Tonight's gonna be escrita por Kaline Bogard


Capítulo 2
... a Funny Night


Notas iniciais do capítulo

aaaaaaah teve festa do dia do trabalho ontem e eu nem revisei!!

Se me acusarem de algum erro a madame aqui vai fingir demência...

'-'



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I gotta feelin'

Shino tinha que admitir que aquele garoto era um excelente ator.

Excelentíssimo na verdade. A nível de Oscar e tudo o mais. Nada que se costumasse ver em shows de auditório de quinta categoria. Talvez devesse dar um crédito e entrar no jogo, em respeito ao jeito magistral com o qual exibia os sentimentos. Tão tocante…

Porque o susto que ele levou se transformou em medo, parecendo sincero a tal ponto que acionou o gatilho da decência em Shino e o fez puxar a porta, fechando-a.

O silêncio esquisito durou poucos segundos antes que a porta externa se abrisse e um homem de meia idade uniformizado entrasse. Vinha com acessórios de limpeza, certamente para dar um jeito a água após algum cliente reclamar.

— Peço desculpas pelo transtorno — o funcionário reclinou-se de leve — Vou secar imediatamente.

Shino empurrou os óculos sobre o nariz. Pegadinha elaborada… estranha, porém complexa em seus detalhes incoerentes.

Olhou na direção da porta e ouviu o som baixinho da trava sendo trancada.

— Hum… — limpou a garganta — Meu… amigo está com dor de barriga. Se puder nos dar alguns minutos.

O outro pareceu desconcertado.

— Claro! Que falta de tato. Vou esperar lá fora e colocar uma placa pedindo que usem o sanitário principal na área de dança — antes de sair ainda deixou um aviso de piso molhado no meio do banheiro.

Shino assistiu enquanto o funcionário saia e compreendeu porque aquele banheiro estava vazio. O principal ficava em outro lugar.

Então respirou fundo duas vezes.

— Precisa de ajuda? — falou para a porta.

— Eu preciso! Aquilo molhou tudo. Minha blusa não seca… eu preciso secar. Mais… a calça rasgou. Eu não sei o que faço pra arrumar isso tudo — a resposta não demorou a vir. E o tom desesperado era de partir o coração — Você meu amigo?

Engolindo em seco, Shino olhou ao redor tentando localizar alguma câmera secreta, alguma luzinha vermelha ou sinal de que estava sendo filmado.

— Sou — respondeu sentindo-se meio trouxa. Chamou aquele garoto de “amigo” para não levantar suspeitas, não devia ser levado a sério — Espere um pouco.

Foi até o suporte de papel-toalha. Começou a puxar várias folhas com a sensação de que a qualquer segundo alguém ia surgir do nada e gritar “Te pegamos!!”. Ele ficaria devidamente irritado, mas seria condescendente. Quem nunca caiu nesses truques de televisão? No fim não aceitaria ceder seu direito de imagem e a brincadeira nunca iria ao ar. Podia recitar uma boa dúzia de programas populares em canais questionáveis ao qual não assistia, mas dos quais não conseguia fugir das propagandas no dia a dia.

Por fim pegou um tanto razoável de papel e nada aconteceu.

Com a garganta subitamente apertada regressou para perto do reservado, abaixou-se e deu um jeito de enfiar o braço pelo vão.

— Aqui. Pegue isso e use para se secar.

Algo viscoso e úmido esbarrou em seus dedos quando o papel foi puxado. A custo não pulou de susto. Enquanto ficava de pé novamente, ouviu a voz soar mais calma:

— Eu acho que não adianta. A blusa tá muito molhada.

Shino olhou para o próprio corpo. Seu casaco poderia cobrir bem outra pessoa, mesmo se ela não usasse nada mais por baixo. Respirou fundo de novo. Não pôde acreditar em tudo o que estava acontecendo. Num minuto bebia uns drinques no balcão, no outro estava pensando em como resgatar um homem-peixe dentro do banheiro da boate!

— Tire a blusa e use o papel para secar o que puder. Eu te empresto o meu casaco.

— Seco! Que susto eu levou quando aquilo espirrou água. Eu consigo ficar esse tempo todo a salvo, sem molhar e… hum.. Caralho! Tem coisa é perigoso demais.

Shino olhou no relógio. Já tinha passado um bom tempo. O argumento de que tudo não passava de uma pegadinha não enganava mais a ele mesmo. A não ser que o ápice fosse sua reação ao ser bom samaritano e entregar uma peça de roupa. Mas precisava alimentar tal ideia, muito mais verossímil do que crer que tinha um sereio no banheiro!

— Deu certo! Ah, que alívio. Me dá casaco!

A ordem fez Shino erguer as sobrancelhas. Bem arrogante para quem precisava de ajuda… apesar disso tirou a peça e esticou-se um pouco para passá-la por cima da porta.

— Aqui.

— Obrigado!

Houve um puxão leve. Em segundos a roupa trocava de mãos. Seguiu-se um breve intervalo cheio de expectativas e sons abafados dentro do reservado, típicos de roupa sendo vestida em um lugar apertado. Mais um instante de silêncio.

Então a tranca girou e a porta se abriu, tão somente para Shino ser brindado com um sorriso estonteante, de presinhas afiadas.

— Que apuro eu passou! Caralho desgraça!!

Foi a oportunidade de analisar bem aquele garoto. Claramente os olhos não eram humanos, de íris peculiar animalesca numa constituição nunca vista antes. Os triângulos vermelhos nas bochechas não pareciam feitos de tinta ou outro material, pareciam mais um sinal como… manchas impregnadas na pele. Tinha estatura mediana: não era alto, tão pouco baixo demais. A diferença de altura entre eles devia beirar os quinze centímetros.

O casaco era grande o bastante para cobri-lo até abaixo dos joelhos. Sim. A surpreendente cauda havia desaparecido! Não restou sinal da bela imagem em degrade de verde. Nem as pontas dos dedos eram visíveis, pois as mangas cobriam-lhe as mãos! Nos pés, um all star ao menos dois números maior do que o ideal. O cabelo curto repicado era uma bagunça castanha. No chão, abandonada, jazia uma camiseta preta com nuvens vermelhas encharcada. E algo rasgado que devia ter sido uma calça jeans escura.

Então a porta externa se abriu.

A mente de Shino muito traidora explodiu em um sonoro “TROUXA”. Aquele era o momento em que as câmeras e o apresentador surgiam e causavam um alvoroço? O esperado desfecho para a situação. Todavia era apenas o senhor da limpeza, confirmando se era adequado entrar. Queria finalizar logo o trabalho.

— Posso? — perguntou olhando de Shino para o garoto desconhecido.

— Claro, peço desculpas pelo transtorno.

— Eu vou pra minha casa. Obrigado — o jovem desconhecido reclinou-se na direção de Shino, a gola alta do casaco balançando de um jeito folgado, e começou a caminhar engraçado em direção à porta, era complicado andar com aqueles sapatos. Parou perto da porta e voltou-se para Shino — Pra que direção fica o mar?

Para tudo havia um limite. Até mesmo para se auto enganar. Shino não podia mais usar a justificativa de que estava em um Reality Show. O coração disparou no peito e a mente pareceu em branco. Fez a única coisa em que pensou para prolongar a intenção um pouco mais.

— Vamos conversar e eu te digo.

— Tudo bem.

Shino pegou as roupas rasgadas do chão e as largou no cesto de lixo. Saiu primeiro e foi seguido de perto. Assim que voltou para o corredor foi envolvido pelo som alto e parou de andar sendo imitado. Era impossível conversar e tentar esclarecer aquilo dentro da boate.

— Podemos conversar em outro lugar?

— Tudo bem — a resposta veio despreocupada. Deixou Shino em alerta.

— Tem algum contato que eu possa avisar? Você é maior de idade?

— Contato?

— Sua mãe? Seu pai? Algum parente…?

— Ah — a expressão do garoto foi impagável — Minha mãe vai matar eu. Sai de casa pra conhecer mundo humano rapidinho, é a única coisa boa de nascer Ômega. Só Ômega consegue transformar cauda em corpo humano. Eu seguiu um grupo na praia e foi indo, foi indo, foi indo… agora eu to aqui sem saber voltar. Cheiros são confusos demais. Não esperava isso. Eu quero comer, sabe? Aqui não tem comida, só bebida. Mais o homem não me deu. Eu tentou beber água ali dentro. Deu nada certo. Só encrencas.

Shino quase riu. Tentou imaginar a cara do bartenter quando o “adolescente” chegou pedindo bebida. Era uma sorte não ter sido expulso! Isso o fez pensar em um detalhe:

— Sou Aburame Shino — apontou para si mesmo.

— Kiba — o garoto entendeu fácil — Eu sou do Clã Inuzuka, nômades do Oeste.

— Isso não é uma brincadeira, é? Aquilo no banheiro…? Você é ator?

Kiba inclinou a cabeça de leve para o lado, um tanto confuso:

— Brincadeira? Ator? Não. Eu não tava de brincadeira. Eu não sou ator. Eu sou tritão. O susto que eu levou quando espirrou água foi grande pra caralho — riu — “Caralho”, as palavras de vocês são engraçadas!! Eu só tive tempo de arrastar pelo chão e entrar naquele… negócio… antes que alguém viu minha cauda. Vocês descobrindo a gente é péssimo caralho. Eu luto! Mas contra tantos… talvez eu perco.

Shino observou a face alheia por alguns segundos. Uma música da moda soava, sucesso mundial conhecido. Falava algo sobre ser uma boa noite. Uma boa, boa noite.

Pegou o celular no bolso de trás da calça e discou para Sasuke.

— Está tudo bem? Surgiu um assunto urgente, vou precisar sair. Quer vir embora comigo? (...) Tem certeza? (...) Entendo. Mande uma mensagem quando chegar em sua casa.

Fez a breve troca de palavras sendo atentamente observado por Kiba. O garoto chegou a inclinar-se de leve para frente, farejando o ar. Os olhos encaravam o celular com curiosidade o objeto esquisito que todo humano parecia ter.

Shino encerrou a ligação e guardou o telefone.

— Vou te levar para comer e você me explica essa história — sabia que sair com um garoto a tiracolo de madrugada era um risco e tanto. Deveria levá-lo até um posto da polícia deixar o resto por conta dos oficiais. Mas não podia fingir que não viu tudo o que viu, o aroma de maresia, o jeito esquisito de Kiba falar, o medo muito real quando abriu a porta do reservado e o descobriu… pequenos detalhes que remetiam a mais pura insanidade.

Contudo, se existia a mínima chance de a bizarra história ser verdade… então todos os riscos valiam a pena!

That tonight's gonna be


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Notas finais do capítulo

quinta-feira que vem é o último ♥

o que estão achando desse Kiba tritão?!!



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