eu vou conseguir aguentar o estresse, se for? Ou meu coração vai simplesmente sucumbir a sua doença?

— Talvez o 8º Príncipe fique satisfeito em ter a irmã como rainha, — Min Kyung tenta ser otimista novamente, mas dessa vez não é Jang Mi quem esmaga suas esperanças.

— Depois de cobiçar o trono por tanto tempo, ele ficou cego, — Soo tenta se preparar para o pior cenário possível. Ela não vai ser capaz de mudar coisa alguma, nem de ajudá-lo na parte política, mas é bom para ela preparar o coração para tudo o que vai acontecer, — Pyeha terá que se fortalecer muito mais para impedir que ele se aproxime.

— Ou terá que pará-lo de vez, — Jang Mi comenta calmamente, fazendo Min Kyung arfar de surpresa e Soo arregalar um pouquinho os olhos.

— O 8º Príncipe é irmão dele! — Hae Soo fala seu pensamento mais recorrente desde que a disputa entre os príncipes começou. A indignação por algo ainda tão comum nesta era, mas ainda um choque para sua mente do Século XXI.

— Perdoe minhas palavras, senhora, — a dama da corte mais velha não parece nem um pouco interessada em perdão, — Mas o falecido rei também era.

 

 

— O que posso fazer pra ajudar? — Ela insiste mais uma vez outra noite, os dedos dela enterrados nas suas madeixas negras enquanto ela massageia suas têmporas suavemente, e ele suspira, já sabendo onde essa conversa vai parar. 

— Você não precisa fazer nada, — ele responde, olhos ainda fechados, e ela sabe que ele tem boas intenções, ela sabe que ele só quer protegê-la, mas ela não consegue deixar de se sentir ansiosa e inquieta. 

— E se eu quiser fazer? — A petulância na voz dela é o bastante para ele saber que essa não vai ser uma conversa rápida. 

Ele abre os olhos, encarando-a diretamente, e ela segura seu olhar com firmeza. Ela acha que ele está prestes a levantar a cabeça do colo dela e encerrar o assunto mais uma vez, dizendo que não tem nada que ela precise fazer. Então ela se enrijece, sua posição decidida e seus argumentos preparados, quando ele a pega de surpresa ao levar sua mão para o cabelo dela, o afastar para trás de sua orelha lentamente.

— Tome conta de sua saúde, — ele diz em um tom que é cheio de preocupação ao mesmo tempo que carrega um pouco de sua autoridade real, — Assim eu não vou ficar me preocupando.

Ela morde a língua para não usar o argumento de que “eu vou morrer de qualquer jeito, então eu poderia ficar ao seu lado nas políticas do palácio”. Ela não teme mais as consequências que possam lhe atingir, desde que possa ajudá-lo a se tornar um rei diferente do que a história irá se lembrar no futuro. No entanto, ela teme a tristeza e a dor que vai causar a ele quando lhe contar a verdade.

Ela suspira, incapaz de prometer a ele que vai assistir sentada enquanto as intrigas lentamente o mancham e o corroem. Incapaz de confessar que ele não vai precisar se preocupar com a saúde dela por muito mais tempo.

— Não posso só ficar olhando. Essa paz é muito frágil, — ela solta uma mão do seu cabelo e segura a mão dele junto ao seu rosto, — Eles podem me usar contra você.

Ele respira longa e profundamente, mostrando cansaço e impaciência, e ela teria sorrido se não estivesse tão resoluta em mostrar seu compromisso.

— Você quer mesmo falar de política agora? — Ele se senta, mas não solta a sua mão.

— Não quero. Mas esse é o seu mundo agora, — ela se aninha mais perto em seu peito, feliz por ele não ter negado de imediato, — Temos que estar em sincronia, temos que falar sobre essas coisas mesmo sem gostar. Você mesmo disse que também não gosta de falar delas.

— Ainda não gosto. Na verdade, eu já venho me desviando dessa conversa há bastante tempo, — ele a afasta um pouco, o bastante para olhar diretamente em seus olhos, — Têm coisas melhores que poderíamos fazer.

— Eu disse que ia ficar ao seu lado! — Ela quase grita ao tentar mantê-lo à distância, antes que ele comece algo que ela não vai ter coragem de dar um fim, — Isso inclui as dificuldades na corte. Agora que Baek Ah e o General Park te deixaram, você vai precisar de ajuda.

— Acha que vou cair tão fácil assim?

— Você não vai cair. — Depois de tudo o que aconteceu, e com tudo o que ela sabe que vai acontecer, não há uma sombra de dúvida nela sobre isso, — Não há um único homem aqui que seja capaz de te desafiar. Eu só temo que você seja forçado a sacrificar seu lado bom para destruir aqueles animais.

— Nem toda luta requer um sacrifício.

— Essa pode. Então, por favor, me deixe te ajudar.

— Você já está me ajudando.

— Pyeha...

Ela respira fundo, mas ele a interrompe antes que ela comece outro argumento. 

— Estou sendo sincero. Você já está! — Ele segura o rosto dela com carinho, segurando-a como se ela fosse a coisa mais preciosa do universo, e ela sabe que está prestes a deixar a conversa pra lá, — Só de saber que posso te ver à noite, só de saber que você acredita em mim, que você está aqui, me dá forças pra durar o dia, — ele fala com tanto saudosismo que ela sente sua resolução começar a se dissolver. 

— Eu devia fazer mais por você do que só lhe dar conforto...

— Faça algo por você mesma. Assegure-se de que está bem e dê o seu melhor para tornar sua vida aqui confortável.

— Pyeha...

— Eu não quero te preocupar com os assuntos da corte, — ele solta o rosto dela e segura suas mãos, — Mas quando você recuperar sua saúde, eu vou ficar menos apreensivo, e eu prometo que vamos ter essa conversa novamente.

Ela baixa o olhar para suas mãos entrelaçadas, evitando seu olhar e mordendo seu lábio inferior. Ela tem medo do que pode acontecer com ele na corte, mas ela também tem medo do que vai acontecer quando ela contar a ele.

Ele respira fundo, e chega a um meio-termo.

— Então tá, — ela levanta os olhos para ele, ainda disposta a continuar o debate por mais um tempo, — Mas você precisa me contar tudo o que está fazendo. — Ela espera sua concordância, mas então ele fecha os olhos e belisca a ponte do nariz, e ela sabe que precisa ser rápida, — Você vive me dizendo que está tudo bem, mas eu quero pelo menos saber o que está acontecendo! Eu não posso viver numa ignorância completa! Você disse que seria mais aberto!

— Soo-yah... — Sua voz régia retorna e ela parte pra sua arma secreta.

— Se não me contar, eu vou parar de vir te ver.

Ele estreita os olhos para ver se ela está blefando, mas sabe que é melhor não se arriscar e desafiar a palavra dela.

— Eu vou atrás de você.

— Eu me escondo numa caverna no Damiwon.

— Eu assino um decreto.

— Você sabe que isso não vai dar certo.

Ele grunhe em frustração, e ela quase ri com a visão do temido e majestoso Rei agindo como uma criancinha. Quase. Ela ainda precisa fazer ele aceitar o acordo.

— Tá, — ele grunhe, — Eu vou te avisar das minhas decisões e decretos com antecedência, se é o que você quer. Tá feliz agora?

— Sim, obrigada. — Ela sorri, larga e brilhantemente, e o puxa para um abraço, enterrando seu rosto no peito dele.

— Acha mesmo que assim vai ser melhor? — Ele ainda soa duvidoso, mas isso não vai arruinar o humor dela.

— Eu com certeza acho.

 

 

Hae Soo acaba por ter razão, uma vez que as conversas sobre assuntos políticos lhe trazem um maior conforto.

Por algumas semanas ela não precisa depender dos sussurros das damas da corte, ela não precisa tentar adivinhar e prever o que está acontecendo no salão. O alívio é ainda maior quando os únicos problemas e fontes de pressão vêm da colheita perdida em algumas terras do leste do país, alguns confrontos militares com as forças de Khitan, e uma disputa sobre qual clã tem mais direitos sobre uma certa porção de terra.

Existem problemas, é claro. Mas não um motim, não uma rebelião, e finalmente, não uma pressão para tirá-lo do trono. Ele só precisa ficar mais forte agora, para que as pessoas não ousem confrontá-lo, para que ele não seja forçado a matar seus próprios ministros e irmãos, para que as pessoas mil anos à frente não lembrem dele como um tirano.

— Pôr um fim às ameaças é uma forma de ficar mais forte, — Jang Mi aponta e ela ignora a mulher graciosamente. O Rei dela não é esse tipo de pessoa, e ela o conhece. Ela sabe que ele não quer derramar sangue, e ele não fará isso a menos que tenha um motivo sério.

 

 

Ela o acha na Torre do Astrônomo, mas antes que possa ao menos sentir a nostalgia de encontrá-lo lá, ela percebe que o cabelo dele está desalinhado e seus olhos frenéticos. Ji Mong não parece estar por perto e ela se pergunta o que poderia ter causado sua agitação, mas antes que ela abra a boca para falar, ele a vê.

— Soo-yah! — Ele exclama e um sorriso abre no seu rosto, fazendo ele parecer com um maníaco, e ela se arrepia.

— Pyeha. Está tudo bem? — Ela se apressa para o lado dele, tomando sua mão cuidadosamente, — Você não parece consigo mesmo.

— Oh, eu estou bem. Estou muito bem. — Antes que ela comece a se preocupar que ele possa ter ingerido alguma substância suspeita, ele diminui seu tom de empolgação e fala mais sóbrio, — Eu consegui, Soo-yah! Eu posso consertar tudo agora! — Quando ela faz uma cara confusa ele se explica melhor, — Eu sei como me livrar dele.

O coração de Hae Soo para de bater por um segundo e ela sente um pavor terrível vindo sobre ela.

—O quê? Se livrar de quem? — Ele parece não notar o medo dela, uma vez que continua sua fala insana.

— Foi tudo por causa dele. Foi tudo por causa de Wook! E agora eu posso pôr um fim a isso.

Com a menção do nome do 8º Príncipe ela congela e quase não percebe que ele está marchando em direção às escadas.

— Pyeha, espere! — Ela grita para ele quando volta aos seus sentidos, mas ele não pára, —  O que está acontecendo? O que o 8º Príncipe fez?

— Não posso explicar tudo agora, — ele fala sem olhar para trás e ela deseja que ele parasse por um segundo para ela tentar entender o que estava acontecendo, — Eu tenho que ser rápido ou ele vai conseguir o que quer.

— Rápido pra quê? Pyeha! — Ela se esquece do estado de seus joelhos e corre para diminuir a distância entre eles, parando na frente dele e fazendo ele parar também, — Me conte o que está acontecendo, por favor! O que ele quer?

— Ele quer se livrar de mim, — ele parece cético e fala lentamente, como se fosse um fato de conhecimento geral e ele esteja surpreso que ela sequer esteja lhe perguntando, — Ele quer o trono.

E não é como se Hae Soo não suspeitasse que algo do tipo estivesse acontecendo, ou como ela nunca soubesse das aspirações do 8º Príncipe, mas ela esperava que ele não condenasse seu irmão só por almejar a posição mais alta.

— Espera. Você tem certeza disso? — Ela agarra o braço dele quando ele começa a dar a volta por ela, forçando-o a se virar para ela de novo.

— O quê? Não acredita em mim?

— Não é isso! — Ela não esperava que sua pergunta fosse deixá-lo tão vulnerável e irado. Nem esperava que eles voltassem a gritar um com o outro novamente. Ela tenta se acalmar e soar racional, seu aperto no braço dele ficando mais leve, — Eu só não quero que você faça algo de que você possa se arrepender depois.

Por um segundo ela acredita que ele se acalmou. Por um instante ela tem certeza que ele está voltando para ela e que ele vai ouvi-la. Mas então ele puxa o braço para longe dela e o momento se vai.

— Eu achei que você entenderia, — ele murmura com uma voz baixa, se vira e a deixa para trás, observando-o se afastar dela mais uma vez.

 

 

— Alguma coisa fora do comum hoje? — Ela pergunta a Jang Mi casualmente, sua voz completamente calma e neutra.

— Nenhuma. Por quê? Alguma coisa aconteceu?

— Não. Nada aconteceu. — Pelo menos não ainda, ela completa mentalmente, o otimismo dentro dela lutando com a apreensão que desenvolveu depois de viver no palácio por tanto tempo, — Você acha que o 8º Príncipe ainda almeja o trono?

— É difícil dizer, senhora, — Jang Mi responde, suas mãos nem uma vez parando de pegar a xícara e servir o chá.

— Por isso eu perguntei o que você acha.

A dama da corte coloca o bule de volta na mesa e se ajoelha, seu rosto sem expressão alguma e seus olhos impassíveis.

— Ao contrário do 13º e do 9º Príncipe, — a mulher começa a explicar, — Eu nunca vi nem ouvi o 8º Príncipe manifestar a falta de interesse nele. Nem uma vez.

Ele não vai agir se não precisar, mas ele vai atacar, ele vai morder e matar se ele se sentir ameaçado. Se o 8º Príncipe nunca declarar que não tem interesse pelo trono, ele vai continuar sendo uma possível ameaça.

Alguém precisa pôr um fim a isso.

— Tem algum jeito de haver uma trégua entre eles?

— Tem. Um deles morre.

 

 

— Wangjanim!

Ela não grita, nem sequer ergue a voz, mas a palavra parece ecoar para todos os cantos do palácio e o mundo faz silêncio. O 8º Príncipe pára de andar, e por um momento esse é o único sinal de que ele a ouviu, de que ela capturou sua atenção.

Quando ele se vira ela tenta não se encolher sob seu olhar frio, tenta não parecer muito fraca, muito culpada, muito desesperada. E quando ele fala, ela tenta não se arrepiar com o estranho tom de voz dele.

— O que foi? — Ela leria a expressão dele como uma de divertimento se não o conhecesse melhor, — Tem mais algum discurso de pena para mim? Vai falar mais alguma baboseira sobre estrelas?

— Só quero pedir que pare.

Ele dá uns passos na direção dela e ela precisa lutar com a vontade de se afastar dele para manter sua posição.

— Está com medo que eu o tire do trono e o mate? — Ele a encara geladamente, — Ou teme que eu seja incapaz de conseguir e acabe sendo condenado à morte?

— Não é isso, — ela tenta explicar, mas ele a interrompe.

— Você não acha que ele vá perder, senão já o teria deixado. Então por que se dá ao trabalho de ficar preocupada?

— Wangjanim... — Ela luta pela chance de dizer alguma coisa, de pensar em algo que possa dissuadi-lo, de encontrar uma fração do menino que um dia ela amou, mas não há nada. Ela não pode dizer nada. Ela não pode fazer nada. Não resta mais nada para ela poder fazê-lo mudar de ideia.

O 8º Príncipe parece notar um pouco do seu conflito interno e dá de ombros, afastando seus olhos dos dela e virando-se para o caminho que estava seguindo, e depois fala num tom neutro, como se o assunto não tivesse importância alguma.

— Minha irmã é rainha. Tal poder vai ter que bastar para um príncipe desprovido de estrelas como eu. — Ele então olha para ela por sobre o ombro, — Vou assistir pacificamente e à distância para ver quanto tempo você vai conseguir ficar ao lado dele.

 

 

Apesar de suas palavras duras, ela sente uma onda de alívio vir sobre ela. O palácio ainda é um veneno e repleto de serpentes, mas saber que o 8º Príncipe não está prestes a começar uma rebelião, que desencadearia no purgo que acabaria por manchar o reinado de Gwangjong e marcá-lo como um tirano, tranquiliza sua mente.

O alívio dela, no entanto, não dura muito.

Ela ainda está ancorada na mesma posição, olhando para o lugar que o 8º Príncipe esteve alguns momentos atrás, quando repentinamente o mundo ao redor dela gira e a visão dela fica vermelha.

Ela está se afogando mais uma vez. Ela vê o sol brilhar sobre as águas, mas algo a arrasta para as profundezas escuras.

Faz muito tempo desde que ela teve uma visão, e por um breve segundo ela imagina distraída o que causou essa. Mas então tudo fica claro, as outras cores aparecem e ela consegue diferenciar as formas.

Só dura alguns segundos. São só alguns segundos e ela sabe. Mas sempre parece durar uma eternidade.

A primeira coisa que ela nota é a biblioteca do 8º Príncipe, com a aparência de abandonada e empoeirada. Então ela percebe o sangue pingando no chão.

O zumbido agudo nos seus ouvidos parece ficar mais e mais alto conforme ela vai compreendo a cena diante dela. E ela percebe que está vendo a morte do 8º Príncipe, sangue pingando de sua boca, seu rosto pálido e fraco, que nem sua Unnie estava nos seus últimos momentos de vida.

Ele tenta alcançar alguma coisa – qualquer coisa – e tudo fica vermelho de novo.

Ela acorda arfando, choque ainda correndo por suas veias, sua mão esticada, tentando alcançar alguém, quando ela percebe que está de volta no seu quarto, a luz do sol iluminando o recinto.

— Min Kyung-ah a encontrou desmaiada, — ela ouve alguém dizer, e só então percebe que não está só. Ela se senta com cuidado, sua cabeça ainda um pouco tonta, e ela massageia seu peito que dói novamente, já que a natureza de sua última visão não foi de nenhuma ajuda para sua saúde.

— Quando eu desmaiei?

— Não sabemos, — Jang Mi se vira de costas para ela e começa a preparar uma xícara de chá, — Talvez se a senhora não fugisse das damas da corte que Pyeha designou para você, nós saberíamos.

— Sinto muito.

— Seria melhor dizer isso para a pobre garota, — Soo se encolhe quando pensa na jovem dama da corte tendo que cuidar de seu corpo inconsciente, — Ela achou que você estivesse morta.

— Eu estou bem.

— Não, não está, — a mulher interrompe sua costumeira descrição de sua saúde, — Como o médico da corte me informou, a senhora não está nem um pouco bem.

— Eu pedi que ele não...

— Não contasse ao Rei. E ele não contou. Só contou para mim porque confiou que eu seria discreta sobre o assunto.

Soo olha para sua xícara de chá, o aroma passando despercebido já que ela está focada demais na bagunça que começou a se formar na sua cabeça.

— Ele sabe o que aconteceu? — Ela não precisa perguntar, mas gosta de ter certeza.

— A senhora esteve inconsciente por quase dois dias.

— Ele está com muita raiva?

— Ele gritou por um tempo. Exigiu saber qual era o problema, — Jang Mi dá de ombros, o gesto descortês demonstra quanto tempo ela esteve ao seu lado, — Depois ele gritou um pouco mais quando o médico deu uma resposta vaga. A senhora sabe que precisa contar para ele.

— Eu sei. Eu só... Só não estou pronta ainda para me despedir.

— Isso tudo é por causa do que aconteceu daquela vez, não é? Quando a senhora foi acusada de tentar envenenar um dos príncipes?

— Não é só por causa disso.

— Mas foi ali que tudo começou, não foi? — Ela consegue sentir os olhos penetrantes da mulher mais velha sobre ela e não consegue esconder a verdade, — Tem certeza que ficar aqui não vai piorar seu estado?

Há algo sendo implicado nas palavras da dama da corte e ela não consegue capturar sua mensagem sutil, então ela desvia os olhos do chá ainda intocado de volta para a mulher.

— O que quer dizer? — Um sinal para que ela fale livremente e descuidadamente, até mesmo rudemente se necessário.

Jang Mi parece hesitar um pouco, mas então respira fundo e – num raro gesto de afeto – coloca uma mão sobre seu ombro.

— Oh Sanggung morreu por causa das ações da falecida Rainha Mãe, — ela fala num tom rígido de mãe, — Se o mesmo destino vier sobre você, eu peço que faça o que ela não pôde, e o deixe.

Soo pisca, surpresa pelas palavras, tão parecidas com as da falecida mulher, mas logo depois sorri suavemente, impedindo que tais temores deixem sua mente nublada de novo.

— Isso não vai acontecer.  Eu confio nele.

A rara calidez nos olhos da mulher se apaga, e ela recolhe sua mão, sua voz volta ao tom vazio e neutro de sempre.

— Então você deve saber que Pyeha acabou de acusar o 8º Príncipe de traição.

O mundo fica silencioso mais uma vez, e tudo o que existe são as palavras de Jang Mi, penduradas no silêncio, ecoando até ela de novo e de novo.

— O quê? — Não pode ser verdade. Não pode ser.

Ele acabou de me dizer que não faria nada. Ele mentiu de novo? O que aconteceu? Por que ele mudou de ideia? O que ele fez?

E quanto ao Rei? O que aconteceu com ele? Ele está bem? Os ministros estão pressionando mais? O banho de sangue está começando?

O que eu faço?

— Foi hoje de manhã, — Jang Mi continua depois que nota a confusão de Soo, — Parece que o 8º Príncipe ofereceu um falcão morto ao Rei na frente de todos os ministros. Uma sentença de morte é esperada a qualquer momento.

— Sentença de morte?

— Ele provavelmente será forçado a ingerir veneno.

Os sentidos de Hae Soo se entorpecem conforme o mundo gira e o zumbido agudo nos seus ouvidos retorna. Ela não vê o fundo do lago, nem o vermelho, nem um relance do futuro. Ela não desmaia, nem derruba sua xícara de chá, mas seu coração bate com violência em suas costelas à medida que o medo se enraíza. O sangue dela foge de seu rosto e as suas antigas memórias de Goryeo inundam sua mente.

Eu achei que tinha mudado! Eu achei que tinha conseguido!

Foi por minha causa? O que eu fiz? O que era pra eu ter feito?

O que eu faço agora?


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Notas finais do capítulo

Não, não vou quebrar a tensão agora...

Aliás, sim, o título capítulo é de uma música. E sim, ela tocou em Teen Wolf. Onde mais eu a encontraria?
link para os curiosos musicais -> https://youtu.be/7_eB2KihieQ

Opiniões são bem vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

:)



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