Beat Again - Quando chama o coração escrita por Val Rodrigues


Capítulo 35
Capitulo Trinta e Cinco


Notas iniciais do capítulo

Quero deixar meus sinceros agradecimentos a todas as meninas que comentaram o capitulo anterior. Serio. Vocês presentearam meu dia.

Mais capitulo aqui...
Ja estamos caminhando para o fim...



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— Vamos entrar. Wendy pediu. Ela viera imediatamente assim que Ricardo ligou informando sobre Edward.

— Eu preciso de um momento. Disse se desvencilhou do abraço. Saindo do hospital, ela seguiu o mesmo caminho que havia feito há alguns dias atrás quando conversou com o medico e soube do real estado de Edward. O lugar estava vazio, o que era um conforto estranho para ela.

— Está me ouvindo?  O que foi que eu fiz para merecer tudo isso? Não pode me deixa ficar pelo menos com alguém que eu ame? Ela falou se jogando no banco vazio. _ Eu fui forte quando era apenas uma menina e você me tirou minha mãe. Amadureci quando você me arrancou o meu pai. Continuei de pé quando perdi o meu noivo. E agora isso. Será que nesta vida que você não posso ter direito a um pouquinho de felicidade? Ela continuou. Suas palavras ecoando na capela. _ Eu não aguento mais, não posso mais fazer isso. Se vai me tirar tudo o que traz sentindo a minha vida por que me dá? Por que sempre tem que me tirar todas as chances de ser feliz? O que eu fiz de tão horrível para merecer isso? Seu peito arfava com o esforço de suas palavras. E suas lágrimas grossas caiam sobre o banco onde ela estava sentada.

— Por favor. Por favor. Não o tire de mim. Por favor Deus não o tire de mim. Eu já não sei mais como suportar. 

— Moça. Uma voz baixa a chamou e ela sobressaltou-se de repente. A cabeça doía, os olhos inchados e a garganta dolorida. Ela piscou tentando colocar os pensamentos em ordem. _ Você está bem? Ela encarou o homem a sua frente sem dizer uma única palavra. _ Ah, desculpe a minha falta de educação. Sou Edson Miranda. Capelão deste lugar. Ela o olhou.

— Você acredita em milagres? A pergunta saiu de sua boca antes que ela pudesse deter as palavras.

— Sim. Eu acredito. As lagrimas já se formavam em seus olhos. _ Precisa desabafar? Ele perguntou com a voz tranquila e algo nele lhe inspirava confiança.

Com um suspiro cansado ela pensou em como falar.

— Todas as pessoas que amo sempre são arrancadas de mim. Minha mãe quando eu era pequena, meu pai quando jovem, meu primeiro noivo, e agora...a pessoa que me ensinou a voltar a viver.

— Você tem alguém que ama neste hospital?

— Sim. Alguém que precisa de um milagre.

— Então você esta no lugar certo para pedir não acha?

......................................

— O medico quer falar conosco. Ricardo disse assim que ela voltou para dentro do hospital.

— O que aconteceu? Isabella perguntou em alerta.

— Estava esperando que você voltasse para irmos a sala dele. Imaginei que gostaria de estar presente.

— Sim. Vamos. Ela disse já se dirigindo a sala do médico. Em seu coração clamava silenciosamente que fossem boas noticias.

Ricardo bateu a porta e eles aguardaram ansiosamente.

— Entrem. O médico abriu lhes dando passagem.

— Doutor. O que aconteceu?

— Estou com os resultados dos últimos exames que realizamos em Edward.

— E? Isabella pergunta aflita.

— Porque não se sentam? Ele oferece se colocando atrás da mesa. Em silencio eles se sentam ávidos por noticias.

— Os exames confirmaram que a capacidade de vida do coração foi comprometida. Basicamente o coração transplantado não funciona mais. É por isso que estamos mantendo-o ligado aos aparelhos e ele voltou para a fila de espera para outro transplante.

— Outro transplante? Ele pode fazer isso? Ricardo pergunta.

— É um risco muito alto, mas esta é a única chance dele. O Doutor respondeu encarando-os.

— Eu posso vê-lo doutor? Isabella que ate então se mantinha em silencio pergunta olhando diretamente para ele.

— Vou liberar a visita. Será muito breve. E só poderá entrar um por vez. Eles acenaram concordando e seguiram o medico em silencio.

Isabella passou por todo o procedimento de liberação de visita na UTI mecanicamente. Ela vestiu o avental, colocou a mascara e os protetores de sapato sem realmente prestar atenção ao que estava fazendo. Ao longe podia ouvir as instruções da enfermeira que a acompanhava, mas sentia-se anestesiada.

— Eu volto daqui a pouco. A enfermeira disse lhe dando passagem. Isabella acena com a voz presa a garganta. Nada a preparara para aquele momento e ela levou as mãos a boca para conter o grito. Edward estava deitado, ligado a aparelhos que faziam o único som presente no quarto, um respirador que o mantinha vivo. Inconscientemente ela foi levada a lembranças da época em Mike morreu. As lagrimas voltaram a se formar em seus olhos e ela precisou de alguns minutos para conseguir acalma-las. Buscando sua mão ela tocou-a gentilmente.

— Oi. Ela murmurou baixo. Sua voz ecoando pelo quarto e se misturando ao som dos aparelhos. _ Eu estou aqui. Ela disse fazendo uma pausa para respirar. _ Amor, não desista. Não desista ainda. Ela pediu em meio ao choro.

Momentos depois a enfermeira voltou lhe avisando que era hora de sair. Ela deu uma ultima olhada antes de sair do quarto seguindo-a.

Wendy que a aguardava na área de visitas levantou-se para encontra-la.

— Conseguiu vê-lo? Ela perguntou ansiosa. Isabella acenou positivamente. _ Como você esta? Pergunta observando o estado abatido da amiga.

— Eu estou com medo Wendy. Isabella revela e Wendy a abraçou.

— Eu sei. Mas você precisa continuar sendo forte.

.............................

Wendy caminhou pela casa sentindo o frio a tomar pelo ambiente. Rapidamente fechou as janelas da sala e só então notou Ricardo sentado no sofá. Ela conferiu as horas notando que já era de madrugada.

— Ricardo. O que houve? Ela perguntou quando ele ergueu os olhos vermelhos, a face molhada. E então a compreensão lhe atingiu e ela o abraçou. Pela primeira vez ela viu Ricardo chorar, em um choro sofrido ele encosta a cabeça em seu peito. Foi preciso longos minutos para que ele se acalmasse e ela o apertou para si querendo que sua dor pudesse ser dividida com ela e ficasse mais leve. Estivera tão preocupada com Isabella que nem notara que ele estava desabando.

— Tudo bem. Murmurou passando a mão em suas costas.

— Ele não tem mais chance Wendy. Murmurou quando já estava mais calmo ainda abraçado a ela.

— Não fala assim. Ele esta de volta para a fila de transplante. Ainda há uma chance Ricardo. Não pode perder as esperanças. Ela diz relembrando a conversa que tivera com a amiga.

Ricardo ajeitou o corpo no sofá, com um suspiro cansado.

— Não é assim tão simples. Quando ele precisou fazer o primeiro transplante descobrimos que a compatibilidade dele é extremamente rara por isso ele tinha poucas chances de conseguir. Mas agora é praticamente impossível porque mesmo que surja um coração compatível, o que é realmente difícil, ele não sobreviveria a uma nova cirurgia como esta.

— Eu não entendo. O medico disse que Edward estava na lista não disse? Por que ele faria isso se não fosse uma alternativa viável?

— Quando a Isabella entrou para vê-lo na UTI eu conversei com ele sobre isso. Ele disse que sabia dos riscos e que era uma pequena chance, mas que não ia desistir dele. Ele me contou que fez uma promessa para o Edward e que vai usar todos os recursos para tentar salvá-lo.

— Então se ele não vai desistir, nós também não vamos. Você sabe melhor que ninguém como Edward é teimoso quando quer algo. E algo me diz que ele quer muito viver. Ela diz com determinação. Ricardo acena parecendo concordar. _ Só não comenta nada com Isabella sobre isso,  por favor, ela vai pirar se souber.

— Eu sei. Por isso esperei que ela saísse para conversar com o médico. Ele deu uma longa respiração. _ Obrigado.

— Pelo que?

— Por estar aqui comigo agora. Wendy da um pequeno sorriso e faz um leve carinho em seu rosto.

— Não há de que. Ela respondeu carinhosamente fazendo seu coração aquecer. Logo as palavras de Edward lhe vieram a mente. “Se tem certeza então faça”. O amigo lhe dissera pouco antes de sua condição piorar. Sim. Ele tinha certeza do que queria.

— Wendy. Ele chamou e ela o olhou. _ Eu sei que o momento não é ideal, mas tem algo que eu preciso dizer.

— O que é? Ela perguntou e o viu mover se para buscar algo no bolso da calça. Ele tirou o anel da embalagem colocando entre seus dedos. Wendy levou a mão a boca emocionada.

— Já faz dias que quero fazer isso, então lá vai. Ele tomou uma longa respiração antes de continuar. Wendy você gostaria de passar o resto de sua vida comigo? Perguntou com a voz embargada.

— Ricardo, isto é tão... ela disse interrompendo o próprio raciocínio e abre um sorriso. _ Sim. Eu gostaria muito. Segurando em sua mão ele deposita o anel selando o momento com um beijo.

— É lindo Ricardo. Wendy disse olhando o anel em seu dedo.

— Você é ainda mais. Ela sorriu o abraçando pelo pescoço.

Ricardo descansou sua cabeça no vão do pescoço dela.

....................

Os dias foram passando lentamente. A espera para um novo transplante se tornava cada dia mais agonizante. Quanto mais dias se passavam, mais as chances de recuperação diminuíam.

Todos os dias, Isabella entrava no quarto da UTI, conversava um pouco com ele, chorava e saia quando o fim da visita era anunciado.

Ela havia emagrecido nas ultimas semanas. Não conseguia se alimentar direito e nem dormir uma noite completa. Sempre que fechava os olhos pesadelos lhe alcançavam.

Ricardo, Wendy e o Sr. Moura estavam sempre ajudando-a e se preocupando com ela, e ela sentia-se grata por ter pessoas tão presentes em sua vida.

Em uma espécie de rotina, logo após a visita a Edward ela se dirigia a pequena Capela do hospital onde sentava no banco e clamava por um milagre.

— Alguma noticia? O capelão perguntou ao vê-la sentada em um dos bancos.

— Não. Ainda nada. Ela respondeu tristemente.

— Não desanime. Minha esposa e eu estamos orando por vocês. Isabella se sentiu tocada, havia conhecido a esposa dele em uma de suas vindas a Capela, e logo havia se afeiçoado a ela depois de apenas alguns minutos de conversa.

— Obrigada. Ele deu um sorriso amigável e já ia saindo do espaço quando lembrou-se de algo e se voltou mais uma vez. _ Para hoje por que não ler Jeremias 29.11? Sugeriu a deixando pensativa.

Ela olhou o Livro mais antigo do mundo que descansava no encosto de madeira entre suas mãos. Lentamente começou a folhea-lo decidindo se deveria ou não seguir o conselho. Nunca havia sido religiosa, acreditava em Deus, mas nunca se dera ao trabalho de conhecer o que estava escrito ali. De qualquer forma ela estava ali, pedindo por um milagre a algo ou alguém. Pensou.

Soltando a respiração devagar ela se viu buscando com certa dificuldade a indicação que havia recebido.

Quando encontrou a pagina correta seus olhos correram para as palavras ali escritas como se fossem exatamente para ela. Apertando o livro em suas mãos tremulas ela se pôs mais uma vez a chorar em uma mistura de sensações.

“Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês", diz o Senhor, "planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro.”

Futuro. Ela pensou. Há dias ia aquele lugar em busca de uma resposta que agora parecia pular aos seus olhos e ganhar um pequeno espaço em seu coração. Ainda com as mãos tremulas ela secou os olhos que estavam embaçados com as lagrimas e leu a as linhas abaixo. “ Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei.
Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Coincidência ou não, aquelas palavras retratavam sua realidade e mais uma vez ela se viu ali clamando seu Milagre. Pela primeira vez, com o coração cheio de esperança.  


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