Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 11
I Carefully Build Walls Of Brick Again




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Hae Soo realmente acreditou que ela ia ficar bem.

Claro, ela estava com medo. Ela temia pela vida do seu bebê mais do que jamais temeu pela sua própria. Ela temia que um dia a Rainha descobrisse sua gravidez secreta. Ela temia que alguém tentasse envenená-la para se livrar dela, e seu filho acabasse sofrendo por causa disso. Ela temia que o menor dos erros acabasse com ela perdendo tudo o que ela queria proteger.

Ela tinha medos, mas depois que ela começou a compartilhá-los com o Rei, eles tinham diminuído significantemente.

Ela podia evitar ser vista pelos outros, se abrigar no Damiwon ou no seu quarto (às vezes no quarto do Rei) para não ser encontrada. Ela podia usar mais camadas de roupa e de agasalhos para esconder a barriga quando ela começasse a crescer.

Ela tinha pensado em tudo o que poderia acontecer, e por isso ela acreditou que tudo ia ficar bem.

Mas agora ela não tem mais tanta certeza disso.

E tudo por causa dela.

— Faz quanto tempo desde que você serviu alguém no Damiwon? — Baek Ah pergunta brincando quando ela lhe serve uma xícara de chá e ela sorri, ainda sem saber que uma sombra está prestes a pousar sobre ela.

— Ultimamente eu só sirvo o Rei. Mas não é porque eu não queira servir mais ninguém, — Soo suspira e serve uma xícara para si também, — Acho que Pyeha ordenou que ninguém me solicite. Ou então as pessoas não querem se associar a mim.

— Ei, eu estou aqui agora, — o 13º Príncipe sibila em desagrado.

— Você não tem muito a perder por se juntar a mim, Wangjanim, — ela diz, sorrindo como se fosse uma piada, mas ser também uma verdade ele não tem mais nenhum outro argumento. Ele dá de ombros para concordar, mas sorri assim mesmo.

— Sorte sua, — ele adiciona depois do comentário dela, — Senão nós dois estaríamos sofrendo de tédio e apatia agora.

— Você ainda me deixa entediada, — ela reclama e dá uma bronca, fazendo uma cara séria que não o engana por um segundo, — Você já voltou tem um dia e ainda não me contou história nenhuma. — Ela faz um bico e ele suspira em derrota. 

— Porque não tenho nenhuma, — Baek Ah diz numa voz cansada, como se ele tivesse repetido a mesma resposta umas mil vezes, o que ele provavelmente fez, — A única coisa emocionante que aconteceu comigo desde que eu fui embora foi voltar pra casa.

Ela sente o sorriso desaparecer um pouco quando ele responde, sua esperança e resolução começando a se abalar. 

— Nada? — A incerteza dela deve aparecer na sua voz, apesar de sua tentativa de soar natural.

— Não é o fim ainda, — ele a tranquiliza rapidamente, — Eu vou ter que ir embora de novo em breve, e dessa vez eu prometo que vou procurar aventuras para animar você e o pequeno.

Os olhos dela se arregalam quando ele menciona o bebê e ela olha em volta rapidamente para ver se tem alguém por perto. 

— Shhh, — Soo o silencia com um dedo nos seus lábios.

— O quê? Você já está com quase quatro meses de gestação e quer guardar segredo?

Ele está chocado, e ela não o culpa. O Rei também ficou chocado quando ela disse a ele que queria manter a gravidez em segredo. Ela sabe que essa ideia é ridícula, mas ela prefere ser ridícula a arriscar a segurança do seu bebê.

Ela coloca uma mão carinhosamente em cima de sua barriga que já começa a crescer, e então ela deixa de se importar se soa absurda ou ridícula.

— Vou guardar segredo o tanto que eu puder.

Baek Ah sorri, mas ele parece preocupado.

— Isso é ao menos é viável?

Ela segura a camada extra de roupa para que ele possa entender sua estratégia. 

— É inverno, — Soo explica com cuidado, — Ninguém vai se perguntar porque eu estou vestida num casaco tão grosso.

Mais uma vez, ela agradece aos Céus pelo momento propício. Se ela tivesse engravidado durante o verão teria sido praticamente impossível esconder a barriga. Agora, mesmo embora o inverno não seja tão severo quanto outros que ela testemunhou em Goryeo, é frio o bastante para justificar todos os novos casacos e hanboks que o rei lhe deu. 

Ela tinha três meses de proteção à frente. Mas ela já tinha começado a pensar no que fazer quando a primavera chegasse. E francamente, ganhar quilos a mais para esconder a barriga ou ficar confinada no quarto não são ideias práticas. 

E claro, anunciar a gravidez não é uma escolha para ela.

— Você já pensou em tudo, não é mesmo? — Baek Ah pensa em voz alta, e Hae Soo sorri, se lembrando 

— Pensei, — pelo menos por agora, ela não diz, ela não o preocupa ainda mais, — Ainda estou muito ansiosa, mas vou ficar bem.

Ela consegue não demonstrar na voz o quão estressada está, e quando o sorriso dele cresce ela sente o dela crescer também. 

Eles acabam de beber o chá em um silêncio confortável, e depois que ele põe a xícara na mesa, olha com cuidado para ela.

— Sabe, — ele comenta solenemente, — Se há uma pessoa no mundo que poderia viver assim, é você. — Ele olha diretamente para ela, e então vê o brilho travesso nos seus olhos e ela ruge. 

— O que você quer dizer? — Ela pergunta e soa claramente afrontada, mas seu cenho franzido só o faz rir. 

— Eu disse o que quis dizer.

Ela faz cara feia, cruza os braços e faz bico, ficando exatamente igual à uma criança emburrada.

— Seu malvado.

O 13º Príncipe começa a rir e Soo não consegue evitar a sua risada também. Ela permite que suas preocupações deem espaço a esse raro som vibrante que sai dela, feliz por ainda ter pessoas em quem possa contar. Feliz por ainda ter um motivo para rir apesar de tudo que já aconteceu com ela.

Ela ri descuidadamente, deixando o som ressoar pelo seu corpo, desfrutando-o ao máximo, esquecendo da gaiola em volta dela.

E então a sombra chega.

 

 

Se mais tarde alguém perguntasse a Baek Ah o que tinha acontecido, ele não seria capaz de dizer.

A verdade é que ele não viu o que estava para acontecer. Ele nunca nem considerou a possibilidade de algo do tipo acontecer. Ele estava cego a todos os riscos e perigos que os cercavam naquela tarde.

Ele foi pego de surpresa. E quando aconteceu, já era tarde demais.

Baek Ah não podia fazer nada para intervir.

Depois que Hae Soo coloca mais um pouco de chá na sua xícara, ele nota o som farfalhante de tecido e o tilintar de jóias atrás dele, mas não presta atenção. Ele não se incomoda em se virar já que o lugar está cheio de visitantes que buscam uma bebida quente.

Mas então ele ouve a voz dela, e seu sorriso se esvai.

— Mas que visão pública de comportamento vergonhoso, — ela sibila atrás dele, e ele luta contra a vontade de jogar alguma coisa na cara dela quando se vira para encarar a Rainha. 

— Saudações, Huanghu, — ele diz com um sorriso educado, e levanta-se com Hae Soo para se curvar à mulher, — Quer se juntar a nós?

— Terei que recusar o convite, — o sorriso dela é gracioso, mas ainda destila ódio, — Eu só vim conversar rapidamente com Hae Soo.

Baek Ah então se vira para a mulher ao seu lado, e percebe que ela não olhou diretamente para a Rainha desde que ela entrou no recinto. Soo continua sem se mover, sua postura congelada, seus olhos fixos num ponto vazio no ar em frente a ela.

— Eu não quero, — ela responde numa voz neutra e vazia, — Por favor, retire-se.

A sobrancelha de Daemok treme ao ouvir o desafio claro na declinação polida de Soo, mesmo que seu sorriso não vacile por um instante.

— Você se recusa? — A ameaça não é sutil e ele teme onde essa conversa vai chegar.

— Pyeha me ordenou a não atender ao chamado de ninguém sem a permissão dele antes, — Soo explica seca e firmemente, e então decide virar os olhos para a mulher, — Isso inclui você, Huanghu.

A Rainha ri de forma condescendente, como se eles fossem duas crianças sendo teimosas, e fala lentamente.

— Por quê? — O sorriso dela aumenta quando ela desdenha sua rival, — Ele está com medo que eu seja uma má influência para você?

— Ele só quer que eu possa evitar ser forçada a uma posição que não me deixe à vontade, — o tom educado e educado de Hae Soo não falha, nem sua postura de Sanggung treme quando ela fala rapidamente, — Eu não quero falar com você agora, então eu não vou. Se ainda insistir nisso, vai ter que pedir diretamente a ele.

O sorriso de Yeon Hwa finalmente começa a se desfazer, e Baek Ah se pergunta quanto tempo mais vai levar para ela desistir e deixá-los em paz.

— Tudo bem, — ela diz e dá de ombros, indiferente, e caminha casualmente para mais perto deles, — Se não virá comigo, eu direi a você aqui e agora.

— Ainda tem alguma coisa a me dizer? — Ele nota o desafio na voz de Soo, mas decide que ela tem experiência o bastante para poder lidar com a outra mulher, e sabe exatamente o que pode e não pode dizer a ela.

A irmã dele parece notar também, uma vez que seus olhos ficam mais afiados e seu tom mais autoritário, seus lábios se retorcendo numa expressão de desagrado.

— Esqueça a família daquela dama da corte, — ela ordena e ameaça ao mesmo tempo, — Está atraindo atenção desnecessária dos ministros e fazendo Pyeha parecer injusto.

Ele fica confuso por um tempo, uma consequência por estar longe do palácio por tanto tempo. Mas Soo parece saber exatamente o que ela quer dizer, já que sua postura rígida e distante muda e sua determinação vacila.

— Se refere à Chae Ryung? — A pergunta dela sai numa voz aguda, e eles dois sabem que Yeon Hwa conseguiu afetá-la com sucesso, — Ela era uma amiga e me pediu que tomasse conta da família dela antes de morrer. Isso não tem nada a ver com a pena dela ou a sentença de Pyeha.

— Ela era uma escrava que foi executada por sua má conduta. Não quero minha posição abalada pelos seus ideais tolos.

Hae Soo cora e ele pensa que ela está prestes a ceder à Rainha, mas então ela fala num tom superior e impertinente. Seu rosto se ilumina com um sorriso doce que faz Baek Ah se lembrar do tempo que ela era uma garota travessa e ousada, e ele sabe que não precisa se preocupar.

— Me perdoe, Huanghu, — ela diz sem parecer nem um pouco arrependida, — Mas eu não posso abandonar meus amigos que nem você abandonou seu irmão.

E então é a vez de Daemok perder a compostura. Os dentes dela cerram em ultraje, seus punhos se fecham firmemente ao lado do corpo dela, seus olhos chispam de raiva, e, apesar de gostar do espetáculo, Baek Ah se pergunta se Soo não está indo um pouco longe demais.

— O que você sabe sobre mim?

— Eu sei que você não fez nada para salvar o 8º Príncipe de ser executado, e nem tentou deixar o palácio fechado para colocá-lo no trono, — Soo diz casualmente, enumerando os eventos com uma voz pensativa, — Você virou as costas para ele assim que teve a chance.

A Rainha bufa e encara com ira a mulher à sua frente, que ainda sorri desdenhosa, seus lábios tremendo de repulsa quando ela começa a andar na direção de Soo com passos firmes.

— Foi você que o deixou daquele jeito. Tudo começou com você, — Yeon Hwa retruca, atacando Soo diretamente, — E foi por sua causa que aquela garota morreu.

Baek Ah está prestes a entrar na conversa, desafiar a Rainha apesar de sua posição inferior, desviar a atenção da mulher antes que ela acabe destruindo Soo. Mas então ele ouve o som de água, e, num piscar de olhos, Yeon Hwa está encharcada e espantada, sua boca se abrindo e tentando formar palavras, seu penteado complicado e sua maquiagem trabalhada perdidos no tapa de água que acabou de acertá-la em cheio.

Em frente a ela, Hae Soo está lívida, segurando o bule agora vazio, seus dentes cerrados em ódio, e Baek Ah não sabe bem o que fazer.

Na verdade, ele quer começar a rir que nem louco, mas opta por ouvir Hae Soo por enquanto.

— Chae Ryung morreu porque todos vocês acharam que podiam muito bem tratá-la como uma ferramenta, e não têm escrúpulos para satisfazer sua ganância, — ela fala alto, não mais educada e provocadora, mas abertamente rasgando a verdade para a mulher na frente dela, — Eu não sei como você não tem vergonha de ser quem é. Você é uma pessoa horrenda, e os que estão à sua volta só querem algo de você.

Yeon Hwa finalmente se mexe, suas mãos tentando secar a água quente de seu rosto, e ela tenta recuperar sua autoridade e dignidade.

— Como ousa? Eu sou uma rainha, sua ordinária!

— Meu status pode ser inferior, e as pessoas da corte podem não apreciar minha presença. Mas o que você tem fora seus títulos? — Baek Ah só consegue ouvir os ataques contínuos de Hae Soo e observar, espantado, sua expressão destemida, — As suas honras, o seu reconhecimento e o seu poder te aquecem de noite?

— Nada disso teria acontecido se você reconhecesse seu lugar! — Daemok ergue a voz e marcha até sua rival, mas é interrompida de novo.

— Então quer dizer que se eu não estivesse com o Rei, você não teria denunciado o 10º Príncipe e nem ignorado o 8º Príncipe? — Soo praticamente joga o bule de volta para a mesa, fazendo barulhos, e cruza os braços, — Pare de dar desculpas e admita que você só é gananciosa e egoísta demais para ser uma pessoa decente.

Há um silêncio, então. Um silêncio longo e profundo enquanto as duas mulheres se encaram, ambas imóveis, e Baek Ah continua plantado no mesmo lugar que estava quando a Rainha chegou. Ele mal respira enquanto assiste o conflito se desenrolar na frente dele, esperando que uma delas finalmente se mova ou fale algo, já que ele não faz ideia do que dizer ou do que fazer.

Então o silêncio é quebrado, e é como o bote de uma serpente.

— A morte de Oh Sanggung por você foi um desperdício, — Yeon Hwa sussurra, mas as palavras parecem se amplificar no quarto vazio e silencioso, e um arrepio desce pela coluna dele.

Mais uma vez, é tão rápido que Baek Ah não consegue reagir direito.

Ainda um segundo antes, Hae Soo estava ao lado dele, e no próximo ela estava em cima de Yeon Hwa, suas mãos se enfiando nos cabelos da Rainha, e então puxando-os do penteado, alguns fios sendo arrancados no processo.

Dessa vez, no entanto, Baek Ah consegue descongelar e agir. Ele corre para entre a mulher que grita irada e a que começa a chorar de dor, e precisa usar força para evitar que Hae Soo mate a outra enquanto ela continua a gritar uma série de afrontas raivosas.

— Você vai ter uma vida miserável e vai morrer sozinha! — Soo grita, e as palavras de Yeon Hwa se perdem com a intimidação, — Até seus filhos vão te desprezar e você vai merecer.

— Pyeha vai saber disso! — A Rainha tenta um último ataque, mas Soo nem pisca.

— Claro. Vá em frente! — Ela desafia sua ameaça, já que ninguém acha que alguma coisa vá acontecer com Hae Soo se a Rainha for até ele, — Diga a ele que pela primeira vez eu te dei o que você merecia! Veja se ele consegue te desprezar ainda mais!

Yeon Hwa grunhe em aversão e deixa Baek Ah está levemente tentado a soltar a mulher furiosa, ainda debatendo nos braços dele, e deixar que ela termine o trabalho.  Mas a Rainha parece saber quando perdeu, uma vez que ela rapidamente se vira e se apressa em sair do quarto e do Damiwon, sua postura um pouco menos graciosa do que quando entrou, e ele se contenta em assistir os ombros caídos dela se afastando e desaparecendo de sua vista.

— É, vá embora! — Soo grita para a porta fechada e ele assume que ela também está satisfeita também, — Ah, você mexeu comigo no dia errado!

Ela continua a murmurar palavras de raiva e indignação, mas não tenta mais chutar ou esmurrar alguém, então ele decide soltá-la. Ele a observa caminhar pelo quarto, falando consigo mesma sobre o quanto ela odeia a outra mulher e suas maquinações malignas.

— O que foi isso? — Ele pergunta quando é seguro, a costumeira fila de damas da corte da Rainha fora de vista, e os chutes e palavrões de Soo apenas um murmúrio baixo no seu peito.

— Não me pergunte. Pergunte pros hormônios que ficam me atiçando! — Ela explode com ele e corre para a porta, tentando seguir a outra mulher, e Baek Ah precisa usar sua força para impedi-la novamente, — Me solta, eu ainda não acabei com ela.

A inquietação de Soo faz com que seja difícil segurá-la firmemente sem ter que se preocupar se está machucando o bebê.

— Espera, você não pode! — Uma coisa é atacar a Rainha num quarto privado do Damiwon, mas é uma coisa completamente diferente acabar com a mulher nos corredores cheios de gente, não importa o que quer que fosse aquela desculpa que ela lhe deu, — Hormônios? O quê? Soo-yah!

 

 

So espera do lado de fora.

Ele estava prestes a entrar no quarto que Baek Ah e Hae Soo estavam bebendo chá, esperando fazer uma surpresa, quando ouviu a voz da Rainha e decidiu esperar.

Ele espera porque, dada a conversa que eles estão tendo lá dentro, que é completamente audível de onde está, ele sabe exatamente como vai acabar.

So espera do lado de fora até que a Rainha sai, mas ele precisa sorrir quando vê a aparência dela, pega de surpresa pelo quão longe Hae Soo está disposta a ir se for pressionada demais. A mulher congela quando o vê, seus olhos se arregalam de surpresa, e ele não consegue evitar que o sorriso fique maior ainda.

— Não esperava que ela fosse reagir desse jeito, não é? — Ele comenta sobre a discussão que acabou de ouvir e o desarranjo da mulher na frente dele, o que faz a sobrancelha dela tremer no que ele alegremente marca como vergonha e embaraço.

— Ela é muito volátil para continuar vivendo no palácio, — Yeon Hwa diz, se esforçando ao máximo para parecer composta apesar de estar encharcada de chá, com o cabelo bagunçados e as roupas desalinhadas, até mesmo arranhada em alguns lugares, as suas jóias começando a cair, — Certamente você sabe disso.

— Sim, eu sei que ela é volátil, — ele fala casualmente, como se ela só tivesse falado que chuva cai do céu, e ele observa seu rosto mortificado face à indiferença dele ficar ainda mais envergonhado quando ele se aproxima para olhar bem para ela, — Mas como a maioria das pessoas sabe, ela é inofensiva se não for provocada.

— Já que não se preocupa nem um pouco em manter sua posição, eu tenho que tomar a responsabilidade, senão vou perder a minha também.

Ele meneia, ainda sorrindo da sua expressão de raiva, desfrutando do quanto o menor gesto de tranquilidade para inquietá-la.

— Você sempre fez um bom trabalho quando tomava o controle das coisas para que elas corressem a seu favor, — ele fala com delicadeza, como se não estivesse acertando nos seus nervos deliberadamente, — Para ganhar poder e proteger a posição de Rainha Mãe você sacrificou tudo, inclusive seu próprio clã. Estava disposta a deixar seu próprio irmão, a quem ama tanto, morrer. E nem sequer perdeu uma noite de sono por isso, não é mesmo? — Ele não quer uma resposta, ele só quer a reação dela. Ela o encara furiosa depois de seus insultos, mas não pode contradizer suas palavras, — Tenho certeza que minha falecida mãe estaria muito orgulhosa de você. Agora você é igualzinha a ela.

O último comentário parece ser a gota d’água, e a raiva de Yeon Hwa desaparece de novo e a vergonha volta para o seu rosto.

Ela nem se curva direito antes de fugir da sua vista.

 

 

Hae Soo realmente acreditou que ela ia ficar bem. Mas isso foi antes, e agora ela acha que a vida dela está arruinada. 

E tudo por causa dela.

Tudo por causa da mulher horrenda que queria o homem dela. 

Mesmo depois que a Rainha foi embora, ela ainda sente sua presença, seus olhos odiosos pairando sobre ela, seus ataques verbais enchendo o quarto, e ela odeia todos eles. Ela odeia todos eles com todas as suas forças, como todo o seu corpo, e sente os seus músculos se contraindo enquanto ela tenta, sem sucesso, apagar o encontro da sua mente.

— Soo-yah, se acalme! — A voz de Baek Ah tenta alcançá-la no nevoeiro de pensamentos e emoções que a cerca. 

— Está dizendo que não estou calma? — Ela não quer, mas explode com ele, o surpreende com seu ataque súbito. 

— Você claramente está abalada pelo que Huanghu disse, — ele fala lentamente, suas mãos erguidas para tranquilizá-la, — Agora, por favor, pare de chorar.

A resposta dela é, claro, chorar ainda mais. 

Ela chora e soluça, suas lágrimas não param por um instante desde que Baek Ah a impediu de seguir a mulher e acabar o que tinha começado. Seus hormônios instáveis não fazem mais sentido algum, e suas emoções parecem só sair dela na forma de um choro de desespero.

— Eu não consigo, — ela responde com um soluço, e de alguma forma ele consegue entender.

— Seus olhos vão ficar inchados e seu nariz congestionado, — ele tenta usar outro método para fazê-la parar de chorar e animá-la, — E você nem terminou de tomar o chá com os biscoitos.

Depois de ouvir as palavras dele, suas lágrimas parecem parar por um momento. Ela olha para ele, notando que, em algum momento do seu choro copioso, ela tinha se agachado e Baek Ah tinha se aproximado dela, tentando fazê-la se mover a uma posição mais composta. Na mesa atrás dela estão o bule vazio e os lanches que ela preparou para receber o 13º Príncipe de volta. 

— Tem razão, eu não acabei. E agora sua tarde está arruinada! — Ela retoma o choro escandaloso.

Baek Ah soa completamente confuso novamente.

— Minha tarde?

— Me desculpa por ter derramado o chá todo! — O coração dela é sincero, ela realmente lamenta ter desperdiçado um chá tão bom numa pessoa tão terrível, sem dar a ele a chance de apreciar sua nova mistura.

— Não se desculpe, — o 13º Príncipe diz rapidamente, — Aquilo foi hilário de ver.

Ela se lembra dos olhos arregalados em choque da Rainha e do quão engraçada a maquiagem dela ficou quando começou a pingar do seu rosto, e suas lágrimas param por completo.

— Foi mesmo, não foi? — Um sorriso começa a crescer nos seus lábios e o 13º Príncipe começa a sorrir também.

— Só não foi melhor do que quando você arrancou a peruca dela, — ele continua a descrever os últimos acontecimentos e ela sorri mais viva, seu rosto se iluminando.

— Eu fiz aquilo, não foi?

— Foi, você fez.

Ela ri em voz alta então, porque a cara de Yeon Hwa ficou mesmo muito engraçada e Soo já vinha querendo fazer algo daquele tipo desde que a conheceu, e poder finalmente fazê-lo era um alívio e lhe dava grande satisfação.

E então ela se debulha em lágrimas de novo.

— Eles vão me condenar à morte? — Os medos dela voltam como uma martelada, assim que ela se lembra do porquê estava sendo discreta nos últimos meses, e de que o que acabara de acontecer era completamente o oposto.

— Eles? O quê? — O 13º Príncipe parece não entender por que ela está chorando de novo, e ela se pergunta se ele esqueceu do que quase aconteceu com ela alguns anos atrás.

— Pyeha quis cortar meus membros quando eu bati no 10º Príncipe uma vez.

— Você lembra quem é o Rei agora, não lembra? — Ele fala devagar e com cuidado, como se fosse possível que ela se esquecesse de quem é o Rei. (Na verdade ela esqueceu, só por um segundo, mas isso não é importante para ele saber.)

O cérebro dela começa a fazer cálculos exagerados e complexos mais uma vez, e quando ela acaba, suas lágrimas voltam a cair como se não houvesse amanhã, e Baek Ah parece que vai perder a sanidade.

— Pyeha vai ser forçado a me matar e vai ficar mais magoado ainda.

— Quem vai ser forçado a fazer o quê? — A voz do Rei ressoa pela porta que a Rainha acabou de sair e então ele se aproxima deles.

Ao lado dela, o 13º Príncipe parece suspirar de alívio. Mas agora ela está carregada de medos e de hormônios à flor da pele, então ela não pode se dar ao luxo de fazer o mesmo.

Soo rapidamente se põe de joelhos, curva-se e implora por misericórdia.

— Perdoe-me, Pyeha.

Baek Ah fica chocado de novo, mas So apenas suspira em resignação, caminha e se ajoelha na frente dela, puxa seu corpo em prantos para ele, para que ela não force os joelhos.

— Por quê?

— Se eu fosse mais controlada, eu não a teria atacado, — ela explica. 

— Sim, não teria, — ele concorda.

— Agora ela vai tramar com o clã dela para te tirar do trono, — ela especula.

— Isso é improvável, — ele discorda.

— E então você vai morrer e nosso bebê vai ficar sozinho, — ela continua sua teoria.

— Não, isso seria estúpido, — ele retruca. 

— Como pode ter tanta certeza? — Ela explode, começando a ficar ansiosa com a atitude despreocupada dele.

Ele então só sorri, limpa o rosto dela da enxurrada de lágrimas, e ela se permite relaxar no toque suave dele.

— Porque Yeon Hwa preferiria morrer a contar às pessoas que você deu uma surra nela, — ele responde com um rosto calmo e sereno.

— Mas e a aparência dela quando ela saiu? — Ela pergunta com uma expressão duvidosa e inquieta.

— Ela tropeçou e a bandeja virou em cima dela, — ele dá de ombros e sacode a cabeça em indiferença.

Soo olha em volta, tentando ver se essa história seria plausível naquele cenário, e então percebe que já parou de chorar. Ela também percebe que em algum momento da conversa dela com So, Baek Ah tinha escapado de fininho. Então ela percebe que está desperdiçando suas lágrimas por alguém que não merece nada dela, e a raiva volta mais uma vez.

— Pyeha, eu sei que insisti que se deitasse com ela, — ela tenta falar incisivamente, mas parece mais com um choramingo e um pedido, — Mas por favor, não fique com aquela vagabunda ridícula e arrogante.

— Certo, eu não vou, — ele aceita a ordem dela com casualidade. 

— E, por favor, me diga que você nunca a amou, — ela pede, enterrando o rosto no peito dele.

— Como eu poderia, se pra mim sempre foi só você? — Ele se pergunta em voz alta e ela sorri, contente.

Ela lentamente sente sua ansiedade desaparecer, à medida que seus hormônios parecem finalmente se estabilizar e ele acaricia seus ombros, segurando-a bem perto dele.

— Pyeha? — Ela consegue falar sem querer chorar.

— Sim?

Soo olha para ele, seu rosto sério se quebrando com um sorriso, assim que ela decide ser descuidada por agora.

— Você devia ter visto a cara dela! — Ela exclama e So sorri também, — Eu sei que estava fora de mim, mas eu estou tão feliz por ter feito aquilo!

Os dois riem e ela continua a dar mais detalhes e informações à sua narrativa, e Soo sente que está de volta ao normal. E então ela percebe, depois que ele já colocou as mechas soltas de seu cabelo atrás das suas orelhas e beijou suas bochechas com gentileza, o quão So é habilidoso em lidar com suas mudanças de humor, com destreza e agilidade.

Ela sabe que ele a provoca muito quanto a isso, mas Hae Soo também sabe que na verdade ela é bem simples de se lidar.

 

 

Depois de um dia agitado, e um jantar mais calmo – durante o qual ela deu uma explicação muito necessária para Baek Ah de como sua gravidez afeta seu humor, e So lhe deu conselhos de como evitar piorar essas condições e de como acalmá-la quando ela ficasse daquele jeito – ele a acompanha de volta para seu quarto. 

Como todos os outros dias que ela passou no Damiwon, ela tem muita coisa a dizer, e continua a falar, tagarelando sem falar sobre o que ela fez e o que queria fazer com as damas da corte, e ele fica feliz só por andar ao lado dela e ouvir sua voz acalentadora, especialmente quando ela parece tão radiante e tranquila. No entanto, eles logo chegam na porta dela, e ela hesita antes de entrar quando vê que ele parou de andar.

— Está ocupado hoje? — Ele queria não estar, assim poderia aceitar o convite discreto dela para passar o resto da noite com ela, mas ele tem que suspirar desapontado antes de respondê-la.

— Eu tenho uma pilha de correspondência que requer minha atenção imediata, — So diz e então é a vez dela suspirar desapontada.

— Ser rei não tem graça, — ela meio que reclama, meio que brinca, e ele revira os olhos ao comentário dela antes de cutucá-la de leve, empurrando para um pouco mais longe dele e em direção às portas fechadas.

— Só descanse um pouco.

Soo segura o braço dele com firmeza e o puxa para perto.

— Você devia vir comigo, — ela choraminga e ele não consegue encontrar forças para resistir a ela.

Mas ela realmente precisa descansar, e ele realmente precisa verificar os papéis. Então, ao invés de se permitir a mais um momento de ócio com o amor da sua vida, ele decide que é melhor ficar separado dela por uma noite, e assim eles podem ter mais tempo livres juntos depois. É por isso que ele retira seu braço das mãos dela, mesmo que não solte a sua mão.

— Você precisa descansar depois do que aconteceu hoje, — ele diz para ela e para o bebê, dando uma bronca ao mesmo tempo em que tenta convencê-la a entrar de uma vez, — Você até assustou Baek Ah.

— Não foi de propósito, — ela tenta argumentar, mas ele não quer conversa. 

— Mas você precisa dormir direito, assim seus nervos não vão te fazer mudar de humor tão subitamente. E te deixar propensa a se irar, — ele tenta lembrar da explicação que ela lhe deu antes, as condições e circunstâncias que a faziam apresentar aquele comportamento, mas ele ainda está perdido quanto ao que está acontecendo com ela, — Eu não creio que tenha entendido direito.

So tem boas intenções, mas quando Soo franze o cenho e faz careta, ele sabe que acabou de fazer algo proibido.

— Você acha que eu fico com raiva fácil? — Ela pergunta em voz baixa e ele já sabe que tem de respondê-la com cautela.

— Eu acho que você é cativante.

— Então por que não entra? — Ela faz birra e ele sorri, pensando no quão adorável ela fica quando estufa as bochechas e faz bico, mesmo que o olhar dela fosse gélido e cortante ainda alguns segundos atrás. 

Então So enlaça sua cintura com um braço, trazendo-a para perto até que ela esteja apoiada no seu peito, e fala baixinho no seu ouvido.

— Porque aí eu não vou poder sair.

Ele sente ela sorrir e se aproximar ainda mais, ficar na ponta dos pés, e então ela sussurra, fazendo arrepios descerem do seu ouvido pela espinha até a sua cintura.

— Essa é a intenção.

Ele se afasta rapidamente e ela ri do seu rosto corado.

— Você é perigosa, sabia? — So a censura, mas ele também está rindo.

Ele começa a fugir, mas Soo agarra seu braço de novo, e eles voltam a se debater, ele lutando contra as mãos fortes dela e ela o arrastando para o seu quarto. So, no entanto, logo consegue se soltar e Soo começa a fazer bico de novo.

— Pelo menos me dê um beijo, — ela tenta agarrá-lo mais uma vez, mas ele está com de guarda dessa vez e consegue se desvencilhar com facilidade. 

— Absolutamente não, — ele coloca ambos os braços para trás das costas, para que fiquem fora do alcance dela, — Foi assim que você me fez ficar da última vez.

— Eu não lembro de ouvir você reclamar, — ela tenta provocá-lo, mas ele já começa a se retirar, um sorriso espalhado no rosto.

— Espere por mim amanhã, — ele se despede alegremente, mas não nega as palavras dela.

Ele caminha de costas, observando-a cruzar os braços e entrar a contragosto no quarto, e ele ri consigo mesmo antes de se virar e retomar a caminhada solitária de volta ao seu trono solitário.

Lidar com Hae Soo realmente é mais difícil que lidar com o governo. Mas é quando ele se sente mais feliz, então ele não ousaria trocar isso por nada no mundo. 

 

 

A chama da vela treme diante dela, à medida que se aproxima do fim. Soo a observa como se estivesse observando a sua própria vida, silenciosa e lentamente se aproximando da escuridão.  A porta abre um pouco sem fazer qualquer ruído, e o 13º Príncipe entra quietamente, se aproxima dela quase que em reverência, mas ela continua a observar a pequena chama na sua frente. 

— Você não mudou de ideia, mudou? — O sussurro dele soa alto demais no secreto do quarto dela, e atrai a sua atenção para ele. 

Soo sorri amargamente, balançando a cabeça numa negativa lenta.

— Me perdoe por ser um fardo.

— Você é minha família, Soo-yah, — ele retruca suas palavras, e se senta na cadeira em frente a ela, — Não um fardo.

— Eu queria muito que tivesse outro jeito, mas... — Ela realmente quer. Mas ela também quer uma vida sem doenças, sem intrigas e sem mágoas, então ela sabe que não pode simplesmente seguir suas próprias vontades, — Nós todos fomos arruinados aqui.

— Eu entendo. — Há dor nos olhos dele, e ela não precisa perguntar, ela já sabe que sim, — Você detesta isso tanto quanto eu, mas eu concordo com você. Apesar de tudo, isso é para o melhor.

Soo respira fundo, sentindo-se rasgar ao meio pelas próprias escolhas.

— Mas eu também me preocupo com ele.

Ele concorda com um meneio, mas não oferece nenhuma palavra de consolo. Não existem palavras de consolo. Não existe um meio que ela possa proteger todos, não tem como ela conseguir ter tudo. Eles dois sabem disso. Eles dois sabem o quão dolorosa é a decisão, e ao mesmo tempo, eles dois sabem que é a melhor para eles. 

— Só me diga o dia, — ele diz depois de um momento de silêncio, sua voz cheia de determinação, — Me diga quando estiver pronta e nós faremos tudo. Eu não ligo pro que hyungnim possa fazer comigo.

A reação dela às suas palavras é um sorriso largo e uma voz provocadora.

— É muita coragem de sua parte, considerando que ele vai direcionar toda a raiva dele pra você.

Aparentemente a tentativa dela de fazer uma piada é muito ruim, ou ele realmente não está no clima de ser provocado, porque ele continua em silêncio e sombrio, sem nem fingir uma risada ou revirar os olhos para ela. 

— Você é uma coisa, não? — Ele lhe dá uma bronca, mas ela só dá de ombros, seu sorriso ganhando um tom de tristeza. 

— Eu só estou tentando não me afogar em angústia e desespero.

O 13º Príncipe não pode retrucar ou ignorar isso, então ele reúne um tipo diferente de determinação e seu olhar suaviza quando ele tenta confortá-la. 

— Nesse caso, até a hora chegar, só foque nos momentos felizes, — ele diz com carinho, como se fazendo um pedido ou uma prece, — Tente imaginar o quão bom seria se você estivesse vivendo lá fora. Evite andar sozinha por aí ou ir dormir sem falar com ele.

Soo acena com a cabeça, já que isso era algo que ela já planejava fazer, mas olha para ele com suspeita quando ele não continua o sermão costumeiro.

— Não vai me dizer que eu tenho que contar para ele?

— Eu já desisti de lhe dar conselhos para sua vida amorosa, — ele diz com um sorriso, — Agora só vou lhe dar conselhos de felicidade. Vai precisar deles.

Ela sorri também, e espera que todos eles possam ser felizes um dia.

— Obrigada mais uma vez, Wangjanim.

— Só estou fazendo o que preciso fazer, — é a última coisa que Baek Ah diz antes de ir embora, — Não é o que sempre fazemos?


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo só foi escrito porque eu sempre quis que Hae Soo desse uma na cara da Yeon Hwa. E o finalzinho foi só pra dar aquele leve tom de amargura, porque se não tem dor não é Moon Lovers. Desculpa, mas é a vida...

Quem já assistiu Shingeki no Kyojin conhece essa -> https://youtu.be/h2uamwQP5qg



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