Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 12
We're A Bouquet With Plucked Wings


Notas iniciais do capítulo

Juro que eu não tinha notado que se passaram dois meses. Perdão (T_T)

Como desculpas, aceitem esse capítulo lindo, recheado de fluff, e altamente satisfatório. Prometo não demorar a voltar dessa vez!



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So acorda com a claridade ferindo seus olhos, uma dor de cabeça fazendo-o se arrepender de ter nascido, e uma náusea que o faz querer vomitar. Ele grunhe em protesto, move seu corpo dolorido e tenta formar palavras com sua garganta, mas tudo o que sai é um gemido de dor. Ele tenta entender o que está acontecendo, contradizendo os instintos do seu próprio corpo de se encolher e esquecer do mundo lá fora. Ele luta contra seus sentidos desorientados e tenta pelo menos sentar para ver onde está.

Mas então ele sente uma mão acariciar seu cabelo solto e ele relaxa ao toque tranquilizador dela.

So se rende às carícias dela, enterra sua cabeça no travesseiro e tenta se afundar ainda mais nos lençóis e cobertores jogados pelo colchão. Ele relaxa com a massagem dela nas suas têmporas doloridas e suspira em contentamento.

— O que aconteceu? — Ele pergunta depois de um tempo, quando ele consegue encontrar a voz sem parecer que acabou de engolir uma lixa.

Ele sabe que ela está sorrindo mesmo que não esteja olhando para ela.

— Você ficou bêbado demais ontem à noite, — ele ouve a sua explicação e os últimos acontecimentos começam a inundar sua mente desarticuladamente. Ele pisca, tentando colocar as coisas em ordem, virando o rosto para vê-la direito.

— E eu vim para cá?

— Veio, — ela meneia lentamente, tirando o cabelo dele do rosto, — Você ficou falando sem parar e depois desmaiou no meu colchão.

As palavras dela desencadeiam uma memória, e ele se lembra de ter dado meia volta no caminho para o seu quarto porque queria muito vê-la. Então So se lembra de ter invadido o quarto dela e a ter acordado, então ele grunhe mais uma vez.

— Desculpa.

— Quem está reclamando? — O sorriso dela só cresce ainda mais quando ela se deita ao seu lado, — Foi adorável.

— Acho que isso é ainda pior, — So enterra a cabeça no travesseiro mais uma vez, temendo as palavras que ele deve ter dito e o comportamento que apresentou na noite anterior. Mas ela ri, cutucando-o em provocação, e ele ama esse som. Mesmo que seu cérebro não queira nada além de dormir novamente. 

— Você só ficou dizendo que estava feliz, — ela continua a descrever suas ações com uma voz divertida, — Mas que não podia me dizer o motivo, porque era segredo.

Ele de fato se lembra de ter dito essas palavras, mas algo ainda está estranho. 

— Você já sabe, por que eu diria que era segredo? Não, espera. Eu acho que lembro. — Ele se vira, observando o quarto dela com cuidado, tentando confirmar algumas coisas de sua memória embaçada, e então aponta para um móvel que, de alguma forma, ele tem certeza que estava envolvido, — Por acaso eu estava falando com aquela prateleira?

Ela ri e ele sabe que está com uma expressão mortificada, além de estar com uma expressão nauseada, mas isso não a impede de provocá-lo ainda mais. 

— Não. — Ela pega o seu braço e o move até que seu dedo esteja apontado para uma prateleira diferente, a alguns metros da que ele indicou, — Com aquela.

Ele choraminga e grunhe mais uma vez, deixando sua cabeça cair no travesseiro. E ela ri, acariciando o cabelo dele uma última vez, beijando o topo da cabeça dele antes de se levantar. Ela se afasta do colchão e se senta à pequena mesa na qual ela sempre prepara chá. Soo reposiciona os potes, organizando-os numa ordem que ele aprendeu, do pior jeito, a nunca bagunçar. So se contenta em assistí-la trabalhar em silêncio, acomodado na cama dela e descansando no calor do quarto. Mas então outra lembrança o faz se sentar de supetão, e ele olha em volta, procurando seus robes e seu grampo de cabelo. 

— Já é muito tarde? — Ele pergunta a uma Hae Soo confusa e ela dá de ombros. 

— Um pouco, — ela responde indiferente, já que o tempo não é muito claro para ela desde que ela engravidou e começara a se esconder do olhar público, — Eu tomei meu desjejum no Damiwon. Eu teria esperado por você, mas...

Ela deixa a explicação solta no ar, e ele imediatamente entende o que ela quer dizer.

— Parece que alguém estava com fome.

— Alguém pode estar com fome de novo logo logo, então eu posso te acompanhar se quiser pedir o seu desjejum.

— Nada de comida pra mim, obrigado, — ele diz, e não só porque seu estômago está protestando, mas porque ele não tem tempo para comer nada, — Você tem algum chá que vá me deixar normal de novo?

— Está passando. Tenha paciência, — ela lhe dá uma leve bronca, mas So continua tentando ficar apresentável com os robes amassados e o cabelo assanhado, — E você precisa pelo menos comer a sopa.

So se vira para olhar para a mesa e vê a tigela de sopa que ela está ordenando que ele coma, e nunca na vida ele ficou tão feliz por ter que sair às pressas para a Sala do Trono.

— Eu tenho que ir, — ele explica rapidamente, — Tenho uma reunião agora...

— Não tem mais, — ela o interrompe, puxando-o para se sentar pela manga do seu robe. Ele se surpreende com a interrupção, então não consegue protestar nem inventar outra desculpa para evitar essa situação, — Você vai gostar da sopa. Eu mesma fiz.

Ela arrasta a tigela pela mesa até que esteja bem na frente dele e coloca uma colher ao seu lado. So olha para a tigela, incerto quanto ao que dizer ou fazer.

— Você cozinhou?

Soo olha para ele, claramente afrontada, sua sobrancelha tremendo de irritação, e ele estremece. 

— O quê? — Ela se exalta num chilique hormonal, — Você me confia com chá, mas não com comida de verdade? — A pergunta dela não é uma pergunta, mas mesmo assim, ele começa a inventar uma desculpa que pareça uma resposta para que ela não fique mais irritada.

— Bem, eu estou certo que ela tem muitas propriedades medicinais, — ele mexe a colher no líquido verde e repulsivo com apreensão, — Mas não estou tão certo quanto ao sabor.

A expressão de raiva dela diminui um pouco, mas ela ainda continua afrontada, então ele decide não tentar a sorte. 

— É remédio. Não é pra ter um gosto bom, — ela empurra a tigela mais um pouco para ele, só um pouquinho agressiva, — Agora coma.

— Um rei não deveria ser tratado dessa maneira, — ele reclama, mas come a sopa, levanta a tigela e engole tudo de uma vez só. 

E então ele se arrepende de sua decisão e começa a tossir e se engasgar com a sensação queimante do remédio dela na sua garganta, ainda sob seu olhar implacável. 

— Sinceramente, nada disso estaria acontecendo se não tivesse bebido tanto.

— O você queria que eu fizesse? — So tenta parar de tossir, e finalmente consegue falar, seus olhos começando a lacrimejar. 

— Cara de assustador e ter vindo me ver, — ela fala com um bico, ficando emburrada mais uma vez, e ele sorri. 

— Você anda muito carente ultimamente.

— Você sabe porquê, e é parcialmente responsável por isso. — Soo sibila e estala a língua, depois cutuca suas costelas com força em protesto.

— Então deixe-me recompensá-la, — So se aproxima, sua cabeça se inclinando até que sua testa toca a barriga dela, e ele sussurra gentilmente, — Não dê trabalho pra sua mãe.

Ele espera algum tipo de resposta, mas mesmo depois de não receber nenhuma, ele beija a barriga levemente inchada, tentando alcançar o bebê ainda não nascido que dorme, que nem chegou ao mundo ainda, mas que já mudou tanto a sua vida.

— Então, não tenho mais reunião agora de manhã? — Ele pergunta enquanto se endireita para beber o chá que ela acabou de lhe servir.

— Isso mesmo, — ela diz, seu sorriso já de volta à força total, — Eu disse que você passou mal no meio da noite e está se recuperando.

So tenta imaginá-la entrando na Sala do Trono, cheia de líderes de clãs velhos e amargos, e dizendo a eles, com delicadeza e educação, que eles tinham que ir embora, e ele engasga de choque.

— Você disse isso para os ministros da corte?

Soo pisca, confusa, e então arfa também quando entende o que ele entendeu.

— Eu disse pra Ji Mong, — ela se explica maior, e continua a falar em tom de choque, — Dá pra imaginar a cena? A mulher do Rei entrando na corte para dizer que ele não vai participar de uma reunião?!

— Seria uma bela cena de se ver, — ele fala com convicção, já que já imaginou a cena na sua mente.

— Eles o tirariam do poder imediatamente, — Soo bufa, mas ri assim mesmo.

Ele deixa o silêncio se firmar ao redor deles, enquanto ele se conforta em saborear seu chá e simplesmente assistir Hae Soo fazer o que quer que seja que ela faz num ritual de chá desnecessariamente complicado, e ele chega à conclusão de que isso é felicidade para ele.

Isso é felicidade para ele, mas o mundo lá fora sempre quis tirá-la dele.

— Obrigado, — ele diz, se referindo à manhã livre que acabou de ganhar, e ela acena.

— Não foi nada, — ela sorri para ele, sempre feliz em poder ajudar, — Ah, e o Astrônomo me pediu que te lembrasse que o embaixador vai chegar essa tarde.

Ele grunhe, sua dor de cabeça ameaçando piorar com a menção do visitante. Ele tinha esquecido completamente que o homem vinha, e agora teria discutir os detalhes de um acordo comercial com ele. Todos os planos em passar um dia em paz depois de uma semana cansativa se estilhaçam e viram pó.

— Acho que vou precisar de mais chá.

— Você vai encontrá-lo com a Rainha, não é? — Ela pergunta e serve outra xícara para ele, e ele começa a beber o mais rápido o possível.

— Ele vai trazer a esposa dele. A menos que eu queira ser rude e criar tensão entre as nações, eu tenho que levar minha esposa também, — ele explica sua posição, sombrio, já que ele também não se agrada com a sua situação, — Bem, a esposa dele é só mais uma entre muitas outras. Mas eu não tenho nem como escolher, tenho? Parece que ninguém quer se casar com Gwangjong.

Ele faz birra, mas Hae Soo sorri em provocação.

— Me identifico com esse povo.

Geralmente So retrucaria o comentário dela, mas a ressaca dele ainda é forte demais para dar uma resposta decente, então ele deixa ela sair ilesa e só pede mais chá.

— Vai ficar bem sozinha o dia todo? — Ele pergunta depois de mais alguns momentos em silêncio, incapaz de esconder a preocupação na sua voz, — Pode ser que eu só acabe bem tarde.

— Eu aguento, — ela dá de ombros, tentando tranquilizá-lo, — Só não fique bêbado e venha vomitar no meu quarto.

So sabe que ela só está provocando, mas ele suspira e baixa a cabeça.

— De novo, eu peço desculpas.

— Por que você estava bebendo, mesmo? — A curiosidade dela intensifica e ela esquece tudo sobre os procedimentos da cerimônia do chá, e se vira para ele para fazer uma interrogação apropriada, — O 13º Príncipe é uma má influência para você.

Ele hesita antes de responder, sabendo que ela não vai gostar. Mas é inevitável e ela vai descobrir uma hora, então ele se prepara e confessa.

— Estávamos pensando em nomes.

— Nomes?

— Nomes para bebês.

Soo pisca uma vez, depois duas, e então ela explode.

— Ei! Você devia decidir essas coisas comigo, não com seu irmão!

— Calma. Eu não decidi nada. Eu só pensei numas opções, — ele segura a mão dela, cerradas em punhos e já batendo no seu ombro, e impede que ela jogue alguma coisa nele, — Você devia pensar em algumas opções também, e quando a hora chegar vamos decidir juntos. Tá bom?

Soo não parece estar mais tão irritada, mas suspira e revira os olhos.

— Você ficou assim desde que sentiu o bebê se mexendo.

— É mágico, e eu não sei como você não está tão feliz quanto eu, — ele diz com seu sorriso mais doce, o que não é tão difícil quando ele se lembra da primeira vez que seu filho chutou sua mão.

A ira dela se acalma mais rápido do que o costume com a sua expressão alegre e feliz, e ela suspira em frustração, choramingando ao puxar as mãos para cobrir seus olhos que começam a lacrimejar.

— Bem, eu estou, — ela fala angustiada, suas emoções fugindo do controle mais uma vez, — Só estou muito preocupada e não dá pra ver.

— Na verdade, — ele discorda gentilmente, colocando uma mão na lateral do seu estômago, — Se você olhar desse ângulo dá pra ver sim.

— É sério? — Ela guincha, suas mãos caindo até sua barriga e arrumando suas roupas para esconder o quanto sua barriga já cresceu.

Mas então ele sorri e complementa.

— Seu amor.

— Pyeha! — Ela reclama irritada, mas quando bate nele So sabe que ela não está com raiva de sua tentativa de animar o seu humor.

Ele beija sua têmpora e se levanta para ajeitar suas roupas e seu cabelo, e então comenta mais pensativo, para aliviar a mente dela.

— Coloque mais um agasalho quando sair do quarto.

— Já estou fazendo isso, — ela diz, estendendo a mão para o dito agasalho e enrolando-o em seu corpo, mas seu rosto continua preocupado, — Não consigo deixar de ficar paranóica.

So suspira, sem gostar de vê-la tão aflita e ansiosa.

— Se quer acabar com isso, deixe-me anunciar sua gravidez.

— Eu acho que você ainda está bêbado.

 

 

Depois que ele consegue aquietar o estômago, ele volta para o quarto e se senta para que ela possa refazer sua maquiagem, pentear e arrumar seu cabelo.

Soo já desembaraçou os nós, mesmo que ele tenha protestado um pouco como de costume. Ela já o prendeu com seu grampo de sempre, e conseguiu até escapar das tentativas dele de flertar com ela enquanto trabalhava. Mas antes que possa cobrir sua cicatriz novamente, as portas se abrem atrás dela.

Ela está prestes a se virar, suas mãos prontas para se unirem na sua barriga e suas costas preparadas para se curvarem diante do visitante. Mas então Soo ouve a voz e decide que é melhor não se mover de forma alguma.

— O embaixador chegou, — a Rainha diz com um tom polido e distante, e mesmo que não seja ameaça alguma para ela, Soo se arrepia de medo.

— Mesmo? — Ela ouve o Rei falar, mas continua com a cabeça baixa, revirando os potes, tentando parecer estar ocupada e não capturar o olhar da outra mulher, — Assegure-se de que ele já está acomodado corretamente.

— Isso já foi resolvido, — Daemok responde, mas como não acabou de passar o recado, ela continua no recinto, — Ele solicitou uma refeição antes da reunião, Pyeha.

— Muito bem, — So diz e Soo se pergunta por que ela teve que vir até aqui só pra dizer isso, — Isso vai me dar tempo de me arrumar também. Diga a ele que não precisa se apressar. Mantive o dia sem compromissos para atendê-lo.

— Farei como pede.

A Rainha finalmente vai embora então. Mas Soo ainda espera alguns segundos depois que a porta se fechou para parar de fingir com os potes e se virar, suas mãos cobrindo sua barriga, como que tentando proteger seu bebê.

— Acha que ela percebeu? — A pergunta de Soo sai num sussurro, sua voz trêmula depois de ser pega com a guarda baixa pela chegada repentina da mulher que ela mais queria evitar. No entanto, So está relaxado e à vontade, então ela se aproxima e tenta absorver um pouco da sua tranquilidade quando ele olha para ela com uma expressão sem preocupações.

— Eu acho que minha cicatriz a distraiu, — ele comenta, e é aí que ela percebe que seu rosto está limpo, e que ainda não começou a aplicar o corretivo. O pote ainda está na bandeja que ela ficou revirando quando foi interrompida.

— Eu nem me virei para cumprimentá-la, — ela se lembra num tom pasmo. E então sorri, apesar de estar nervosa, — Ela vai ficar com raiva.

— Eu acho que ela aprendeu por experiência própria a te deixar em paz. — So sorri e ela não consegue segurar o riso. 

Ela continua rindo quando se recorda da expressão da mulher depois de ficar encharcada com chá e ser atacada, o Rei claramente também lembrando da mesma cena. Mas ainda assim, sua mão treme um pouco quando ela segura o pincel, sua respiração fica levemente errática, e uma pequena, mas persistente, dor começa a se espalhar em seu peito. Suas palpitações ficam mais fortes com a sua ansiedade, não importa o quanto ela tente encontrar alívio nos olhos dele, ou o quanto ela tente rir da perplexidade da Rainha.

So percebe isso, já que não é a primeira vez que ela começa a entrar em pânico por coisas simples, e respira fundo, tentando pensar em algo que a ajude a ficar tranquila.

— Ela não percebeu, — ele segura a mão dela quando ela acaba de fazer sua maquiagem, — No máximo ela só viu que você ganhou alguns quilos. Mas isso é normal para você durante o inverno.

As mãos de Soo param de tremer quando ele consegue distraí-la com sucesso de seus pensamentos ansiosos. No entanto, as sobrancelhas dela tremem, um sinal de que ele foi imprudente ao mencionar outro tópico proibido.

— Está dizendo que eu estou gorda? — Ela sabe que é irracional ficar com raiva dele por algo tão pequeno, mas já que o lado hormonal e sensível dela está se irritando, ela vai ficar com raiva. As emoções dela já estavam instáveis antes de engravidar, e agora ela já não se esforça para controlá-las. E, pelo jeito que a expressão dela muda, ele também sabe que ela está com raiva.

— Estou dizendo que você está saudável, — ele diz com um sorriso doce, mas não consegue enganá-la, — Lembra do quão magra você ficou quando morava no Gyobang?

— E quando eu fico saudável eu fico gorda?

— Você fica linda, — os olhos dele brilham quando ele fala com afeto, e o coração dela se derrete.

Bem, talvez ele possa enganá-la um pouquinho, mas se ele sempre beijá-la desse jeito, ela não se importa em ser enganada.

— Você vai ficar sem desculpas um dia desses, — ela murmura quando ele se afasta, mas os dois sabem que ela está de bom humor agora.

— Não quando eu te amo tanto, — ele exclama antes de sair e ela grunhe, revirando os olhos.

— Agora eu tenho certeza que você ainda está bêbado.

A risada dele ecoa pelo pequeno quarto e ela fica sorrindo que nem uma boba mais uma vez.

Esse momento é outro que ela guarda, esconde num cofre no seu coração, preserva-o, para que ela possa revivê-lo quando estiver chorando de dor numa cama fria e vazia. Ela o registra, o revive, para que ele possa continuar em sua memória, fresco como se tivesse acabado de acontecer, e ela possa se aquecer durante a noite. E quando ela começa a organizar os potes e pincéis e bandejas, ela deixa sua mente vagar para ele, para o bebê deles, para que ela possa se distrair da dormência na ponta dos seus dedos.

Talvez eu devesse colocar outro agasalho, como ele sugeriu.

Soo está prestes a sair do pequeno quarto e ficar num lugar mais discreto no Damiwon, provando as novas misturas e ervas, quando Jang Mi entra.

A dama da corte sênior não tem expressão alguma no rosto quando se curva para cumprimentá-la, e Soo a conhece bem o bastante para saber que ela não veio só bater papo. Então ela espera a mulher pegar a bandeja dela antes de segui-la.

— Vou ficar no lugar de sempre hoje, — Soo diz com seu tom de Sanggung e a mulher faz um aceno com a cabeça, — Alguma novidade?

— Chegaram mais ervas, mas poucas precisam ser catalogadas, já que o armazém foi bem organizado, — Jang Mi começa a listar as atividades que Soo pode fazer, — No entanto, acabamos uma nova remessa de sabonetes que precisam ser verificados. As meninas mais novas os fizeram.

— Vou confiar em você e nas outras com as ervas. — Soo não acha que vai conseguir suportar a tediosa rotina de organização, mesmo que não seja tão cansativa, — Mande os sabonetes as meninas mais tarde. E diga a elas que vou avaliar a performance delas em servir chá.

— Nesse caso vou mandar também as que não foram aprovadas da última vez, — a dama da corte se curva e se prepara para ir embora, mas então ela faz um comentário rapidamente, como se ela tivesse esquecido de mencionar antes, — Ah, e Min Kyung soube de uma história interessante ontem, acho que vai gostar de ouvi-la.

Hae Soo sorri, a dor retornando.

— Vá em frente.

 

 

No dia seguinte, Soo se senta no Damiwon como sempre, servindo seu próprio chá com um cobertor a mais sobre seus ombros, mesmo embora ela não esteja sentindo tanto frio assim. Hoje ela usa a camada extra de tecido para se proteger de olhares curiosos e maquinações malignas. O chá também é para lhe dar um pouco de força interna, fazer seu coração parar de saltar e suas mãos ansiosas cessarem de tremer, dar a ela um pouco de determinação e equilíbrio. Porque contra sua inimiga dessa vez, ela vai precisar de cada gota de impiedade que puder encontrar nela.

É por isso que, quando as portas se abrem e Daemok entra, ela não se afeta nem um pouco. Ela sorri educada para saudar a mulher, que não dá um passo para se aproximar dela.

— Pode chegar mais perto, — ela tranquiliza a mulher, mesmo que seu tom de felicidade seja falso, — Eu não vou te atacar dessa vez.

Os lábios da Rainha se encolhem e seu cenho franze ainda mais, mas ela atravessa o quarto e se senta à sua frente na pequena mesa.

— Você tem a audácia de me chamar aqui e ainda por cima faz piadas?

E só porque isso claramente irrita a mulher, Soo sorri ainda mais ao servir uma xícara de chá para a visitante.

— Bem, você está aqui, então acho que está um pouquinho curiosa, não é mesmo?

— Não estou a fim de beber chá, — Yeon Hwa nem se dá ao trabalho de olhar para o copo, — Só me diga o que quer.

Ela parece estar inquieta e louca para ir embora, e Soo não pode culpá-la. Ela também não quer ficar ali por mais nem um segundo, mas ela não vai deixar que a outra mulher veja isso.

— Acalme-se, Huanghu. Não há testemunhas e Pyeha não está aqui para reprimi-la.

— O que você quer? — Daemok pergunta de vez, e já que ela quer ir direto ao ponto, Soo decide fazer o mesmo.

— Me deixe em paz, — ela responde a Rainha com o tom de voz mais frio que tem, se esforçando ao máximo para não jogar o bule na mulher mais uma vez.

— O quê? Te deixar em paz? — Yeon Hwa ri e Hae Soo odeia esse som, — Foi você quem me chamou até aqui.

— Bem, eu não me envolvo na intriga de vocês, então eu sei que estou por fora de algumas coisas, — Soo meneia a cabeça lentamente, mas não recua, — Mas eu sei que você está no meio de tudo e que eu sou um alvo, então pare. Me deixe em paz.

— Por que eu tentaria fazer alguma coisa com você?

— Isso eu não sei ao certo. Por que você me odeia? — Soo faz uma expressão de curiosidade e fala numa voz inocente, — É porque eu durmo com seu marido? Talvez é porque ele realmente me escuta e isso é uma ameaça para você? Ou talvez porque você não consiga me controlar? — Os olhos da outra mulher endurecem, mas o sorriso de Soo não desaparece, mesmo que ela esteja basicamente a ameaçando, — Eu não sei ao certo, e eu não ligo. Eu também não gosto de você. Mas você vai parar o que quer que esteja fazendo.

— Você é louca. Se acha mesmo que estou tramando para te...

— Se não é você, então você vai me proteger.

A risada de Daemok faz sua raiva ferver mais uma vez, mas ela já viu muitas vilãs em doramas que nem ela, então Soo sabe como essa conversa vai terminar. E é por isso que ela não perde a compostura com a atitude da outra mulher.

— Você realmente ficou louca.

— Você vai me proteger, Huanghu, — Soo diz mais uma vez, mais firme dessa vez, — Você vai me proteger, porque senão, vai estar condenada também. — O sorriso dela cresce até virar uma expressão maníaca, e ela se inclina sobre a mesa, deixando a outra mulher ansiosa com seu olhar fixo, — Ou você realmente acha que Pyeha não vai suspeitar de você e te destruir no instante que alguma coisa acontecer comigo?

— Ele até pode. Mas ele tem suas próprias responsabilidades, — ela sacode a cabeça com arrogância e fala com ela num tom de falsa gentileza, — Você claramente não conhece o dever de um rei.

— E você claramente não conhece Wang Soo, — Soo retruca duramente, mas se corrige com a outra mulher com um tom desdenhoso, — Ah, não, eu acho que você o conhece um pouquinho. Afinal, você sabia que ele nunca aceitaria a proposta de casamento do seu clã se eu não o convencesse, não é? Agora, deixe-me dizer outra coisa sobre Pyeha. — Soo pega seu copo da mesa com uma expressão de indiferença antes de continuar a explicar a situação da mulher, — Ele não é o seu pai, ele não é como nenhum de vocês aqui. Se eu for ferida de qualquer jeito, ele não vai hesitar em abandoná-la e esmagar você e todo o seu clã, mesmo que isso vá trazer sangue e fogo para o palácio. Claro, você pode até não ser a culpada, mas eu não acho que ele vá ligar para isso.

Ela dá uma pausa para beber um gole de chá, e escuta as palavras rabugentas da mulher.

— Você acha que pode dizer o que quiser porque tem o favor dele, não é?

— Pode colocar minha palavra à prova, se quiser. Isso é, se você acha que pode sobreviver à ira dele. — Ela coloca o copo de volta na mesa com um barulho alto, ignorando todas as etiquetas e boas maneiras, — Se não, vai pôr um fim a esse complô.

Elas se encaram em silêncio por alguns segundos, Soo desafiando a Rainha a atacá-la mais uma vez e Yeon Hwa desejando poder matar o inseto irritante na sua frente. Mas nenhuma delas desvia o olhar primeiro.

As mãos de Soo estão coçando pra jogar o copo de porcelana na testa impecável da mulher, mas espera sua resposta sem mover um músculo.

— Eu poderia simplesmente fazer você deixá-lo, que tal isso? — Daemok diz como se realmente acreditasse que isso fosse possível, e Soo ri em voz alta de bom humor.

— Por favor, Huanghu, — ela fala alegre, — Você teria que me matar para conseguir isso.

 

 

— Já acabou tudo o que tinha pra fazer? — So pergunta, piscando confuso quando a vê deitada na cama dele no meio do dia.

— Se eu acabei tudo? — Ela pergunta com uma voz entediada, — O que é que eu tenho pra fazer o dia todo além de esperar por você?

— Você não disse que ia passar a tarde no Damiwon? — Ele senta ao seu lado, sorrindo por vê-la mais cedo do que esperava.

— Eu não estava me sentindo bem, então voltei pra descansar, — ela mente um pouquinho, mantendo o tom de tédio. Não haverá proveito nenhum se o Rei ficar preocupado e voltar a ser superprotetor com ela, — É um saco, eu não faço nada o dia todo além de sentar e dar ordens, mas sempre fico cansada.

So então se deita, sua cabeça se reclinando no mesmo travesseiro que ela.

— Então vamos fazer algo divertido.

— Não estou no clima hoje, — ela se rola e funga para disfarçar sua respiração ofegante, — Vamos olhar pro teto enquanto eu tento dormir.

Ele ri da reação dela e seu braço a envolve.

— Eu ia dizer que nós devíamos ir pro mercado, — ele faz a oferta mais uma vez, tentando fazê-la sorrir também, — Vou te comprar o que você quiser.

Ela se vira para olhar para ele, fazendo bico, e choraminga.

— Você já me compra tudo o que eu quero.

— É, e está frio pra você sair mesmo, — ele dá de ombros e desiste de sua ideia súbita, — O que você quer então? Comida? Outro jogo bobo?

— Meus jogos não são bobos.

— Claro que não, eles são incríveis, — ele consegue escapar de sua ira mais uma vez e ela sorri, — Vamos, seja um pouco caprichosa e mimada só uma vez, diga o que você quer.

Soo hesita, mas o olhar dele é convincente o bastante para fazê-la considerar em lhe pedir algo.

— Qualquer coisa? Eu só preciso dizer, e você vai fazer pra mim? — Ela confere e ganha mais confiança quando ele faz que sim com firmeza.

— Qualquer coisa.

Ela baixa os olhos para suas mãos quando profere seu pedido.

— Eu quero que você escolha um presente pra mim.

So não fala nada por alguns segundos e ela acha que ele não ouviu o que ela disse, mas quando Soo olha para ele, ele está com uma cara claramente confusa.

— Que tipo de pedido é esse?

— Você disse qualquer coisa.

— Mas por quê? — Ele suspira, já ficando cansado por causa do pedido estranho dela, mesmo que tenha sido ele que disse para ela pedir qualquer coisa.

— Porque assim vai ter significado, — ela não liga se está parecendo uma criança mimada, ela merece esse desejo e ela vai realizá-lo. Não importa que ela estivesse negando alguns segundos atrás, — Que nem o grampo de cabelo que você me deu. 

As palavras dela não parecem esclarecer nada para ele, já que sua expressão de confusão não desaparece.

— Você quer outro grampo de cabelo?

— Eu quero que você escolha, — ela fala de vez, sua paciência evaporando quando ela exige ao invés de pedir, — Me surpreenda com um presente.

— Você dificulta as coisas pra mim de propósito, não é?

— Só porque você deixa, — ela sorri e se aninha no peito dele, — É sua culpa por me amar tanto.

— É, é sim, — ele ri e ergue o queixo dela para poder olhar diretamente nos seus olhos, — Qualquer coisa vai servir pra você? Tem certeza?

Ela meneia a cabeça, já contente por tê-lo para si essa noite. 

Soo nunca pediu muita coisa dele. Mas mesmo antes, quando ela só o via como um bom amigo e só queria que ele vivesse bem, ele decidiu lhe dar sua devoção. Depois que ele se tornou o único para ela, ela só queria seu amor, mas ele decidiu cobrí-la com todas as coisas que ela pudesse ter.

Ela não tinha nada contra os bens materiais que ele lhe dava, mas de todas as jóias, roupas e presentes que ganhou, o mais precioso para ela ainda era o seu coração.

— Desde que seja dado por você, — ela sussurra em segredo para ele, — Qualquer coisa serve.

Ela fecha os olhos, ignorando a dor no seu peito, e aceita o seu calor.


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Notas finais do capítulo

Aimer tem uma voz tão linda quanto esse casal -> https://youtu.be/w98DzYxSSys

Opiniões são bem vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

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